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Até o Milagre das Rosas, porventura a única lenda da Rainha Santa que alcançou difusão nacional, não consta da biografia anónima de D. Isabel, redigida no séc. XIV, ocorrendo apenas num retábulo de pintura, quatrocentista, do Museu Nacional d’Art de Catalunya e muito brevemente, na Crónica da Ordem dos Frades Menores de Frei Marcos de Lisboa, naquilo que constitui um dos mais remotos registos hagiográficos impressos do episódio.
O que a maioria daqueles que se referem ao miraculoso evento desconhece é que são dois (e não apenas um!) os Milagres das Rosas creditados a Santa Isabel:
- o primeiro, mais divulgado, ao qual se reporta a generalidade das alusões literárias, artísticas, etc., consistiu na transformação de dinheiro em rosas e di-lo a tradição realizado em Coimbra, enquanto a Rainha acompanhava as obras que decorriam no convento de Santa Clara-a-Velha;
- o segundo terá ocorrido em Alenquer, durante as obras de edificação da igreja do Espírito Santo, sendo descrito como a transformação de rosas em moedas de ouro. Fernando Correia de Lacerda narra o episódio que teve Alenquer por cenário, nos seguintes termos:
“Detiveram-se os Reis alguns dias na Vila de Leiria, e passaram à de Alenquer, e como Deus fala aos seus servos em sonhos, uma noite em que o sono não fugia dos olhos da Santa Rainha, sendo que muitas vezes o faziam fugir as vigílias, sonhou, que seria obra muito agradável ao Senhor fazer naquela Vila uma igreja dedicada ao Espírito Santo, na qual se celebrasse o Sacrossanto Sacrifício da Missa, e ainda que o tempo a que acordou do sono não era de todo dia claro, como era costumada a louvar a Deus, como Estrela Matutina, se vestiu e foi ouvir Missa; tanto que a ouviu se foi ao rossio da Vila, que o Rio umas vezes inunda, outras prateia, e mandando chamar os juízes daquele Povo, lhes ordenou, que mandassem quatro pedreiros, e seis trabalhadores, porque queria que se abrissem uns alicerces naquele sítio, tanto que os juízes foram fazer a diligência, se pôs a Santa Rainha em oração no mesmo lugar, porque como aquelas ações eram inspiradas por Deus, não reparava em que fossem vistas no mundo, e vindo os Oficiais, e trabalhadores, se levantou, e foi para onde determinava abrir os alicerces e chegando ao sítio destinado, os achou abertos, e desenhados, vendo a Santa Rainha tão impensado sucesso, não sem consideração de que era superior prodígio, perguntou aos juízes, se os tinham mandado abrir naquela forma, ou deles tinham alguma notícia, e os juízes lhe responderam, que nem eles nem outra pessoa alguma havia dado princípio a aquela obra, antes passando por aquele sítio no princípio da noite antecedente, não tinha aquela parte diferença alguma do outro campo, ouvindo a Santa Rainha este desengano, reconheceu o favor, e pondo-se outra vez em oração, deu, com muitas lágrimas de ternura, graças a Deus da maravilha... Ainda que parecia, que não necessitava de mais firmeza a fábrica, a que Deus tinha feito a milagrosa planta, como os alicerces da igreja estavam só delineados à flor da terra, mandou a Santa Rainha, que na forma da delineação, se pusessem de maior altura, e depois de assistir na obra por algum espaço do dia, despedindo-se dos oficiais, lhes disse, que trabalhassem com cuidado, porque lhes havia de pagar o jornal com vantagens, chegando ao Paço deu conta a El-Rei do sucesso, de que ele recebeu grande gosto [...].
Tanto que a Santa Rainha acabou de jantar como aquela obra era santa, veio assistir a ela a tarde toda, e passando por aquele sítio, ao declinar do dia, uma moça com um molho de rosas nas mãos, disse a Santa Rainha a uma Dama sua, que lhas pedisse da sua parte, obedeceu a Dama ao preceito, a moça ao rogo, e passando as rosas da segunda mão às da Santa Rainha, ficaram elas da melhor sorte, e com o melhor preço [...].
