Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 23.06.22

Coimbra: Mantilha Coimbrã 2

A muito divulgada água-tinta de G. Vivian, que é o n.º XVI de Scenery of Portugal & Spain, editado em Londres, em 1839, e de que apresentamos um pormenor na Fig. 3, é um manancial de informações sobre o trajo popular em Coimbra, na época, já que junto à fonte de Santana se agrupam diversas figuras citadinas que vão desde os estudantes, à esquerda, às senhoras de mantilha, à direita. Ali as vemos, conversando, uma de frente outra de costas, amantilhadas com a extraordinária coca armada em papelão e barbas de baleia.

Fig. 3.jpg Fig. 3 - Pormenor da estampa XVI da obra de G. Vivian, “Scenery of Portugal & Spain”, Londres, 1839, vendo-se, à direita, duas mulheres de mantilha

O desenho é em tudo coincidente com a descrição de António Cândido Borges de Figueiredo que, recordando com certa saudade as senhoras, que conheceu, de mantilha, não se abstém de ridicularizar esse trajo feminino:

«Quando eu era pequeno, quando eu usava calcinhas curtas, [...] nesse tempo, aí de 1858 para 1859, lembro-me perfeitamente de ter visto ainda algumas senhoras de mantilha, principalmente na semana santa. Conquanto eu então apreciasse muito o cortar bonecos de livros e colá-los em papel, para desassombrar as figuras das letras, confesso que, todas as vezes que percebia que íamos à missa ao Salvador, não cabia em mim de contente. É que, naquela igreja encontrávamos sempre as senhoras S., a casa de quem íamos depois da missa. Ora a casa das senhoras S., e as donas dessa casa tinham a arte de me atrair. A casa atraía-me, porque na sala havia sobre as mesas um papagaio e um gato empalhados, e uma recova de cavalinhos de vidro, e um pavão também da mesma matéria cuja cauda era composta de vidro em cabelo. [...] Quanto às senhoras S., essas atraíam-me, porque me davam uns certos bolinhos, muito melhores que especiones [...].

«Devo ser – e sou – grato à memória daquelas excelentes criaturas, que me deram tantas gulodices; todavia não posso deixar de rir-me ainda hoje do aspecto que as três senhoras – mãe e filhas – apresentavam quando iam à missa. As suas tradições de família, o seu recato, a sua devoção, não lhes permitiam adop- tar a moda. Nada direi da saia, ou vestido, preto quasi sempre, e, quando não preto, então da cor da túnica do senhor dos passos; mas a mantilha...

«Creio que ainda nalgumas partes do nosso Portugal se vêm as clássicas mantilhas; mas a mantilha de Coimbra era muito diferente das outras, – pelo menos não me consta que em outras partes se usassem do feitio daquelas. Compunha-se de uma tira de papelão grosso arqueada e convenientemente coberta de fazenda preta; colocada sobre a cabeça e segura sob o queixo por fitas, caía o pano preto exterior pelas costas e peito a modo de mantéu: até aqui não há nada de extraordinário; mas de diversos pontos do papelão que cobria a cabeça partiam algumas barbas de baleia que a distância de dois palmos da testa se uniam formando vértice, tudo isto coberto de fazenda igual à restante e apresentando a figura da maxila superior do ranforincho, ou, melhor, do pterodáctilo... E que lindos rostos, que rosadas e mimosas faces se escondiam sob esse hediondo e ridículo trajo!

«Mas foi o que usaram as damas do high-life de outrora; quem não trajava de mantilha, tinha de pôr o capote de cabeção e o lenço de cambraia muito branco c muito gomado. O bico formado atrás da cabeça pelo lenço era a perfeita antítese do bico da mantilha. As senhoras S. foram, creio eu. as últimas damas que usaram mantilha.»

Ainda um outro desenho, certamente de artista nacional, mas de autor desconhecido e que deverá datar do segundo quartel do século passado, vem de encontro aos testemunhos anteriores. Nele se vê uma cena matutina (Fig. 4). O desenho é desagradável, mas elucidativo. O garotito e a manteigueira, descalços, contrastam com a senhora de mantilha que se dirige, certamente, para a igreja.

 

Fig. 4.jpg

Fig. 4 - Cena matinal, com senhora de mantilha. Desenho de autor desconhecido

E eis, suficientemente caracterizada, a mantilha coimbrã.

