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A serralharia artística de Coimbra renasceu com António Augusto Gonçalves e com o Dr. Joaquim Martins Teixeira de Carvalho, na intimidade Mestre Gonçalves e Mestre Quim Martins, como lhe chamava a plêiade de artistas do ferro que foram seus discípulos: António Maria da Conceição (Rato), Albertino Marques, António Craveiro, Daniel Rodrigues, Lourenço Chaves de Almeida, Manuel Pedro de Jesus, José Domingues Baptista e Filhos, José Pompeu Aroso, e tantos outros. Das mãos dos ‘ferreiros’ saíram obras notáveis, capazes de marcar o ressurgimento daquela arte rude e maravilhosa que, em Coimbra, a partir de meados do século XIX, tanto tinha decaído, limitando-se, a bem dizer, ao fabrico de camas e de lavatórios, como se verificou na exposição, realizada em 1869, no salão da Associação dos Artistas.
Joaquim Martins Teixeira de Carvalho
Nesse renascimento, para além dos citados Gonçalves e Quim Martins, podem ainda referir-se os nomes de Manuel Pedro de Jesus e de João Augusto Machado, este também a tentar o ferro e o primeiro que, a partir de certo momento, lhe dedicou todo o seu saber e criatividade; por isso, os podemos apelidar de precursores da serralharia artística aeminiense.
A Câmara Municipal, logo em 1903, entendendo que devia encorajar a nova indústria, abriu concurso para a construção de um coreto destinado a ser colocado no novo Passeio Público que se iniciava no Largo das Ameias. Manuel José da Costa Soares, o artista que emprestara os utensílios a João Machado e o ensinara a bater o ferro, concorreu, a par com algumas firmas industriais sediadas no Porto.
Coreto no Passeio Público
Costa Soares era dono de uma alquilaria, sita à Rua da Sofia, na inacabada igreja de S. Domingos, onde, ao fundo, um pouco afastado da entrada, montara a forja. Mas os seus trabalhos de ferro já eram conhecidos, porque foi ele que arrematou a parte metálica do então Teatro-Circo e também é da sua autoria a cúpula metálica da Penitenciária, feita em 1887.
A comissão nomeada para apreciar as propostas que haviam sido apresentadas acabou por dar o seu aval à do referido industrial, porque, para além do mais, o seu projeto não era uma obra de catálogo, de fabrico em série, mas tratava-se de uma construção inédita. Contudo, foi “o modesto artista sr. João Gaspar, que na officina do sr. Manoel José da Costa Soares forjou as peças do corêto que a camara municipal mandou construir na Avenida Emygdio Navarro”.
Coreto. Manuel José da Costa Soares com desenho de Silva Pinto
A estrutura, posteriormente transferida para o Parque Dr. Manuel Braga, foi adjudicada a 18 de fevereiro do ano seguinte, e sabe-se, apenas através do que se encontra escrito em jornais publicados na cidade, que o arquiteto Silva Pinto, “um dos mais calorosos apóstolos do novo culto”, executara o seu desenho e que a edilidade tinha todo o interesse em entregar a obra a um artista da cidade, porque podia, deste modo, implementar a indústria nascente.
O coreto depois de transferido para a Parque Dr. Manuel Braga
Anacleto, R. A arte do ferro forjado na cidade do Mondego, primeira metade do século XX. In: História, Empresas, Arqueologia Industrial e Museologia. 2021. Edição Imprensa da Universidade de Coimbra, pg. 259-290.
Será já, depois de amanhã, 6.ª feira, pelas 18h00, que a Arquiteta Isabel Anjinho irá apresentar uma comunicação sobre a história conhecida do “castelo de Coimbra”, ilustrada com imagens 3D que nos permitem visualizar como seria aquela estrutura defensiva da Cidade.
A palestra, como vem sendo habitual, decorrerá na Sala D. João III, do Arquivo da Universidade, sito na Rua de S. Pedro muito perto do antigo CADC, hoje Instituto Justiça e Paz.
AUC. Sala D. João III, conferência
A entrada é livre após a apresentação será aberto um período de debate para que todos possam esclarecer eventuais dúvidas.
A presença de todos os interessados em conhecer a história de Coimbra é importante, bem como a sua ajuda na divulgação do evento.
Rodrigues Costa
O arquiteto Augusto de Carvalho da Silva Pinto aderiu mais tarde a este movimento, mas nem por isso deixou de, ao longo dos tempos, o impulsionar ativamente; nascido em Lisboa, depois de ter sido professor na Escola Superior de Belas-Artes deslocou-se a França, a fim de aí aprofundar os seus conhecimentos. Regressou em 1895 e radicou-se em Coimbra, terra que adotou como sua e onde, para além de ter sido diretor e professor da Escola Industrial Brotero e de ter colaborado com a Escola Livre das Artes do Desenho, deixou numerosos trabalhos, alguns deles também relacionados com a arte do ferro.
