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Não se pode indicar a data precisa da construção. Devia ter sido edificada no reinado de D. Manuel, entre 1514 e 1521 — pelo menos grande parte dela. Ignora-se o nome do arquiteto.
O corpo principal ocupa uma superfície trapezoidal, duns cento e sessenta metros quadrados, aproximadamente, e cuja maior extensão corre quase na linha de nascente a poente, da rua para a escarpa da cidade. Sobre a rua, a casa apruma numa fachada unida, de dois andares, da qual apenas se desalinha, na extrema inferior, o pequeno corpo que faz recanto com o cunhal. Deste cunhal até á extrema superior, junto ao arco que atravessa a rua — o passadiço de João Vaz — a fachada mede pouco mais de dez metros, devendo ter de altura a prumo uns onze metros.
Planta da casa de sub-Ripas, pg. 272.
Dá-nos uma impressão de solidez maciça, de densa resistência, mais do que de elegância nobre ou de ousadia construtiva, embora a diferente composição da parede logo fizesse distinguir, antes de modernos revestimentos a deplorar, a fábrica dos seus dois andares.
Há nela um absoluto predomínio da parte cheia, como a acusar e a manter a reminiscência dos muros e defesas cerradas. Nada até parece haver que admirar de proporções combinadas ou de equilibradoras compensações nessa massa retangular—tanto ela, de plena e socada, se firma e assenta por si, como um bloco inteiriço. É esta, na verdade, a primeira impressão. E no entanto é casa bem curiosa, exatamente por nos oferecer um exemplar de construção que alia ao aspeto sólido da sua arquitetura, ainda no molde de tempos crus, a preocupação e desvelo duma arte já flexuosa, viva, liberta, derivada de outras formas e desviada de primitivos intuitos, mas apropriada agora á decoração de moradas abertamente hospitaleiras, alegradas de graça expansiva, revelando corresponderem ao resfolego duma existência social tornada mais despreocupada e leve.
Casa de Sub-ripas - Passagem interior da manga norte. Pg. 269.
Casa do Arco (a Sub-ripas) – A cisterna do pátio. Pg. 269.
Todas as aberturas ornamentadas revelam aqui a influência manuelina, com mais ou menos abundância.
Janela da fachada sobre a rua, 1.º andar. Pg. 266
Janela para os lados de trás, sobre a vertente, junto ao terraço. Pg. 266
Janela de uma fachada sobre a vertente da cidade. Pg. 266
Não é talvez do mais delgado e nervoso, nem do mais originalmente sugestivo, nem do mais elasticamente rico o desenho das guarnições e lavrados que as decoram, cortados na mesma pedra de Bordalo, empregada em quase toda a construção.
Mas a combinada acumulação e reforço de ornatos, como no portal, por exemplo, e a expressão confiada dos cortes e relevos imprimem a tudo um quê de simpatia comunicativa, de vigor cordial, com todo o carácter das coisas feitas quando as próprias fórmulas seguidas continham e exalavam ainda penetrante calor de vida.
Gaio, M.S. Palácios, castelos e solares de Portugal. IV – A casa de sub-Ripas, In: “Illustração Portugueza”, 9, Primeiro semestre, 2.ª série. Lisboa, 1906, p. 265-272.
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