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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 29.06.23

Coimbra: A Escola Tipográfica da Imprensa da Universidade de Coimbra

Tendo como palestrantes a Dr.ª Ana Maria Bandeira

Ana Maria 01.jpg

e o Dr. Ilídio Barbosa

Ilidio Barbosa de Melo 2.jpeg

é já amanhã que encerra o ciclo do ano em curso das Conversas Abertas.

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Cartaz do evento

A palestra, abordará a história da A Escola Tipográfica da Imprensa da Universidade de Coimbra, uma instituição secular que ao logo dos tempos tanto tem contribuído para o engrandecimento da Universidade de Coimbra, ao publicar a investigação científica, mais relevante, aqui produzida.

A folha de sala refere, numa breve síntese, o tema a tratar.

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Folha de sala 1

A sessão, como é hábito, decorrerá às 18h00, sala D. João III, localizada no piso da entrada do Arquivo da Universidade de Coimbra, na Rua de S. João, muito próximo do Instituto Justiça e Paz, antigo CADC.

A entrada é livre e são convidados todos os que se interessam por Coimbra e pelo seu passado.

Tanto a Dra. Ana Maria Bandeira, como o Dr. Ilídio Barbosa Pereira destacam-se pelo profundo conhecimento das potencialidades do Arquivo, saber que, com simpatia e afabilidade, disponibilizam a todos quantos frequentam aquele local de investigação e necessitam da sua ajuda,

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Folha de sala 2

Por casualidade, os dois técnicos vão aposentar-se no presente ano e, consequentemente, este será um dos últimos atos públicos em que participarão no âmbito do exercício das suas funções. É justo, pois, aproveitar a ocasião para lhes dizer MUITO OBRIGADO por tudo quanto fizeram ao longo dos anos em prol da cultura e de Coimbra.

Contamos com a presença de todos e solicitamos que ajudem a divulgar o evento.

No final será anunciado o programa das Conversas Abertas 2024, a iniciar em 26 de janeiro, no mesmo local e na forma habitual.

Rodrigues Costa

 

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por Rodrigues Costa às 10:57

Terça-feira, 27.06.23

Coimbra: A arte do ferro forjado 9, a “Chama da Pátria”

Depois da guerra de 1914-1918, começou a desenvolver-se, um pouco por todo o país, o culto aos Mortos da Grande Guerra. As entidades responsáveis determinaram que, numa grande manifestação nacional, fossem trasladados para o Mosteiro da Batalha, os restos de um desses heróis.

Em Coimbra, e mais concretamente no Quartel General, despontou um movimento no sentido de ser colocado um lampadário condigno na Casa do Capítulo batalhino, junto do sarcófago que deve guardar os despojos do soldado desconhecido. Para concretizar esta ideia, foi aberta uma subscrição, que, num primeiro momento se pensava estender a todas as unidades militares do país, mas, posteriormente, se limitou à contribuição dos oficiais, sargentos e praças da 5.ª divisão do Exército, com sede em Coimbra.

Desde logo ficou assente que o candelabro, mais tarde denominado “Chama da Pátria”, fosse executado por Lourenço Chaves de Almeida, que até era militar. Entretanto, uma comissão composta de oficiais do exército pertencentes às várias unidades desta cidade, procurou António Augusto Gonçalves para lhe pedir que desenhasse a peça.

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“Chama da Pátria”

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“Chama da Pátria”. Pormenor

O lampadário, de ferro forjado, utilizou o estilo gótico e mede 1,80 m de altura; foi exposto ao público no átrio da Câmara Municipal de Coimbra, aquando do II congresso Beirão. Na cerimónia, em que estiveram presentes numerosas senhoras, autoridades, académicos, professores e uma enorme multidão, proferiram-se discursos patrióticos e foram elogiados Chaves de Almeida e António Augusto Gonçalves. Antes de ir para a Batalha, por deliberação do governo, foi exposto, primeiro, em Lisboa e depois, em Viana do Castelo, na altura em que ia ser imposta a Cruz de Guerra à bandeira que a França oferecera à brigada do Minho. O lampadário ocupou o seu lugar no Mosteiro de Santa Maria da Victória no dia 28 de junho, data da assinatura do tratado de paz.