Augusto de Carvalho da Silva Pinto
António Augusto Gonçalves entregou-se ao ressurgimento do trabalho em ferro com o mesmo fanatismo que lhe era reconhecido no respeitante às outras artes e “encontrando” em Manuel Pedro de Jesus que, por volta de 1900, já era sócio da Escola Livre, aptidões excecionais para a serralharia decorativa, incentivou-o a trabalhar nesse campo. O artista foi contemporâneo e comparticipante, com João Machado, no desenvolvimento e na afirmação, em Coimbra, da arte do ferro forjado.
Quando finalmente, em 1907, na Escola Industrial Brotero, começaram a funcionar as oficinas de marcenaria e talha, de serralharia, de cerâmica e de formação, Manuel Pedro foi nomeado mestre da de serralharia, lugar que, em 1925, voltava a ocupar, sendo-lhe então reconhecida uma enorme competência e a capacidade de saber aliar a um profundo conhecimento prático da sua especialidade, a teoria necessária, para que o ensino resultasse profícuo e consistente.
Os serralheiros da Escola de Coimbra
Provavelmente, Manuel Pedro não se manteve ininterruptamente à frente da oficina de serralharia da Escola Industrial Brotero desde 1907 até depois de 1925, porque se sabe que, em 1914, foi exonerado, a seu pedido, do lugar de mestre da referida oficina António Maria da Conceição “que, enquanto ali esteve, desempenhou esse cargo de modo a merecer elogios de todo o professorado de referida Escola”.
A indústria contemporânea do ferro forjado renasceu em Coimbra com a nova centúria, viveu na cidade, mas espalhou-se por todo o país. Homens e mulheres de bom gosto e fartos meios económicos faziam as suas encomendas aos serralheiros do burgo, que também não eram esquecidos pelos arquitetos lisboetas e não só.
Adães Bermudes, arquiteto de Lisboa e engenheiro das construções escolares, em 1907, ao passar por Coimbra vindo de Viseu, demorou-se algumas horas para entregar os desenhos de umas varandas destinadas a decorar um grande prédio situado num dos mais concorridos lugares de Lisboa e que ele projetara, a fim de elas serem executadas, em ferro forjado, por quatro artistas desta cidade. O convite foi considerado uma honra e a encomenda devia importar em 1:400$00. As peças utilizam o estilo moderno e o ferro curva-se dando o recorte de animais em linhas elegantes, “formando uma renda de um desenho leve e cheio de espírito, sem perder a aparência de solidez que a natureza da matéria impõe como condição essencial”.
Arnaldo Redondo Adães Bermudes
A execução deste trabalho foi entregue aos artistas António Maria da Conceição, João Gomes, Lourenço de Almeida e Manuel Pedro de Jesus; em setembro desse mesmo ano a primeira remessa da tarefa já havia sido enviada e o redator do jornal Resistencia soubera “que o arquitecto ficara satisfeitíssimo com a obra dos serralheiros de Coimbra”.
O Noticias de Coimbra tecera algumas observações acerca dos trabalhos que Adães Bermudes encomendara àqueles artistas e o Resistencia transcreveu os comentários: “Além desta tarefa, destinada a um edifício em construção na Avenida D. Amélia [atual Almirante Reis], em Lisboa, também o mesmo arquitecto confiou ao sr. Alfredo Fernandes Costa a execução de um portão no estilo D. João V, para o palácio do conde de Agrolongo.
Palacete do Conde de Agrolongo. Imagem acedida em https://lisboadeantigamente.blogspot.com/2016/11/palacete-do-conde-de-agrolongo.html
É com grande satisfação que tornamos públicas estas apreciações aos trabalhos dos nossos conterrâneos que tanto se têm dedicado pelo desenvolvimento da sua arte, deixando ganância para só honrarem os seus nomes de artistas e a sua terra”.
Raul Lino desenhava peças para eles forjarem; Álvaro Machado, quando viu, em Lisboa, a grade de um túmulo executada por Manuel Pedro de Jesus, teve esta expressão: "Mas como é que os serralheiros de Coimbra têm a liberdade para amoldar o ferro como desejam!?". Afirmação feita por um arquiteto de reconhecido mérito que, por si só, era suficiente para legitimar a competência dos serralheiros aeminienses.
Em 1928 o comissário geral representante, em Portugal, da exposição de Sevilha convidou os artistas conimbricenses ligados à serralharia artística para participarem na exposição com trabalhos no estilo D. João V.
Também na exposição que Raul Lino levou a efeito, em Coimbra, nas salas do Instituto, onde apresentou, entre projetos, anteprojetos, plantas, esboços, fotografias, etc., trinta e nove peças, foi feita referência a trabalhos “de distinctos artistas de Coimbra”, concretamente a João Machado, na escultura, e a Manuel Pedro de Jesus e a Lourenço Chaves de Almeida, no ferro forjado.
Raul Lino escolheu a cidade de Coimbra para expor os seus trabalhos, “de construção económica e em estilo português”, em virtude de se estar a programar o bairro do Penedo da Saudade, “onde ficariam muito bem prédios daquele tipo” e também porque “o meio artístico de Coimbra permit[ia] uma avaliação correcta da sua obra”.
