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O Arquivo da Universidade de Coimbra, divulgou mais um interessante Documento do Mês, que nos permite vislumbrar a realidade social em Coimbra, em meados do século XVII. Trata-se do arrolamento das esmolas concedidas por Joane Mendes de Tavora, (1598 c.-1646), 46º bispo de Coimbra, entre 1638 e 1646.
Segundo o site Geni deixou impresso um sermão de auto de fé pregado em 1629, uma epístola em latim ao papa Inocêncio X, datada de 1644, e um Memorial a el-rei em nome do deão e Cabido da Sé de Lisboa, em defesa da liberdade eclesiástica violada com a lei que promulgou contra o uso dos coches. Deixou também manuscritos uns comentários em latim ao cântico da Magnificat.
Sermão que pregou ... no auto de fé. Acedido em: https://www.geni.com/people/Joane-Mendes-de-Tavora-11%C2%BA-conde-de-Arganil-46%C2%BA-bispo-de-Coimbra/6000000010221250308
Refere a respetiva nota explicativa documento ora divulgado.
Este volume de registo de esmolas, do qual não se conhece qualquer outro, semelhante, de nenhum Bispo de Coimbra, permite conhecer a quem se destinavam as esmolas, fruto da sua magnanimidade. As páginas que temos presentes reportam-se a dezembro de 1640, sem ser feita menção dos dias em que foram concedidas as esmolas.
Livro das esmolas extraordinárias que faz o Ill.mo S.or Bispo Conde o S.or. Joane Mendes de Távora. 1640, dezembro, ?,
O seu quantitativo é variável, podendo ir de 20 réis a 400 réis, estando reservado este valor mais elevado para as comunidades religiosas, como os frades de Santo António dos Olivais, os Carmelitas Descalços, do Colégio de S. José dos Marianos, em Coimbra, os Carmelitas Descalços do Convento do Desterro do Buçaco ou os frades do Convento de Santo António da Pedreira, em Coimbra.
Algumas mulheres doentes que passavam “com carta de guia”, ou seja, não residentes na cidade e em passagem pela mesma, receberam 20 a 40 réis, assim como alguns romeiros que seguiam para Santiago de Compostela, também receberam esse valor. A referência a estes romeiros é frequente, atestando como a cidade de Coimbra era um dos locais de percurso, do caminho de Santiago. Em outras páginas deste volume, constata-se a particular indicação de romeiros flamengos que vinham de Santiago, de soldados franceses que iam para a fronteira, ou passavam para Lisboa, de homens estrangeiros que estavam de passagem ou a esmola a mouros que se fizeram cristãos, permitindo conhecer uma cidade animada por pessoas de diversas origens. O registo da esmola de 80 réis dada a quatro homens do mar “que passavam roubados” é, por sua vez, ilustrativo dos perigos dos caminhos e dos assaltos, com intuito de roubos neles praticados.
A Santa Casa da Misericórdia de Coimbra recebia, habitualmente, a esmola mensal de 2 mil réis, assim como algumas Confrarias de Coimbra, entre as quais a Confraria de N. ª S.ª da Luz, da Universidade (esmola de 400 réis dada em maio 1640). Também eram contemplados alguns oficiais da Sé de Coimbra, como o sineiro da Sé, os moços do coro da Sé e ainda o “capado cantor” da Sé cujo vestuário que lhe foi dado (uns calções e um gibão, no valor de 1.900 réis) ou também o músico da Sé, Manuel Ferreira (que recebeu 400 réis, dados em maio de 1640).
Diversos outros registos mostram-nos como eram contemplados estudantes pobres, alguns presos no aljube, ou ao estudante António Lopes Feio, preso na cadeia da Universidade (esmola de 400 réis dada em março de 1640), etc.
Cabido da Sé de Coimbra. Livro das esmolas extraordinárias que faz o Ill.mo S.or Bispo Conde o S.or. Joane Mendes de Távora. Coimbra. Cota AUC – III-1.ªD-3-5-269.
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