Chegado o tempo da Santa Rainha se voltar para o Paço, deu a cada um dos oficiais, e trabalhadores sua rosa, dizendo-lhes que com elas lhes pagava o dia, e rindo-se eles, cuidando que era graça, as aceitaram com grande cortesia, admirando tanta urbanidade em majestade tão venerada, e para continuar o trabalho, guardou cada um a sua em lugar distinto, posto o Sol, depois de se ausentar a Santa Rainha, tomando cada qual os vestidos, para se recolherem a suas casas, e querendo levar as flores, para testemunhas de que a Santa Rainha lhes fizera aquelas mercês, quando as buscaram, acharam dobras, e duvidando que fossem verdadeiras tão lucrosas transformações; para se tirarem de dúvidas determinaram ir buscar a Santa Rainha, a qual acharam ainda pela rua, e lhe disseram, que sua Alteza lhes mandara pôr dobras em lugar de rosas, que eles não tinham merecido tão liberal paga, e estavam certos da satisfação ouvindo a Santa Rainha o sucesso daquela mudança, conheceu que era prodígio do Céu, porque com outros semelhantes, tinha a divina grandeza, honrado a sua humildade, e pondo os olhos na terra e coração no Céu, deu muitas graças ao Senhor [...].
Quando os oficiais deram conta à Santa Rainha, do sucesso que os tinha em dúvida, lhe não deu ela alguma resposta, e chamando um deles à parte, lhe perguntou outra vez pelo acontecimento, e ele lhe tornou a referir a verdade, e tanto que se certificou do milagre, os chamou a todos, e lhes impôs o segredo, dizendo-lhes que se aproveitassem do dinheiro [...]”.
Alenquer: o convento de São Francisco no topo da “eminência para a parte Sul” e a igreja do Espírito Santo junto ao rio. Op. cit. Pg.17
“Santa Isabel e o Milagre das Rosas em Alenquer” (c. 1670-1680), óleo sobre tela (80 x 120 mm) do pintor Bento Coelho (matriz de Salvaterra de Magos). Op. cit. Pg.29
“Milagre das Rosas de Alenquer” (1692) António Gomes e Domingos Nunes. Painel do terceiro retábulo lateral do lado da Epístola da igreja de Santa Clara-a-Nova. Op. cit. Pg. 30
“Milagre das Rosas de Alenquer” (óleo sobre tela) Painel central do retábulo do coro alto da igreja de Santa Clara-a-Nova. Op. cit. Pg.31
Nota: Segudo alguns autores, a figura constante do retábulo de pintura, quatrocentista, do Museu Nacional d’Art de Catalunya, é identificada como sendo a Rainha Santa Isabel da Hungria, tia da Rainha Santa Isabel de Portugal e não com esta.
Gandra, M.J. O império do divino da Amazónia. 2017. Rio de Janeiro, Instituto Mukharajj Brasilan, pg. 17-31
Perfaz-se hoje, dia 28 de agosto, 23 anos sobre a partida do Eng.º Jorge Anjinho, uma das personalidades que marcou, indelevelmente, a cidade de Coimbra na segunda metade do século XX.
Jorge Manuel Serrano Anjinho nasceu em Estremoz, mas, apesar disso, acabou por se tornar, por adoção, um verdadeiro conimbricense.
Frequentou os preparatórios de Engenharia na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, embora, por razões óbvias, tivesse de ir concluir a licenciatura na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Jorge Anjinho, estudante de Coimbra
Contudo, ao partir para a antiga Portus Cale, já levava consigo a marca inapagável da cidade do Mondego e, conjuntamente com outros colegas idos de Coimbra, fundou, em 1959, e foi “Mor”, a "Real República dos LyS.O.S", sediada num prédio atualmente desaparecido da Praça de Mouzinho de Albuquerque. A “República”, inicialmente marcada por uma intensa atividade cultural e política, presentemente é quase desconhecida.
Jorge Anjinho, após a licenciatura, concluída no ano de 1963, cumpriu o Serviço Militar no SFOM (Serviço de Fortificações e Obras Militares), primeiro no Continente, nos Açores e, por fim, na Guiné (Bissau), onde permaneceu durante cerca de 4 anos. Ao longo deste tempo aplicou os seus conhecimentos técnicos em obras de índole estritamente militar que passaram pela construção de edifícios, pela abertura de estradas, pela construção de pontes, etc.
Jorge e Maria da Luz Anjinho
Quando, em finais de 1966, regressou a Coimbra, os Serviços Municipalizados contrataram-no e, então, exerceu o cargo de Diretor de Obras.
