Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

A' Cerca de Coimbra



Terça-feira, 24.01.23

Coimbra: Cadeiral de Santa Cruz 4

Do Cadeiral SC, pg. 163a.jpg

Op. cit., pg. 163

 A escravatura pode definir-se como a dependência absoluta e incondicional do ser humano com respeito à vontade de outrem.

A sua origem tem várias causas, entre as quais estas: a carência de mão-de-obra, e o direito de guerra (cf. Domingos Maurício, no artigo «Escravatura» na «Enciclopédia» VERBO).

A venda de José, filho de Jacob, a uns negociantes amalecitas que por sua vez o venderam no Egipto a Putifar, é uma das referências bíblicas à escravatura («Génesis», XXXVII). Escravos foram depois os israelitas no Egito, obrigados a trabalhar em condições desumanas m construção de cidades. Dessa escravidão os libertou Moisés.

No tempo em que foi feito o Cadeiral anda a escravatura era largamente praticada na Europa e na África. Não Admira, pois, que a figura do escravo apareça na ate daquele tempo. Por outro lado, as guerras com os mouros e outras faziam numerosos prisioneiros, que depois, em muitos casos, eram convertidos em escravos.

Para a abolição da escravatura contribuiu em grande parte o cristianismo com a doutrina da fraternidade humana.

A figura aqui representada parece mais um prisioneiro do que um escravo. Com efeito, as suas vestes são amplas e dornadas de uma espécie de franja em bicos, que nos parece indicar pessoa de certa posição social que por qualquer motivo foi metida em ferros. Preso à parede pela cintura, tem os pés amarrados. Dois anéis abraçam-lhe as pernas acima dos tornozelos, e um engenhoso sistema de argolas une e fecha os dois anéis. Faltam-lhe as mãos, a direita mutilada antes da atual douradura, e também o nariz está mutilado. Apesar disso, é uma bela estátua esta.

 

Do Cadeiral SC, pg. 195a.jpg

Op. cit., pg. 195

Esta figura é das mais notáveis do Cadeiral, pela nobreza do seu porte, pelo bem concebido da sua composição, pela justeza da sua atitude e pela admirável execução.

De farta cabeleira que cai sobre os ombros, cofia com a mão direita as longas barbas onduladas, enquanto na mão esquerda empunha um alfange, cuja bainha é sustida por uma cadeia de elos retangulares, dos quais, na frente, faltam alguns já anteriormente ao último douramento. Da cintura pende uma bolsa, com uma só borla das duas ou três que teria. Esta bolsa é semelhante a outra a que já me referi em artigo anterior, e indica pessoa de distinção.

Quanto ao alfange, não é muito vulgar a sua forma tão aparatosa. A bainha, em forma de como, vai alargando para o fundo, e é reforçada por três estrias salientes, que no original seriam metálicas. Num relevo da igreja de S. Sebaldo, em Nuremberg, de 1499, representando a prisão de Jesus, um soldado tem suspenso um alfange também curvo, mas a bainha não alarga para o fundo (reproduzido in Gerhard Ulrich, «SChatze deutscher Kunst», München, 1972, pág. 58). Nos primitivos portugueses, designadamente nas representações dos Mártires de Marrocos (de Francisco Henriques e do Mestre do Retábulo de Setúbal), aparecem alfanges brandidos por soldados mouros, o que leva a supor que também esta figura do Cadeiral representará um mouro.

Pereira, A. N. Do Cadeiral de Santa Cruz. 2.ª edição. Introdução de Nunes Pereira, Abertura de Anselmo Ramos Dias Gaspar e Prefácio à segunda edição de Marco Daniel Duarte. 2007. Coimbra, Câmara Municipal. Pg. 163-164 e 193-194.

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 20:03


Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog  

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

calendário

Janeiro 2023

D S T Q Q S S
1234567
891011121314
15161718192021
22232425262728
293031