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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 16.12.21

Coimbra: Presépio da igreja de S. António dos Olivais

No terreiro que está detrás da igreja de S. António dos Olivais, um pouco escondida, está uma pequena capela.

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Capela do presépio, no terreiro posterior da igreja de S. António dos Olivais

Dentro dessa capela encontra-se, na sua singeleza de figuras de barro, um presépio que julgamos ser conhecido de não muitos conimbricenses. 

Presépio que foi assim descrito em meados do século passado:

Encostada ao muro do mesmo terreiro, para o lado da estrada dos Tovins, fica a capelita do Presépio, de elementos arquitetónicos do século XVII, abrigando um presépio popular, de algumas dezenas de figuras que devem datar te fins do século XVIII ou já do XIX. Segundo uma lápide foi restaurado em 1929. No seu caráter popular é digno de consideração. O pobre artista inspirou-se de diversos pontos, encontrando-se figuras vestidas à maneira quinhentista, etc.

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(Correia, V., Gonçalves, N. Inventário Artístico de Portugal. Cidade de Coimbra. 1947. Lisboa, Academia Nacional de Belas Artes, p. 95.)

Mais chegado aos nossos dias numa conferência a que iremos voltar, o presépio é assim descrito:

“Presépio” popular, de algumas dezenas de figuras, e que devem datar já dos finais do século XVIII ou até mesmo dos primórdios do XIX. Apesar do seu carácter popular, é digno de consideração.

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(Anacleto, R. Conferência. Santo António dos Olivais: de ermitério a freguesia, Comemoração dos 151 anos de elevação a freguesia civil de Santo António dos Olivais.  2005.11.20. Coimbra, Casa Municipal da Cultura.)

Embora se possa visualizar no local, o blogue “Pingo de Luz”, permite aceder em https://umpigodeluz.blogspot.com/2012/12/presepio-da-igreja-de-santo-antonio-dos.html,  a um conjunto muito interessante de fotografias do presépio.

xxx

Esta lembrança fez-me voltar à minha meninice.

Meu Pai era um Homem que sabia fazer quase tudo. Uns dias antes do Natal, num canto da nossa casa, com algumas pequenas tábuas montava a estrutura de uma pequena montanha que tinha no sopé uma gruta à qual todos os caminhos iam dar.

Depois, o meu Pai pintava, com cores escuras, procurando imitar a terra e as pedras, papel de sacos de cimento ou outro qualquer papel grosso e com esse material dissimulava a estrutura de madeira.

Concluída esta fase era tempo de ir, pela sua mão, buscar um saco de serradura, a uma serração que existia ao fundo da rua Direita. Serradura que servia para se representarem os caminhos.

Existia ainda uma outra tarefa de que muito gostava. Depois de descer até à Portagem e atravessar a ponte, subíamos ao monte sobranceiro ao miradouro do Vale do Inferno. Ali havia um belo musgo verde com tons de amarelo das folhas caídas e também um musgo seco branco que parecia a neve.

Esse musgo era colocado com carinho e arte no presépio.

Na véspera do Natal, durante a tarde dispunham-se as figuras todas a caminho da gruta. Figuras compradas, primeiro na romaria do Espírito Santo e, depois, numa loja da Rua da Sofia que ainda existe. O Menino Jesus só era colocado na manjedoura depois da ceia de Natal e os Reis Magos só chegavam em janeiro.

Era a alegria de uma criança feliz de outros tempos. Eu.

Rodrigues Costa

A todos e a cada um, a quem gosta da nossa Coimbra e em particular aos que seguem este blogue desejo um Feliz Natal e um Bom Ano Novo. Até ao início de 2022.

Rodrigues Costa

 

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por Rodrigues Costa às 09:54

Sábado, 11.12.21

Coimbra: Murtede uma grande propriedade do Mosteiro de Santa Cruz

O livro da minha autoria, Murtede. O concelho que foi a freguesia que é editado pela Junta de Freguesia de Murtede e com o patrocínio da Câmara Municipal de Cantanhede, foi apresentado no passado dia 8, dia da Freguesia, com uma “aula” magistral da Professora Doutora Regina Anacleto.