Borges, N. C. A Mantilha e o seu uso em Coimbra, In: “Munda”, 7, Coimbra, Revista do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, 1984, p. 60-71.

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 10:37

Quarta-feira, 22.06.22

Conversas Abertas 2022: Livreiros Franceses em Coimbra

É já na próxima 6.ª feira, dia 24 que terminam as Conversas Abertas do ano em curso.

Conversas abertas cartaz de 2022.06.24.png

A Iniciativa irá decorrer na Sala D. João III do Arquivo da Universidade de Coimbra, com entrada livre, até ao limite da lotação.

A palestrante será a Senhora Dr.ª Ana Maria Bandeira, Técnica superior do AUC que abordará o tema «Livreiros franceses em Coimbra: contributos para uma biografia dos irmãos Orcel» pretendendo traçar uma biografia dos irmãos Orcel que, à semelhança de outros livreiros franceses, como os Aillaud, Borel, Semiond, e Bertrand, os Orcel mantiveram negócios com a Universidade de Coimbra, na casa comercial livreira que possuíam, na Rua das Fangas (hoje Rua Fernandes Tomás).

É para esta Conversa Aberta que quantos amam Coimbra e a sua história são convidados a participar.

 

As Conversas Abertas voltam na última 6.ª feira de janeiro do próximo ano, agora numa organização do Arquivo da Universidade de Coimbra que contará com o apoio do Clube de Comunicação Social de Coimbra e do blogue A’Cerca de Coimbra.

Pelo presente somos a agradecer a divulgação desta iniciativa.

Rodrigues Costa (responsável pelo blogue A’Cerca de Coimbra).

 

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 10:44

Terça-feira, 21.06.22

Coimbra: Mantilha Coimbrã 1

O Grupo de Arqueologia e Arte do Centro (GAAC), ao ser fundado na cidade de Coimbra, em 11 de maio de 1978, teve como primeiro objetivo «Promover o estudo, conservação, defesa e divulgação do património cultural, nomeadamente arqueológico, paisagístico, artístico e etnográfico». Ao longo dos anos, tem vindo a publicar a revista «Munda», cujo primeiro número apresenta a data de 11 de maio de 1981.

Muna n. 1.jpg

Munda, n.º 1. 18 de maio de 1981

Esta revista, nomeadamente os números da sua primeira fase, atualmente apenas consultáveis em algumas bibliotecas, destacaram-se pela qualidade da colaboração e não pode deixar de se lamentar os injustamente esquecidos artigos ali publicados. Por isso, iremos procurar recordar neste blogue, sobretudo aqueles trabalhos cuja temática se relaciona com a nossa cidade.

Começamos com um escrito do Professor Doutor Nelson Correia Borges, intitulado «A Mantilha e o seu uso em Coimbra». O autor apresenta ali um aprofundado estudo sobre a origem e evolução desta peça do vestuário feminino, «que se destinava exclusivamente a cobrir a cabeça da mulher, e era usada sobretudo para ir à igreja até não há muitos anos».

A parte final do artigo é dedicada ao estudo das especificidades da mantilha usada pelas mulheres de Coimbra.

Nas duas próximas entradas transcreveremos o texto e inseriremos as imagens que o ilustram.

Rodrigues Costa

Fig. 1.jpg

Fig. 1 A lady of Coimbra in mantilla. Gravura da obra de Henry L’Evêque, “The costume of Portugal”, Londres, 1812

 A representação mais antiga (Fig. 1) é uma belíssima gravura a «pointillé», incluída na obra de Henry L'Evêque, The Costume of Portugal, publicada em Londres. em 1812. Ostenta a seguinte legenda: «A Lady of Coimbra in Mantilla». Nela se recorta uma esbelta figura feminina sobre a paisagem da cidade, onde se reconhece a Sé Nova e o Mondego. Envolve-se na mantilha, com graciosidade, deixando a descoberto parte da «blusa» e da saia preta. Notaremos ainda no seu trajo as meias brancas e os sapatos finos, além das joias que ostenta. Em segundo plano segue, ao lado de um homem, outra mulher, também de mantilha. Parece-nos, todavia, que esta gravura não representa com fidelidade a parte que envolve a cabeça – a coca –, a qual, segundo outros testemunhos, era de muito maior dimensão, e a forma, ainda que não se afastando nas suas linhas gerais, aparece aqui mais comedida.

