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A' Cerca de Coimbra



Terça-feira, 29.11.22

Coimbra: Museu dos Transportes Urbanos. Reflexões 3

Na primeira entrada desta série assinalei um relato difundido nas redes sociais por Bob Lennox, um profundo conhecedor e estudioso dos sistemas de tração elétrica e da sua musealização a nível internacional

É esse texto que, numa tradução de Ana Rita Costa, levamos ao conhecimento dos conimbricenses e de todos os interessados no assunto.

Cada carro elétrico precisa de sobresselentes, ou seja, materiais guardados em armazém para reparações e substituições devido ao uso e desgaste que ocorre diariamente e em condições normais. O carro elétrico de Sintra não é diferente, mas não estava muito dotado dessas peças.

No entanto, quando que se estabeleceu uma colaboração entre o falecido Waldemar Alves, administrador do elétrico de Sintra e responsáveis políticos na cidade de Coimbra, que também tinha tido um sistema de carros elétricos que funcionou até 1980, surgiu uma oportunidade de colmatar essa falta.

Isto, porque tomamos conhecimento de que um número de peças dessa frota estava a definhar numa lixeira municipal, periférica perto de Coimbra, sob a ameaça de destruição iminente.

Liderados pelo chefe de manutenção, Berto Francisco, partimos com um camião para lá, a 221 quilómetros a norte de Sintra.

Ao chegar, deparamos com a triste cena de restos de três motores de elétricos e um atrelado, todos deteriorados por estarem expostos aos elementos durante vinte anos.

 

Elétricos “guardados” nas instalações munic

Elétricos “guardados” nas instalações municipais de Eiras. O veículo da esquerda, datado de 187(?) era um carro americano de tração animal, depois adaptado a “chora”.

Elétricos “guardados” nas instalações munic

O elétrico n.º 13, datado de 1928, Foto Jorge Oliveira

Elétricos “guardados” nas instalações munic Elétricos “guardados” nas instalações municipais de Eiras.

As carrocerias dos grandiosos veículos que outrora transportaram orgulhosamente os bons cidadãos da Cidade Universitária estavam irreconhecíveis, mas o coração do equipamento parecia poder ser salvo. Com a ajuda dos funcionários da lixeira, começámos a tarefa dilacerante de desmantelar o que tínhamos à nossa frente.

Passadas algumas horas, tínhamos ‘libertado’ com sucesso uma seleção de motores e rodas, três carruagens completas e uma coleção de diversos equipamentos elétricos, que poderiam ser úteis para manter as operações de Sintra vivas.

Infelizmente, já não tínhamos mais espaço no camião e um número de equipamentos úteis (incluindo o chassis e rodas da carruagem), tiveram de ser abandonadas e deixadas à sua sorte.

Regressando a Sintra, o stock recém-adquirido foi descarregado no há pouco renovado depósito da Ribeira, onde agora integra uma substancial reserva para o elétrico de Sintra.

A foto anexada

Elétrico em Sintra, utlizando um truck trazido de

Elétrico em Sintra, utilizando um truck trazido de Coimbra Foto Ernest Keers

mostra um truck Brill 21E, vindo de Coimbra, temporariamente colocados de baixo do carro elétrico número 2, permitindo que este seja movido. Este carro elétrico é o único à espera de renovação total.

Este e um outro truck, salvos de irem para a sucata são os únicos do tipo Brill 79E, no seu desenho final de dois rodados motrizes, produzidos pela “Birney Safety Car”.

Quando lemos este texto, que relata factos ocorridos por volta de 2005, a nossa primeira reação foi de estupefação, a que se seguiu um sentimento de revolta.

A revolta agravou-se (ainda mais, se assim se pode dizer) quando informações posteriores nos referiram que o truck Brill 21E, pertencente ao carro elétrico n.º 19, se encontra “exposto” na Casa do Elétrico de Sintra. A peça, que estava completa, possuindo sistema de travagem e dois motores, a partir de 1984 foi preservada e integrava o espólio do “Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra”.

Truck  e motor 79E SMC 19 - 1995. Foto Ernest Keer

Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra. Truck e motor de elétrico quando expostos devidamente carrilados e conservados. Foto Ernst Kers

A mesma peça guardada em Sintra. Foto Pedro Mende

A mesma peça cedida pela CMC ao Museu de Sintra, na atualidade. Foto Pedro Mendes

Estes factos levam-nos a colocar uma outra questão: como é que se explica a “cedência”, para Sintra, onde se encontram expostas, peças do património industrial conimbricense que integravam o acervo do Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra?

Nota 1. O texto que vai em itálico foi publicado nas redes sociais por Bob Lennox que autorizou, expressamente, a sua divulgação.

Nota 2. A investigação que vimos realizando com o apoio de Pedro Rodrigues da Costa, aponta para que o depósito de carros elétricos tenha ocorrido em dois tempos. A primeira leva deverá datar de cerca de 1997, e a segunda ocorreu aquando do fecho do Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra cerca do ano 2000.

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 10:33

Quinta-feira, 24.11.22

Coimbra: Museu dos Transportes Urbanos. Reflexões 2

Na anterior entrada referimos o recente trabalho do Professor Doutor José Amado Mendes, intitulado O património industrial e os museus: que relação?

Vamos seguir esse texto, a fim de compreender o que se entende por património industrial.

O património industrial é um novo bem cultural e um dos patrimónios emergentes. A sua grande relevância corresponde ao significado dos fenómenos históricos a que está indissociavelmente ligado, isto é, a Revolução Industrial, o processo de industrialização e o desenvolvimento da tecnologia.

O património que nos foi legado pela industrialização é imenso … A sua diversidade é enorme e passa, entre outras, pelas seguintes modalidades: estruturas… equipamentos … aquivos, fotografias e relatos orais … meios de transportes e comunicações.

Álvarez Areces: «A arqueologia industrial como matéria que estuda, investiga e defende a preservação do património industrial está-se convertendo num movimento cultural e social que amplia, dia a dia, o marco estrito de uma disciplina académica»

O património industrial tem dado um excelente contributo à museologia, em especial à chamada nova museologia, intimamente associada à profunda renovação dos museus, à “criatividade renovada”, iniciada nos anos de 1970 e que se acelerou na década de 1980.

