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O Grupo de Arqueologia e Arte do Centro (GAAC), ao ser fundado na cidade de Coimbra, em 11 de maio de 1978, teve como primeiro objetivo «Promover o estudo, conservação, defesa e divulgação do património cultural, nomeadamente arqueológico, paisagístico, artístico e etnográfico». Ao longo dos anos, tem vindo a publicar a revista «Munda», cujo primeiro número apresenta a data de 11 de maio de 1981.
Munda, n.º 1. 18 de maio de 1981
Esta revista, nomeadamente os números da sua primeira fase, atualmente apenas consultáveis em algumas bibliotecas, destacaram-se pela qualidade da colaboração e não pode deixar de se lamentar os injustamente esquecidos artigos ali publicados. Por isso, iremos procurar recordar neste blogue, sobretudo aqueles trabalhos cuja temática se relaciona com a nossa cidade.
Começamos com um escrito do Professor Doutor Nelson Correia Borges, intitulado «A Mantilha e o seu uso em Coimbra». O autor apresenta ali um aprofundado estudo sobre a origem e evolução desta peça do vestuário feminino, «que se destinava exclusivamente a cobrir a cabeça da mulher, e era usada sobretudo para ir à igreja até não há muitos anos».
A parte final do artigo é dedicada ao estudo das especificidades da mantilha usada pelas mulheres de Coimbra.
Nas duas próximas entradas transcreveremos o texto e inseriremos as imagens que o ilustram.
Rodrigues Costa
Fig. 1 A lady of Coimbra in mantilla. Gravura da obra de Henry L’Evêque, “The costume of Portugal”, Londres, 1812
A representação mais antiga (Fig. 1) é uma belíssima gravura a «pointillé», incluída na obra de Henry L'Evêque, The Costume of Portugal, publicada em Londres. em 1812. Ostenta a seguinte legenda: «A Lady of Coimbra in Mantilla». Nela se recorta uma esbelta figura feminina sobre a paisagem da cidade, onde se reconhece a Sé Nova e o Mondego. Envolve-se na mantilha, com graciosidade, deixando a descoberto parte da «blusa» e da saia preta. Notaremos ainda no seu trajo as meias brancas e os sapatos finos, além das joias que ostenta. Em segundo plano segue, ao lado de um homem, outra mulher, também de mantilha. Parece-nos, todavia, que esta gravura não representa com fidelidade a parte que envolve a cabeça – a coca –, a qual, segundo outros testemunhos, era de muito maior dimensão, e a forma, ainda que não se afastando nas suas linhas gerais, aparece aqui mais comedida.
Assim a viu Carlos Van Zeller, oficial do exército britânico, cerca de 1834, com a sua coca muito saliente, terminando num bicoque, pelo que afirma, encurvava quase até ao nível do queixo. Não se poupa ao comentário depreciativo comum a quantos, nesta época, se referem a esta peça de vestuário: «The walking dress of fema'e of Coimbra is ridiculous in the estreem. The mantilha is in every aspect the same as that of Oporto except the cape which projects to an extraordinary lengíh beyond the face so as nearly to hide it, ending in a sharp point which bends down wards nearly as far as the chin».
Além das notas manuscritas, Van Zeller fez alguns esboços, dos quais nos interessam particularmente os pormenores da mantilha coimbrã que reproduzimos na Fig. 2.
Fig. 2 - Coca da mantilha coimbrã, segundo apontamentos de viagem de Carlos Van Zeller, em 1853
De facto, é a coca que verdadeiramente distingue e define a mantilha de Coimbra, só encontrando rivais no Porto, Viseu e Braga que não lhe ficam atrás na singularidade. Estamos em crer que o desenvolvimento do tamanho da coca foi uma consequência dos toucados, por vezes muito elaborados, em moda, sobretudo, na última metade do século XVIII.
Borges, N. C. A Mantilha e o seu uso em Coimbra, In: “Munda”, 7, Coimbra, Revista do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, 1984, p. 60-71.
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