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A' Cerca de Coimbra



Terça-feira, 22.11.22

Coimbra: Museu dos Transportes Urbanos. Reflexões 1

Carro elétrico n.º1, à saída da fábrica.jpg

Carro elétrico n.º 1, à saída da empresa construtora, J.G. Brill Company.1910.

Noticia da inauguração.jpg

Noticia da inauguração da tração elétrica em Coimbra. In: Illustração Portugueza, n.º 258. 1911.01.30, pg. 139.

Quem tem uma já longa experiência de vida, a par com uma passagem – ainda que efémera – na esfera da ação política e quem trabalhou muitos anos numa autarquia, aprendeu, obviamente, algumas regras da prática política.

No âmbito deste contexto, embora fazendo uma caricatura onde as exceções só confirmam a regra, constata-se que um político nunca diz não a um projeto que lhe seja apresentado.  Numa primeira fase afirma: sabem que a autarquia não tem dinheiro, há que estabelecer prioridades, vamos pensar.

Num segundo tempo, se a pressão dos eleitores se fizer sentir de forma muito persuasiva, declara: vamos elaborar um projeto, a fim de analisar o que fazer e os respetivos custos.

Num terceiro momento, se a pressão pública continuar a fazer-se sentir, fala-se de um projeto, que raramente é apresentado publicamente, e, simultaneamente, revela-se a respetiva orçamentação, essa sim, bem publicitada e calculada por um valor tão elevado quanto o possível; ao mesmo tempo informa-se que esta obra não cabe dentro do orçamento camarário, consequentemente iremos apresentar uma candidatura destinada a obter o seu financiamento.

Estamos perante a quadratura do círculo perfeita, pois nada de concreto é feito, nada é prometido, mas o político pode afirmar o “grande” interesse do projeto e a esperança da atribuição do tal subsídio, ainda que este não tenha viabilidade ou aponte para uma hipotética exequibilidade, num futuro tão longínquo quanto possível.

Vem esta introdução a propósito, porque, curiosamente, no mesmo dia tive conhecimento de um artigo publicado no jornal “Público”, assinado pelo jornalista Camilo Soldado e de um relato difundido em Inglaterra, nas redes sociais, por Bob Lennox, um profundo conhecedor e estudioso dos sistemas de tração elétrica e da sua musealização. Os dois textos lançam alguma luz sobre o que se passou na nossa cidade nos últimos vinte e poucos anos, tantos quantos os que já decorreram desde o encerramento do então designado “Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra”.

Para além dos referidos textos, que tenciono abordar em entradas subsequentes, remeto os leitores para um recente trabalho do Professor Doutor José Amado Mendes, que se encontra disponível na net, intitulado O património industrial e os museus: que relação?

Os textos em causa merecem uma séria reflexão, até porque nos permitem esclarecer o que se tem passado com o espólio existente no Museu, a partir do seu encerramento no ano de 2000.

Ao longo destes anos tive conhecimento de “ideias” relacionadas com a criação de um Núcleo Museológico dedicado aos transportes urbanos de Coimbra a que estava associada a existência de uma linha histórico/turística. Contudo, se foi executado um qualquer projeto que desse corpo ao Museu, a verdade é que nunca o visualizei e, em contrapartida, relativamente ao preço da concretização dessas “ideias”, já ouvi referências ao seu elevado custo e à consequente necessidade de obter financiamento para o mesmo.

Elétrico com chora. Cerca de 1911.jpg

Carro elétrico com “chora”, na Rua da Sofia, cerca 1911

Estas “ideias” lançadas sem um projeto que as suporte, conjuntamente com os textos que referi, levam-me a tecer as seguintes considerações:

- Até ao momento, não me apercebi de que tenha sido alguma vez questionada a importância histórica do património então guardado no “extinto” Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra. Muito pelo contrário, tive conhecimento da existência de um elevado número de visitantes e das frases elogiosas que, acerca da estrutura então montada, proferiram.

Cito, apenas, a título de exemplo:

. Bob Lennox: Entrei no depósito da Alegria pela última vez em fevereiro de 1980. O depósito havia sido transformado em museu e alguns carros restaurados;

. Um dos impulsionadores do similar museu da Carris de Lisboa, ao visitar o Museu conimbricense, afirmou: Vocês com pouco fizeram muito.

- É verdade que já me inteirei, vagamente, da existência de projetos e referências relacionadas com a “futura” musealização do que ainda resta do espólio então exposto no “Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra”, mas jamais me foi concedida oportunidade de consultar a referida documentação. A notícia mais marcante relacionada com este assunto assenta na apresentação feita, com pompa e circunstância, em 2010.08.08, numa cerimónia presidida pela então Vereadora do Pelouro da Cultura, de um projeto para remusealização do material existente.

Dessa cerimónia subsiste documentação fotográfica que, seguidamente, reproduzimos.

Apresentação, em  2010.08.08 ---Col. Vitor Roche

Apresentação, em 2010.08.08, de um projeto de remusealização. Col. Vítor Rochete

Apresentação, em  2010.08.08 ---Col. Vitor Roche

Outro aspeto da mesma cerimónia, em 2010.08.08. Col. Vítor Rochete

Do que ficou dito depreende-se que tem sido abordada a forma de expor o material, mas ignoram-se os cuidados a ter com o património que ainda ali existe.