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O volume, com 460 páginas e 238 imagens, encontra-se dividido em quatros capítulos.

No primeiro, tentamos enquadrar a realidade de Murtede, quer no espaço, quer no tempo, procurando entender a razão da sua existência que, obviamente, se encontra ligada, de forma determinante, à agricultura. No início, a produção cerealífera ocupava lugar predominante, mas foi-o cedendo, paulatinamente, ao vinho, de excelente qualidade, que acabou por assumir uma quase hegemonia.

O segundo capítulo procura desvendar a história, antiga e rica do lugar de Murtede enquanto cabeça do Districto de Mortede, uma das propriedades mais significativas do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.

No capítulo terceiro debruçamo-nos sobre o património natural e sobre o construído, apontado aqueles exemplares que considerámos como mais relevantes no conjunto da freguesia.

No quarto e último capítulo tentamos fixar, para memória futura, quer os usos e os costumes, quer a vivência comunitária que sempre existiu em Murtede e seu termo.

Para além da necessária bibliografia e de um glossário, integram o livro uma cronologia e sete anexos, dos quais salientamos, por nos parecerem ser os mais relevantes, os seguintes:

. Transcrição e tradução do latim do Fforal de Mortede, concedido aos habitantes do burgo em 1162 pelo Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e subscrito pelos priores S. Teotónio e João Teotónio.

ANTT. Fforal de Mortede 1 e 2.png

Foral de Murtede. Arquivo Nacional da Tore do Tombo

. A transcrição da Demarcação geral dos Limites de Mortede, Escapaens e Cordinham de que hé Direito Senhorio o Real Mosteiro de Santa Cruz da Cidade de Coimbra, realizada nos anos de 1813-1814.

AUC. Tombo de Mortede. I. 1813. Mapa Districto de

Mapa do Districto de Mortede. Arquivo da Universidade de Coimbra

 

. A transcrição do livro do Compromisso da Irmandade do Santíssimo Sacramento. 1755.

Livro do Compromisso da Irmandade. Capa a.jpg

Compromisso da Irmandade do Santíssimo Sacramento, capa. Cartório da Igreja de Murtede

Da investigação realizada salientamos os seguintes factos:

- Que a origem de Murtede decorre da existência da villa Mirteti, documentada desde 950 e que conseguimos estabelecer, com um elevado grau de probabilidade, o “berço de Murtede”.

Fig. 238 - Murtede histórica.jpg

O “berço de Murtede

- Que esta villa teve como primeiros senhores da terra conhecidos o Mosteiro da Vacariça, depois Rabaldo, um francês que terá acompanhado o Conde D. Henrique e de quem, em Coimbra, foi vigário e, posteriormente, o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra que, mesmo ainda antes da sua fundação, começou, a partir de 1120, a adquirir terras em Murtede. Este senhorio prolongou-se até à extinção das ordens religiosas.

- Que nos anos de 1590, de 1628 e de 1813-1814 e por ordem do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra se executaram três tombos, relacionados com a sua propriedade de Murtede, que tinha a área aproximada de 1.130 hectares; descobriram-se dois marcos resultantes dessas demarcações.

Marco 31, in situ.JPG

Marco do Districto de Mortede, in situ

- Que existiu o concelho de Murtede, subsidiário do concelho de Coimbra, cuja primeira referência escrita encontrada, data do período de 1514 a 1521 e pode ver-se na folha 169 do Livro I da Correia, da Câmara de Coimbra, onde no T.º dos julgados he juradias do termo desta cidade, se diz: Julgado de mortede cõ este handa o carvalho E escapães he nõ mais.

- Que no Concelho de Murtede existia a casa do concelho e foi localizado o curral do concelho, destinado a guardar os animais; estes tinham de obedecer a determinadas regras e, no caso de incumprimento, eram aplicadas coimas. Também foi encontrada uma referência escrita, datada de 4 de agosto de 1576, aos asougues acostumados do dito concelho.