No desempenho desta função assumiu-se como primeiro responsável pela construção da Estação de Tratamento de Águas da Boavista, pela adaptação de uma zona das bancadas do antigo Estádio Municipal (Estádio do Calhabé) a Centro Ordenador Municipal da Câmara Municipal de Coimbra, entidade, ao tempo, responsável pelo processamento da faturação de água, contabilidade e vencimentos dos serviços municipalizados (atual AIRC), pela construção da central de transportes localizada na Guarda Inglesa, pela construção das torres de iluminação do Estádio Municipal de Coimbra e por muitas outras obras de menor dimensão.
Depois de, em 1970, abandonar a função pública e passar a exercer a sua atividade como profissional liberal, criou, em parceria com um outro colega um gabinete técnico de projetos que, oito anos depois, se constitui como sociedade, com a designação de “Eugénio Cunha e Jorge Anjinho, Lda".
A sociedade manteve-se até ao ano de 1984, data em que Anjinho adquiriu a participação que Eugénio Cunha detinha na empresa; esta, a partir de então, foi redenominada de "Jorge Anjinho, Lda. - Estudos e Projectos", tendo o seu responsável participado ativamente como elemento da gerência, tanto no plano técnico, como no comercial-administrativo.
Jorge Anjinho, durante os anos de vigência da sociedade “Eugénio Cunha e Jorge Anjinho, Lda", criou e administrou, em Antuzede, a fábrica Betex (blocos de leca, abobadilhas e elementos pré-fabricados) e em Albergaria-aVelha, a fábrica Pavileca (blocos de leca, abobadilhas e elementos pré-esforçados). Simultaneamente, no Porto, participou na administração da fábrica Patial (elementos pré-esforçados).
Posteriormente, desempenhou o cargo de sócio gerente da firma Setobra - Construções do Centro, Lda e, em 1998, fundou e presidiu ao Conselho de administração da Luzfisa, Sociedade Técnica de Instalação de Gás, S. A.
A grande dedicação de Jorge Anjinho a Coimbra e a enorme capacidade de fazer, ficaram bem comprovadas em duas áreas.
Uma, passou pelo associativismo empresarial, com destaque para a sua ligação à Associação Comercial de Industrial de Coimbra (ACIC), onde exerceu os cargos de membro da Direção Geral (1977 a 1979); membro da Direção do Sector Industrial (1979 a 1981); Presidente da Direção Geral (1981 a 1983). Enquanto coordenador responsável pelo Departamento de Feiras da ACIC, criou e assumiu-se como motor da Feira Comercial e Industrial de Coimbra que tão boas memórias deixou.
Fundado em 1992, o Clube dos Empresários de Coimbra, teve Jorge Anjinho como um dos sócios-fundadores e, posteriormente, como vice-presidente e diretor. A ele se deve, também, a criação da empresa Odabarca - Animação Turística do Mondego S. A., proprietária do Barco "Basófias", de que foi administrador, e a Sociedade Quinta das Varandas, de que ajudou a fundar e da qual foi acionista.
Não se pode ainda esquecer a sua participação, desde 1996, na Associação Industrial Portuense, como membro do Conselho Consultivo.
Jorge Anjinho, empresário
A outra grande paixão de Jorge Anjinho por Coimbra centra-se na enorme dedicação ao futebol da Associação Académica de Coimbra, facto que não passou desapercebido e ganhou a admiração dos habitantes do burgo.
Ainda como estudante, em 1966/1667, assumiu o cargo de diretor da Seção de Futebol da AAC e, em 1979/1980, o de Relator do Conselho Fiscal.
Durante sete anos, entre 1983 e 1990, exerceu o cargo de Presidente da Briosa e, em julho de 1984, celebrou o protocolo de reintegração do ainda Clube Académico de Coimbra na Associação Académica, como Organismo Autónomo de Futebol. Consequentemente, Jorge Anjinho foi o primeiro presidente da Direção da AAC-OAF.
Jorge Anjinho, presidente da AAC-OAF. Foto Zézé Eliseu Trego
Ao longo da sua vigência na presidência implementou o Bingo da Académica e fez construir o pavilhão da Académica OAF.
Na época de 1984/1985 participou e esteve presente n a assembleia conhecida pelo nome de "Pacto dos Presidentes", movimento que mais tarde daria lugar à Associação Nacional de Clubes.
Os Antigos Orfeonistas, no próximo dia 17 de setembro, em Extremoz irão, por certo, reconhecer o grande amor de Jorge Anjinho pela Briosa e por Coimbra na homenagem que então lhe irão prestar.