Esse património necessita de manutenção permanente, tem de estar recolhido em local que não permita a sua deterioração e muito menos pode ser mandado para a sucata ou ser oferecido a outras autarquias, a fim de estas enriquecerem com ele o seu acervo museológico.

Museu dos Transportes. Interior. 1995. Foto Ernest

Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra. Vista do interior. Foto Ernst Kers

Decorrem desta reflexão as propostas que seguidamente apresento:

- Alterem a designação de “Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra” para “Núcleo do Carro Elétrico do Museu da Cidade” ou aponham-lhe outro qualquer nome que julguem mais adequado. Para descanso das consciências outrossim sensíveis, até que seja possível a concretização dos seus grandes projetos, coloquem uma placa onde se possa ler “Instalações provisórias”.

- Procedam ao faseamento desses grandes projetos, dando prioridade à musealização “in situ” do património existente e deixem para uma segunda fase outras “ideias”, tais como a criação de uma linha histórica/turística, com a qual estamos, obviamente, de acordo, mas que implica uma manutenção consideravelmente onerosa.

- O Museu que existia, teve em mente dois objetivos essenciais: por um lado, salvaguardar um exemplar de cada um dos tipos de viaturas que, ao longo do tempo, integraram a frota do sistema de transportes urbanos de Coimbra e, por outro, manter a operacionalidade da oficina/recolha, de forma a assegurar a viabilização do funcionamento de uma hipotética futura linha histórica/turística.

De acordo com o que ficou dito, sugerimos que refaçam o Museu com as peças (ainda existentes) que estiveram expostas, com êxito, durante cerca de 20 anos, embora tendo em conta, na medida do possível, a nova filosofia da musealização do património industrial.

E isto, rapidamente, antes do possível desencaminhamento do património existente que ainda integra peças únicas a nível mundial.

A concretização, das sugestões que apresento, estão perfeitamente ao alcance das capacidades económicas do Município de Coimbra sem necessidade do recurso a qualquer subsídio ou candidatura, e podem ser levadas a cabo pelos técnicos municipais do sector.

Rodrigues da Costa

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:47

Terça-feira, 22.11.22

Coimbra: Museu dos Transportes Urbanos. Reflexões. Necessária explicação

Como os leitores poderão concluir das entradas, cuja divulgação hoje iniciamos, as mesmas procuram refletir sobre o que se passou, depois do inopinado e injustificado encerramento do Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra.

No meu parecer, foram 20 anos de incúria municipal em ordem a um património, nalguns casos, único no mundo.

Estando o atual Executivo há um ano em funções, achei curial, antes da sua publicação, solicitar ao Senhor Presidente da Câmara uma reunião, onde pudesse abordar, com algum detalhe, duas questões:

 

- Reabertura do chamado “Museu dos Transportes urbanos:

Museu Transp Urbanos Coimbra 2.jpg

Museu dos Transportes, panfleto 1. Col. Vítor Rochete

- Monumento a Monsenhor Nunes Pereira.

NP 1.png

Projeto do monumento, vista 1

NP3.png

Projeto do monumento, vista 2

NP2.png

Projeto do monumento, vista 3

Questões em ordem às quais enviei, previamente, não só o texto das entradas, como outros documentos que julguei convenientes para a sua boa e total compreensão.

A reunião solicitada decorreu na passada 6.ª feira, dia 11 de novembro – para a qual foi atribuído o tempo de meia hora – e nela participaram, para além do Presidente do Executivo, o seu assessor, Dr. Pedro Peixoto, o Dr. Nelson Cruz, Chefe de Gabinete e o Dr. Paulo Pires, diretor do Departamento de Cultura e Turismo.

Da breve conversa havida, importa reter o essencial das palavras do Senhor Presidente da Câmara:

-  Estamos num tempo de guerra, com os consequentes e elevados cortes nos orçamentos municipais;

- Quanto ao Museu dos Transportes o Senhor Presidente da Câmara considera que há que esperar a decisão sobre o pedido de financiamento apresentado. Isto, sem deixar de referir que já visitou as instalações e mandou que se procedesse à sua limpeza e fossem retirados todos os objetos que ali tinham sido guardados e não pertenciam ao espólio do museu;

- No que concerne ao projeto de Monumento a Monsenhor Nunes Pereira, da responsabilidade do artista plástico José Maria Pimentel, com arranjo do espaço envolvente concebido pelo Arq.º António José Monteiro, projeto oferecido à Cidade no decurso da Conversa Aberta, realizada no passado dia 25 de março deste ano, afirmou a disposição do Município de ir procurar viabilizar a sua construção, sem, contudo, apontar qualquer data.

Ficam à consideração dos leitores as palavras do Senhor Presidente da Câmara.

Após esta necessária explicação iremos então publicar, em quatro entradas, as reflexões que  me foram suscitadas pelo encerramento do Museu.

Entradas que resultam do trabalho de trabalho de investigação realizado e da ajuda de diversas pessoas, às quais agradeço.

Rodrigues Costa

 

Tags: Coimbra séc. XXI, Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra, Monumento da Mons. Nunes Pereira,

 

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por Rodrigues Costa às 10:26


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