- Que foi possível determinar, com pequena margem de erro, a localização da Casa do Concelho e da estalagem de Murtede, documentada desde o séc. XVI, bem como das desaparecidas localidades de Prevedes ou Prebes e de Alfora, na qual existiu um templo dedicado a S. Cristóvão.

Fig. 153 - Estalagem de Murtede, portão de entrad

Estalagem de Murtede, na atualidade

- Que foram identificados, em Murtede, o celeiro do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e em Enxofães o do Hospital Real de S. Lázaro de Coimbra.

Fig. 69 - Celeiro  ou Casa dos Machados, fachada n

Celeiro do Mosteiro de Santa Cruz em Murtede, na atualidade

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Celeiro do Hospital Real de S. Lázaro em Enxofães, na atualidade

- Que foi identificada, possivelmente datando de 1590 e no seu estado original, uma casa incluída numa almuinha ou cortinhal; trata-se de um exemplar único no Concelho e, ao que tudo indica, no país.

Fig. 129 - Casa antiga, fachada.JPG

Casa com almuinha

- Que se identificou a localização da Capela de Nossa Senhora do Amparo, atualmente desaparecida, mas de origem remota; data de 1721 a primeira referência escrita conhecida que a ela se refere.

Fig. 139 - Capela de Nossa Senhora do Amparo, pia

Capela de Nossa Senhora do Amparo, pia da água benta

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 21:40

Quinta-feira, 09.12.21

Coimbra: Esmolas do Bispo de Coimbra, em meados do século XVII.

O Arquivo da Universidade de Coimbra, divulgou mais um interessante Documento do Mês, que nos permite vislumbrar a realidade social em Coimbra, em meados do século XVII. Trata-se do arrolamento das esmolas concedidas por Joane Mendes de Tavora, (1598 c.-1646), 46º bispo de Coimbra, entre 1638 e 1646.

Segundo o site Geni deixou impresso um sermão de auto de fé pregado em 1629, uma epístola em latim ao papa Inocêncio X, datada de 1644, e um Memorial a el-rei em nome do deão e Cabido da Sé de Lisboa, em defesa da liberdade eclesiástica violada com a lei que promulgou contra o uso dos coches. Deixou também manuscritos uns comentários em latim ao cântico da Magnificat.

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Sermão que pregou ... no auto de fé. Acedido em: https://www.geni.com/people/Joane-Mendes-de-Tavora-11%C2%BA-conde-de-Arganil-46%C2%BA-bispo-de-Coimbra/6000000010221250308

Refere a respetiva nota explicativa documento ora divulgado.

Este volume de registo de esmolas, do qual não se conhece qualquer outro, semelhante, de nenhum Bispo de Coimbra, permite conhecer a quem se destinavam as esmolas, fruto da sua magnanimidade. As páginas que temos presentes reportam-se a dezembro de 1640, sem ser feita menção dos dias em que foram concedidas as esmolas.

Esmolas do Bispo de Coimbra em meados do século XLivro das esmolas extraordinárias que faz o Ill.mo S.or Bispo Conde o S.or. Joane Mendes de Távora. 1640, dezembro, ?,

 O seu quantitativo é variável, podendo ir de 20 réis a 400 réis, estando reservado este valor mais elevado para as comunidades religiosas, como os frades de Santo António dos Olivais, os Carmelitas Descalços, do Colégio de S. José dos Marianos, em Coimbra, os Carmelitas Descalços do Convento do Desterro do Buçaco ou os frades do Convento de Santo António da Pedreira, em Coimbra.

Algumas mulheres doentes que passavam “com carta de guia”, ou seja, não residentes na cidade e em passagem pela mesma, receberam 20 a 40 réis, assim como alguns romeiros que seguiam para Santiago de Compostela, também receberam esse valor. A referência a estes romeiros é frequente, atestando como a cidade de Coimbra era um dos locais de percurso, do caminho de Santiago. Em outras páginas deste volume, constata-se a particular indicação de romeiros flamengos que vinham de Santiago, de soldados franceses que iam para a fronteira, ou passavam para Lisboa, de homens estrangeiros que estavam de passagem ou a esmola a mouros que se fizeram cristãos, permitindo conhecer uma cidade animada por pessoas de diversas origens. O registo da esmola de 80 réis dada a quatro homens do mar “que passavam roubados” é, por sua vez, ilustrativo dos perigos dos caminhos e dos assaltos, com intuito de roubos neles praticados.