Assim a viu Carlos Van Zeller, oficial do exército britânico, cerca de 1834, com a sua coca muito saliente, terminando num bicoque, pelo que afirma, encurvava quase até ao nível do queixo. Não se poupa ao comentário depreciativo comum a quantos, nesta época, se referem a esta peça de vestuário: «The walking dress of fema'e of Coimbra is ridiculous in the estreem. The mantilha is in every aspect the same as that of Oporto except the cape which projects to an extraordinary lengíh beyond the face so as nearly to hide it, ending in a sharp point which bends down wards nearly as far as the chin».

Além das notas manuscritas, Van Zeller fez alguns esboços, dos quais nos interessam particularmente os pormenores da mantilha coimbrã que reproduzimos na Fig. 2.

Fig. 2.jpg

Fig. 2 - Coca da mantilha coimbrã, segundo apontamentos de viagem de Carlos Van Zeller, em 1853

De facto, é a coca que verdadeiramente distingue e define a mantilha de Coimbra, só encontrando rivais no Porto, Viseu e Braga que não lhe ficam atrás na singularidade. Estamos em crer que o desenvolvimento do tamanho da coca foi uma consequência dos toucados, por vezes muito elaborados, em moda, sobretudo, na última metade do século XVIII.

 

Borges, N. C. A Mantilha e o seu uso em Coimbra, In: “Munda”, 7, Coimbra, Revista do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, 1984, p. 60-71.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 11:27

Quinta-feira, 16.06.22

Coimbra: Miguel Torga e os seus lugares na Cidade 2

MT 2.jpg

Folheto, pormenor

Mais uma vez em Coimbra, procura um destino profissional duradouro, tirando uma especialidade: "Dispus-me, finalmente, a meter o corpo aos varais. Comecei a praticar no consultório de um colega otorrinolaringologista".

…. Concluída a especialidade, nova fase surge m sua vida. Como não era fácil abrir consultório em Coimbra, vai para Leiria, onde "montou a sua tenda", segundo as suas próprias palavras. Foi determinante para a escolha da cidade a proximidade de Coimbra, o que lhe permitia. ir aí todas as semanas, para o convívio literário de que necessitava e pela proximidade das livrarias, das tertúlias e da tipografia onde imprimia os seus livros. E um deles, saído em 1939, «O Quarto Dia da Criação do Mundo», narração da sua viagem pela Europa, da Espanha franquista e da Itália de Mussolini, bem como do encontro em Paris com os exilados do regime salazarista, iria levá-lo à prisão do Aljube, em Lisboa, onde passou o Natal desse ano e escreveu alguns dos seus mais significativos poemas.

Liberto da prisão, regressa a Leiria. No ano de 1940 a vida de Miguel Torga iria tomar um novo rumo, com o casamento com Andrée Crabbé, uma jovem belga que conhecera em Coimbra em casa de Vitorino Nemésio, de quem era aluna em Bruxelas. E nesse ano publica um livro de contos, Bichos, um dos mais representativos da sua obra. A censura não dormia e, no ano seguinte, um outro livro do escritor, «Montanha», é apreendido.

Continua a viver, agora casado, em Leiria. Mas a cidade não preenchia os seus anseios. E quando pensa em mudar de ares, a resposta surge naturalmente: "Coimbra, como não podia deixar de ser. Era ela, quer eu quisesse quer não, a, minha Agarez alfabeta, o húmus pavimentado que os meus pés pisavam com mais amor".

MT 12.jpg E assim, mais um nome vinha, juntar-se aos clínicos da cidade. Num primeiro andar do Largo da Portagem estava agora o seu consultório. Na parede, uma placa: "Adolfo Rocha - Ouvidos, Nariz e Garganta".

MT 10.jpg

 Em frente, o pequeno jardim, com a estátua de Joaquim António de Aguiar, mais além o Mondego e, em fundo, o verde do horizonte de Santa Clara.

Não longe, no n.º 32 da Estrada da Beira, num caminho bordejado pelo Parque da Cidade, instalara-se o casal. Nas traseiras, a vista descia até ao Mondego numa paisagem inspiradora.

MT 3.jpg

O seu consultório era não só um local de alívio para os seus doentes, mas também um ponto de reunião com os seus amigos e com sucessivas levas de estudantes, onde tudo se discutia, da política à literatura, e sobretudo, as suas janelas eram os olhos com que Miguel Torga viu, no decorrer dos anos, o mundo à sua volta e as alterações que se iam desenrolando e de que, observador atento, deu conta nos seus livros … O seu consultório era também a sua oficina de escritor.

