Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Vergílio Correia Pinto da Fonseca (1888-1944) foi uma das mais extraordinárias personalidades da cultura portuguesa do século passado.
Vergílio Correia com as insígnias universitárias, 1930. c© Museu Nacional de Castro. Acedido em https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/86865/1/Verg%C3%ADlio%20Correia.pdf
… Professor da Universidade de Coimbra, formou gerações de alunos na sensibilização pelo património histórico-artístico nacional, dentro de uma nova perspectiva de análise comparatista e globalizadora dos monumentos e obras de arte.
Vergílio Correia. Imagem acedida em: http://antt.dglab.gov.pt/wp-content/uploads/sites/17/2017/05/2017-05-Vergilio-Correia-ProgramaV9.pdf
Estudioso apaixonado dos achados de Conímbriga, sobre a qual muito escreveu desde 1909, dedicou-se a investigá-los de modo profícuo; porém, como diz Jorge Alarcão, «a morte prematura sobrevinda aos 55 anos não lhe deu tempo de escrever sobre este oppidum a monografia que por força havia de trazer em mente». Já no campo da História da Arte deixou vasta bibliografia de referência ainda hoje incontornável, sobre temas como a tumulária gótica, a arte manuelina, a escultura e a pintura do Renascimento, a talha barroca, o azulejo, etc, bem como no campo da museologia, entre muitos outros temas em que foi observador pioneiro, e legou-nos ainda os dois grandes tomos do Inventário Artístico de Portugal (Cidade e Distrito de Coimbra), edição da Academia Nacional de Belas Artes, completados após a sua morte pelo seu amigo e fiel colaborador Padre António Nogueira Gonçalves e que são, também, absolutamente inovadores nos critérios de recenseamento e descrição de peças.
Grupo de crianças descalças, em dia de Aleluia, provavelmente no Alentejo (sem/data). Vergílio Correia/Centro de Estudos. Acedido em: https://www.e-cultura.pt/artigo/22407
… Também na Etnografia os seus interesses se manifestaram, fruto do convívio inicial com José Leite de Vasconcelos, gerando artigos nas revistas Águia e Terra Portuguesa, ou a síntese Arte Popular Portuguesa, primeira sistematização no âmbito da nossa Antropologia antes dos discursos de folclorização e descaracterização associados à propaganda oficial do Estado Novo. Enquanto etnógrafo, arqueólogo e historiador de arte, além de museólogo, fotógrafo, ensaísta, pedagogo e professor universitário, Vergílio grangeou de justo renome internacional, dada a sua relação com os principais nomes na investigação nessas áreas pluridisciplinares, e gerou uma obra imensa, que a morte prematura aos cinquenta e cinco anos incompletou: por tudo isso, tem de ser considerado uma das figuras máximas da cultura portuguesa do século passado.
… Era, ademais, um homem de causas, educado nos princípios republicanos e defensor das liberdades cívicas. Foi militante do Partido Republicano Português desde a primeira hora, pertenceu às lojas maçónicas A Revolta, de Coimbra, e Acácia, de Lisboa … as ‘amizades perigosas’ com o grupo democrático do comandante Aragão e Melo, que levariam à sua breve prisão no Aljube, em 1932, por dar abrigo a um opositor à Ditadura. O reconhecimento das suas altíssimas capacidades permitiu, porém, que em tempos difíceis pudesse prosseguir a sua carreira universitária e museológica.
Avulta em toda a sua vasta obra uma personalidade extraordinária, com múltiplos interesses, muitas vezes esquecida pela desmemória e ingratidão dos homens mas que guarda plena atualidade e urge, por isso, voltar a conhecer.
Serrão, V. 2016. Vergilio Correia (1888-1944): Perfil de um grande historiador de arte e homem de cultura integral. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 223-225. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.