A Santa Casa da Misericórdia de Coimbra recebia, habitualmente, a esmola mensal de 2 mil réis, assim como algumas Confrarias de Coimbra, entre as quais a Confraria de N. ª S.ª da Luz, da Universidade (esmola de 400 réis dada em maio 1640). Também eram contemplados alguns oficiais da Sé de Coimbra, como o sineiro da Sé, os moços do coro da Sé e ainda o “capado cantor” da Sé cujo vestuário que lhe foi dado (uns calções e um gibão, no valor de 1.900 réis) ou também o músico da Sé, Manuel Ferreira (que recebeu 400 réis, dados em maio de 1640).

Diversos outros registos mostram-nos como eram contemplados estudantes pobres, alguns presos no aljube, ou ao estudante António Lopes Feio, preso na cadeia da Universidade (esmola de 400 réis dada em março de 1640), etc.

Cabido da Sé de Coimbra. Livro das esmolas extraordinárias que faz o Ill.mo S.or Bispo Conde o S.or. Joane Mendes de Távora. Coimbra. Cota AUC – III-1.ªD-3-5-269.

 

 

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por Rodrigues Costa às 17:39

Terça-feira, 07.12.21

Coimbra: Convento de Santa Teresa de Jesus de Coimbra 2

Este papel na vida religiosa da região veio a ser reconhecido e reforçado em 1879 quando, a pedido de D. Manuel de Bastos Pina, bispo de Coimbra – e após várias vicissitudes, tentativas falhadas e persegui­ções – passou a funcionar no convento de Santa Teresa a Congregação Mariana de Maria Imaculada, destinada a leigos, sobretudo estudantes da Universidade.

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Convento de Santa Teresa, vista aérea

“Em 1897, as religiosas foram mesmo autorizadas, a título excecional, a permanecer no convento, depois do falecimento da última conventual. Para que a vida canónica regular pudesse prosseguir, vieram de Espanha três religiosas e em 1898 professaram mais sete noviças”.

A situação muda inteiramente em 1910, no contexto da revolução republicana. No dia 9 de outubro, “a comunidade de S. Teresa encontrou‑se rodeada pelos soldados e completamente isoladas de qualquer tipo de comunicação com os de fora; nem sequer podiam comunicar‑se com o capelão, P. Dr. António Antunes, mais tarde Bispo de Coimbra.” As reli­giosas são expulsas do convento e dispersas por várias comunidades, em Espanha. O edifício é entregue ao Estado e ocupado por serviços do Ministério da Guerra, mais concretamente o Hospital Militar.

Em 16 de dezembro de 1933, tendo mudado inteiramente o contexto político – em Portugal com a instauração do Estado Novo e em Espanha com a proclamação da República – dá‑se o restabelecimento do Carmelo em Coimbra: três das irmãs que haviam sido expulsas 23 anos antes e que ainda sobreviviam em Valência, no mosteiro de Corpus Christi – Glória do Coração de Jesus, Maria Luz de S. Teresa e Maria Isabel de Santa Ana – regressam, trazendo consigo outras três espanholas. Inicialmente alojadas em casa de familiar de uma delas, novamente na Arregaça, fixam‑se depois numa casa alugada, no Calhabé.

Em 26 de junho de 1934, chegam mais três do mosteiro madrileno de Loeches, entre as quais a nova prioresa, irmã Maria do Carmo do Santíssimo Sacramento, sendo esta data considerada, oficialmente, a da restauração do Carmelo, agora em casa da Ladeira do Seminário. Pouco depois (7/3/1937), a diocese cede‑lhes uma casa na Quinta do Cidral, aos Lóios, onde perma­necerão 10 anos.