Resta-nos a esperança que, em 2024, vinte e cinco anos após o seu falecimento, Coimbra o recorde e que pelo seu amor à Cidade e pela sua capacidade de fazer, ainda que a título póstumo, lhe tribute a mais do que merecida homenagem.
Rodrigues Costa
Agradeço a ajuda da Isabel Anjinho na disponibilização dos dados e imagens para esta tão justa, como singela publicação fosse possível.. Igual agradecimento é extensivo a Zézé Eliseu Trego pela cedência da fotografia assinalada com sendo da sua autoria.
António Luís de Sousa Henriques Seco nasceu na casa-solar da sua família, em Antuzede (arredores de Coimbra), a 22 de janeiro de 1822, e faleceu em Coimbra … em 4 de dezembro de 1892.
Professor Doutor Henriques Seco. Op. cit., pg. 1
Depois de frequentar Preparatórios no Colégio das Artes, matriculou- se no 1. ° ano jurídico da Universidade a 3 de outubro de 1836, aí se bacharelou a 2 de junho de 1840, se licenciou em 21 de maio de 1841 e se doutorou no dia 29 de janeiro de 1843.
Tomou parte ativa nas lutas contra o Governo cabralista, iniciadas em Coimbra com a Revolução popular, em 8 de março de 1844.
O Barão do Casal derrotou as forças patuleias da Junta do Porto, comandadas por Sá da Bandeira, o lendário Sá Maneta, graças à deserção dos regimentos de infantaria 3 e 15, que mudaram de campo. Representaram-no a cavalo com cara de burro.
Acedido em: https://www.google.pt/search?q=guerra+da+patuleia
Depois do malogro desta Revolução, o Partido progressista julgou necessária a criação de um jornal para se opor às prepotências das autoridades. No dia 9 de julho de 1844, com a colaboração de Henriques Seco, saiu à luz o primeiro número do periódico, a que foi posto o nome de «A Oposição Nacional», cuja direção provinha da loja maçónica «Filadélfia», de que Henriques Seco era membro, com o nome simbólico de «Viriato». Tentou ainda, em 1845, coadjuvado por alguns amigos, publicar um periódico intitulado «O Conimbricense», mas as autoridades impediram arbitrariamente essa publicação, não lhe concedendo a necessária habilitação.
… Quando, no ano de 1846, a Revolução popular («Patuleia») triunfou em Coimbra e aí se instalou, em 18 de maio, uma Junta Governativa, Henriques Seco aderiu às hostes populares, tendo sido integrado, com o posto de Tenente, na 2.ª Companhia da Guarda Nacional de Coimbra.
Finda a Guerra da Patuleia com a Convenção de Gramido, não cessaram as violências dos cabralistas. Para reagir contra essa situação, um grupo de membros do Partido Progressista, entre eles António Luís de Sousa Henriques Seco, decidiram fundar um jornal, com o título «O Observador», saindo o primeiro número em 16 de novembro de 1847.
… Prosseguindo a sua atividade académica, Henriques Seco, na qualidade de «doutor adido», publica, em 1848, pela Imprensa da Universidade, a sua primeira obra: «Manual Histórico de Direito Romano» … Em 1850, elaborou a obra que viria a publicar, seis anos depois, com o título «Novos Elogios dos reis de Portugal, ou princípios de história portuguesa para uso das escolas».
A carreira universitária, após ter regido, no ano letivo de 1848-1849, a cadeira de Direito Natural e das Gentes, é interrompida pelo exercício, na primeira metade da década de 1850, de funções político-administrativas. Em 1851, com a «Regeneração», foi incumbido da Secretaria Geral do Governo Civil de Santarém (8 de maio de 1851), donde foi transferido, em 9 de junho desse ano, para idêntico cargo no de Coimbra, tendo nos dois anos seguintes exercido por diversos períodos a chefia efetiva do distrito, por falta ou impedimento dos titulares do cargo. Foi finalmente nomeado Governador Civil, em 28 de abril de 1853, cessando essas funções em 21 de março de 1854, na sequência do seu pedido de exoneração, formalizado em 16 desse mês, motivado pelos acontecimentos de fevereiro desse ano («Entrudada Académica»)
… Das visitas que fez aos diversos concelhos do Distrito resultou a publicação da «Memória histórico-corográfica dos diversos concelhos do distrito administrativo de Coimbra» … e «As eleições municipais em Coimbra para o biénio de 1854 a 1855».
…. Em 1854, ano em que regressa à docência universitária, coube-lhe proferir, em latim, a Oração de Sapiência na abertura solene das aulas.