Numa cidade que mudava, também ele mudara de residência. E na Rua Fernando Pessoa, para os lados da Cumeada, passa a ter o seu novo lar, em 1953, a que, em breve, o sorriso de uma filha vem dar nova vida.

MT 11.jpg

O reconhecimento da sua obra não tardaria, com a atribuição de vários prémios, quer nacionais quer internacionais, e a sua universalidade está bem patente na tradução dos seus livros nas mais variadas línguas e nos mais diversos países.

… O tempo corria, inexoravelmente. Para trás iam ficando as longas jornadas de caça, o subir dos montes, a descida dos vales. O médico usaria menos vezes o bisturi, daria maior descanso ao estetoscópio. E um dia o velho consultório da Portagem deixaria de ser o seu posto de observação. Estávamos em 1992: "Desfiz-me do escritório. Mil circunstâncias adversas conjugaram-se encarniçadamente nesse sentido. E adeus, meu velho reduto, onde durante tantos anos lutei como homem, médico e poeta". Mais do que uma porta que se encerrava, era uma vida que se escoava, fechadas que estavam as janelas por onde o mundo entrara pelos seus olhos iluminando as paredes do que fora espaço de tertúlia, alívio de dores e oficina de poesia.

Andrade. C.A. Passear na Literatura. Miguel Torga. Sem data. Coimbra, Câmara Municipal.

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 12:05

Terça-feira, 14.06.22

Coimbra: Miguel Torga e os seus lugares na Cidade 1

Um dos itinerários organizados por Carlos Santarém Andrade, no âmbito da iniciativa Passear na Literatura, foi dedicado a Miguel Torga. Dessa iniciativa tão meritória, para além da memória, resta um pequeno e muito bem ilustrado folheto com o título … A ver correr Serenas, as Águas do Mondego.

É dele que nos socorremos para, mais uma vez, lembrar Torga e o seu percurso pela terra que adotou como sua.

MT 1.jpg

Folheto, capa

Adolfo Correia da Rocha nasceu em São Martinho de Anta, em Trás-os-Montes, em 1907. Depois de concluir a escola primária na sua terra natal e após uma breve passagem pelo Seminário de Lamego, ruma ao Brasil, com 13 anos de idade. Em 1925 regressa a Portugal, chegando a Coimbra no Outono desse ano, a fim de tirar um curso.

Para ingressar na Universidade precisava primeiro de fazer o curso liceal. Instalado num pequeno colégio na Estrada da Beira (hoje Rua do Brasil), faz os cinco primeiros anos em apenas dois.

MT 7.jpg

Morando depois numa casa ao fundo da Ladeira do Seminário, conclui num só ano os dois que lhe faltam, frequentando o Liceu José Falcão, então sediado no antigo Colégio Universitário de S. Bento, sobranceiro ao Jardim Botânico.

MT 8.jpg

Matriculado na Faculdade de Medicina, em 1928, publica então o seu primeiro livro, «Ansiedade». Frequentador da tertúlia literária da «Central», não tarda a sua colaboração na «Presença», em 1929, altura em que muda para a república «Estrela do Norte» (na sua ficção «Estrela de Alva»), também na Ladeira do Seminário, n.º 6. Com a chancela da «Presença» vem a lume o seu segundo livro, Rampa, em 1930. No entanto, em breve se dá a sua cisão com o movimento presencista, juntamente com Edmundo Bettencourt e Branquinho da Fonseca. Com este, que usa o pseudónimo de António Madeira, edita a revista «Sinal», de que apenas sai um número. A par dos estudos médicos a sua obra literária. prosseguia, com os contos de «Pão Ázimo» e os poemas de «Tributo», em 1931, ou «Abismo», também de versos, saídos dos prelos da Atlântica. Em todos eles usa ainda o seu nome civil, Adolfo Rocha. Finalmente, conclui o curso, em dezembro de 9933.