Em 7 de março de 1946, após longas negociações, é reconhecido o direi­to de as freiras reocuparem o seu antigo convento, incluindo a cerca, a igreja e a casa do capelão, sendo o respetivo auto de entrega assinado em 14 de junho de 1946. Simbolicamente, as chaves são depositadas nas mãos da religiosa de quem tinham sido arrebatadas, em 10/10/1910, irmã Maria de Jesus.

Após as necessárias obras de reparação e limpeza, no dia 12 de janei­ro de 1947, as carmelitas saem da Quinta de Santo António, aos Lóios, e regressam solenemente ao seu convento. E para a irmã Maria Isabel de SantaAna foi efetivamente um regresso: tendo professado em 1905, foi expulsa em 1910, esteve exilada 23 anos, regressou a Coimbra em 1922, reentrou no seu convento em 1947, onde veio a falecer em 1959. O seu capelão nessa data, cónego Manuel dos Santos Rocha, será elevado ao bispado de Coimbra em 1948.

Carmelitas 03.jpg

Carmelita em oração

Desde então a comunidade tem florescido e daqui saíram algumas professas para fundar outras comunidades: em 1970 saíram 4 irmãs para fundarem um novo Carmelo em Braga e em 1994 saiu outro grupo de 7 irmãs para abrir um novo Carmelo na Guarda (e já em 1780 haviam saído 5 irmãs para a fundação do Carmelo de Viana do Castelo).

Em 1948, o Carmelo de Santa Teresa recebeu a sua irmã mais famosa deste século: a irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, ou irmã Lúcia, vidente de Fátima, que aí permaneceu até ao seu falecimento, em 2005.

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Estátua da Irmã Lúcia, inaugurada em 2013

No muro da frontaria do convento, voltado a norte, foi instalado um grande painel de azulejos comemorativo do centenário do seu nascimento;

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Recriação de uma cela

e junto ao muro do lado nascente foi construído um memorial, aberto em 2007, que permite ao público ver objetos que usou ou relacionados com a sua vida, bem assim como imaginar o dia‑a‑dia “na modéstia, na simplici­dade e despojamento”, próprio daquela comunidade.

Guedes, G.M.F. O Convento de Santa Teresa de Jesus de Coimbra: inventário do acervo documental. In: Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra. Vol. 26 (2013). Pg. 65 a 80.

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por Rodrigues Costa às 17:17

Quinta-feira, 02.12.21

Coimbra: Convento de Santa Teresa de Jesus de Coimbra 1

O convento de Santa Teresa de Jesus, em Coimbra, pertence ao ramo das Carmelitas Descalças e remonta à 1ª metade do século XVIII. A fun­dação deste Carmelo parece ter correspondido à vontade e ao fervor religioso de vários sectores da sociedade e das autoridades religiosas da cidade. Citem‑se, entre outros, a determinação e os esforços de frei Luís de Santa Teresa, nascido Luís Salgado, mais tarde bispo de Olinda, que, após ter frequentado o Colégio das Artes e as Faculdades de Cânones e Leis, onde atingiu o grau de Doutor e onde foi, igualmente, professor – além de juiz corregedor da comarca – abandonou a promissora carreira das leis e, em 1723, com 30 anos de idade, ingressou nos Carmelitas, no Convento de Nossa Senhora dos Remédios, de Lisboa … Na década de 30 regressou a Coimbra “animado pela ideia de aí fundar um convento de Carmelitas Descalças, para o que pedia esmolas de porta em porta, fazen­do os mais servis trabalhos”.

Em 6 de junho de 1737, a Câmara concede licença para a fundação de um convento de Carmelitas Descalças na cidade, por proposta de um grupo de cidadãos encabeçado pelo Doutor Manuel Francisco, professor jubilado da Faculdade de Medicina, que tomam a seu cargo a busca de um local apro­priado, o qual vêm a encontrar no denominado Casal do Chantre, então situado nos arrabaldes. Em 20 de janeiro de 1739, o rei Magnânimo promul­ga a provisão que autoriza a fundação do convento e na tarde do dia 14 de fevereiro chegam as 11 religiosas que o Provincial, Frei Manuel de Jesus Maria e José, nomeara para o efeito, oriundas de vários outros conventos da ordem, em Portugal. Hospedam‑se no vizinho Convento de Sant’Ana, das religiosas de Santo Agostinho. No dia seguinte, são recebidas na igreja do Colégio dos Carmelitas Descalços – Colégio de S. José dos Marianos, atualmente Hospital Militar – com um solene Te Deum. Daí seguem para a quinta de Simão Pereira Homem, sita na Arregaça, onde permanecerão por quatro anos.

