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No “Observador” de 4 de abril de 2018 o jornalista Vasco Rosa escreveu um artigo sobre o livro do Doutor Marco Daniel Duarte, com o título: “Contemplar o Paraíso. O Jardim de Santa Cruz de Coimbra (do século XVII ao século XXI)”, que intitulou “Santa Cruz de Coimbra: uma floresta iluminada”.
Desse texto levamos até leitores o que seguir fica.
Jardim de Santa Cruz, cascata. Imagem inserida no artigo
"Contemplar o Paraíso" é um guia, mas também é um livro sobre a história de um dos espaços mais emblemáticos de Coimbra. Vasco Rosa escreve sobre a obra e sobre o jardim.
Contemplar o Paraíso, capa. Imagem inserida no artigo
O recentemente concluído e notável restauro da Estufa Grande do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra chamou-nos a atenção para este álbum também recente, dedicado a outro “espaço verde” daquela cidade, o Jardim de Santa Cruz, que em 2004 recebeu sete esculturas de Rui Chafes, algumas delas colossais, incorporando no frondoso cenário arbóreo a solenidade artística e a “severidade litúrgica” (a expressão parece-me certeira; p. 139) que lhe são tão peculiares.
Se esta intervenção contemporânea, por si só, justifica plenamente uma visita, que dizer do restante parque, construído em 1723-52 na cerca do Mosteiro dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, que então dominava a cidade, e também ele erguido de acordo com o que de melhor se fazia à época, de Versailles a São Petersburgo?
Entrada do jardim de Santa Cruz, ainda sem o murete que o século XX lhe viria a adicionar. Op. cit., pg. 17.
Inicialmente o Pórtico, isolado, tinha uma dignidade simbólica e uma graça volumétrica que muretes nas laterais (1913) vieram perturbar, mas é a partir daí, naturalmente, que o autor nos conduz num passeio pela antiga Quinta de Santa Cruz. Basta entrar nos dois exíguos torreões para nos apercebermos da qualidade investida no programa estético deste empreendimento, com as paredes pintadas a fresco de cima a baixo, em trompe l’œil: uma cenografia de arquitetura rococó que sobe vertiginosamente até a tetos como abóbadas celestes com alegorias.
Pórtico do jardim de Santa Cruz. Foto Rui Gonçalves Moreno. Op.cit., pg.19.
Medalhões, templetes e frisos evocam cenas monásticas e mitológicas, como a entrega da Regra por Santo Agostinho aos crúzios coimbrãos e o Milagre de Ourique, ou exibem símbolos religiosos, militares e artísticos.
Sob as estátuas da Fé, da Caridade e da Esperança no triplo arco da entrada avança-se para a “utilidade profilática” (p. 37) do parque enquanto lugar de recreio e desporto.
Registo do terreiro do jogo da Pela através de um postal ilustrado dos finais do século XIX. Op.cit., pg.39
O recinto apropriado ao Jogo da Pela — o jeu de paume gaúlico —, “grandioso terreiro” ou “fermossíssima praça” (p. 41), tem a Cascata como cenário de fundo, ou “extremidade de honra” nas palavras dum viajante francês em 1816, e aos lados canapés corridos em faiança pintada, hoje um tanto danificados, por sinal.
Rosa, V. Santa Cruz de Coimbra: uma floresta iluminada. In: Observador, edição de 4 de abril de 2018.
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