Texto que é ilustrado com as seguintes imagens.

O património industrial e os museus, pg. 68.png

Op. cit. Pg. 68

O património industrial e os museus, pg. 69.pngOp. cit., pg. 69

O património industrial e os museus, pg. 70.pngOp. cit., pg. 70

O Autor prossegue para, no final do artigo, apresentar as seguintes conclusões:

A evolução política, socioeconómica e cultual das comunidades, desde meados do século XX, induziu os decisores, investigadores, professores e agentes culturais a prestarem mais atenção aos vestígios e testemunhos do desenvolvimento económico, ao longo do tempo. Consequentemente, a noção de património cultural ampliou-se de forma significativa, passando a englobar novos aspetos da realidade, de entre os quais se tem destacado exatamente o património industrial.

… Simultaneamente com a valorização e preservação do dito património industrial foi criada, a partir dos anos de 1950, um novo “território” de pesquisa e ensino-aprendizagem, a Arqueologia Industrial. Esta, cujo objeto é precisamente o mencionado património industrial, tem por função o estudo e divulgação, bem como a sua salvaguarda, requalificação e reutilização de bens culturais de índole industrial, no sentido genérico da expressão e sem restrições cronológicas rígidas.

As repercussões desse novo olhar para os bens culturais de índole industrial fizeram-se sentir, por exemplo, no mundo académico – investigação, ensino-aprendizagem e publicações especializadas –, no turismo, especialmente no turismo cultural, e nas políticas e estratégias de gestão cultural, urbanística e ambiental.

No âmbito da museologia – sobretudo na “nova museologia” – os efeitos foram de grande monta e muito contribuíram para a criação ou atualização de elevado número de instituições museológicas, designadamente museus, ecomuseus e centros de interpretação. Em muitas circunstâncias, tem-se também optado pela musealização e preservação in situ de ambientes industriais, mineiras ou relacionados com os transportes e comunicações.

Importa reter esta conclusão e, pensamos, as fotografias que seguidamente publicamos encontram-se em consonância com os conceitos atrás enunciados.

A primeira mostra as primitivas instalações, onde, na Rua da Alegria, os elétricos eram reparados e, inicialmente, guardados.

Primitiva oficina e recolha dos elétricos, nas in

Primitiva oficina e recolha dos elétricos, nas instalações da R. da Alegria

A segunda apresenta a fachada exterior dessas mesmas instalações, quando ali funcionava o Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra.

Museu dos Transportes, exterior.jpg

Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra, exterior

Por último, reproduz-se um pequeno desdobrável do Museu, então elaborado.

Museu Transp Urbanos Coimbra 1.jpg

Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra, desdobrável. Col. Vítor Rochete

Tudo o que ficou dito permite-nos colocar uma questão: a musealização e a preservação dos carros elétricos e da oficina onde eles eram reparados “in situ” é, ou não adequada? Tanto uns, como a outra, fazem parte do património histórico da cidade.

A resposta é, para nós, óbvia.

Rodrigues Costa

Mendes, J.A. 2022. O património industrial e os museus: que relação? In: Revista Memória em Rede, Pelotas, v.14, n.27, Jul/Dez 2022. Pg. 59-84.

 

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por Rodrigues Costa às 10:31

Terça-feira, 22.11.22

Coimbra: Museu dos Transportes Urbanos. Reflexões 1

Carro elétrico n.º1, à saída da fábrica.jpg

Carro elétrico n.º 1, à saída da empresa construtora, J.G. Brill Company.1910.

Noticia da inauguração.jpg

Noticia da inauguração da tração elétrica em Coimbra. In: Illustração Portugueza, n.º 258. 1911.01.30, pg. 139.

Quem tem uma já longa experiência de vida, a par com uma passagem – ainda que efémera – na esfera da ação política e quem trabalhou muitos anos numa autarquia, aprendeu, obviamente, algumas regras da prática política.

No âmbito deste contexto, embora fazendo uma caricatura onde as exceções só confirmam a regra, constata-se que um político nunca diz não a um projeto que lhe seja apresentado.  Numa primeira fase afirma: sabem que a autarquia não tem dinheiro, há que estabelecer prioridades, vamos pensar.

Num segundo tempo, se a pressão dos eleitores se fizer sentir de forma muito persuasiva, declara: vamos elaborar um projeto, a fim de analisar o que fazer e os respetivos custos.

Num terceiro momento, se a pressão pública continuar a fazer-se sentir, fala-se de um projeto, que raramente é apresentado publicamente, e, simultaneamente, revela-se a respetiva orçamentação, essa sim, bem publicitada e calculada por um valor tão elevado quanto o possível; ao mesmo tempo informa-se que esta obra não cabe dentro do orçamento camarário, consequentemente iremos apresentar uma candidatura destinada a obter o seu financiamento.

Estamos perante a quadratura do círculo perfeita, pois nada de concreto é feito, nada é prometido, mas o político pode afirmar o “grande” interesse do projeto e a esperança da atribuição do tal subsídio, ainda que este não tenha viabilidade ou aponte para uma hipotética exequibilidade, num futuro tão longínquo quanto possível.

Vem esta introdução a propósito, porque, curiosamente, no mesmo dia tive conhecimento de um artigo publicado no jornal “Público”, assinado pelo jornalista Camilo Soldado e de um relato difundido em Inglaterra, nas redes sociais, por Bob Lennox, um profundo conhecedor e estudioso dos sistemas de tração elétrica e da sua musealização. Os dois textos lançam alguma luz sobre o que se passou na nossa cidade nos últimos vinte e poucos anos, tantos quantos os que já decorreram desde o encerramento do então designado “Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra”.

Para além dos referidos textos, que tenciono abordar em entradas subsequentes, remeto os leitores para um recente trabalho do Professor Doutor José Amado Mendes, que se encontra disponível na net, intitulado O património industrial e os museus: que relação?

Os textos em causa merecem uma séria reflexão, até porque nos permitem esclarecer o que se tem passado com o espólio existente no Museu, a partir do seu encerramento no ano de 2000.

