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Começamos hoje a divulgar um texto do Professor Doutor Amado Mendes, inserido numa pequena, e muito interessante, brochura editada pelas, hoje, Águas de Coimbra, Empresa Municipal. O texto está dividido em duas partes, a que conta, de forma breve, a história do abastecimento de Água, em Coimbra e outra dedicada ao Reservatório do Botânico.
Op. cit., capa
Entre os maiores benefícios para o bem-estar das populações conta-se precisamente o abastecimento de água ao domicílio e, bem assim, a implantação do saneamento básico. Na sequência da invenção da máquina a vapor … viria a expandir-se por diversos países ao longo dos séculos XIX-XX, beneficiando não só a indústria, os transportes e comunicações e outro tipo de serviços como também o abastecimento de água ao domicílio.
Esta inovação, adotada por algumas grandes cidades nos anos de 1830-1850, viria depois a beneficiar muitos centros urbanos, inclusive em Portugal. Assim, Lisboa, teve acesso a esse melhoramento excecional em 1880, o Porto em 1886 e, Coimbra, pouco depois, ou seja, em 1889.
… A população da cidade, em1863, para se abastecer de água tinha que recorrer aos meios tradicionais. Nessa altura existiam em Coimbra 10 fontes, 2 poços e 2 cisternas. A situação era muito difícil, agravando-se com o desenvolvimento com o desenvolvimento urbano, espacialmente na parte alta da cidade e no verão, quando era mais frequente a ocorrência de incêndios. Por isso o abastecimento de água passou a ser um assunto prioritário, como se pode constar pelas notícias da imprensa local, com destaque para as de «O Conimbricense». Com efeito, neste podia ler-se, na sua edição de 05 de setembro de 1867:
“A primeira e, incontestavelmente, a mais urgente necessidade que há em Coimbra é a do abastecimento de águas. Pode-se mais ou menos suportar uma rua mal calçada; pode-se tolerar uma casa de residência municipal mais ou menos luxuosa e confortável – o que não se pode adiar, o que de forma nenhuma se pode sofrer é a falta de água.
E Coimbra está a esse respeito cada vez pior. Havia antigamente só no bairro baixo três chafarizes, um na Praça de S. Bartolomeu, hoje do Comércio, outro na Calçada e outro em Sansão, hoje Praça 8 de Maio; e até em épocas antigas, houve neste último local dois chafarizes. Atualmente não há nenhum, porque esse mesmo que se vê na Praça do Comércio é como se não existira, porque quase nunca tem água.
Se isto sucede no bairro baixo, no bairro alto é a situação dos habitantes muito mais deplorável. É certo que há um chafariz no Largo da Feira e outro na Sé Velha;
“Mãe" de água e chafariz do Largo da Feira
Fonte da Sé Velha, in “Arquivo Pitoresco”. Col. RA
Fontes do Largo de Sansão. “Estampas Coimbrãs.”, pormenor
mas de ano para ano vão cada vez mais diminuindo na porção de água que deitam; e; assim; aquele bairro, que se abastece quase exclusivamente de água as fontes, sofre das maiores inclemências pela falta deste género, indispensável à vida. As criadas aglomeram-se em número extraordinário junto dos dois chafarizes e ali se demoram longo tempo, até que possa achar vez para
encher os potes».
“Estampas Coimbrãs. Mulher de Coimbra conduzindo água da fonte ou do Mondego”
… O primeiro projeto de abastecimento de água à cidade, cujo contrato, entre a Câmara Municipal de Coimbra e a dita empresa. [empresa londrina da especialidade, representada pelo Eng.º James Easton] foi publicado no «Diário do Governo» de 09 de agosto de 1982.
Op. cit,, pg. 4-5
Todavia, o projeto não se concretizou, pois houve atrasos sucessivos quanto ao início das obras. Entre outros entraves, verificava-se uma divergência relativamente ao avanço simultâneo do processo de abastecimento de água ao domicílio e do saneamento (“canalização dos esgotos”), defendido pela empresa, mas não aprovado pela Câmara Municipal. Não tendo sido possível ultrapassar o impasse, na sessão camarária de 21 de setembro de 1887, foi apresentada a escritura de rescisão do contrato.
Logo no mês seguinte (outubro de 1887) foi publicado edital para abertura do concurso para o abastecimento de água a Coimbra (O Conimbricense, de 29-10-1887), bem como o respetivo regulamento.
… A proposta mais baixa foi a de Albert Nillus & C. (83 700$000 réis), pelo que as obras lhe foram adjudicadas.
Como previsto no contrato as obras terão começado no primeiro semestre de 1888, prolongando-se por cerca de ano e meio … até que «provavelmente na segunda quinzena de maio de 1889, Coimbra vê chegar o extraordinário melhoramento, que é o abastecimento de água por métodos modernos». O fenómeno é de tal relevância para a qualidade de vidas das confinidades que até já foi designado como “o Milagre da Torneira".
Op. ct., pg. de contra rosto
… o abastecimento é suportado por uma estrutura bastante complexa, da qual fazem parte, fundamentalmente, os seguintes pilares:
. Processo da captação da água no rio Mondego (junto ao Parque Dr. Manuel Braga, de 1889 a 1956-58 e, desde então, na Boavista), sua adução e respetivo tratamento;
. Estação elevatória (instalada na Rua da Alegria, de 1889 a 1924, no Parque da Cidade, de 1924 a meados dos anos de 1950 e, desde então, na Boavista), que tem por função conduzir a água para os reservatórios, distribuídos por locais estratégicos da cidade;
. Sua distribuição, por força da gravidade, através de uma vasta rede de canalizações, pelos numerosos locais de abastecimento (doméstico, público, industrial, institucional, etc.);
- O apertado controlo de qualidade é efetuado em laboratório e por meio de tecnologia adequada, enquanto a medição da água captada, consumida ou desperdiçada é realizada por equipamento apropriado e, obviamente pelos conhecidos contadores de água que, ao longo do tempo, têm registados sucessivos aperfeiçoamentos.
Mendes, J.A. Abastecimento de água a Coimbra: Reservatório do Botânico. Sem data. Coimbra, Águas de Coimbra E.M.
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