…. Foi nomeado lente substituto extraordinário em 24 de janeiro de 1855 e substituto ordinário em 22 de agosto do mesmo ano a regência das cadeiras de História Geral da Jurisprudência (1855-1858), Instituições de Direito Eclesiástico (1855-1857), Enciclopédia Jurídica (1857-1858) e Direito Romano (1858-1860).
Por Decreto de 23 de janeiro de 1861, foi promovido a lente catedrático e encarregado da regência da cadeira de Direito Criminal.
… Perante este novo desafio … [decidiu] começar a redigir um «Compêndio de Direito Criminal Português» … Esse projeto não chegou a concretizar-se, tendo, no entanto, utilizado diversas notas na edição do «Código Penal Português».
Código Penal Português. 1861, sexta edição
…. Exerceu os cargos de Fiscal (1859/1860) e Diretor da Faculdade de Direito, desde 16 de dezembro de 1880 até à jubilação em 12 de fevereiro de 1885.
Renunciou à Comenda da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa …. Igualmente recusou aceitar o foro de Fidalgo da Casa Real.
Membro do Conselho do Distrito (1846,1854 e 1864), da Junta Administrativa dos Campos do Mondego (1856), foi Presidente da Câmara Municipal de Coimbra em 1862 e 1863 e da Junta Geral do Distrito, em 1863.
Por Decreto de 10 de fevereiro de 1852, D. Fernando II nomeou-o membro do seu Conselho.
Afeto ao Partido Histórico, foi eleito Deputado às Cortes em 1854, 1857, 1858 e 1860.
…. Em 28 de janeiro de 1874, foi eleito sócio efetivo do lnstituto de Coimbra.
Foi nomeado Conselheiro de Estado e Par do Reino vitalício em 7 de janeiro de 1881.
Faleceu em Coimbra … após o que seguiu para o cemitério de Antuzede.
No seu testamento, deixou a quase totalidade da sua livraria à Câmara Municipal de Coimbra, para com ela se criar uma Biblioteca Pública.
Ao noticiar o seu falecimento, «O Defensor do Povo» … salientou que “foi um cidadão honesto, um português de lei, revolucionário nos seus tempos, todo liberal, lutando com encarniçamento durante a época cabralina"; "homem de bom coração, esmoler", "serviu o seu País, com dedicação, sem egoísmos nem vaidades".
Seco, A.L.S.H. Execuções da pena última em Portugal. Recolha de textos, introdução e notas por Mário Araújo Torres. Lisboa, Edições Ex-Libris.
Na obra que vimos seguindo surgem diversas notícias relacionadas com a execução de pessoas de Coimbra, a primeira acontecida no ano de 1555. Desconhece-se o nome e o crime do homem que, nessa data, foi Atanazado e enforcado em Coimbra.
É, também, explicado no que consistia, em vida, o atanazamento, que implicava a aplicação de uma(s) das seguintes penas acessórias: o corte ou mutilação das mãos ambas, ou de algumas delas; o arrastamento da vítima, no percurso, até ao sítio da forca; o arrancamento do coração.
Saliente-se que são referidos diversos Autos-de Fé da responsabilidade da Inquisição de Coimbra, realizados na Praça de S. Bartolomeu, onde pereceram, queimadas vivas, entre homens e mulheres, 84 pessoas.
Praça de S. Bartolomeu, hoje Praça do Comercio
De entre as execuções realizadas na cidade mondeguina e referidas no livro escolhemos, como exemplo para aqui transcrever, uma das mais antigas e a mais recente.
- 1456.07.01
Luísa de Jesus, de 22 anos de idade.
Infanticídios diversos, indo buscar enjeitados à Misericórdia de Coimbra, a pretexto de criação, matando-os e enterrando-os depois, para se aproveitar do enxoval e dos 600 réis de criação pagos adiantadamente.
Atazanada pelas ruas públicas, cortadas as mãos em vida, garrotada e queimada. Sentença da Relação de Lisboa.
Acharam-se enterradas trinta e três crianças, confessando a ré haver garrotado vinte e oito por suas próprias mãos! Que tal era a fiscalização do estabelecimento, que permitia tantas e tão seguidas atrocidades! A mesma, fora de toda a dúvida, que havia em toda a superfície do país.
- 1839.07.29
José da Costa Casimiro, de 27 anos, natural do Picoto, freguesia de Cernache dos Alhos, concelho de Coimbra, solteiro, sapateiro.