No dia de Nossa Senhora das Dores, 9 de abril, de 1740 é lançada a 1ª pedra do convento, num terreno doado pelo cónegochantre da Sé, Manuel Moreira Rebelo. O projeto – muito simples e austero, como fica bem a uma congregação com estas características – é da autoria do arquiteto carmelita Frei Pedro da Encarnação e estaria elaborado desde 1714. O conjunto “é artisticamente modesto, valendo unicamente pelos portais de entrada da igreja onde se crava o milésimo de 1744, e pelo retábulo barroco da capelamor.

A planta do templo privativo é simples, de uma só nave de forma retangular, com um coro alto, uma abóbada de tijolo, uma capela única de cabeceira e uma cúpula no cruzeiro.

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Convento de Santa Teresa, interior

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Convento de Santa Teresa, capela-mor

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Convento de Santa Teresa, portal

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Convento de Santa Teresa, pormenor do portal

” Nesta igreja será sepultado, com grande solenidade, o pintor italiano Pasquale Parenti ou Pascoal Parente, que deixou notabilíssima obra espalhada por todo o país e especialmente por Coimbra e pela região centro, na 2ª metade do século XVIII. À volta do claustro, de cinco arcos de cada lado, dispõemse as dependências monacais, sendo os dormitórios no andar superior.

A 23 de junho de 1744, as religiosas Carmelitas deixam as instalações precárias, embora adaptadas, na Arregaça, e fazem a sua entrada no convento construído expressamente para elas e para as características da sua vida contemplativa e de clausura – tendo o sermão da trasladação sido proferido por Estanislau Manso, Sociedade de Jesus.

Aí permanecem sem grandes percalços, durante quase um século, acrescentando o número de professas e granjeando a simpatia da cidade.

Porém, a revolução liberal e as guerras que se lhe seguiram como, antes, as invasões francesas, trouxeram incertezas e perturbações a que nenhuma comunidade ou instituição ficou alheia.

…O Carmelo de S. Teresa viu serem‑lhe subtraídos os poucos bens que possuía e a iminência da extinção pesar‑lhe sobre a cabeça, uma vez que fora proibida a admissão de noviças.

Porém, em breve “a tempestade passou”; poucos anos depois, a igreja de Santa Teresa era, mesmo, um centro de vida espiritual altamente marcante na cidade”. Enquanto a vida religiosa em Coimbra “definhava” e “nos conventos de Santa Clara, Celas e Sant’Ana morriam as últimas frei­ras” (…) o convento de Santa Teresa era “o maior, para não dizer o único centro de piedade” que “contrastava, à evidência, com o ambiente de indiferença religiosa que era comum dos habitantes da cidade. Ali concorriam as famílias da nobreza e aristocracia coimbrã, que haviam conservado as velhas tradições portuguesas, sem se deixar contaminar pelo liberalismo e pelo formalismo externo (…) Ali concorria também muita gente devota, muita gente pobre e humilde… Neste convento, havia bas­tantes religiosas ainda válidas e algumas novas, todas piedosíssimas, passando a vida em penitências austeras e edificantes.

Elas tinham sabido renovar o seu pessoal professo. Como? Deus o sabe e elas também o sabiam. Era na Igreja das Teresinhas, e só ali, que todos os dias se viam fiéis”.

Guedes, G.M.F. O Convento de Santa Teresa de Jesus de Coimbra: inventário do acervo documental. In: Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra. Vol. 26 (2013). Pg. 65 a 80.

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por Rodrigues Costa às 09:40


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