Ao longo destes anos tive conhecimento de “ideias” relacionadas com a criação de um Núcleo Museológico dedicado aos transportes urbanos de Coimbra a que estava associada a existência de uma linha histórico/turística. Contudo, se foi executado um qualquer projeto que desse corpo ao Museu, a verdade é que nunca o visualizei e, em contrapartida, relativamente ao preço da concretização dessas “ideias”, já ouvi referências ao seu elevado custo e à consequente necessidade de obter financiamento para o mesmo.

Elétrico com chora. Cerca de 1911.jpg

Carro elétrico com “chora”, na Rua da Sofia, cerca 1911

Estas “ideias” lançadas sem um projeto que as suporte, conjuntamente com os textos que referi, levam-me a tecer as seguintes considerações:

- Até ao momento, não me apercebi de que tenha sido alguma vez questionada a importância histórica do património então guardado no “extinto” Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra. Muito pelo contrário, tive conhecimento da existência de um elevado número de visitantes e das frases elogiosas que, acerca da estrutura então montada, proferiram.

Cito, apenas, a título de exemplo:

. Bob Lennox: Entrei no depósito da Alegria pela última vez em fevereiro de 1980. O depósito havia sido transformado em museu e alguns carros restaurados;

. Um dos impulsionadores do similar museu da Carris de Lisboa, ao visitar o Museu conimbricense, afirmou: Vocês com pouco fizeram muito.

- É verdade que já me inteirei, vagamente, da existência de projetos e referências relacionadas com a “futura” musealização do que ainda resta do espólio então exposto no “Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra”, mas jamais me foi concedida oportunidade de consultar a referida documentação. A notícia mais marcante relacionada com este assunto assenta na apresentação feita, com pompa e circunstância, em 2010.08.08, numa cerimónia presidida pela então Vereadora do Pelouro da Cultura, de um projeto para remusealização do material existente.

Dessa cerimónia subsiste documentação fotográfica que, seguidamente, reproduzimos.

Apresentação, em  2010.08.08 ---Col. Vitor Roche

Apresentação, em 2010.08.08, de um projeto de remusealização. Col. Vítor Rochete

Apresentação, em  2010.08.08 ---Col. Vitor Roche

Outro aspeto da mesma cerimónia, em 2010.08.08. Col. Vítor Rochete

Do que ficou dito depreende-se que tem sido abordada a forma de expor o material, mas ignoram-se os cuidados a ter com o património que ainda ali existe.

Esse património necessita de manutenção permanente, tem de estar recolhido em local que não permita a sua deterioração e muito menos pode ser mandado para a sucata ou ser oferecido a outras autarquias, a fim de estas enriquecerem com ele o seu acervo museológico.

Museu dos Transportes. Interior. 1995. Foto Ernest

Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra. Vista do interior. Foto Ernst Kers

Decorrem desta reflexão as propostas que seguidamente apresento:

- Alterem a designação de “Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra” para “Núcleo do Carro Elétrico do Museu da Cidade” ou aponham-lhe outro qualquer nome que julguem mais adequado. Para descanso das consciências outrossim sensíveis, até que seja possível a concretização dos seus grandes projetos, coloquem uma placa onde se possa ler “Instalações provisórias”.

- Procedam ao faseamento desses grandes projetos, dando prioridade à musealização “in situ” do património existente e deixem para uma segunda fase outras “ideias”, tais como a criação de uma linha histórica/turística, com a qual estamos, obviamente, de acordo, mas que implica uma manutenção consideravelmente onerosa.

- O Museu que existia, teve em mente dois objetivos essenciais: por um lado, salvaguardar um exemplar de cada um dos tipos de viaturas que, ao longo do tempo, integraram a frota do sistema de transportes urbanos de Coimbra e, por outro, manter a operacionalidade da oficina/recolha, de forma a assegurar a viabilização do funcionamento de uma hipotética futura linha histórica/turística.

De acordo com o que ficou dito, sugerimos que refaçam o Museu com as peças (ainda existentes) que estiveram expostas, com êxito, durante cerca de 20 anos, embora tendo em conta, na medida do possível, a nova filosofia da musealização do património industrial.

E isto, rapidamente, antes do possível desencaminhamento do património existente que ainda integra peças únicas a nível mundial.

A concretização, das sugestões que apresento, estão perfeitamente ao alcance das capacidades económicas do Município de Coimbra sem necessidade do recurso a qualquer subsídio ou candidatura, e podem ser levadas a cabo pelos técnicos municipais do sector.

Rodrigues da Costa

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:47

Terça-feira, 22.11.22

Coimbra: Museu dos Transportes Urbanos. Reflexões. Necessária explicação

Como os leitores poderão concluir das entradas, cuja divulgação hoje iniciamos, as mesmas procuram refletir sobre o que se passou, depois do inopinado e injustificado encerramento do Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra.

No meu parecer, foram 20 anos de incúria municipal em ordem a um património, nalguns casos, único no mundo.

Estando o atual Executivo há um ano em funções, achei curial, antes da sua publicação, solicitar ao Senhor Presidente da Câmara uma reunião, onde pudesse abordar, com algum detalhe, duas questões:

 

- Reabertura do chamado “Museu dos Transportes urbanos:

Museu Transp Urbanos Coimbra 2.jpg

Museu dos Transportes, panfleto 1. Col. Vítor Rochete

- Monumento a Monsenhor Nunes Pereira.

NP 1.png

Projeto do monumento, vista 1

NP3.png

Projeto do monumento, vista 2

NP2.png

Projeto do monumento, vista 3

Questões em ordem às quais enviei, previamente, não só o texto das entradas, como outros documentos que julguei convenientes para a sua boa e total compreensão.

A reunião solicitada decorreu na passada 6.ª feira, dia 11 de novembro – para a qual foi atribuído o tempo de meia hora – e nela participaram, para além do Presidente do Executivo, o seu assessor, Dr. Pedro Peixoto, o Dr. Nelson Cruz, Chefe de Gabinete e o Dr. Paulo Pires, diretor do Departamento de Cultura e Turismo.