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“Chama da Pátria” na Sala do Capítulo do Mosteiro da Batalha

O Presidente da Comissão Administrativa do município de Coimbra, em 1930, encomendou ao “ferreiro”, a fim de ser colocado no salão nobre, um candelabro de 30 luzes; data, também, desse ano a execução de um candelabro para a casa do Dr. Ângelo da Fonseca.

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Lustre destinado ao Salão nobre da Câmara Municipal de Coimbra

Em 1938, em Lisboa, na Sociedade Nacional de Belas-Artes esteve patente uma exposição de ferros de arte de Lourenço Chaves de Almeida, homem que trabalhava em Coimbra há quarenta anos, sendo, por isso, justo considerá-lo um artista conimbricense. A mostra, antes de encerrar, recebeu a honrosa visita do então Presidente da República, António Óscar de Fragoso Carmona.

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Lustre encomendado pelo Dr. Bissaia Barreto

Anacleto, R. A arte do ferro forjado na cidade do Mondego, primeira metade do século XX.  In: História, Empresas, Arqueologia Industrial e Museologia. 2021.Edição Imprensa da Universidade de Coimbra, pg. 259-292.

 

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por Rodrigues Costa às 10:04

Sexta-feira, 23.06.23

Conversas Abertas 2023. Última palestra

Na próxima sexta feira, dia 30 de junho, às 18h00, vai decorrer na Sala D. João III do Arquivo da Universidade de Coimbra a última Conversa Aberta do ano de 2023.

Da palestra, que nos vai dar a conhecer a história da A Escola Tipográfica da Imprensa da Universidade de Coimbra, encarregaram-se Ana Maria Bandeira e Ilídio Barbosa Pereira, arquivistas da Instituição.   

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Cartaz do evento

A sala D. João III, localiza-se no piso da entrada do Arquivo da Universidade de Coimbra, na Rua de S. João, muito próximo do Instituto Justiça e Paz, antigo CADC.

A entrada é livre e são convidados todos os que se interessam por Coimbra e pelo seu passado.

A folha de sala refere, numa breve síntese, o tema a tratar.

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Folha de sala, 1

Os palestrantes são bem conhecidos por todos os que, alguma vez, tenham tido necessidade de trabalhar no Arquivo da Universidade de Coimbra

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Folha de sala, 2

Tanto a Dra. Ana Maria Bandeira, como o Dr. Ilídio Barbosa Pereira destacam-se pelo profundo conhecimento das potencialidades do Arquivo, saber que, com simpatia e afabilidade, disponibilizam a todos quantos frequentam aquele local de investigação e necessitam da sua ajuda.

Por casualidade, os dois técnicos vão aposentar-se no presente ano e, consequentemente, este será um dos últimos atos públicos em que participarão no âmbito do exercício das suas funções. É justo, pois, aproveitar a ocasião para lhes dizer MUITO OBRIGADO por tudo quanto fizeram ao longo dos anos em prol da cultura e de Coimbra.

Aproveitamos a ocasião para informar que a preparação das Conversas Abertas do próximo ano, isto é, de 2024, já se encontra concluída.

Contamos com a presença de todos e solicitamos que ajudem a divulgar o evento

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 11:07

Quinta-feira, 22.06.23

Coimbra: A arte do ferro forjado 8, Lourenço Chaves de Almeida

Começo por mencionar Lourenço Chaves de Almeida que nasceu no lugar e freguesia de Santa Maria de Almacave (Lamego), em 1876. Pertencia a uma família de artistas, pois um seu bisavô era canteiro; o avô materno, entalhador; o avô paterno e o pai, serralheiros. Em outubro de 1897, a seu pedido e porque era sargento espingardeiro, foi transferido do Regimento de Infantaria 13, com sede em Lamego, para o 23, que ocupava, em Coimbra, o antigo convento de Sant’Ana.

