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As páginas 149 a 153 do livro Coimbra de capa e batina, volume II, são dedicadas à «Orxestra Pitagórica», reinventada nos inícios dos anos 40, do século passado.
A «Orxestra Pitagórica». Op. cit., pg. 153
Na legenda desta fotografia pode ler-se: Aires Biscaia, estudante agarrado ás tradições coimbrãs, meteu ombros à empresa e reorganizou há 2 anos a «Orxestra Pitagórica» que se apresentou, sob a sua regência, com um êxito notável. Aqui se «verifica» a referida «Orxestra» em «pleno rendimento musical… Rui Castilho, o romântico diretor da dita «Orxestra» «castiga as meninas de Coimbra, com versos caídos do Olímpio … e assinados por Júpiter com a marca do Rui.
No texto é referido.
A «Orxestra Pitagórica» foi durante muitos anos, um grande atrativo dos saraus académicos. Vários regentes (declaramos à posterioridade que Raposo Marques nunca pegou naquela batuta) afirmaram dela, as suas extraordinárias aptidões musicais, que em princípio, assentavam na base de não saber música … Conhecer o «do ré mi fá sol lá si dó» era «crime» de lesa «orxestra» e como tal punido com a determinação: «é proibida a entrada a estudantes que afinem pelo lamiré do Raposo Marques»…
Aquilo, ali, era só ouvidinho puro e desentupido … Quem sofresse de purgação dos mesmos, não podia ser pitagórico. A coisa era tocada à base do tímpano sem cera…
Figueirinhas, Figueiral, Figueiredo da Figueira da Foz, na vida civil, política, religiosa e no bilhete de identidade José de Figueiredo, foi durante muitos anos o regente da «Pitagórica» e diga-se de passagem, que neste período da sua intervenção naquele «famoso» organismo artístico, ele atingiu um grande apogeu na música mitológica…
As mais extraordinárias partituras do Olimpo, desceram à terra, para serem executadas pelos mais variados instrumentos de corda e de badalo … E mal rompia no palco a «Orxestra Pitagórica» dos estudantes de Coimbra, Condorcet, «enviado especial» de Júpiter, fazia a sua apresentação, ao respeitável público, nos seguintes termos:
Minhas senhoras e vossos senhores
Deram-me em Coimbra os doutores
Missão difícil a desempenhar;
Esta «orxestra» a vós apresentar
Prosseguia a apresentação no mesmo tom, relatando uma incrível zaragata entre os deuses do Olimpo para terminar deste modo:
Aqui o harmonioso penicofone
Além o tilintoso cuecofone
O silencioso cisofone
O telefone, o microfone
O gramofone e o mudo caladofone
…
Ireis ouvir colcheias desgrenhadas
Bemóis, claves, pausas descompassadas
Semifusas de cabelos à garçone
E contra breves a tocar saxofone
Não falando já, bem entendidos
Nas tremifusas que perdem os sentidos
E dir-me-eis agora qual é mais excelente
Se ser do mundo Rei se de tal … cambada.
A «Pitagórica» depois desapareceu…
A geração que lhe emprestou as cuecas com guizos, os ferrinhos e as pandeiretas, formou-se. A que se lhe seguiu não renovou esse instrumental, nem se dedicou a aprender as «altas» partituras musicais de tão «famoso agrupamento artístico»…
Nota:
Temos conhecimento de que, ao longo do tempo, surgiram tentativas para ressurgir a «Orxestra Pitagórica».
No site https://orxestrapitagorica.pt/ é contada, com omissões, a história deste tipo de música no seio da academia coimbrã. Ali surge uma Orxestra Pitagórica, enquanto grupo da Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra que Nasce nos seios voluptuosos da Academia Coimbrã, criada exclusivamente por estudantes da cidade, com intuito de satirizar e dar a conhecer os assuntos principais da cidade, dos estudantes e do país.
São apresentados vídeos das suas atuações de que Zumba na caloira é um exemplo e é feita publicidade do nosso Tour: Pita Trapstar e habilitem-se a ouvir o cagar na primeira fila (promoção limitada ao stock existente).
São certamente outras músicas e outros tempos.
Rodrigues Costa
Nobre, C. Coimbra de capa e batina. Volume II. 1945. Coimbra, Atlântida – Livraria Editora, Ld.ª.
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