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Em Coimbra, na Sala da Cidade (antigo refeitório do Mosteiro de Santa Cruz), encontra-se patente, até ao próximo dia 6 de novembro, uma exposição temporária organizada pela Câmara Municipal de Coimbra e financiada pelo programa Centro 2020, intitulada Aeminium. Coimbra, cidade há 2000 anos. A mostra, com curadoria de Pedro C. Carvalho e de Ricardo Costeira da Silva, pode ser visitada de terça-feira a sábado entre as 13h00 e as 18h00.
Folha de sala da exposição, rosto
A Folha de sala, simples, mas bem conseguida, insere algumas imagens interessantes das quais nos permitimos destacar a das hipotéticas fases construtivas do fórum de Aeminium
Folha de sala da exposição, imagem
E esta visão do criptopórtico.
Folha de sala da exposição, imagem
A exposição vive, fundamentalmente, de fotografias relacionadas com o património arqueológico do Museu Nacional de Machado de Castro e complementa-a uma peça pertencente ao seu acervo e uma maquete do fórum de Aeminium (meados do séc. I d.C.).
Os textos que acompanham a apresentação, adequados e elucidativos, o arranjo e distribuição dos elementos gráficos, a iluminação e o esquema expográfico conduzem a uma relação intrínseca entre espaço-obra-espetador.
Não nos arrogamos em mais do que um simples estudioso da Cidade, mas, apesar disso, seja-nos permitido apor, relacionados com esta mostra, duas notas e um comentário.
O primeiro apontamento relaciona-se com a referência mais do que breve, quase diria insignificante, ao Arco Romano de Coimbra, cujos restos ainda são visíveis na conhecia gravura de Hoefnagel, datada de 1566.
Gravura de Hoefnagel, pormenor
Um dos textos que acompanham a exposição refere que um monumental arco honorifico, construído numa das entradas da Cidade, voltada ao rio, parece ter existido à rua da Estrela (junto ao antigo Governo Civil), tendo sido desmontado no século XIX. E fica-se por aqui!
Lamentamos a não referência aos trabalhos arqueológicos levados a cabo, em 2001, pelos arqueólogos municipais, bem como o estudo realizado em 2016 por Isabel Anjinho, com recurso à georreferenciação.
Os conhecimentos que se podem extrair tanto dos primeiros, como do segundo, deixam poucas dúvidas no que concerne à localização do arco, bem como às suas características arquitetónicas.
Fotografia dos achados da Estrela, da autoria da Dr.ª Paula Cristina Viana França, que gentilmente a cedeu e datou (entre 17 e 31 de maio de 2001).
Proposta de localização em planta, do arco romano sobre as cartas topográficas da cidade de Coimbra. Encontra-se a mais escuro o pilar cuja base terá sido encontrada na campanha arqueológica de 2001.
A outra nota relaciona-se com a localização do Circo Máximo (Circus Maximus) que os curadores, embora com reserva, apontam como podendo ter ocupado a atual Praça do Comércio. Corroboro as suas dúvidas e acrescento que a localização do equipamento naquele local se afasta da normal paginação das cidades romanas; contudo, não se pode esquecer a topografia específica do espaço geográfico ocupado por Aeminium.
Antes do comentário que pretendo deixar aqui, permito-me colocar uma nota pessoal. Desde o tempo em que exerci as funções de Diretor do Departamento de Cultura da Câmara Municipal de Coimbra que venho a defender a existência de um Museu da Cidade, necessariamente polinucleado, mas que respondesse à necessidade de se conhecerem as raízes de Coimbra, a sua história e as personagens que a marcaram; em suma, dar-nos a entender a cidade de Coimbra, globalmente tão diversificada e rica, no seu todo.
Expressa esta declaração de interesses, questiono-me acerca do destino que vai ser dado ao material desta exposição depois da sua desmontagem, até porque nos parece que ele se poderia considerar um primeiro passo para a concretização do objetivo pelo qual nos batemos há largos anos. Julgo oportuno alertar para a necessidade de, na sequência desta mostra, se iniciar, de forma serena, objetiva, abrangente e participada, um debate capaz de conduzir à definição de um projeto museológico apto a dar uma resposta válida à concretização desse Museu da Cidade que muito viria enriquecer a urbe e que poderia tornar-se num polo de atração turística.
No que de mim depender, não me eximirei a dar o contributo possível.
Rodrigues Costa
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