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Lourenço Chaves de Almeida

Depois de se fixar nesta cidade, ele que era serralheiro artífice, conviveu com os artistas e fez-se amigo de João Machado, tendo começado a aprender modelação na sua oficina. Entretanto, com a reabertura da Escola Livre, em 1904, passou aí a ser discípulo de Mestre Gonçalves e, posteriormente, frequentou a Escola Industrial, onde foi aluno do arquiteto Silva Pinto, de Pereira Dias (professor de desenho ornamental) e do próprio Gonçalves. Quando morreu, no dia 15 de dezembro de 1952, tinha 76 anos e morava no Tovim de Baixo.

É com os ferros do fogão da casa dos Patudos, que Chaves inicia a sua carreira. O gótico, o manuelino, o renascimento, o rococó, não tinham segredos para o forjador. O artista apresentou, como referi, as ferragens (suporte, tenaz e pá), correspondentes ao fogão executado por João Machado para o palacete de José Relvas. Tratava-se de uma obra para ser admirada “pela elegancia nervosa com que foi concebida e executada, torcendo e levantando o ferro com o cuidado delicado de um ourives”. Os ferros do fogão “poder-se-iam fazer com o mesmo desenho em prata martelada, sem necessitar mais elegância no desenho, mais delicadeza na execução”.

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Ferragens para a chaminé do palacete de José Relvas

Anos mais tarde, em 1919, D. Genoveva de Lima Mayer Ulrich, de Lisboa, encomendou-lhe um candelabro, executado de acordo com o gosto pompeiano. Ignoro o lugar onde a peça foi exposta depois de concluída, mas um periódico da terra insurge-se contra o sítio escolhido escrevendo ser “um atentado ao bom gosto ir expor um candelabro artístico, onde há arte, onde há paciência, onde se patenteia o sentimento do Belo, num encadrement de correias e freios para cavalos ou jarras artísticas emolduradas em caixas de charutos e anúncios de canetas de tinta permanente” e tece considerações acerca da obrigação dos artistas exporem as suas obras num local adequado.

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Candelabro pompeiano. Encomenda de Veva de Lima

No ano seguinte, a mesma senhora, que era casada com um diplomata e usava o nome artístico de Veva de Lima, encomendou a Chaves de Almeida uma segunda obra de vulto, uma braseira, que seguiu o mesmo gosto estilístico da peça anterior. Mas, desta vez, o artista que “quando acaba as pernas de gazela que servem de apoio à braseira, quando abre borboletas e grinaldas, recurva volutas graciosas ou cinzela quimeras que são produções de mestre, não esquece que o material que tem de dominar é o ferro” auferiu uma dupla consagração, porque o trabalho foi mostrado aos conimbricenses na sala romana do Museu Machado de Castro e, depois, em Lisboa, seria exposto pelos encomendantes “que assim lhe queriam dar uma prova de admiração”.

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Braseira pompeiana. Encomenda de Veva de Lima

Em 1924, a mesma sala romana do Museu Machado de Castro abre-se novamente para apresentar o chamado Lectus, obra em ferro forjado que Chaves de Almeida bateu também para Veva de Lima. Esta peça é uma verdadeira joia de ferro, “que tanto honra o nome [do artista] e que nos enche de orgulho por ser executada em Coimbra, terra de arte, graça e beleza!”. Juntamente com o canapé expôs um lampadário que se destinava à cripta funerária do Doutor António de Vasconcellos, em S. Paio de Gramaços.

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Lectus pompeiano. Encomenda de Veva de Lima

Anacleto, R. A arte do ferro forjado na cidade do Mondego, primeira metade do século XX.  In: História, Empresas, Arqueologia Industrial e Museologia. 2021.Edição Imprensa da Universidade de Coimbra, pg. 259-292.