Raul Lino
No entanto, para sobreviver, a arte do ferro não podia apenas contar com encomendas vultuosas, teria de se democratizar, como bem dizia o Dr. Quim Martins e, para tal, fazer com que se tornassem necessários os objetos mais simples e de uso corrente, manufaturados naquele metal. A par com os grandes candelabros, com os leitos pompeianos, com os portões da Faculdade de Letras ou do Palácio da Justiça, teriam de surgir as grades das varandas, os pequenos portões de jardins, as bandeiras das portas, as tabuletas de anúncios, os gradeamentos dos muros, os portais dos jazigos, as pequenas grades de campas, os puxadores das gavetas e as dobradiças das arcas. Realmente, a arte do ferro, democratizou-se, a indústria vingou e, para além das peças que ainda hoje ornamentam tantas casas e causam orgulho aos que as fruem, Coimbra passou a ser, como lhe chamou Vergílio Correia, a “cidade das grades”.
Avenida Dias da Silva. Grade de varanda
Largo João Paulo II. Casa dos Martas. Grade da bandeira da porta
Coimbra, “a cidade das grades”.
Ninguém podia imaginar que nas negras e mal apetrechadas serralharias de Coimbra, entre as labaredas rubras das suas forjas e o ruído dos malhos tirando chispas fulgurantes dos vagalhões candentes, existia, latente, à espera de a despertarem, essa força criadora que transforma o ferro duro e de aspeto indomável em peças de requintado gosto artístico.
Anacleto, R. A arte do ferro forjado na cidade do Mondego, primeira metade do século XX. In: História, Empresas, Arqueologia Industrial e Museologia. 2021. Edição Imprensa da Universidade de Coimbra, pg. 259-290.
É já na próxima 6.ª feira, dia 26 de maio, pelas 18:00, que irá decorrer no Arquivo da Universidade de Coimbra, na Sala D. João III, a penúltima das Conversas Abertas desta série, como sempre com entrada livre e aberta a participação de todos.
A palestrante será a Arquiteta Isabel Anjinho, que vem realizando uma notável obra da investigação sobre o passado da nossa Cidade e que, desta vez, falará sobre o CASTELO DE COIMBRA.
Além da exposição oral, as imagens em 3D permitirão conhecer o que era o castelo e como o mesmo se inseria na malha urbana de então.
Apresentamos a folha de sala que estará à disposição de todos os participantes.
Folha de sala
Participe e ajude na divulgação deste evento.
Rodrigues Costa
A tradição artística coimbrã assentava as suas bases na pedra, não no ferro. Deste, nos alvores do século XX, e, pese embora, a existência de vários estabelecimentos ‘industriais’ deste ramo, poucos testemunhos significativos se encontravam na cidade, enquanto que, daquela, começaram a surgir, espalhados um pouco a esmo, como dizia Augusto Mendes Simões de Castro, no seu Guia historico do viajante no Bussaco, “verdadeiros primores do escopro e do cinzel”.
Existem muitas razões válidas capazes de explicar este surto artístico, que passa pela proximidade física dos trabalhos dos mestres escultores renascentistas, sem nos esquecermos da relativamente curta distância a que se encontram as pedreiras de Ançã; os blocos dali extraídos, brancos, macios e dóceis, permitem um trabalho fácil e de bonito efeito.
Pedra de Ançã, pedreira
A partir do início da segunda metade do século XIX começaram a realizar-se, principalmente na Europa, Exposições Universais, antecedidas, em cerca de noventa anos, pela efetivação, sobretudo em França e em Inglaterra, de pequenas mostras industriais, que muito contribuíram para o desenvolvimento dos respetivos países; estes certames animavam o aparecimento de novos inventos e funcionavam como parte fundamental da engrenagem da sociedade industrial.
Exposição Universal de 1900. Galeria das máquinas.
Nessas apresentações as máquinas não serviam o fim a que se destinavam, mas convertiam-se em objetos destinados a ser observados pelos espectadores, maioritariamente (potenciais) profissionais.
Primeira Exposição Universal. Londres. 1851.
… Além disso, estas mostras funcionavam ainda como espelho da sociedade, como festa política, como meio de propaganda e de demonstração de poder. Evidenciava-se ainda a relação direta que se estabelecia entre produtores, comerciantes e consumidores.
Durante todo o século XIX a indústria do ferro (primeiramente empregue como fundido, depois forjado e finalmente sob a forma de aço) progrediu, foi utilizado na arquitetura e toda a sua evolução se encontra patenteada nessas exposições.
As Exposições Universais eram, para o país que as organizava, a expressão do espírito de emulação, de criatividade, do desenvolvimento comercial e industrial, do estatuto das relações económicas internacionais, da afirmação do prestígio nacional, da focalização das questões sociais e da valorização da missão
Exposição Universal de Paris. 1900. Vista Geral
Em 1900, a Exposição Universal de Paris atraía sobre si as atenções de todo o mundo civilizado. António Augusto Gonçalves não podia ficar indiferente a esta manifestação e, por isso, vencidas algumas dificuldades, ei-lo a caminho da Cidade das Luzes, afim de, in loco, entrar em contacto com as maravilhas ali patenteadas. Imagine-se o impacto que a mostra exerceu sobre este homem inteligente e artista, saído de uma longínqua cidade de província, com foros e pergaminhos de culta, mas isolada, fechada e distante de tudo quanto fosse civilização e progresso.