Da breve conversa havida, importa reter o essencial das palavras do Senhor Presidente da Câmara:

-  Estamos num tempo de guerra, com os consequentes e elevados cortes nos orçamentos municipais;

- Quanto ao Museu dos Transportes o Senhor Presidente da Câmara considera que há que esperar a decisão sobre o pedido de financiamento apresentado. Isto, sem deixar de referir que já visitou as instalações e mandou que se procedesse à sua limpeza e fossem retirados todos os objetos que ali tinham sido guardados e não pertenciam ao espólio do museu;

- No que concerne ao projeto de Monumento a Monsenhor Nunes Pereira, da responsabilidade do artista plástico José Maria Pimentel, com arranjo do espaço envolvente concebido pelo Arq.º António José Monteiro, projeto oferecido à Cidade no decurso da Conversa Aberta, realizada no passado dia 25 de março deste ano, afirmou a disposição do Município de ir procurar viabilizar a sua construção, sem, contudo, apontar qualquer data.

Ficam à consideração dos leitores as palavras do Senhor Presidente da Câmara.

Após esta necessária explicação iremos então publicar, em quatro entradas, as reflexões que  me foram suscitadas pelo encerramento do Museu.

Entradas que resultam do trabalho de trabalho de investigação realizado e da ajuda de diversas pessoas, às quais agradeço.

Rodrigues Costa

 

Tags: Coimbra séc. XXI, Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra, Monumento da Mons. Nunes Pereira,

 

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por Rodrigues Costa às 10:26

Quinta-feira, 17.11.22

Coimbra: Arquivo da Universidade de Coimbra, os seus documentos

Prosseguindo a tarefa de divulgação dos seus “tesouros”, através da sua página no facebook, https://www.facebook.com/ArquivodaUniversidadedeCoimbra, o Arquivo da Universidade de Coimbra apresentou no mês em curso dois documentos.

Incluído na série, o «Documento do Mês», é revelado um belo fragmento, datado do XV-XVI(?), de um códice litúrgico que foi reaproveitado em encadernação.

AUC. Documento mês 11..2022.jpg

AUC. PT/AUC/COL/FCP  – IV-3.ª- Gav. 42, n.º 1. Acedido em https://www.facebook.com/photo/?fbid=142271051884521&set=a.133428292768797

O outro documento surge acompanhado do seguinte texto. 

Sabes qual é o mais antigo documento do acervo arquivístico do AUC?

Temos presente o mais antigo documento existente no acervo do AUC - ano 983. Não podemos deixar de admirar, como este suporte em pergaminho, bem conservado, apesar dos vincos de dobragem e de algumas manchas, nos apresenta um admirável texto redigido em latim, em letra visigótica, que coloca à prova, uma atenta leitura paleográfica.

Está inserido no acervo da Colegiada de Santa Maria da Oliveira de Guimarães (PT/AUC/DIO/CSMOG), tendo já sido estudado por Alexandre Herculano, apesar do ilustre historiador ter utilizado cópias tardias do documento em questão. Esta Colegiada teve origem no antiquíssimo Mosteiro fundado pela Condessa Mumadona Dias, cerca de 950. Todos os monarcas exerceram a proteção régia sobre a Colegiada, razão pela qual se intitulava Insigne e Real Colegiada.

A datação do presente documento encontra-se em Era Visigótica, tendo sido o seu ano convertido para a Era Cristã.

AUC. Documento mais antigo.jpg

AUC-V-3ª-Mov.4-Gav.1. Documento acedido em https://www.facebook.com/photo/?fbid=144161861695440&set=a.133428292768797

Será curioso referir que em 983, como se pode ler em  https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_monarcas_de_Le%C3%A3o, era Bermudo II que reinava, efetivamente desde 981, na Galiza e em Portugal, em estado de guerra com Ramiro III, rei de Leão, pela posse de todo o reino de Leão.

Bermudo_II_of_León (1).jpg

Bermudo II. Imagem acedida em https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_monarcas_de_Le%C3%A3o#/media/Ficheiro:Bermudo_II_of_Le%C3%B3n.jpg

Ou seja, o documento foi lavrado quando ainda faltavam dois séculos e meio para D. Afonso Henriques ser aclamado como Rei de Portugal.

AUC. Informações acedidas em, https://www.facebook.com/ArquivodaUniversidadedeCoimbra

 

 

 

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por Rodrigues Costa às 09:50

Terça-feira, 15.11.22

Coimbra: Calçadas da Cidade

O Arquivo Histórico Municipal de Coimbra prossegue no seu propósito de divulgar documentos mais relevantes sobre a história da cidade, daí o nosso conselho:

- Sejam visitantes assíduos da página de Facebook, https://www.facebook.com/arquivohistoricocoimbra.

Calçadas de Coimbra 1.jpg

Esta curiosa imagem e texto, servem para chamar a atenção para a seguinte síntese, da responsabilidade da Dr.ª Paula França.

 CALÇADAS DE COIMBRA

Vê onde pões os pés

Desde tempos antigos a comunicação entre localidades era um serviço essencial para as populações. A circulação de bens essenciais à subsistência coloca, desde cedo, o problema dos transportes, por via terrestre, fluvial e/ou marítima.

Torna-se assim necessário, ao longo do tempo, que os Municípios, como entidades que garantem o bem-estar das populações assegurem a existência e manutenção das vias de comunicação em boas condições: os caminhos, as estradas, as pontes, as calçadas.

Os documentos do AHMC que divulgamos apresentam-nos estas realidades para o século XVI.

No Livro de Registo da Correspondência antiga da Câmara de Coimbra encontramos esta curiosa carta:

1574, Março, 21, Coimbra. Petição de Gonçalo Fernandes, boieiro, dirigida à Câmara e Coimbra, pedindo autorização para poder levar os seus animais para os olivais da cidade de Coimbra, zona de pastagem para a qual era necessário ter permissão. Fazia este pedido invocando o serviço que prestava à comunidade com o transporte de mercadorias essenciais. Todavia admitia que esse trânsito também danificava o pavimento. Assim, como contrapartida, oferecia ”umas carradas de pedra” para conserto das ditas “calçadas” e comprometia-se a trazer o seu gado “acabramado e peado”, para não causar danos nos olivais. PT/AHMC/Registo, vol. 3, 1571-1577, fl. 334v-336.