 

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por Rodrigues Costa às 10:35

Terça-feira, 20.06.23

Coimbra: A arte do ferro forjado 7, o Palácio da Justiça

Uma outra obra conjunta e de grande envergadura, a envolver quase todos os artistas mondeguinos do ferro, encontra-se relacionada com o edifício do Palácio da Justiça, a finalizar-se na inacabada morada dos condes do Ameal.

Fig. 3 - Portão central do Palácio da Justiça.

Tímpano do portão principal da fachada do Palácio da Justiça. Obra coletiva.

O titular comprou, antes de 1895, o antigo colégio de São Tomás, que se erguia na zona cabeira da rua da Sofia e introduziu-lhe modificações tendentes a transformá-lo na sua residência. Chamou para dirigir as obras o arquiteto Silva Pinto que lhe foi indicado pelo seu amigo lisboeta, o arquiteto José Luís Monteiro.

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Antigo Colégio de S. Tomás.

Após a morte do conde, a sua incompleta habitação foi posta à venda, tendo sido, depois de atribuladas negociações e por ordem do então ministro da Justiça, Dr. Manuel Rodrigues, adquirida, entre 1926 e 1928, a fim de aí ser instalado o Palácio de Justiça mondeguino. Para superintender nas obras do edifício, o governo nomeou uma Comissão Administrativa e como o diretor das obras públicas do Distrito de Coimbra não podia desempenhar o cargo, indicou o engenheiro Manuel de Abreu Castelo Branco, que passou a ser o responsável, saindo do seu lápis o projeto do acrescentamento das duas alas, Nascente e Norte, que ainda não tinham sido construídas.

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Portões de ferro forjado da fachada principal do Palácio da Justiça.

Aquele técnico teve um certo cuidado, respeitando, minimamente, o estilo e a harmonia que vinham a ser utilizados, sobretudo no que respeita a interiores, porque alterou profundamente o projeto da fachada.

O edifício da Domus Justitiae foi inaugurado a 6 de maio de 1934 e, durante vários anos, funcionou como ex-libris do Ministério da Justiça.

Na sessão de 29 de agosto de 1929, a Câmara Municipal de Coimbra apreciou um requerimento do Juiz Presidente do Tribunal da Relação, pedindo licença para proceder à vedação do Palácio da Justiça, com um muro e gradeamento. Mas, quase em simultâneo com o pedido, a imprensa noticiava que tinha sido aprovada a proposta conjunta dos serralheiros Lourenço Chaves de Almeida, António Maria da Conceição, Daniel Rodrigues, José Domingos Baptista e Albertino Marques, para a feitura de 106 metros de grade, 2 portões e várias pilastras destinadas à parte exterior das traseiras do imóvel. Os trabalhos eram realizados sob a direção do engenheiro Castelo Branco e constava que outras obras, como lustres, grades interiores, portões, etc., lhes iriam ser encomendadas.

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Portão da vedação do Palácio da Justiça.

RA. 7. Portão da vedação do Paláci

Portão da vedação do Palácio da Justiça. Desenho existente no espólio de Daniel Rodrigues.

A vedação que, em agosto de 1930, se andava a assentar, de ferro batido era considerado pela imprensa da época como um dos mais artísticos trabalhos “que se têm executado nos últimos tempos em Coimbra, obedecendo à arquitectura do renascimento do século XVI, tão notável e abundante na nossa região e que tem servido de escola aos artistas contemporâneos”.

Mas as encomendas para a Casa da Justiça, tal como havia sido anunciado, continuaram a acudir às oficinas dos serralheiros e, no ano seguinte (1931) Albertino Marques forjava, para o Palácio da Justiça, um novo portão em estilo renascença; concomitantemente, os “ourives do ferro” executavam, no mesmo gosto, quatro candeeiros, destinados à iluminação do claustro superior.

Na mesma altura, para o salão nobre do tribunal, Albertino Marques e Daniel Rodrigues, coadjuvados por João Machado Júnior que modelou os bustos destinados a ser, posteriormente, executados em ferro forjado, bateram um lustre.