Homicídio de Diogo Marques de Carvalho, no dia no dia 25 de Julho de 1835, no sítio das Almuinhas, próximo do mesmo lugar de Cernache.
Enforcado junto e a jusante do antigo «Ó» da ponte de Santa Clara, que corresponde [naquela data] à extremidade sul da atual «ponde de ferro».
«Ó» da ponte de Santa Clara
São ainda citadas duas informações relevantes.
- Da edição de 1747 do Compromisso da Santa Casa da Misericórdia da Cidade de Coimbra, datado de 24 de maio de 1620, são transcritos os Capítulos XXX e XXXI que tratam respetivamente:
. Do como como se hão-de acompanhar os padecentes,
. Do modo em que se hão-de ir buscar as ossadas dos que padeceram por justiça.
Compromisso da Santa Casa da Misericórdia da Cidade de Coimbra. Edição de 1830
- Indica o local onde, na cidade, se erguia a forca:
Para o leitor fora de Coimbra, e ainda para o desta cidade que somente conhece a moderna, será bom explicar que o nume «Ladeira da Forca» se dá à extremidade norte-poente do monde chamado «Monte Arroio», a qual cai quase a prumo sobre a cabeça da antiga «Ponte de Águas de Maias», e é ladeada pelo semicírculo que formam a estrada de Coimbra ao Porto e o caminho da Ribeira de Coselhas; assim como Ponte de Águas de Maias se chamava à antiga ponte, que, desde o sopé da «Ladeira da Forca», se estendia até o «Arco Pintado» …
Ponte de Águas de Maias
merece comunicar a todos este espaço o seu antigo nome, tão antigo que já serviu para designar o campo de batalha (se é verdadeira a tradição) travada há bastantes séculos entre os dois Hermenerico e Ataces.
Seco, A.L.S.H. Execuções da pena última em Portugal. Recolha de textos, introdução e notas por Mário Araújo Torres. Lisboa, Edições Ex-Libris.
Prosseguindo na sua tão louvável tarefa de reeditar obras esquecidas relacionadas, sobretudo, com Coimbra, o Dr. Mário Araújo Torres acaba de publicar, com recolha de textos, introdução e notas da sua responsabilidade, o livro Execuções da pena última em Portugal, com textos da autoria de António Luís de Sousa Henriques Seco.
Obra citada, pormenor da capa. Execução de Gomes Freire de Andrade, esplanada do Forte de S. Julião da Barra, 18 de outubro de 1817.
Explica Mário Araújo Torres, na Introdução, qual a motivação que o impeliu a publicar a obra ora apresentada.
No bicentenário do nascimento de António Luís de Sousa Henriques Seco, lutando contra o esquecimento a que tem sido injustamente votada a obra desta personalidade marcante em vários sectores da vida política e cultural da sociedade portuguesa do século XIX, procede-se à reedição dos capítulos insertos nos dois volumes das suas «Memórias do Tempo Passado e Presente para Lição dos Vindouros» (Coimbra, Imprensa da Universidade, 1880 e 1889),
Memórias do Tempo Passado e Presente para Lição dos Vindouros. Vol I e II
dedicados à execução da pena de morte em Portugal, onde apresenta uma extensa e impressionante relação dos “assassínios legais”, culminando, no capítulo final, com a defesa da abolição total dessa pena, não apenas para os crimes civis (consagrada em 1867), mas também para os crimes militares, por ilegítima, desnecessária e inútil.
Obra citada, pormenor da contracapa. Execução dos Távoras, Belém, 13 de janeiro de 1759
Salienta, ainda, que teve Henriques Seco um lugar destacado no movimento abolicionista da pena de morte em Portugal.
Nesse movimento, em que militaram os juristas conimbricenses Ribeiro dos Santos, Silva Ferrão, Levy Maria Jordão, Aires de Gouveia, Joaquim António de Aguiar e Barjona de Freitas, [dos quais são apresentadas breves biografias] só Henriques Seco e Aires Gouveia tiveram a coragem de defender a abolição total dessa pena, não apenas para os crimes civis (consagrada em 1867), mas também para os crimes militares, mesmo em tempo de guerra, como propugna na parte final da extensa e impressionante relação dos “assassínios legais”, que agora se colocam à disposição do público.
Seco, A.L.S.H. Execuções da pena última em Portugal. Recolha de textos, introdução e notas por Mário Araújo Torres. Lisboa, Edições Ex-Libris.
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