A secção de «ferronerie» “prendeu-lhe muito as vistas e criou-lhe sonhos”. Questionava-se acerca das razões impeditivas de se produzirem peças idênticas em Coimbra, até porque os resultados expressos naquele setor se encontravam dentro da linha de pensamento de uma época que se iniciara alguns anos antes, quando o trabalho em série, feito pela máquina, começou a ser posto em causa. A personalidade e a originalidade do artista deixavam de ter peso na peça fabricada e António Augusto Gonçalves não aceitava de bom grado este facto, até porque ele, na sua Escola Livre orientava os alunos na composição e na execução da peça, mas ‘impunha-lhes’ a obrigatoriedade de o não seguirem servilmente, mantendo e vincando o seu subjetivismo e individualidade.
Ainda a quilómetros de distância, Mestre Gonçalves relembrava e analisava os trabalhos de ferro enviados pelos artistas conimbricenses às últimas exposições locais e constatava que as peças apenas patenteavam habilidade manual.
No regresso, interrogava-se acerca do caminho a trilhar, a fim de modificar este estado de coisas e sonhava desenvolver, em Coimbra e com o ferro, uma arte que atingisse nível similar ao da pedra. Confiou o desejo ao Dr. Joaquim Martins Teixeira de Carvalho, o bom Quim Martins, que tanto ajudou, com a pena e com a amizade, os artistas mondeguinos, e transmitiu-o também a João Machado, o burilador para quem a pedra não tinha segredos.
João Machado
A ideia foi germinando e Machado, um belo dia, com quatro pedras, improvisou, ao canto da sua oficina, uma incipiente forja, a fim de tentar manufaturar um florão, destinado a servir de puxador de gaveta. O ferreiro a quem pedira emprestados os utensílios necessários, veio ver e ensinou-o a bater o ferro. O artista entusiasmou-se e pôs de parte, durante algum tempo, o seu amor pela pedra, chegando mesmo a debuxar e a forjar algumas peças.
Assim ressurgiu, em Coimbra e acalentada pela ELAD, uma arte que, durante longos anos, sofrera as consequências do desprestígio; a sua certidão de batismo, que não a de nascimento, foi passada quando Manuel Pedro de Jesus bateu, segundo um desenho e com direção de António Augusto Gonçalves, uma grade para o monumento funerário que então se erigiu no cemitério da Conchada em memória de Olímpio Nicolau Rui Fernandes, o fundador e principal dinamizador da Associação dos Artistas, coletividade criada em 1862. Olímpio Nicolau Rui Fernandes, homem que, nascido em Lisboa, se radicara em Coimbra, onde exerceu o cargo de Administrador da Imprensa da Universidade, maçon convicto, morreu na casa que habitava na Rua da Ilha, a 02 de abril de 1879.
Manuel Pedro de Jesus. Porta e grade de jazigo
Manuel Pedro de Jesus. Lampião. Alpiarça, "Casa dos Patudos"
Anacleto, R. A arte do ferro forjado na cidade do Mondego, primeira metade do século XX. In: História, Empresas, Arqueologia Industrial e Museologia. 2021. Edição Imprensa da Universidade de Coimbra, pg. 259-290.
Em 1878, António Augusto Gonçalves, homem dotado de grande capacidade de iniciativa e de vasta cultura, fundou a Escola Livre das Artes do Desenho (ELAD), o que lhe veio a permitir, mais tarde, impulsionar, em Coimbra, as artes industriais.
António Augusto Gonçalves. Acervo RA
Na Associação dos Artistas, onde Gonçalves também era professor, ministravam-se aulas gratuitas de desenho, em horário pós-laboral, a fim de não colidirem com a atividade das classes laboriosas a que se destinavam. O Mestre apercebeu-se do interesse que os operários demonstravam em ampliar os seus conhecimentos, mas estava consciente de que aquele não era o local mais conveniente para desenvolver determinadas capacidades absolutamente necessárias aos artistas. Para além deste óbice existiam outras motivações que conduziram à fundação da ELAD.
Emblema da Escola. Imagem acedida em http://baimages.gulbenkian.pt/images …
Diploma escolar da ELAD. Acervo RA
Teixeira de Carvalho dá a resposta a estas causas quando escreve que «A Escola Livre das Artes de Desenho foi criada por oposição ao ensino da Associação dos Artistas, todo cheio de peias e formulas dum burocratismo ridículo».
António Augusto Gonçalves, «comquanto discípulo, sócio e mestre da Associação dos Artistas», não se identificava com a orientação perfilhada naquela agremiação.