Este pedido foi objeto de ponderação e decisão dos edis, conforme decorre da transcrição feita sobre o assunto e exarada no referido Livro.

Calçadas de Coimbra 4.jpg

Documento cuja transcrição está acessível em https://drive.google.com/.../1WC5CE9xO5oINL89bfrX.../view.

Transcrição

[fl. 334v] [...] Juiz, vereadores e procurador desta cidade de Coimbra. Fazemos saber aos que esta nosa certidam virem que he verdade [fl. 335] que estando nos em camara fazendo vereação, aos vimte dyas de março deste anno presente de setenta e quatro, por parte de Gonçallo Fernandez, boieiro morador nesta cidade nos foi apresentada hua petição, escrita dizendo nos que tinha dous bois seus com os quais ganhava a sua vida em carear por esta cidade e seus arabaldes, com os quais elle servia a dita cidade e moradores della por seu direito e que nam tynha que lhe dar a comer, por defemderem o pasto dos olivais, pedyndo nos licença pera en elles poder pastar, e visto per nos seu requerimento ser justo, lhe mandamos notefyquar, que por quanto os ditos seus bois com ho caro e servidão delle, que andava ferado das rodas, fazya muita perda e deneficavam as callsadas desta cidade, no conserto das quais a cidade guastava, diguo, tinha em cada hum anno, muitos gastos pera reformação dellas en restituição da perda que elle com seus caros fazião em ellas, por amdar contynuadamente no serviço do dito caro e bois per ellas guanhando sua vida, dese dez caradas de pedra, postas na dita cidade, dentro nella, pera ajuda do conserto das ditas callsadas, e isto onde quer que o procurador da cidade ordenar e lhe mandase, pera efeito da obra dellas, postas a sua custa, no lugar onde lhe for mandado, d’oje en diante, dentro neste verão presente deste anno, em qualquer tempo delle, que lhe for mandado, do que ho dito Gonçalo Fernandez foi contente e de sua propria e livre [fl. 335v] vomtade lhe aprouve de dar, postas dentro no dito tempo, as ditas dez caradas de pedra boas, e de receber, onde quer que lhe for mandado, pelo procurador della, sob pena de por cada carada que lhe faltar, paguar de pena duzentos rs, pera as obras das ditas callsadas, e isto pela boa obra que elle de nos recebia com lhe daremos licença pera seus bois pastarem nos olivais <devasos> desta cidade como adiante se fara mençam, e em satisfaçam da perda que a cidade niso reçebia com os caros delle soplicante andarem nas ditas callçadas e por nos constar, per fee do sprivão da camara, que esta sobsprevo, elle ter satisfeito com há obryguação de dar as ditas dez caradas de pedra como dito hee, do que se fez obryguação no livro das notas da camara como mais larguamente em elle se contem. Por esta damos lugar e licença ao dito soplicante pera que d’oje en diamte posa pastar com seus bois pelos olyvais devasos desta cidade, este presente anno, emquanto nelles não ouver novydade d’azeite, e isto naquelles em antes que nelles for afolhado pera o tall pasto, os quais pastarão e andarão nos ditos olyvais com as comdyçois seguintes: pastarão de dia e nam de noite; e o prygmeiro andarão peados e acabramados com cabramos de [fl. 336] cadeas de fero, os quais cabramos serão da gramdura e marqua do cabramo da cidade que esta na camara della e serão lamçados os ditos cabramos de fero ao caro sob pena de sendo achados os ditos bois conta a forma do sobredito paguar seus donos has penas das pusturas desta cidade e enquanto andarem da maneira que dito hee, nos ditos olivais, mandamos aos meirinhos allcaides rendeiros e jurados desta cidade e seus termos nam seyão coymados nem paguem por isso cousa allgua e registara com ho sprito da nota da camara, e por certeza desto lhe mandamos pasar a presente certidão per vos asinada.

Coimbra, aos vimte e hum de março de Ibc setenta e quatro annos.

 Autoria das Transcrições Paleográficas: Paula França.

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por Rodrigues Costa às 15:05

Quinta-feira, 10.11.22

Coimbra: Coimbra de capa e batina, 4

Para terminar a divulgação do livro Coimbra de capa e batina, volume II, vamos às páginas 219 a 225, rever a conquista pela Associação Académica de Coimbra, em 1939, da Taça de Portugal, em futebol.

AAC emblema.png

Emblema da AAC. Imagem acedida em https://www.academica-oaf.pt/historia/

Final da taça 2.png

Equipa que disputou a final da Taça de Portugal, ganhando ao Benfica por 4-3. Imagem acedida em https://www.academica-oaf.pt/historia/

Bola Académica

Golo!... E o abraço caiu como um raio em cima do companheiro do lado!... 0 homem, porém, era do Benfica! . . .

~Vá lá abraçar um raio que o parta…

A situação foi salva imediatamente por uns companheiros da «claque», que o nervosismo nunca deixava estar parados nos 90 minutos do jogo. Daí o engano da fúria daquele abraço. . .

Mas a realidade era aquela. A Associação Académica tinha metido um estupendo golo...

Ali, nas redes do Benfica e no campo das Amoreiras! com o Tibério a ser «metralhado» por detrás das balizas.

Final da Taça 1.png

Intervenção do guarda-redes da AAC, Tibério. Imagem acedida em https://www.academica-oaf.pt/historia/

No retângulo do jogo, onze rapazes de camisola negra, davam luta de peito aberto a onze homens do Benfica e a uns milhares de adversários, espicaçados por aquele atrevimento dos «gajos» de Coimbra.

Sobre meia dúzia de adeptos da Associação começaram a cair as fúrias dos benfiquistas.

Mas, nem um passo de recuo… Nem uma vibração abalada. O grito era sempre o mesmo e redobrava de fé, a cada instante: é «Briosa»!!