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Lustre central da Sala das Audiências.

Terminados em fins de junho de 1934, foram executados nas oficinas de Daniel Rodrigues e de Albertino Marques quatro artísticos lampiões e as respetivas gárgulas de suporte, que se destinavam, obviamente, ao imóvel em causa.

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Lampião e gárgula de suporte.

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Lampião e gárgula de suporte. Desenho existente no espólio de Daniel Rodrigues.

Numa entrevista feita aos artistas conimbricenses do ferro, levada a cabo por um jornal local, revela-se que os portões do Palácio da Justiça tinham sido executados “a meias”, porque o trabalho fora arrematado por Daniel Rodrigues, que resolveu dividi-lo com Albertino Marques e com António Maria da Conceição. Como se depreende, Daniel é o responsável e dirige os trabalhos executados nas três oficinas, todas elas pequenas e ruidosas; contudo, a do mestre serralheiro, era a mais pequena de todas, “baixa, com tecto abobadado em arcos, quase um cubículo”.

Daniel Rodrigues, em 1915, era sócio da antiga oficina de Francisco Nogueira Seco que se situava no Quintal do Prior, mas, em 1919, inaugurou a sua serralharia no Terreiro da Erva, n.º 36, local onde permaneceu até ao fim da vida.

É ainda sediada no Quintal do Prior que, em 1818, Daniel, talvez de parceria com Albertino Marques e com os descendentes do acreditado industrial Francisco Nogueira Seco, constituíram uma sociedade que girava sob o nome de “Seco, Graça & Marques”. Nessa oficina, um deles, ou ambos, faz ou fazem, a jogo, uns ferros para o fogão estilo Luís XV esculpido por João Machado, destinado à casa de Álvaro Castanheira Esteves, Filho. Não será de excluir a possibilidade de Daniel Rodrigues e de Albertino Marques, sócios da dita manufatura, se terem desentendido, talvez até por via destes suportes, uma vez que as peças, posteriormente, surgem com a paternidade atribuída ora a um, ora a outro. Como quer que seja, Albertino Marques, gerente da firma que explorava a oficina do Quintal do Prior, transfere o seu local de trabalho para o Terreiro da Erva, onde, já em 1922 se encontrava sediado. Embora dois anos mais tarde ainda ali permanecesse a laborar, em 1925, era dono da serralharia que se situava no Adro de Santa Justa e, quatro anos volvidos, transfere-se, definitivamente, para a rua João Machado.

Apesar de a citada entrevista apontar como autor do risco dos portões do Palácio da Justiça o engenheiro Castelo Branco, a verdade é que tanto informações orais, como as notícias dos periódicos o atribuem, sem margem para qualquer dúvida, a paternidade dos mesmos a Daniel Rodrigues.

As grades de ferro que fecham as três aberturas e dão acesso ao interior do Palácio de Justiça deviam ser colocadas no princípio do ano de 1936 ou ainda antes; utilizam uma gramática neorrenascentista, onde avultam medalhões, enrolamentos e grutescos. Daniel Rodrigues, à boa maneira antiga, deixou nos portões, que pesam três toneladas, um testemunho, colocando uma moeda de prata de 10$00 em cada um dos medalhões do corpo central.

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Portão principal da fachada do Palácio da Justiça.

O arco do meio, de volta inteira, apresenta, como se de um tímpano se tratasse, uma monumental bandeira que, ao centro, ostenta a figura simbólica da justiça, rodeada por gentes desavindas, representadas por dragões que olham assustados para a figura central, temendo a sua ação; os animais mostram uma atitude de contendores furiosos, mas as cabeças, porque os seus olhos avistam a justiça, voltam-se para trás, temerosos da balança da verdade. A rodear e a compor o motivo, encontram-se elementos ornamentais renascentistas.

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Figura simbólica da justiça. Tímpano do portão principal.

