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Começo por mencionar Lourenço Chaves de Almeida que nasceu no lugar e freguesia de Santa Maria de Almacave (Lamego), em 1876. Pertencia a uma família de artistas, pois um seu bisavô era canteiro; o avô materno, entalhador; o avô paterno e o pai, serralheiros. Em outubro de 1897, a seu pedido e porque era sargento espingardeiro, foi transferido do Regimento de Infantaria 13, com sede em Lamego, para o 23, que ocupava, em Coimbra, o antigo convento de Sant’Ana.
Lourenço Chaves de Almeida
Depois de se fixar nesta cidade, ele que era serralheiro artífice, conviveu com os artistas e fez-se amigo de João Machado, tendo começado a aprender modelação na sua oficina. Entretanto, com a reabertura da Escola Livre, em 1904, passou aí a ser discípulo de Mestre Gonçalves e, posteriormente, frequentou a Escola Industrial, onde foi aluno do arquiteto Silva Pinto, de Pereira Dias (professor de desenho ornamental) e do próprio Gonçalves. Quando morreu, no dia 15 de dezembro de 1952, tinha 76 anos e morava no Tovim de Baixo.
É com os ferros do fogão da casa dos Patudos, que Chaves inicia a sua carreira. O gótico, o manuelino, o renascimento, o rococó, não tinham segredos para o forjador. O artista apresentou, como referi, as ferragens (suporte, tenaz e pá), correspondentes ao fogão executado por João Machado para o palacete de José Relvas. Tratava-se de uma obra para ser admirada “pela elegancia nervosa com que foi concebida e executada, torcendo e levantando o ferro com o cuidado delicado de um ourives”. Os ferros do fogão “poder-se-iam fazer com o mesmo desenho em prata martelada, sem necessitar mais elegância no desenho, mais delicadeza na execução”.
Ferragens para a chaminé do palacete de José Relvas
Anos mais tarde, em 1919, D. Genoveva de Lima Mayer Ulrich, de Lisboa, encomendou-lhe um candelabro, executado de acordo com o gosto pompeiano. Ignoro o lugar onde a peça foi exposta depois de concluída, mas um periódico da terra insurge-se contra o sítio escolhido escrevendo ser “um atentado ao bom gosto ir expor um candelabro artístico, onde há arte, onde há paciência, onde se patenteia o sentimento do Belo, num encadrement de correias e freios para cavalos ou jarras artísticas emolduradas em caixas de charutos e anúncios de canetas de tinta permanente” e tece considerações acerca da obrigação dos artistas exporem as suas obras num local adequado.
Candelabro pompeiano. Encomenda de Veva de Lima
No ano seguinte, a mesma senhora, que era casada com um diplomata e usava o nome artístico de Veva de Lima, encomendou a Chaves de Almeida uma segunda obra de vulto, uma braseira, que seguiu o mesmo gosto estilístico da peça anterior. Mas, desta vez, o artista que “quando acaba as pernas de gazela que servem de apoio à braseira, quando abre borboletas e grinaldas, recurva volutas graciosas ou cinzela quimeras que são produções de mestre, não esquece que o material que tem de dominar é o ferro” auferiu uma dupla consagração, porque o trabalho foi mostrado aos conimbricenses na sala romana do Museu Machado de Castro e, depois, em Lisboa, seria exposto pelos encomendantes “que assim lhe queriam dar uma prova de admiração”.
Braseira pompeiana. Encomenda de Veva de Lima
Em 1924, a mesma sala romana do Museu Machado de Castro abre-se novamente para apresentar o chamado Lectus, obra em ferro forjado que Chaves de Almeida bateu também para Veva de Lima. Esta peça é uma verdadeira joia de ferro, “que tanto honra o nome [do artista] e que nos enche de orgulho por ser executada em Coimbra, terra de arte, graça e beleza!”. Juntamente com o canapé expôs um lampadário que se destinava à cripta funerária do Doutor António de Vasconcellos, em S. Paio de Gramaços.
Lectus pompeiano. Encomenda de Veva de Lima
Anacleto, R. A arte do ferro forjado na cidade do Mondego, primeira metade do século XX. In: História, Empresas, Arqueologia Industrial e Museologia. 2021.Edição Imprensa da Universidade de Coimbra, pg. 259-292.
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