Um fogo sagrado temperava aquela magnífica resistência dos estudantes de Coimbra. Havia ali a defender qualquer coisa de grande e de tradicional. Aquela equipe negra, impunha responsabilidades a jogadores e a adeptos.

Ninguém fugiu a dar. Os que jogavam aceitavam os ataques desleais dos adversários e procuravam destruí-los sem timidez. Os que aplaudiam, metidos entre agressões iminentes, mantinham a mesma atitude e continuavam a aclamar a Associação, que naquele momento se batia com um futebol e com uma alma, que um benfiquista traduziu, nesta expressão:

- Estes tipos são tremendos

Quando o árbitro deu por findo o encontro, o brio académico e a velha tradição da «malta» estavam perfeitamente salvos. O Benfica foi derrotado.

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No final do desafio da Taça de Portugal- Fan, Fan, Fan, Auto Fan… Repare-se na derrota estampada na cara dum jogador do Benfica… Op.cit. 225

Final da Taça. Op. cit. Pg. 225.jpg

No final do desafio da Taça de Portugal. Imagem acedida em https://www.academica-oaf.pt/historia/

Uma espécie de loucura, atacou-nos então e ali, naquele campo das Amoreiras, mesmo nas barbas do Benfica e dos seus adeptos. Esqueceram-se posições sociais, conveniências próprias e o perigo de qualquer manifestação. Médicos, advogados funcionários públicos, alunos da Escola Militar, etc., deitaram cá para fora aquela alegria exuberante de incondicional estima pela Associação.

Que extraordinária vibração a desses momentos. Que admirável e sã energia, dum punhado de rapazes que traziam consigo aquela Coimbra eterna da nossa juventude!

Á saída, os jogadores estudantes, foram «assaltados» por nós. . . Um rapaz do grupo, que nunca estudou em Coimbra – Mas que ainda hoje é capaz duns bons murros para defender a Associação – queria por força abraçar as pernas do Faustino, que, no seu entender, foram as traves do desafio. Não sei se chegou a tal manifestação, o que sei, é que nessa noite levou a família ao Teatro. Chegou mesmo a «decretar» à mulher, que só iria nos dias em que a Associação ganhasse. Um empate merecia cinema. Uma derrota, não se jantava e ia tudo para a cama, com as galinhas, curtir a tristeza do chefe familiar.

Sou testemunha de que estas ordens foram algumas vezes cumpridas.

Nessa tarde, quando no Rossio continuavam as manifestações académicas, descobrimos, a entrar para a «Brasileira», um antigo estudante de Coimbra e diretor da Associação, com profundos traços de tristeza no fácies …  Aquele seu antigo grupo vencer o Benfica era mágoa que o acompanharia até à eternidade … Infelizmente há disto…

Nobre, C. Coimbra de capa e batina. Volume II. 1945. Coimbra, Atlântida – Livraria Editora, Ld.ª.

 

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por Rodrigues Costa às 12:30

Quarta-feira, 09.11.22

Personalidades de Coimbra: Campos Coroa, um Homem de causas

Perfazem-se hoje, seis meses desde que José Emílio Vieira de Campos Coroa partiu.

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Campos Coroa. Acervo Família Campos Coroa

O tempo ainda é escasso para uma análise mais aprofundada, mas importa começar a situar o Homem e o seu percurso para que a lei da morte não o faça esquecer. Um bom exemplo dessa possibilidade é a página oficial na net do Clube a que presidiu durante sete anos, onde a única referência que lhe é feita surge na secção «Histórico dos Presidentes«, onde se lê “OUT 1995 – DEZ 2002 CAMPOS COROA”.

Nascido em Coimbra, numa Família profundamente ligada ao Teatro dos Estudantes da Universidade – um dos seus fundadores e diversos dos seus atores – desde cedo também pisou os palcos.

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A Castro. Campos Coroa, como  um dos filhos. Acervo Família Campos Coroa

A sua vida de homem adulto desenvolveu-se por duas áreas.

A medicina cujo curso concluiu em 1977, quando já era casado com a Dr.ª Helena Coroa, também uma reputada médica oftalmologista, de quem viria a ter quatro filhos.

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O dia da formatura. Acervo Família Campos Coroa

Segundo informações cedidas pelo seu filho José Emílio, frequentou o Internato Geral primeiro nos HUC e depois no Centro de Saúde Pombal. Tendo concorrido ao Serviço Médico à Periferia em 1980, iniciou o mesmo em Arganil, quando em maio desse ano foi chamado a cumprir o Serviço Militar que se prolongou até julho de 1982.

Como complemento de um reduzido salário cumpriu vários contratos renováveis nos extintos Serviços Médico Sociais, no Distrito de Leiria.

Encontrava-se ainda a cumprir Serviço Militar quando teve que se submeter a exame para a especialidade, sendo colocado inicialmente em Bragança e concluído, a partir de 1983, no Hospital da Figueira da Foz.

Importa salientar uma outra vertente, a do homem caritativo.

Um primeiro exemplo. No Instituto de Cegos, com o qual colaborou graciosamente até 1985 e aonde se deslocava, mesmo a altas horas da noite, levando medicamentos e administrando-os ás crianças cegas que o compensavam oferecendo escritos em Braille.

Aliás foi no contacto com os cegos que nasceu a sua opção pela especialidade de oftalmologia, como contou numa entrevista.

Tudo indicava que iria escolher ortopedia, ou fisiatria uma vez que eu, durante 12 anos fui médico do futebol da AAC, como também fui do andebol (funções exercidas «pro bono»). Mas também dava consultas gratuitamente às crianças do Instituto de Cegos do Loreto e, um dia, na véspera de escolher a especialidade, estacionei o carro do lado de fora, entro, e quando chego ao pé de uma miúda, sem fazer barulho nenhum, ela diz-me: «Olá dr. Coroa». Como sabias que era eu? - preguntei, e ela respondeu: «Tu bates com o calcanhar do pé esquerdo no chão com mais força do que com o direito». E na realidade é verdade, porque muito rapidamente gasto os tacões do pé esquerdo, porque a diferença de dimensão dos membros é insignificante, mas resulta nisto e a miúda topou.  Estavam umas flores num canteiro e ela perguntou-me se gostava mais das rosas brancas, ou das rosas vermelhas. E eu perguntei: O que é isso do vermelho? E a miúda respondeu. «Então não sabes, o vermelho é a cor do sabor do sorvete de morango!» No dia seguinte escolhi oftalmologia.