 

NT 9.jpg

Formado em Medicina, regressa a S. Martinho de Anta. Mas não cabiam na terra natal as suas ambições. E pouco depois está de novo em Coimbra. Sem uma situação profissional definida, numa terra em que abundavam os médicos, a escrita continuava, e mais uma vez a «Atlântida» lhe iria imprimir um novo livro. Escritor e médico, como depois escreveria, "serviria devotadamente a dois amos". Mas sentia que era necessário separar os nomes de quem empunhava o bisturi e de quem manejava a caneta. Adolfo Rocha seria o clínico, cuidando dos corpos. Para o escritor iria buscar na admiração por Cervantes e por Unamuno o nome de Miguel, a que acrescentaria Torga, matriz transmontana das urzes selvagens das suas origens. E quando em 1934 sai o livro A Terceira Voz, encimava o título o seu nome literário. "Com um Ósculo vo-lo entrego. Chama-se Miguel Torga'', escreveu pela última vez Adolfo Rocha no prefácio.

No mesmo ano vai substituir, temporariamente, o médico de Vila Nova, no concelho de Miranda do Corvo, tomando todos os fins de semana, quando as obrigações médicas não o impediam, o comboio para Coimbra, onde tinha um quarto para as suas pernoitas na A C. E. (hoje A C. M.), na Rua Alexandre Herculano. E do convívio à mesa da «Central», bálsamo semanal para o isolamento da aldeia, nascia mais uma revista, «Manifesto», que funda em 1936 com Albano Nogueira. Nesse ano, mais um livro, «O Outro Livro de Job». Não se demoraria muito em Vila Nova. O regresso do médico permanente, as intrigas aldeãs e a falta de saúde fazem-no regressar à cidade do Mondego.

Andrade. C.A. Passear na Literatura. Miguel Torga. Sem data. Coimbra, Câmara Municipal.

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 10:22

Sexta-feira, 10.06.22

Conversas Abertas, 6.ª feira, 18h00, 24 de Junho

No próximo dia 24, última sexta-feira do corrente mês de junho, as 18h00, realiza-se na sala D. João III, do Arquivo da Universidade de Coimbra, a sexta e última Conversa Aberta do ano em curso.

Conversas abertas cartaz de 2022.06.24.png

A Iniciativa do blogue “A’Cerca de Coimbra” que conta com o apoio do Arquivo da Universidade de Coimbra e do Clube de Comunicação Social, tem vindo a decorrer na Sala D. João III do Arquivo da Universidade de Coimbra com entrada livre, até ao limite da lotação e decorrerá no formato habitual, ou seja, intervenção inicial da Palestrante, seguida de um período aberto à participação dos assistentes.

Será palestrante a Senhora Dr.ª Ana Maria Bandeira, técnica superior de Arquivo no Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC), desde 1983.

Ana Maria 01.jpg

Ali tem desenvolvido trabalhos no âmbito do tratamento de acervos documentais, nomeadamente: Colégios da Companhia de Jesus, Mitra Episcopal de Coimbra, Julgados de Paz de Coimbra, Conservatória Britânica de Coimbra, Hospital Real de Coimbra, Hospital de São Lázaro, Universidade de Coimbra, Pontifício e Real Colégio de São Pedro, etc.

Tem tido a seu cargo a elaboração de exposições temáticas e respetivos catálogos, com mais de 30 exposições, entre as quais se destaca, pelo ineditismo, Papéis como Arte e Arte em Papel (2020). Colaborou também em exposições, patentes fora do AUC, com seleção de documentos e elaboração de textos para catálogo, nomeadamente: A Universidade de Coimbra e o Brasil (2012), Do Sul ao Sol: a Universidade de Coimbra e a China (2013) e BiblioAlimentaria (2018).

Dedica-se, ainda, à pesquisa da história do fabrico do papel e das marcas de água, com publicação de diversos trabalhos. Foi coordenadora, entre 1991 e 1994, do Inventário do Património Cultural Móvel: Bens Arquivístico no distrito de Coimbra.

O tema a tratar «Livreiros franceses em Coimbra: contributos para uma biografia dos irmãos Orcel» pretende traçar uma biografia dos irmãos Orcel que, à semelhança de outros livreiros franceses, como os Aillaud, Borel, Semiond, Bertrand, mantiveram negócios com a Universidade de Coimbra. Jacques Antoine Orcel faleceu em Coimbra, em 1854 e sucedeu-lhe, na casa comercial livreira que ambos possuíam, na Rua das Fangas (hoje Rua Fernandes Tomás) seu irmão Joseph August Orcel.

Imagem 2.png

Timbre de papel utilizado por J. August Orcel, em 1851.

Sabe-se que estavam em Coimbra, pelo menos desde 1799. J. August Orcel diversificou a atividade livreira, tendo sido também editor e fornecedor de equipamento para a Universidade. Cite-se, a título de exemplo, o Daguerreótipo fornecido ao Gabinete de Física, em 1842.

