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Infraestruturas desportivas de apoio à competição
A compreensão plena do que são hoje as exigências do fenómeno desportivo nos seus mais diversos níveis e a paixão pelo futebol da Académica, em termos de alto rendimento, levaram Mendes Silva a ambicionar imprimir uma segunda marca no capítulo da modernização das infraestruturas desportivas de apoio. Com efeito, no início dos anos noventa começava a ser visível, em termos comparativos com o esforço efetuado por outras cidades, a ausência de investimento pelo município de Coimbra em termos de construção de relvados para o treino e a prática do futebol. Recorde-se que, nesta altura, a Académica só podia utilizar e de forma partilhada o relvado do Estádio Universitário, o que já então era claramente insuficiente, quer para o treino da equipa principal, quer para os jogos oficiais das equipas de formação. Neste sentido, é de sublinhar que foi obtido para aquele tempo um patrocínio significativo de um empresário estrangeiro para financiar com “uma verba próxima dos 7.000 contos o arrelvamento dum campo” (in Reunião de 03.09.1991, Actas da Direcção da AAC/OAF). Financiamento que não chegou a traduzir-se em resultados práticos. Todavia, a direção presidida por Mendes Silva conseguiu dotar o OAF de uma Residência para alojar, ao mesmo tempo, os atletas profissionais e os jovens estudantes que ambicionavam fazer competição nas equipas de formação da Académica e tentavam prosseguir com os seus estudos. E sublinha-se que este equipamento foi adquirido num espaço de apenas vinte e sete meses de presidência dos destinos da AAC/OAF, ainda que as direções posteriores tenham tido que, a breve trecho, alienar esse património para fazer face às dificuldades financeiras. A propósito do esforço de compatibilização dos estudos com a formação desportiva, registamos também que, logo em 1990, e durante o primeiro mandato presidencial, a direção da Académica conseguiu que a Fundação Oriente oferecesse “três bolsas de estudo no valor de 65.000$00” (in Reunião de 19.02.1990, Actas da Direcção da AAC/OAF).
Investimento no reconhecimento internacional do mérito desportivo da Académica
A terceira marca incutida pela direção presidida por Mendes Silva traduziu-se numa aposta internacional, em termos de investimento no mérito e no prestígio desportivo da Académica, através da realização de uma digressão e da participação da equipa principal de futebol no Torneio Internacional de Goa organizado na República da Índia. Digressão que decorreu entre 24 de Março e 4 de Abril de 1992 e só foi possível de concretizar por ter contado com o apoio financeiro da Fundação Oriente.
Em termos históricos, esta viagem assinalou a primeira presença de uma equipa portuguesa em solo indiano trinta anos depois da independência de Goa e, não por acaso, contou com uma notável cobertura do enviado especial Manuel António, jornalista de A Bola.
Após uma receção extraordinária e calorosa da comitiva academista no aeroporto de Bombaim, por parte das autoridades políticas e desportivas indianas, testemunhada pela oferta da grinalda de flores – sinal de respeito e de honra na civilização e cultura hindu – e da colocação da tilaka – marca ritual colocada na testa e que é um símbolo de boas vindas ou de auspiciosidade – a cada um dos elementos, dirigentes e atletas, que viajaram de Coimbra para a Índia, a comitiva academista foi confrontada e fotografada no aeroporto com uma faixa com os dizeres “Goa Welcomes Académica”. Só depois desta magnífica e fraterna receção é que toda a delegação desportiva viajou para a cidade de Goa. Importa recordar que, no ano de 1992, esta cidade tinha uma população próxima de um milhão e duzentos mil habitantes. E foi aqui que Fernando Luís Mendes Silva reforçou as intenções de estreitar a colaboração com a Académica de Goa, nesta altura, presidida por Remígio Pinto.