Na verdade, a criação da ELAD obedeceu “ao desejo de reunir todos os indivíduos que manifestavam aptidões artísticas, de propagar o estudo do desenho nas suas múltiplas aplicações às artes e às artes industriais, de tornar fácil e acessível a aquisição de conhecimentos sobre a forma de trabalhar os diversos materiais ensinando os principios de estética indispensáveis à compreensão e interpretação das obras de arte” e os seus estatutos, embora com carácter provisório, foram aprovados na Assembleia Geral de 25 de outubro de 1880. Do Artigo 1.º salienta-se o desejo de impulsionar “todos os meios que possam favorecer em Coimbra, e mormente na classe operaria, o desenvolvimento do gosto, aperfeiçoamento das manufacturas e intelligencia das obras d'arte”.
‘Tugúrio de Almedina’
No ‘Tugúrio de Almedina’, onde as relações entre professores e alunos se estreitavam e confundiam, formaram-se serralheiros, canteiros, escultores, marceneiros, entalhadores, ceramistas e pintores, que procuraram colher ensinamentos válidos no campo da história da arte, quer através de conferências, verdadeiras lições, proferidas por alguns eminentes vultos deste ramo do saber ou, sempre que tal o justificasse, deslocando-se às terras circunvizinhas, a fim de, in loco, observar pormenorizadamente os monumentos. Ninguém ignora que, em história da arte, a análise das peças se torna tão necessária, quanto a investigação, porque saber ver, é vital.
No contexto desta filosofia podem referir-se, apenas como meros exemplos, a visita ao “convento de S. Marcos” orientada por António Augusto Gonçalves, tendo “os artistas, encantados, fotografado diversos aspetos e modelado em barro alguns dos graciosos capitéis”; as deslocações a Lorvão e a Condeixa; e a excursão à Batalha e a Alcobaça que lhes permitiu visitar, para além destes monumentos, o castelo de Leiria e a capela de S. Pedro.
Escola Livre das Artes e Desenho, visita de estudo
Participaram ao todo vinte e quatro excursionistas, todos sócios, e “António Augusto Gonçalves fez várias preleções sobre o assunto”.
Verdade seja que alguns dos lavrantes mais novos, poucos foram, acabaram a sua aprendizagem na Escola de Desenho Industrial Brotero, criada em 3 de Janeiro de 1884, certamente na sequência da política educacional do governo, mas também por causa dos resultados da ELAD, uma associação, que mais parecia uma confraria, onde se havia “encarnado a singular revivescência do espirito das antigas corporações de ofícios”. O referido estabelecimento de ensino, a fim de satisfazer as pretensões da cidade, acabou por ser transmutado em Escola Industrial Brotero através de decreto assinado pelo ministro Emídio Navarro a 10 de janeiro de 1889.
A Escola Livre não nasceu espontaneamente e, embora tenha sido, em Portugal, a pioneira, a verdade é que estabelecimentos deste tipo eram já recomendados naqueles países onde a indústria se encontrava mais desenvolvida e tecnologicamente mais avançada.
Em Inglaterra, no ano de 1832, antes de ser votada a lei eleitoral, na Câmara dos Comuns, discutiu-se a fundação de uma Galeria Nacional; ao longo do debate, referiu-se, pela primeira vez, a importância social da arte aplicada e um dos deputados chamou a atenção para a ligação íntima existente entre os interesses industriais e o encorajamento que devia ser dado às belas-artes. Posteriormente, o governo inglês nomeou uma comissão de inquérito que, ao elaborar o trabalho de que fora incumbida, questionou acerca do assunto, não só os industriais, como também os técnicos que faziam os projetos e ainda os artistas e os membros da Real Academia; depois de analisadas as respostas, concluiu ser absolutamente necessária a criação de um organismo apropriado ao ensino e difusão das artes e que essa instituição, outra não podia ser, do que uma escola de desenho.
Realmente, bem elucidado e informado se encontrava Gonçalves, porque, para vitalizar as artes na cidade mondeguina, verdadeiro alfobre de artistas na época renascentista, recorreu a meios que, embora já postos em prática noutros países cinquenta anos antes, ainda não tinham feito a sua entrada em Portugal. A cidade e os artistas que dessa Escola saíram, muito lhe devem.
Anacleto, R. A arte do ferro forjado na cidade do Mondego, primeira metade do século XX. In: História, Empresas, Arqueologia Industrial e Museologia. 2021. Edição Imprensa da Universidade de Coimbra, pg. 259-290.
Iniciamos com esta entrada, uma série de treze, onde transcrevemos o artigo da Doutora Regina Anacleto publicado no volume História, Empresas, Arqueologia Industrial e Museologia, editado pela Universidade de Coimbra em 2021, e destinado a homenagear o Professor Doutor Amado Mendes, após a sua jubilação.
Op. cit., capa
Trata-se de um artigo de síntese que dá a conhecer a pesquisa efetuada por Regina Anacleto relacionada com Escola Livre das Artes e do Desenho e, neste caso concreto, com a plêiade de artistas que então batiam o ferro e ali foram formados – os ourives do ferro – artistas que colocaram Coimbra no topo da serralharia artística do País.
O artigo constitui um todo, embora seja possível dividi-lo tematicamente, como aqui o tentamos. Dada a sua extensão, poderão vir a ocorrer hiatos na sua sequência.
