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Para terminar a divulgação do livro Coimbra de capa e batina, volume II, vamos às páginas 219 a 225, rever a conquista pela Associação Académica de Coimbra, em 1939, da Taça de Portugal, em futebol.
Emblema da AAC. Imagem acedida em https://www.academica-oaf.pt/historia/
Equipa que disputou a final da Taça de Portugal, ganhando ao Benfica por 4-3. Imagem acedida em https://www.academica-oaf.pt/historia/
Bola Académica
Golo!... E o abraço caiu como um raio em cima do companheiro do lado!... 0 homem, porém, era do Benfica! . . .
~Vá lá abraçar um raio que o parta…
A situação foi salva imediatamente por uns companheiros da «claque», que o nervosismo nunca deixava estar parados nos 90 minutos do jogo. Daí o engano da fúria daquele abraço. . .
Mas a realidade era aquela. A Associação Académica tinha metido um estupendo golo...
Ali, nas redes do Benfica e no campo das Amoreiras! com o Tibério a ser «metralhado» por detrás das balizas.
Intervenção do guarda-redes da AAC, Tibério. Imagem acedida em https://www.academica-oaf.pt/historia/
No retângulo do jogo, onze rapazes de camisola negra, davam luta de peito aberto a onze homens do Benfica e a uns milhares de adversários, espicaçados por aquele atrevimento dos «gajos» de Coimbra.
Sobre meia dúzia de adeptos da Associação começaram a cair as fúrias dos benfiquistas.
Mas, nem um passo de recuo… Nem uma vibração abalada. O grito era sempre o mesmo e redobrava de fé, a cada instante: é «Briosa»!!
Um fogo sagrado temperava aquela magnífica resistência dos estudantes de Coimbra. Havia ali a defender qualquer coisa de grande e de tradicional. Aquela equipe negra, impunha responsabilidades a jogadores e a adeptos.
Ninguém fugiu a dar. Os que jogavam aceitavam os ataques desleais dos adversários e procuravam destruí-los sem timidez. Os que aplaudiam, metidos entre agressões iminentes, mantinham a mesma atitude e continuavam a aclamar a Associação, que naquele momento se batia com um futebol e com uma alma, que um benfiquista traduziu, nesta expressão:
- Estes tipos são tremendos
Quando o árbitro deu por findo o encontro, o brio académico e a velha tradição da «malta» estavam perfeitamente salvos. O Benfica foi derrotado.
No final do desafio da Taça de Portugal- Fan, Fan, Fan, Auto Fan… Repare-se na derrota estampada na cara dum jogador do Benfica… Op.cit. 225
No final do desafio da Taça de Portugal. Imagem acedida em https://www.academica-oaf.pt/historia/
Uma espécie de loucura, atacou-nos então e ali, naquele campo das Amoreiras, mesmo nas barbas do Benfica e dos seus adeptos. Esqueceram-se posições sociais, conveniências próprias e o perigo de qualquer manifestação. Médicos, advogados funcionários públicos, alunos da Escola Militar, etc., deitaram cá para fora aquela alegria exuberante de incondicional estima pela Associação.
Que extraordinária vibração a desses momentos. Que admirável e sã energia, dum punhado de rapazes que traziam consigo aquela Coimbra eterna da nossa juventude!
Á saída, os jogadores estudantes, foram «assaltados» por nós. . . Um rapaz do grupo, que nunca estudou em Coimbra – Mas que ainda hoje é capaz duns bons murros para defender a Associação – queria por força abraçar as pernas do Faustino, que, no seu entender, foram as traves do desafio. Não sei se chegou a tal manifestação, o que sei, é que nessa noite levou a família ao Teatro. Chegou mesmo a «decretar» à mulher, que só iria nos dias em que a Associação ganhasse. Um empate merecia cinema. Uma derrota, não se jantava e ia tudo para a cama, com as galinhas, curtir a tristeza do chefe familiar.
Sou testemunha de que estas ordens foram algumas vezes cumpridas.
Nessa tarde, quando no Rossio continuavam as manifestações académicas, descobrimos, a entrar para a «Brasileira», um antigo estudante de Coimbra e diretor da Associação, com profundos traços de tristeza no fácies … Aquele seu antigo grupo vencer o Benfica era mágoa que o acompanharia até à eternidade … Infelizmente há disto…
Nobre, C. Coimbra de capa e batina. Volume II. 1945. Coimbra, Atlântida – Livraria Editora, Ld.ª.
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