É para esta Conversa Aberta que quantos amam Coimbra e a sua história são convidados a participar.

Rodrigues Costa (responsável pelo blogue A’Cerca de Coimbra).

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 09:56

Quinta-feira, 09.06.22

Coimbra: Vitrais de Mons. Nunes Pereira, na Igreja de Cardigos

No Museu Nunes Pereira, situado na parte baixa do Seminário Maior de Coimbra, do lado direito de quem entra, encontra-se patente uma exposição com o título A História da Salvação. 50 anos dos vitrais da Igreja Matriz de Cardigos. A mostra apresenta os vitrais projetados há meia centúria pelo patrono do espaço museológico, a fim de serem colocados naquele templo.

NP. Exposição VItral.jpg

Brochura que serve de folha de sala, capa

Chamamos a atenção de todos os que amam Coimbra para o interesse em visitar a exibição que documenta mais uma obra de grande interesse, saída da mão de Monsenhor Nunes Pereira e composta por sete belos painéis, infelizmente pouco conhecidos.

Os vitrais foram executados, de acordo com cartões da sua autoria, pela empresa lisboeta J. Alves Mendes.

Hugo Costa Soares encarregou-se de fotografar as peças que se encontram patentes na exposição e que, algumas vezes, são acompanhadas pelos cartões que lhe serviram de suporte.

Julgamos que, tecnicamente, os responsáveis pela mostra encontraram soluções capazes de garantir a compreensão da qualidade, bem como do fundamento das peças originais.

O vitral é composto pelos seguintes sete painéis.

NP. Painel 1.jpg

Primeiro painel. Transgressão e Expulsão do paraíso (dimensões do original c. 3,80x1,95 m).. Chave de leitura – Criação: Queda e Promessa

NP. Painel 2.jpg

Segundo painel. Abraão e Isaac – Escuta e oferta (dimensões do original c.3,80x1,95 m). Chave de leitura – Escuta atenta de Abraão e sua Fé em Deus.

NP. Painel 3.jpg

Terceiro painel. Apanha do Maná (dimensões do original c. 3,80x1,95 m). Chave de Leitura – O Maná: o Pão Descido do Céu.

NP. Painel 4.jpg

Quarto painel.  O Cordeiro e a Redenção (dimensões do original c. 2,64x1,95 m). Chave de leitura – O Cordeiro de Deus e a Remissão dos Pecados.

NP. Painel 5.jpg

Quinto painel. O Pentecostes (dimensões do original c. 3,80x1,95 m). Chave de leitura – Maria, Mãe da Igreja.

NP. Painel 6.jpg

Sexto painel. A Lei como revelação de Deus (dimensões do original c. 3,80x1,95 m). Chave de leitura – A Lei e a Regra de Ouro: O Mandamento do Amor.

NP. Painel 7.jpg

Sétimo painel. O Memorial (dimensões do original c. 3,80x1,95 m). Chave de leitura – A Família e a Iniciação Cristã.

A exposição estará patente até ao dia 15 de janeiro de 2023, das 10h00 às 12h00 e das 14h00 às 17h00 de segunda a sexta feira. Aos sábados também é possível fazer visitas.

Todas as visitas implicam a sua prévia marcação, a qual pode ser efetuada por um dos seguintes modos: para o email mnp1906aanp@gmail.com; para o telemóvel 911 592 313; na  portaria do Seminário (telefone 239 792 340).

O visitante, no fim da visita, poderá repousar um pouco junto ao bar do “baloiço” e desfrutar de uma outra bela visão: a do rio Mondego e da sua margem esquerda, de um aprazível local conhecido por poucos.

Rodrigues Costa

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 11:41

Terça-feira, 07.06.22

Coimbra: Universidade, capela de S. Miguel 2

O arco cruzeiro é de arco quebrado, largo caveto entre colunelos, rematando num Calvário de figuras posteriores. os tetos são os referidos do século XVII restaurados no fim do século XIX, de ornatos de enrolamentos acantiformes.

CSM. Vista da capela-mor pg. 55.jpg

Vista da capela-mor e do transepto da Capela de São Miguel. Op. cit., pg. 55

As paredes da capela-mor estão cobertas de azulejos de tapete, de folhagens azuis, protobarrocos, de fabrico de Lisboa, de Gabriel Ferreira, aplicados pelo azulejador Jorge Gonçalves, em 1613. O azulejo da nave pertence ao meado do mesmo século XVII, policromo, de Lisboa, mostrando duas figuras sobre o arco Cruzeiro, Adão e Eva, também protobarrocos.