Coimbra, nos finais do século XIX e inícios do XX apenas saía da pacatez que a envolvia quando festejava qualquer santo da sua devoção, quando se realizavam as tradicionais feiras, romarias e festas populares ou quando aqui se deslocavam personalidades, quase sempre, do foro político ou cultural. Nessa ocasião, o quotidiano das gentes do burgo sofria alterações.
Comboio na Portagem
Na urbe, grosso modo, intelectuais e artífices movimentavam-se em quadrantes espaciais diferentes e, enquanto os primeiros, gravitavam em torno da velha alcáçova, os segundos haviam-se instalado preferencialmente na zona baixa, já fora de portas, em ruas estreitas, que se desenrolavam circularmente em torno dos já inexistentes muros, apenas a adivinharem-se no perímetro urbano da cidade. É verdade que na zona da Alta também se encontravam instalados artesãos, mas relacionados, quase sempre, com aspetos culturais; refiram-se, como exemplo, os operários que exerciam a sua atividade nas diversas tipografias ali sediadas.
No entanto, em Coimbra, o desenvolvimento industrial era lento e penoso, até porque se tratava de uma terra quase provinciana, de parcos recursos económicos, onde muito pouco havia para investir.
Avenida Navarro, 1.ª metade do sec. XX. Acervo RA
Mesmo assim, nos finais de Oitocentos, existiam na cidade, embora com relevância diversificada, várias fábricas; algumas delas, apesar de apelidadas como tal, não ultrapassavam a dimensão de meras oficinas ou de pequenas unidades fabris.
Recorde-se a sociedade “Aníbal, Lima & Irmãos”, de fiação e tecelagem, fundada em 1887 e que, quando em 1894 instalou no Rego de Benfins, próximo de Coselhas, a Fábrica conimbricense de artefactos de malha introduziu em Coimbra a indústria algodoeira; o grupo altera o pacto social no ano de 1913 e, provavelmente, na sequência, constrói uma nova fábrica na Rua do Gasómetro (atual João Machado), passando a designar-se “Aníbal de Lima & Irmão, L.da”. Encerrou em 1978.
Do outro lado do rio, em Santa Clara, mais concretamente na Rua da Feitoria dos Linhos, localizava-se a Fábrica de sabão, fundada em 1871 por Augusto Luiz Martha, ainda a laborar no ano de 1983 sob a designação de “Augusto Luiz Martha, Sucessores, L.da”.
Fábrica de sabão “A Lusitana” conhecida por Marthas. Imagem acedida em https://www.google.pt/search?q=augusto+luiz+martha+sucessores+lda&source
... A Fábrica de lanifícios de Santa Clara, instalada no antigo convento de S. Francisco, também na margem esquerda, girando sob o nome de “Peig, Planas & C.ª”, iniciou a sua atividade em 1888; no ano de 1983 ainda se mantinha aberta com o nome de “Clarcoop. Tecidos e confecções”, mas encerrou definitivamente as portas em 1994.
Fábrica de Lanifícios de Santa Clara, vista aérea das instalações
A Cerâmica de Coimbra, L.da, trabalhava o barro, pelo menos desde 1867, num local que se situa entre a Rua Direita, o Quintal do Prior e o Terreiro da Erva.
O Conimbricense, em 1891, referia ainda a existência, em Coimbra, de fábricas de massas, de moagem e de padarias. Seis anos depois, o mesmo periódico informa, especificando-as, que se podem encontrar em Coimbra trinta e uma fábricas.
A fundição e a serralharia apresentavam então um certo desenvolvimento, não só porque existiam estabelecimentos em número considerável, como porque eram credenciados, dado que recebiam “numerosas encomendas para esta cidade, e para fora d’ellla”.
Acerca do assunto, O Conimbricense, em 1891, escrevia: “Da fundição ha em Coimbra os estabelecimentos dos srs: Manoel José da Costa Soares, rua da Sophia. José Alves Coimbra, rua das Solas. E de serralheria temos conhecimento das seguintes officinas: Eduardo & Almeida, rua da Magdalena. Joaquim Diniz de Carvalho, largo da Fornalhinha. Antonio Diniz de Carvalho, rua da Gala. Augusto Diniz de Carvalho, rua das Padeiras. Francisco Marques da Costa, Paço do Conde. José Pedro de Jesus, rua das Solas. José Simões Paes, Ameias. José dos Santos Donato, rua da Moeda. João Lopes Junior, rua da Sophia. José Miguel Cabral, rua Direita. Francisco Nogueira Secco, terreiro da Erva. João Pedro de Jesus, Ameias. Manuel Pedro de Jesus, rua da Magdalena. António Gomes, rua da Moeda. Antonio da Silva Espingarda, rua das Solas. Justiniano Gomes Ferreira, rua de Borges Carneiro. Bento Ferreira, claustro de S. Salvador. José Dias Ferreira, rua dos militares. Também junto á serralheria dos srs. Eduardo & Almeida está a officina de carruagens dos srs. Bento Rocha & C.ª. E o sr. Manoel José da Costa Soares, além da fundição, tem oficinas de carruagens e serralheria, e fabrica de moagens”.