De assinalar outra tarefa a que o casal meteu ombros, contada na primeira pessoa: Durante dois anos, todos os fins de semana ia acabar a lista de espera do Hospital de Faro, por contrato, com uma equipa de Coimbra …. Vimos centenas e centenas de doentes, tratámos centenas e centenas de diabéticos, operamos milhares de cataratas e outros tipos de cirurgia.

Lado caritativo, por certo pouco conhecido da generalidade, e assim deve continuar, de que damos só mais um exemplo. O do apoio a uma família São-Tomense a quem, do seu bolso, doou o necessário. pelo menos entre 2000 e 2003, para que uma Filha pudesse prosseguir os estudos. A Família ainda guarda as cartas de agradecimento que, por tal, lhe foram dirigidas.

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Carta de agradecimento por mais um donativo. Acervo Família Campos Coroa

Mas a memória que os conimbricenses guardam mais profundamente é a de dirigente desportivo. O que é perfeitamente compreensível pois, em minha opinião, Campos Coroa foi o último Presidente carismático do AAC/OAF.

A sua carreira de dirigente associativo começou, em 1974 quando foi eleito diretor da secção de Futebol da AAC.

Mas será mais adequado voltar a ouvi-lo, numa entrevista ao ´«Campeão das Províncias, datada de 18 de outubro de 2012, intitulada Tive uma Académica de causas, na qual lembra a sua carreira de dirigente.

O Fausto Correia era o presidente e eu era o adjunto, mas já tinha estado na Direção de Mendes Silva. Depois fui presidente da AAC/OAF de Outubro de 1995 a Dezembro de 2002. Peguei na Briosa na ll Divisão, onde estava há 10 anos, e subi por duas vezes à I Divisão, onde a deixei.

 

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Campos Coroa, presidente da AAC/OAF. Acervo Família Campos Coroa

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Uma fotografia mítica. Acervo Família Campos Coroa

Deu-me prazer fazer uma Académica mais aproximada da Académica que penso dever existir. No meu tempo houve sempre jogadores que eram estudantes da Universidade de Coimbra. Tínhamos o velho estádio sempre cheio, onde cabiam 15 000 pessoas, e deixava entrar os estudantes dizer «Abaixo a coincineração» e, em conjunto com a DGAAC, envergar camisolas com «Liberdade para Timor-Leste».

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Fotografia com Xanana Gusmão. Acervo Família Campos Coroa

Dentro das possibilidades, era uma Académica de causas.

Nota: Agradeço à Família Campos Coroa a cedência da documentação que permitiu a elaboração desta, tão justa, entrada.

Rodrigues Costa

 

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por Rodrigues Costa às 10:42

Terça-feira, 08.11.22

Coimbra: Coimbra de capa e batina, 3

Prosseguindo na divulgação do livro Coimbra de capa e batina, volume II, salienta-se que nas páginas 174 a 191 é apresentada a história do nascimento do Teatro Académico da Universidade de Coimbra. Desse texto selecionamos o que se segue.

O Teatro Académico, chegou a ser um sistema pedagógico, não só na Universidade de Coimbra como em outras da Europa. Mestres e alunos tomavam parte em representações e elas, por vezes, constituíam até uma parte do ensino que então se ministrava.

… Uma provisão de El-Rei D. João III, no ano de 1546, ordenou o seguinte, quanto ao Teatro Académico. «O lente de Gramática, da mais alta Regra, que lê no Colégio de São Gerónimo seja obrigado a fazer e a representar, em cada ano, uma comédia nas escolas, no tempo e nos lugares que pelo Reitor lhe for ordenado…»

E foi com muita graça e propriedade, que António José Soares – autor dos vários cenários dos autos de Gil Vicente e artista de rico temperamento – foi desenterrar a referida provisão aos Arquivos da Universidade, para a apresentar como sendo a «certidão de nascimento» do Teatro dos Estudantes de Coimbra que o Professor Doutor Paulo Quintela, com tanto brilho, vem dirigindo.

Talvez pareça estranho, mas é verdade: o Teatro dos Estudantes nasceu do Fado. Esta fatalidade nacional e coimbrã, foi sem dúvida, a origem do renascimento teatral na academia de Coimbra.

 A sua história é esta: Em 1937 existia em Coimbra o «Fado Académico». foi seu fundador e dirigente Jorge de Morais (Xabregas) que à sua volta reuniu todos os guitarristas e cantores que então havia na Academia. O grupo tinha um interesse profundamente romântico. Xabregas, com a sua eterna fé por esta terra ribeirinha, pretendia criar uma escola de cantores e guitarristas ao jeito coimbrão. Profetizava que um dia, deixaria de haver rouxinóis a cantar baladas de amor e de saudade.

Apesar dos seus esforços, o «Fado» morria de dia para dia … Jorge de Morais pensou então em remodelar o seu grupo e surgiu-lhe a ideia dum conjunto dramático.

E assim, em Novembro de 1937, foi eleita uma direção [segue-se uma relação de 12 estudantes]. A ideia da criação dum grupo cénico tomou então, vulto e para ela, foi solicitada a colaboração do Professor Doutor Paulo Quintela.

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Professor Doutor Paulo Quintela. Imagem acedida em: http://www.cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/paulo-quintela.html#.Y0RA61LMJPY

Havia, porém, um grande problema a resolver: a inclusão, no grupo, de raparigas universitárias, sem as quais não seria possível realizar obra de vulto.

Mas esta Coimbra, mexeriqueira e maldosa criava sérias dificuldades, pois as raparigas num temor compreensível, negavam a sua colaboração. Até que surgiu a estudante Madalena Coelho de Almeida que de alma erguida se entregou devotadamente à realização de tão simpática iniciativa. Depois de vencer algumas resistências, apresentou uma lista de raparigas que se propunham colaborar no Teatro Académico. Vencido este obstáculo foi constituído o «Grupo Cénico» - designação inicial. [Segue-se uma relação de 9 alunas da Faculdade de Letras e de 10 alunos de diversas faculdades].