O retábulo do altar-mor é do princípio do século XVII. 0 desenho foi pago, em 1605, a Bernardo Coelho, artista lisbonense que fez trabalhos em Coimbra e que parece nada a ter com os Coelho vindos de Portalegre. A obra foi dada a Simão da Mota, em 1611. A estrutura é um magnífico exemplo da estética maneirista. As pinturas são de Simão Rodrigues e Domingos Vieira Serrão que as contrataram em 1612. Ladeando o vão central e formando o primeiro corpo há dois intercolúnios coríntios, com frontões de enrolamentos; o segundo é de pilastras mísuladas. As tábuas superiores representam o Nascimento e a Adoração dos Magos. As de baixo a Ressurreição e o Aparecimento à Virgem. Na parte central da predela há uma Ceia, e nas laterais dois bustos em talha de madeira de São Pedro e São Paulo. o vão foi alterado no século XVIII, como as talhas denunciam e os documentos comprovam. Trata-se de um dos maís importantes conjuntos da pintura maneirista portuguesa refletindo claramente a tendência italianizante que este estilo alcançava, no final do século XVI, e início do século XVII particularmente no círculo lisboeta.

Encostados às paredes vêem-se bancos corridos os «doutorais» e a cadeira do prelado universitário, de braços e alto espaldar com veludo, do século XVIII. Os doutorais foram executados por Francisco de Barros e Manuel de Morais que também fizeram o pequeno cadeiral do coro-alto, tudo em estilo D. Maria, isto é, uma forma peculiar do neoclássico nacional.

Aos lados do cruzeiro, encostam-se dois retábulos, do terceiro quarto do século XVIII, claramente barrocos da última fase, cuja traça se deve ao marceneiro Manuel Moreira. O do lado esquerdo mostra uma escultura grande de pedra, dos três últimos anos do século XVI, da Senhora com o Menino, e duas de madeira pequenas, do século XVIII e evocativas de Santo Agostinho e São José, da autoria do lisbonense Joaquim Bernardes que as esculpiu em 1781. O do lado direito, há uma grande imagem de Santa Catarina, e duas menores, uma representando Santo Inácio e outra São Francisco de Borja. A primeira saiu das mãos do escultor beneditino Frei Cipriano da Cruz, e as outras das do já citado Joaquim Bernardes.

No topo do |ado esquerdo do transepto está embutida a lápide do juramento da Imaculada Conceição, executada por Samuel Tibau. Na parede do |ado direito, salientam-se o púlpito e o órgão. O púlpito é uma obra corrente, idêntica a outras existentes na cidade (1648-49), sendo a parte de madeira de Manuel Ramos.

CSM,  pg. 67.jpg

Órgão barroco da Capela de São Miguel. Op. cit., pg. 67

A caixa do órgão foi construída de 1732 a 1733, e dourada e pintada, em 1737, por Gabriel Ferreira da Cunha, é uma boa composição do barroco da primeira metade do século XVIII.

CSM, pg. 68.jpg

Pintura e talha decorativa da caixa do órgão barroco da Capela de São Miguel. Op. cit., pg. 68

CSM., pg. 69.jpg

Pintura decorativa da caixa do órgão barroco da Capela de São Miguel. Op.cit., 69

A estrutura mecânica ficou a dever-se ao grande organeiro setecentista Manuel de São Bento Gomes, deve destacar-se a excecional decoração de "chinoiserie” tão em voga na época de D. João V, e a terminação superior, plenamente barroca, com anjos e tecidos fantasiados, alegoria à magnificência do Monarca, representado pelo Escudo Real.

O coro-alto assenta num corte feito à nave, em 1780, para se dar um acesso a várias repartições administrativas, obras dirigidas pelo mestre José Carvalho.

A coleção de pratas da capela, do tempo e estilo D. João V, constitui um bom agrupamento de peças. Além das espécies do século XVIII, como castiçais e lâmpadas dos altares laterais destaca-se a lâmpada da capela-mor, de 1597, maneirista de prata branca, executada pelo ourives Simão Rodrigues e composta de balaústres e largamente decorada. São excelentes as banquetas do altar-mor e dos dois altares laterais ao arco-cruzeiro, obras de prata executadas em Lisboa e que ostentam o Brasão Real de D. João V, monarca que as ofereceu à Universidade, são de um barroco evoluído e erudito, constituindo um dos melhores conjuntos portugueses do género.