Contudo, penso poder dizer que estas oficinas gravitavam em torno de trabalhos quase sempre relacionados com as necessidades do quotidiano, ou seja, com a lavoura e com os transportes.
Anacleto, R. A arte do ferro forjado na cidade do Mondego, primeira metade do século XX. In: História, Empresas, Arqueologia Industrial e Museologia. 2021. Edição Imprensa da Universidade de Coimbra, pg. 259-292.
Terminamos esta pequena série de entradas relacionadas com os carros americanos que circularam em Coimbra, republicando o que sobre o tema escrevemos para a comunicação que apresentámos ao I Encontro Nacional sobre o Património Industrial, trabalho que se encontra publicado nas Actas e Comunicações. Volume I, daquele evento, editado em 1989, a páginas 265-278.
I Encontro Nacional sobre o Património Industrial. Actas e Comunicações. Volume I, capa
A referida comunicação insere, entre outros, o subtítulo, Os primórdios dos transportes urbanos em Coimbra e o excerto que se segue foi adaptado a partir do que ali se encontra mencionado:
Carro Americano. Aguarela de Autor não identificável. Acervo RA
A história. dos transportes urbanos em Coimbra inicia-se em fevereiro de 1873 quando Evaristo Nunes Pinto e Camilo Mongeon, a quem já tinha sido concedida licença para explorarem, na cidade, através da utilização de carros americanos, os transportes públicos, solicitaram à Câmara a autorização, acompanhada da planta do projeto, destinada a instalarem uma linha que ligasse a estação do caminho de ferro do Norte ao centro da cidade.
O município, a 20 de fevereiro, deu o seu aval. Todavia, o processo, forçosamente, teria de se arrastar, a fim de permitir a sua montagem, e, apenas em setembro de 1874, a empresa entretanto criada – a Rail Road Conimbricense – comunica ao Município «a abertura à exploração da linha desde a Calçada à estação do caminho de ferro do Norte».
Na cidade, a inauguração do início da circulação dos carros americanos aconteceu a 15 de setembro de 1874 e, no dia seguinte, foi assim noticiada pelo jornal o Tribuno Popular:
“Partiram da Calçada 3 carros americanos. No primeiro seguiam os diretores, as autoridades de Coimbra e demais convidados. No segundo carro seguia na Imperial [deduz-se que, pelo menos um dos carros tinha segundo piso, a chamada «Imperial»] a Filarmónica de Conimbricense que tocava o hino da Carta. Muita gente a assistir, muitos foguetes. Pelas 3 horas da tarde foi servido um opíparo jantar na sede da Sociedade Terpshicore”.
Mas a vida da Rail Road Conimbricense não foi fácil, e o pedido de autorização apresentado em 1885, «Para estender a sua linha da Portagem ao Cais das Ameias» (a atual Estação Nova) e para efetuar «um abatimento de 40 a 60 reis nos preços dos bilhetes», não passou de uma tentativa frustrada destinada a combater uma concorrência mais forte: a entrada em funcionamento do ramal do caminho de ferro de Coimbra B ao Centro da Cidade.
Carro americano na Praça 8 de Maio. Acervo RA
Uma segunda fase de utilização dos carros americanos em Coimbra inicia-se em 30 de outubro de 1902, quando «Augusto Eduardo Freire de Andrade pede a concessão duma linha férrea, sistema americano, nas ruas da cidade, para tração animal».
Este processo só seria concretizado pela Companhia de Carris de Ferro de Coimbra, entretanto criada, em 1 de janeiro de 1904, e permitiu o «estabelecimento da ligação da atual estação de Coimbra-B com o Largo da Portagem, a que se seguiu, em 4 de fevereiro do mesmo ano, a abertura de um novo troço entre a Praça 8 de Maio e a Rua Infante D. Augusto» (junto à Universidade).
Carro americano aos Arcos do Jardim, puxado por 6 cavalos. Acervo Henrique de Melo
Todavia, este último troço cedo se verificou não ser operacional em função do acidentado do percurso e consequente agravamento de custos, como bem se pode comprovar pela observação da gravura anexa.
A derradeira notícia conhecida relacionada com a atividade desta Empresa, data de 3 de fevereiro de 1916, quando o Município reconheceu que «estando o transporte de malas do correio para os comboios da noite a fazer-se no antigo carro americano puxado a muares» decidiu autorizar que o mesmo transportasse também passageiros.
Ainda neste período deve assinalar-se a efémera existência – com início em janeiro de 1907 – da primeira carreira de autocarros em Portugal que, nesta Cidade, ligava a zona da alta à zona da baixa, iniciativa da Empresa Automóveis Tavares de Mello Coimbra, que para o efeito utilizava carros «de 4 cilindros com a força de 24 cavalos e transportavam 20 pessoas».
Autocarro em Coimbra. In: «Ilustração Portuguesa», II Série, n.º 50, de 4 de fevereiro de 1907.
A terminar, uma curiosidade: na Figueira da Foz, cerca de 1880, também já circulavam carros americanos.