Segundo as crónicas jornalísticas, todos os encontros deste torneio internacional de futebol tiveram lugar no Estádio Jawaharlal Nehru, em Margão. Foi assim que, no dia 25 de Março, a Académica começou por defrontar a Seleção de Goa, a qual foi vencida por 2 golos sem resposta, tendo Mendes sido o autor dos dois golos da partida (cf. Manuel António – “A Bola” na Rota de Vasco da Gama e Afonso de Albuquerque: Triunfo fácil frente a Goa, in A Bola, Lisboa, 26 de Março de 1992, p. 4). O segundo encontro deste torneio internacional verificou-se frente à seleção da Índia de “sub-23”, onde a equipa da Académica teve a oportunidade de, uma vez mais, conquistar uma vitória confortável ao levar de vencida o adversário pela marca expressiva de quatro golos sem resposta. Desta vez, coube a Emanuel marcar dois golos, a Zé de Angola marcar o terceiro golo, e a fechar Latapy marcou um golo memorável, por isso o cronista podia escrever: “Brilhante está a ser o papel que esta embaixada está a desempenhar junto da população desta ex-colónia, que teima em não esquecer Portugal.” (cf. Manuel António – “A Bola” na Rota de Vasco da Gama e Afonso de Albuquerque: Um jogo que valeu pelo golão de Latapy, in A Bola, Lisboa, 28 de Março de 1992, p. 10). Por último, no dia 29 de Março, a Académica disputou a final do torneio ao defrontar a seleção de Sub-21 da Índia. Esta seleção indiana foi batida por 2 golos sem resposta, da autoria de Mendes e de Emanuel. Neste sentido, importa aqui registar quais foram os atletas academistas que alinharam neste jogo de uma final de um torneio internacional, onde a Académica permaneceu invicta e completamente triunfante, foram eles: Pedro Roma; Crisanto, Marcelino (capitão), Palancha e Grosso; Rocha; Latapy, Zé do Carmo, Tozé e Lewis; Mendes. O treinador José Rachão procedeu ainda, na segunda parte do desafio, às seguintes substituições: Gomes entrou para o lugar de Rocha e Emanuel rendeu Lewis; Zé de Angola ocupou a posição de Tozé e Paliça substituiu Mendes (cf. Manuel António – “A Bola” na Rota de Vasco da Gama e Afonso de Albuquerque: Académica venceu Torneio Internacional de Goa, in A Bola, Lisboa, 30 de Março de 1992, p. 2).
Torneio Internacional de Goa. Entrega da taça à equipa vencedora. Acervo Braga da Cruz
No final do encontro, e quando o capitão Marcelino ergueu em público o troféu de vencedor do torneio internacional conquistado pela equipa de futebol da Académica, encerrava, desta forma, uma das páginas mais gloriosas e honrosas da diáspora desportiva portuguesa no continente asiático.
Torneio de Macau. Acervo Braga da Cruz
Torneio de Macau. Jantar com a Governadora de Cantão. Acervo Braga da Cruz
A saudade de um conimbricense de eleição. Acervo Braga da Cruz
Jorge Manuel Pais de Sousa. Cidade e Académica, em Fernando Luís Mendes Silva. Ensaio sobre um perfil de um dirigentedesportivo. Texto inédito preparado para as comemorações dos 120 anos da AAC.
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Nota do Autor do texto
* Este texto nunca poderia ter sido escrito sem a generosidade e a disponibilidade da família de Fernando Luís Mendes Silva, ao disponibilizar toda a documentação e o material fotográfico necessários para que ele pudesse ter alguma importância. Neste sentido, agradecemos, em primeira mão, [mãe] à Manuela Mendes Silva e, muito particularmente, à Margarida Mendes Silva.
Jorge Pais de Sousa [Coimbra, (1960 -2019]. Imagem acedida em http://arepublicano.blogspot.com/2019/05/in-memoriam-jorge-pais-de-sousa-1960.
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Sobre o Autor do texto
Jorge Manuel Garrido Pais de Sousa (Coimbra, 1960-Coimbra, 2019) fez o seu percurso no ensino superior em Coimbra. Iniciou-o com uma licenciatura em Filosofia (1980-1984), a que se seguiu o mestrado em História Contemporânea e, mais recentemente, o doutoramento também na mesma área.
Dedicou-se, sobretudo, ao estudo da história institucional e política e da história cultural e intelectual contemporâneas.
Foi autor de livros, capítulos de livros e dezenas de artigos, publicados em Portugal e no estrangeiro.
Texto acedido em http://arepublicano.blogspot.com/2019/05/in-memoriam-jorge-pais-de-sousa-1960.html
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