Numa sala do Museu Zoológico, iniciaram-se em seguida, os ensaios da peça «Braz Cadunha» do escritor Samuel Maia.

O Prof. Doutor Paulo Quintela, porém, tinha um Plano cultural mais vasto e o teatro clássico português desde o início que lhe merecia uma atenção especial. E assim, simultaneamente com o «Braz Cadunha» começaram os ensaios da «Farsa de Inês Pereira» de Gil Vicente. Estava dado o primeiro passo, para o que mais tarde viria a ser a coroa de glória do Teatro dos Estudantes. Três meses depois, o Grupo Cénico do «Fado Académico» apresentou-se no Teatro Avenida, em récita de gala, com a designação de «Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra». O «Fado Académico» morrera nessa noite.

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Logotipo. Imagem acedida em https://www.facebook.com/photo?fbid=1007766936661205&set=pb.100022837253956.-2207520000..

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Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra. Op. cit. Pg. 177

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O TEUC em 2022. Imagem acedida em: https://www.facebook.com/photo/?fbid=7811227052228113&set=pb.100022837253956.-2207520000

O Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra venceu. A sua fama espalhou-se por Portugal inteiro e em Coimbra.

Nobre, C. Coimbra de capa e batina. Volume II. 1945. Coimbra, Atlântida – Livraria Editora, Ld.ª.

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por Rodrigues Costa às 16:17

Quinta-feira, 03.11.22

Coimbra: Coimbra de capa e batina, 2

As páginas 149 a 153 do livro Coimbra de capa e batina, volume II, são dedicadas à «Orxestra Pitagórica», reinventada nos inícios dos anos 40, do século passado.

Orxestra Pitagórica. Op. cit. Pg. 153.jpg

A «Orxestra Pitagórica». Op. cit., pg. 153

Na legenda desta fotografia pode ler-se: Aires Biscaia, estudante agarrado ás tradições coimbrãs, meteu ombros à empresa e reorganizou há 2 anos a «Orxestra Pitagórica» que se apresentou, sob a sua regência, com um êxito notável. Aqui se «verifica» a referida «Orxestra» em «pleno rendimento musical… Rui Castilho, o romântico diretor da dita «Orxestra» «castiga as meninas de Coimbra, com versos caídos do Olímpio … e assinados por Júpiter com a marca do Rui.

No texto é referido.

A «Orxestra Pitagórica» foi durante muitos anos, um grande atrativo dos saraus académicos. Vários regentes (declaramos à posterioridade que Raposo Marques nunca pegou naquela batuta) afirmaram dela, as suas extraordinárias aptidões musicais, que em princípio, assentavam na base de não saber música … Conhecer o «do ré mi fá sol lá si dó» era «crime» de lesa «orxestra» e como tal punido com a determinação: «é proibida a entrada a estudantes que afinem pelo lamiré do Raposo Marques»…

Aquilo, ali, era só ouvidinho puro e desentupido … Quem sofresse de purgação dos mesmos, não podia ser pitagórico. A coisa era tocada à base do tímpano sem cera…

Figueirinhas, Figueiral, Figueiredo da Figueira da Foz, na vida civil, política, religiosa e no bilhete de identidade José de Figueiredo, foi durante muitos anos o regente da «Pitagórica» e diga-se de passagem, que neste período da sua intervenção naquele «famoso» organismo artístico, ele atingiu um grande apogeu na música mitológica…

As mais extraordinárias partituras do Olimpo, desceram à terra, para serem executadas pelos mais variados instrumentos de corda e de badalo … E mal rompia no palco a «Orxestra Pitagórica» dos estudantes de Coimbra, Condorcet, «enviado especial» de Júpiter, fazia a sua apresentação, ao respeitável público, nos seguintes termos:

Minhas senhoras e vossos senhores

Deram-me em Coimbra os doutores

Missão difícil a desempenhar;

Esta «orxestra» a vós apresentar

Prosseguia a apresentação no mesmo tom, relatando uma incrível zaragata entre os deuses do Olimpo para terminar deste modo:

Aqui o harmonioso penicofone

Além o tilintoso cuecofone

O silencioso cisofone

O telefone, o microfone

O gramofone e o mudo caladofone

Ireis ouvir colcheias desgrenhadas

Bemóis, claves, pausas descompassadas

Semifusas de cabelos à garçone

E contra breves a tocar saxofone

Não falando já, bem entendidos

Nas tremifusas que perdem os sentidos

E dir-me-eis agora qual é mais excelente

Se ser do mundo Rei se de tal … cambada.

A «Pitagórica» depois desapareceu…

A geração que lhe emprestou as cuecas com guizos, os ferrinhos e as pandeiretas, formou-se. A que se lhe seguiu não renovou esse instrumental, nem se dedicou a aprender as «altas» partituras musicais de tão «famoso agrupamento artístico»…

Nota:

Temos conhecimento de que, ao longo do tempo, surgiram tentativas para ressurgir a «Orxestra Pitagórica».

No site https://orxestrapitagorica.pt/ é contada, com omissões, a história deste tipo de música no seio da academia coimbrã. Ali surge uma Orxestra Pitagórica, enquanto grupo da Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra que Nasce nos seios voluptuosos da Academia Coimbrã, criada exclusivamente por estudantes da cidade, com intuito de satirizar e dar a conhecer os assuntos principais da cidade, dos estudantes e do país.

São apresentados vídeos das suas atuações de que Zumba na caloira é um exemplo e é feita publicidade do nosso Tour: Pita Trapstar e habilitem-se a ouvir o cagar na primeira fila (promoção limitada ao stock existente).

São certamente outras músicas e outros tempos.

Rodrigues Costa

 

Nobre, C. Coimbra de capa e batina. Volume II. 1945. Coimbra, Atlântida – Livraria Editora, Ld.ª.

 

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por Rodrigues Costa às 19:23

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