Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 21.04.22

Coimbra: Casa de Sobre Ribas 2

Não se pode indicar a data precisa da construção. Devia ter sido edificada no reinado de D. Manuel, entre 1514 e 1521 — pelo menos grande parte dela. Ignora-se o nome do arquiteto.

O corpo principal ocupa uma superfície trape­zoidal, duns cento e sessenta metros quadrados, aproximadamente, e cuja maior extensão corre quase na linha de nascente a poente, da rua para a escarpa da cidade. Sobre a rua, a casa apruma numa fachada unida, de dois andares, da qual apenas se desalinha, na extrema inferior, o pe­queno corpo que faz recanto com o cunhal. Deste cunhal até á extrema superior, junto ao arco que atravessa a rua — o passadiço de João Vaz — a fachada mede pouco mais de dez metros, de­vendo ter de altura a prumo uns onze metros.

CSR. Planta, pg. 272, pormenor.jpg

 Planta da casa de sub-Ripas, pg. 272.

Dá-nos uma impressão de solidez maciça, de densa resistência, mais do que de elegância no­bre ou de ousadia construtiva, embora a diferente composição da parede logo fizesse distinguir, antes de modernos revestimentos a deplorar, a fábrica dos seus dois andares.

Há nela um absoluto predomínio da parte cheia, como a acusar e a manter a reminiscência dos muros e defesas cerradas. Nada até parece haver que admirar de proporções combinadas ou de equilibradoras compensações nessa massa retangular—tanto ela, de plena e socada, se firma e assenta por si, como um bloco inteiriço. É esta, na verdade, a primeira impressão. E no entanto é casa bem curiosa, exatamente por nos oferecer um exemplar de construção que alia ao aspeto sólido da sua arquitetura, ainda no molde de tempos crus, a preocupação e desvelo duma arte já flexuosa, viva, liberta, derivada de outras formas e desviada de primitivos intuitos, mas apropriada agora á decoração de moradas aberta­mente hospitaleiras, alegradas de graça expansi­va, revelando corresponderem ao resfolego duma existência social tornada mais despreocupada e leve.

CSR. Passagem interior. Pg. 268.jpg

Casa de Sub-ripas - Passagem interior da manga norte. Pg. 269.

CSR. cisterna, pg. 269.jpg

Casa do Arco (a Sub-ripas) – A cisterna do pátio. Pg. 269.

Todas as aberturas ornamentadas revelam aqui a influência manuelina, com mais ou menos abun­dância.

CSR. Janela, 1.º andar. Pg. 266.jpg

Janela da fachada sobre a rua, 1.º andar. Pg. 266

CSR. Janela para de trás. Pg. 266.jpg

Janela para os lados de trás, sobre a vertente, junto ao terraço. Pg. 266

CSR. Janela de uma fachada. Pg. 266.jpg

Janela de uma fachada sobre a vertente da cidade. Pg. 266

Não é talvez do mais delgado e nervoso, nem do mais originalmente sugestivo, nem do mais elasticamente rico o desenho das guarnições e lavrados que as decoram, cortados na mesma pedra de Bordalo, empregada em quase toda a construção.

Mas a combinada acumulação e reforço de or­natos, como no portal, por exemplo, e a expres­são confiada dos cortes e relevos imprimem a tu­do um quê de simpatia comunicativa, de vi­gor cordial, com todo o carácter das coisas feitas quando as próprias fórmulas seguidas continham e exalavam ainda penetrante calor de vida.

 Gaio, M.S. Palácios, castelos e solares de Portugal. IV – A casa de sub-Ripas, In: “Illustração Portugueza”, 9, Primeiro semestre, 2.ª série.  Lisboa, 1906, p. 265-272.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 11:39


Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog  

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

calendário

Abril 2022

D S T Q Q S S
12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930