É de salientar ainda o sacrário de bronze dourado, do século XVII, com uma composição de dois corpos e com colunas coríntias emparelhadas, separando nichos vazios de estilo maneirista e excelente nível de execução.

Dias, P. e Gonçalves, A.N. O Património Artístico da Universidade de Coimbra. 2.ª edição revista e aumentada. 2004. Coimbra, Gráfica de Coimbra, Ld.ª

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 10:26

Quinta-feira, 02.06.22

Coimbra: Universidade, capela de S. Miguel 1

Com esta entrada iniciamos uma exploração do que nos é revelado no livro O Património Artístico da Universidade de Coimbra.

img20220430_19270416.jpg

O Património Artístico da Universidade de Coimbra, capa

A Capela de São Miguel foi uma das extensões manuelinas dos paços antigos. Do oratório dos primeiros tempos existem alvarás de D. Afonso V que se referem a uma capela, capelães e encargos, etc. A obra atual é inteiramente manuelina, segundo o traçado de Marcos Pires, que faleceu no fim de 1521. Ficou incompleta, faltando o lajeamento, caiações, etc., e os tetos que, sendo de madeira, não eram da sua empreitada, mas pertenciam à de Pêro Anes.

CSM. pg. 53.jpg

Vista da fachada da Capela de São Miguel. Op.cit., pg. 53

CSM. pg. 54.jpg

Interior da Capela de São Miguel. Op. cit., pg. 54

As cornijas no transepto e capela-mor que são já renascença e devem-se a Diogo de Castilho. Talvez tenha sido projetada uma abóbada para a capela-mor que, por morte do mestre, abortaria, tanto mais que se deu acabamento sumário aos Paços. Em 1544, estavam ainda tantos entulhos na capela que subiram a 200 carradas. João de Ruão trabalhou também nestas obras de acabamento.

No tempo intermédio continuaram os atos religiosos das obrigações da capeia, mas não se sabe onde se realizavam. Em datas sucessivas, fizeram-se obras secundárias. De 1695 a 1697, foi renovado o teto bem como os telhados. A pintura do estuque é da autoria do pintor lisbonense Francisco Ferreira de Araújo (fal. 1701), e foi renovada, em 1859, por António José Gonçalves das Neves.

O plano é o costumado, dois retângulos, para a nave e capela-mor, tendo aquela duas leves saliências a servir de transepto que, em alçado, terminam abaixo do nível da linha das paredes, da nave, cobertas de pequenas abóbadas nervadas. Os ângulos externos da capela-mor são robustecidos de contrafortes cilíndricos terminados por torreões renascentistas de sabor serliano.

A porta de entrada é lateral, a meio da parede esquerda da nave, acompanhada de duas altas janelas, que se repetem ao lado fronteiro, rasgando-se outras, uma a cada banda, no transepto e na capela-mor, de traçado maís simples.

A porta é uma composição típica de Marcos Pires, num manuelino naturalista. Entre dois contrafortes, em forma de pilar torcido, recorta-se o arco decorativo, tricêntrico, cujos aros se entrelaçam e rematam em desenvolvida cruz. Ficam-lhe inferiores os dois vãos, de verga policêntrica e abatida que um pilar médio separa, pilar fruto duma restauração de 1895, em substituição duma coluna clássica. Fica sobre este o Escudo Real, acompanhado, nos extremos do espaço, da Cruz de Cristo e da Esfera Armilar. Três escudetes suplementares mostram símbolos da Paixão.

CSM. pg. 62.jpg

Escultura barroca de São Miguel da Capela de São Miguel. Op. cit., pg. 62

No vértice da empena do topo da nave, ergue-se a cópia de uma escultura de pedra, manuelina evocativa de São Miguel, da autoria de Diogo Pires-o-Moço. O original está guardado.

Dias, P. e Gonçalves, A.N. O Património Artístico da Universidade de Coimbra. 2.ª edição revista e aumentada. 2004. Coimbra, Gráfica de Coimbra, Ld.ª

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 10:09


Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog  

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

calendário

Junho 2022

D S T Q Q S S
1234
567891011
12131415161718
19202122232425
2627282930