Para a mesma Casa da Justiça, do cinzel de Daniel Rodrigues e de Albertino Marques, individualmente ou de parceria, mas quase sempre com desenho do primeiro, saíram a grade do tribunal do crime, os lustres da sala da Relação, os dos gabinetes do Presidente e do Procurador, lanternas para o claustro baixo e três portões para o interior, estes da inteira responsabilidade de Marques.

Anacleto, R. A arte do ferro forjado na cidade do Mondego, primeira metade do século XX.  In: História, Empresas, Arqueologia Industrial e Museologia. 2021.Edição Imprensa da Universidade de Coimbra, pg. 259-292.

 

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por Rodrigues Costa às 10:20

Quinta-feira, 15.06.23

Coimbra: Oficina Museu Nunes Pereira, exposição temporária

Anteontem, terça-feira, dia 14 de junho, nos baixos do Seminário Maior de Coimbra, local onde Monsenhor Nunes Pereira teve a sua última oficina, foi inaugurada mais uma exposição temporária, a décima, relacionada maioritariamente com a obra do artista, subordinada ao tema “Santos da Casa [não] Fazem Milagres”.

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Op. cit., contracapa

 “Tu és o início de um grande santo”, frase retirada do poema “Conselhos” que se encontra no seu livro de versos “Pedra d’Ara”, ao integrar o subtítulo da mostra, dá-lhe o mote.

 A pequena brochura, com a reprodução de 19 das peças apresentadas, releva também os quatro padroeiros de Coimbra: S. Teotónio, S. António, Sto. Agostinho e a Rainha Santa.

Obviamente que no dia dedicado a Santo António, o Taumaturgo não podia deixar de estar presente, nem se podia olvidar que Fernando de Bulhões fez toda a sua formação no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, nem que foi nesta cidade que ele mudou o seu nome para António, com tudo o que esses dois episódios significam.

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Op. cit., pg. 8

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Op. cit., pg. 13

De entre as peças expostas, face à sua raridade no contexto da obra de Nunes Pereira, destacamos a que representa S. José a ensinar ao Menino Jesus a sua profissão de carpinteiro.

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Op. cit., pg, 13

E uma outra que evoca o Rei David como santo e profeta.

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Op. cit., pg. 17

A exposição teve como curadora a responsável pela Oficina-Museu Nunes Perira, Dr.ª Cidália Maria dos Santos, e foi apresentada pelo Reitor do Seminário, Padre Doutor Nuno Santos.

No ato inaugural estiveram presentes cerca de trinta pessoas, com destaque para o Senhor Presidente da Câmara Municipal da Pampilhosa da Serra que, em breves palavras, manifestou, em seu nome e em nome dos munícipes do concelho, o regozijo por ver mais uma personalidade nascida naquelas terras serranas ser justamente homenageada.

Contrariamente, e tanto quanto nos apercebemos, não esteve presente nem se fez representar nenhuma Entidade oficial de Coimbra, cidade onde Monsenhor Nunes Perira viveu a maior parte da sua vida e onde, a par com o múnus apostólico, desenvolveu o seu engenho artístico.

Confirma-se, infelizmente, a velha afirmação: Coimbra é uma cidade madrasta para os seus filhos.

Rodrigues Costa

 

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por Rodrigues Costa às 16:09

Quinta-feira, 01.06.23

Coimbra: A arte do ferro forjado 6, os portões da Faculdade de Letras

Os artistas conimbricenses do ferro iam batendo as mais diversas peças, trabalhando quase sempre isoladamente, mas expondo-as coletiva ou individualmente, tanto em mostras locais, como nacionais; contudo, quando elaboravam algum artefacto mais requintado, não se eximiam de o apresentar no Museu Machado de Castro, na Faculdade de Letras, ou na montra de algum estabelecimento comercial da Calçada.

Uma, talvez a primeira grande apresentação pública dos seus trabalhos fora da cidade, aconteceu em 1905, na exposição que o Grémio Artístico ou a Sociedade Nacional de Belas-Artes (as fontes divergem) anualmente realizava em Lisboa. Estiveram aí presentes trabalhos de Daniel Rodrigues, de Lourenço Chaves de Almeida, de Manuel Pedro de Jesus, de António Craveiro e de António Maria da Conceição.

