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O Arquivo da Universidade de Coimbra, dedica o Documento do Mês a um pequeno livro datado de 1748, escrito sob o pseudónimo, Paulo Moreno Toscano e, como era uso da época, com o longo título (sic) Concelhos para os Novatos. Occuparem o tempo das Ferias, com a utilidade do seu adiantamento; e dictames para devorarem o «Mino-Tauro» de hum engano enserrado no «labyrintho» de inumeraveis lograções, o qual à instancia do «Minos» de hum Veterano, tributario do mesmo monstro na «Creta» Conimbricense, fabrica o «Dedalo» de hum depravado gosto.
Capa do livro. PT/AUC/PFM/JV – Jardim de Vilhena (F) – VI-3.ª- 2-3-12.
O livro é assim descrito.
Neste mês trazemos à divulgação um raro opúsculo, de oito páginas, impresso por Francisco de Oliveira, impressor da Universidade e também do Santo Ofício. Pouco se conhece do seu autor, a não ser o que ele próprio nos diz no citado opúsculo. Era, certamente, estudante da Universidade, como afirma. “E a Deus que se faz tarde, outro dia te contarei o mais que passei no anno de Candieiro”. E logo nesta frase nos dá a conhecer o jargão dos estudantes de Coimbra, pois a designação de candeeiro aplicava-se, como em outra parte do texto refere, aos estudantes do quarto ano, por ser esse ano, “aquele em que os Estudantes com as luzes da Ciencia, costumaõ resplandecer, e luzir...”.
No entanto, o nome deste autor, Paulo Moreno Toscano, não figura no ficheiro de alunos da Universidade, levando a supor que terá utilizado um pseudónimo.
Todo o texto é escrito com humor, não faltando alguma sátira a costumes da academia, os quais só com uma leitura atenta podemos descortinar, tal é a verbosidade do autor. Mas não pode deixar de citar-se a alusão às tradições gastronómicas e à toponímia, com alguns dos locais tradicionais de Coimbra, onde acorriam os estudantes de fora da cidade, mal aqui chegavam, como a Fonte dos Amores ou Santo António dos Olivais. É bem elucidativo o texto, quando se lê (atualizando a grafia): “levando-me a Santo António dos Olivais me fizeram pagar um tabuleiro de tigelinhas de manjar branco, que uma mulher tinha para vender, não me dando mais que duas para provar. Bem via eu que havia de pagar as favas que o asno comeu, por alto preço e agora alcanço que é bem louco o Novato que crê em palavras de veteranos...”.
Os códigos de praxe estavam já instalados e este opúsculo é fértil nos testemunhos do que se passava com todos os estudantes, fossem eles um novato, semiputo, candeeiro ou veterano. Este opúsculo virá a ter sequentes edições, três anos depois, em Lisboa, na oficina do impressor Domingos Gonçalves, em 1751 e uma outra, também em Lisboa, pelo
impressor Inácio Nogueira Xisto, em 1765, estando já nestas edições corrigida a grafia Conselhos.
Esta obra, em toda a sua escrita satírica e jocosa, juntamente com outros títulos como Palito Métrico e a Carta de Guia para os Novatos, são essenciais para conhecer as antigas tradições académicas, a sociabilidade estudantil e tantas outras circunstâncias da vida dos académicos em Coimbra que hoje são desconhecidas de muitos.
Concelhos para os novatos… / intimados por Paulo Moreno Toscano. Coimbra: Na Officina de Francisco de Oliveira, Impressor da Universidade e do S. Officio, 1748. Acedido em https://www.uc.pt/.../docs/documentodomesdeoutubro2022
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