Carro Americano da Figueira da Foz, c. 1880. Acervo RA
Rodrigues Costa
É já na próxima 3.ª feira, às 11h00, nas instalações da Casa dos Pobres, atualmente empenhada num processo de obras de ampliação, que vai ter lugar o lançamento do livro que ofereci aquela Instituição.
Op. cit., capa
Recorda-se, no volume em causa, a forma como a Instituição surgiu, num tempo diferente e com o propósito de erradicar das ruas de Coimbra a prática da mendicidade, bem como soube, ao longo de quase um século, acompanhar os novos tempos e evoluir, mantendo sempre uma ligação umbilical com a Cidade.
A Casa dos Pobres é, e será sempre uma, obra de Coimbra e de todos os que aqui habitam.
Na atualidade é uma Instituição Particular de Solidariedade Social que se pode considerar de referência, quer pelas instalações, quer, essencialmente, por força da capacidade técnica e da formação de quantos ali trabalham.
Casa dos Pobres de Coimbra. Acesso principal
Na contracapa do livro, a Presidente em exercício, Maria Luísa Carvalho, salienta:
A Casa dos Pobres de Coimbra a comemorar 87 anos de existência e com a sua história, tem sido ao longo dos anos respeitada e acarinhada por toda a Cidade. Tudo se fará para corresponder às espectativas criadas, continuando a defender os mesmos princípios de solidariedade para com os mais desprotegidos.
Neste sentido faço um apelo para que os nossos concidadãos nos continuem a apoiar como no passado.
Tenho a certeza que assim acontecerá.
Por meu lado relembro:
A Casa dos Pobres de Coimbra sendo uma lnstituição com história é evidente que o passado marca de forma indelével o presente. O caminho de hoje é uma consequência necessária do caminho feito.
As marcas distintivas da Casa dos Pobres foram, e são, uma profunda ligação à Cidade e uma gestão rigorosa, criteriosa e transparente.
Será na "nova`` Casa dos Pobres resultante da ampliação das atuais instalações que o futuro será construído com a ajuda de todos os de Coimbra.
Convite para o evento
Esperamos por Si e pela sua ajuda.
Rodrigues Costa
Através de Pedro Rodrigues da Costa chegou-nos uma outra informação relacionada com os transportes, em Coimbra, levados a cabo pelos Carros Americanos.
Trata-se de 3 bilhetes relacionados com o transporte de passageiros em carros americanos, emitidos pela empresa Carris de Ferro de Coimbra, pertencentes à coleção de José Luís Covita e que, seguidamente, divulgamos.
Bilhete 1. Acervo José Luís Covita
Bilhete 2. Acervo José Luís Covita
Bilhete 3. Acervo José Luís Covita
Relativamente aos bilhetes que ora divulgamos, tem de se salientar:
- No bilhete 1 o destino aparece com a designação de “Casa do Sol”, o que deverá ser, muito provavelmente, um erro de escrita, porque o destino deveria ser “Casa do Sal”, ou seja, a zona onde terminava a atual Rua da Figueira da Foz. Segundo José Pinto Loureiro esta designação foi atribuída por deliberação camarária de 2 de Julho de 1903, à rua que ligava a extremidade norte da Rua da Sofia, mesmo em frente da Rua João Augusto Machado, com a extremidade sul da Rua do Padrão, no ponto hoje conhecido por Casa do Sal, no cruzamento com a rua que vem de Coselhas.
Casa do Sal e Água de Maias. Foto Varela Pécurto. In: Voar sobre Coimbra
2 – No segundo bilhete surgem os seguintes topónimos atualmente desaparecidos:
. Largo D. Carlos, designação efémera do Largo da Portagem, deliberada pelo Município em 13 de maio de 1886.
Largo da Portagem, em finais do século XIX
. Infante, dever-se-ia referir à Rua Infante D. Augusto, atual Rua Larga. Ainda de acordo com José Pinto Loureiro esta rua teve, ao longo dos séculos, diversas designações, pois passou por Rua da Alcáçova e por Rua do Colégio Real até de fixar, nos finais do século XVII, no topónimo Rua Larga. Seguiram-se, posteriormente, diversas designações, mais ou menos efémeras: Rua Infante D. Augusto, por deliberação camarária de 17 de julho de 1868; Rua Cândido dos Reis, por deliberação de 20 de outubro de 1910; mas voltou à primitiva designação de Rua Larga por deliberação de 11 de julho de 1929.
Rua Larga, inícios do século XX
. Gasómetro designaria a zona do atual parque de estacionamento do Palácio da Justiça, com entrada pela Rua Figueira da Foz, no local onde, outrora, funcionou fábrica de produção de gás de iluminação.
Fábrica de gás de iluminação, ou o Gasómetro
3 – No terceiro bilhete para além das designações já atrás mencionadas aparece um novo topónimo:
. Largo D. Luís, designação atribuída, em reunião camarária de 24 de outubro de 1889, ao largo do novo bairro de Santa Cruz. Esta nomenclatura viria a ser alterada na já referida reunião de 20 de outubro de 1910, para Praça da República.
Largo D. Luís, nos finais do século XIX
Rodrigues Costa
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