António Craveiro. Porta de jazigo.jpgAntónio Craveiro. Porta de jazigo

Pode ficar-se com uma ideia desta mostra através da leitura do artigo que Quim Martins publicou, em 1906, na “Illustração Portugueza”.

A Resistencia, por seu turno, informa que Chaves de Almeida expôs as ferragens (tenaz, suporte e pá) que se destinavam a fazer conjunto com um fogão que João Machado esculpira para a casa de José Relvas, em Alpiarça. “As peças foram batidas em estilo renascença e o ferro está torcido como o dos pequenos balaústres que essa arte requintada deixou espalhada por palácios e jardins de Coimbra. A obra foi feita segundo um croquis de António Augusto Gonçalves, como os ele sabe fazer, apontamento ligeiro destinado apenas a sugerir, a excitar a actividade criadora dos seus discípulos. Os dois monstros que o enfeitam estão poderosamente martelados e esculpidos em ferro. Toda a obra revela excepcionais aptidões para a arte de trabalhar o ferro que, depois do período atormentado do ferro fundido, hoje renasce por toda a parte”.

Chaves de Almeida. Ferros para uma chaminé da Cas

Chaves de Almeida. Ferros para uma chaminé da Casa dos Patudos

Mas, a primeira obra coletiva de vulto surgiu quando foi necessário dar resposta aos trabalhos de ferro, destinados ao edifício da Faculdade de Letras, que havia sido projetado, em 1913, pelo arquiteto António Augusto da Silva Pinto.

Faculdade de Letras projetada pelo arquiteto Antó

Faculdade de Letras projetada pelo arquiteto António Augusto da Silva Pinto

Um pouco estranhamente, ou talvez não (a falta de dinheiro pode ser uma das explicações viáveis), só em 1927 vieram a ser assentes, na fachada principal do edifício, os grandes portões de ferro forjado, obra dos artistas Manuel Pedro de Jesus, António Maria da Conceição (Rato), Daniel Rodrigues, Albertino Marques. A direção do trabalho e o desenho dos portões é da responsabilidade de Silva Pinto.

Portão da antiga Faculdade de Letras sem a bandei

Portão da antiga Faculdade de Letras sem a bandeira

Aliás, a Faculdade de Letras, pode bem dizer-se, manteve uma avença com o ferro forjado, porque, dois anos antes, em 1925, Albertino Marques tinha em mãos uma grade que se destinava àquela casa e em 1928 e 1929 executou quatro artísticos candelabros para serem colocados na escadaria, bem como dois monumentais tocheiros, pesando, cada um 70 quilos e medindo 1,80 metros, para o vestíbulo. Além disso, no mesmo estilo dos candelabros, também com desenho e sob a orientação de Silva Pinto, bateu dois portões de ferro forjado para a entrada do museu da Faculdade. Numa linha mais prosaica e utilitária, foi entregue a mestre Albertino a feitura de 39 metros de estantes de ferro.

Portão da antiga Faculdade de Letras. Pormenor.JP

Portão da antiga Faculdade de Letras. Pormenor

Mas as encomendas da Faculdade de Letras não se ficaram por aqui, pois em 1930, nas oficinas de Daniel Rodrigues e de Albertino Marques estavam a executar-se umas artísticas ferragens para a porta do salão nobre do edifício e seis anos depois aquele imóvel ia ser rodeado com uma grade de ferro, cuja execução fora confiada a Albertino Marques, a Daniel Rodrigues e a Jesus Cardoso.

Anacleto, R. A arte do ferro forjado na cidade do Mondego, primeira metade do século XX.  In: História, Empresas, Arqueologia Industrial e Museologia. 2021. Edição Imprensa da Universidade de Coimbra, pg. 259-290.

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por Rodrigues Costa às 11:14


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