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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 29.07.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 29

Os obreiros das novas arquitecturas (continuação)

Mas não foram só os projetistas a imporem a sua marca na cidade, porque as arquiteturas que bordejam estes novos arruamentos apresentam, genericamente, uma matriz comum que passa pela utilização de cantarias lavradas, de azulejos e de ferros forjados. Trata-se da chancela que homens formados na Escola Livre das Artes do Desenho (ELAD) aplicavam nos imóveis que, obviamente não riscavam, mas decoravam.

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João Machado

Era esta a modernidade aposta na arquitetura que então se praticava numa cidade do interior, onde os artistas se viam impedidos, por inexistência, de frequentar uma Escola de Belas Artes. Se se compararem estas construções com as erguidas na capital, para já não falar com as das grandes metrópoles europeias, nota-se um atraso considerável. Contudo, a especificidade verificada na cidade do Mondego e patente na maior parte dos edifícios então edificados, permite-me rotular essas construções com o nome de ARQUITETURA ESCOLA LIVRE.

Fig. 51. António Augusto Gonçalves com um grupo

Fig. 51 – António Augusto Gonçalves com um grupo de alunos da ELAD numa visita de estudo.

É verdade que existem em Coimbra muitas obras deste período a caber no âmbito do ecletismo, mas todas elas apresentam a mesma matriz, baseada no gosto dos proprietários ou no saber dos canteiros que nelas trabalhavam. Ao fim e ao cabo, podem considerar-se o produto visível de uma cidade de província, fechada sobre si mesma, sem outros horizontes artísticos a não ser aqueles que a Escola Livre e também a Escola Industrial lhes proporcionavam.

Tem, frequentemente, sido feita referência à ELAD, isto é, à Escola Livre das Artes do Desenho. Como não havia em Coimbra uma escola de Belas Artes, António Augusto Gonçalves, homem dotado de grande capacidade de iniciativa e de vasta cultura, em 1878, acabou por fundar a Escola Livre, alfobre de muitos lavrantes que marcaram o panorama artístico de Coimbra, e não só, até cerca dos finais da terceira década de Novecentos.

A criação desta escola obedeceu “ao desejo de reunir todos os indivíduos que manifestavam aptidões artísticas, de propagar o estudo do desenho nas suas múltiplas aplicações às artes e às artes industriais, de tornar fácil e acessível a aquisição de conhecimentos sobre a forma de trabalhar os diversos materiais ensinando os princípios de estética indispensáveis à compreensão e interpretação das obras de arte”.

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‘Tugúrio de Almedina’

No ‘Tugúrio de Almedina’, onde as relações entre professores e alunos se estreitavam e confundiam, formaram-se serralheiros, canteiros, escultores, marceneiros, entalhadores, ceramistas e pintores, que procuraram colher ensinamentos válidos no campo da história da arte e que os utilizavam nas construções onde plasmavam o produto do seu labor.

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas ArtesLisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

 

 

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por Rodrigues Costa às 21:28

Terça-feira, 27.07.21

Coimbra: Nunes Pereira, uma exposição realizada em 1983, 2

Mas existe um segundo motivo que torna o catálogo da Exposição Retrospectiva da obra de Mons. Augusto Nunes Pereira uma obra que não pode deixar de se referir sempre que se estuda este artista. 

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Monsenhor Nunes Pereira acompanhado do seu caderno para desenhar

Para além do que já se deixou escrito na entrada anterior, esse catálogo registo revela-se uma obra importante na medida em que nos proporciona a leitura de dois textos assaz elucidativos. O primeiro escrito por Fausto Correia, ao tempo Vereador do Pelouro da Cultura e Turismo, que sublinhava:

Monsenhor Nunes Pereira podia ser homenageado também como homem, como cidadão, como sacerdote, como jornalista, como conimbricense adotivo. Preferiu-se salientar - a justo título - a faceta de artista, que, bem vistas as coisas, reflete ineludível e globalmente toda uma personalidade, uma mensagem, uma maneira de ser e estar. … Rende-se agora preito à criatividade, ao valor e à autenticidade do artista, que é também um modo adequado de homenagear o homem, o cidadão, o sacerdote, o jornalista, e o conimbricense por adoção.

E referimo-nos também, e quiçá seja este o escrito mais significativo, à autobiografia traçada pelo próprio Nunes Pereira, peça literária de mérito, que bem espelha o Homem que foi e cuja memória perdura.

A palavra que se espera neste catálogo pudera solicitá-la dum amigo, e seria mais autorizada. Mas escrevo-a eu, mau grado o odioso deste pormenor.

Nasci na Mata, à beira do Ceira, que nessa noite de Dezembro de 1906 devia levar um volumoso e frio caudal.

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Nunes Pereira. Contos de Fajão. “Os fidalgos de Fajão com o Juiz ao centro”. [Acedido em https://www.facebook.com/Os-Contos-de-Faj%C3%A3o-30-anos-2139002963080610/] (Saliente-se a inclusão do autorretrato do autor)

Os quinze ou vinte moradores que teria o povoado eram todos agricultores. Meu pai acrescentava a profissão ou arte de escultor-santeiro. A 14 de Abril de1916 despediu-se de nós com um «Adeus até ao Dia do Juízo». Dele herdei este jeito para as artes e um razoável conjunto de ferramentas, com as quais iniciei a minha aprendizagem manual: plainas, serras, formões, goivas e o mais da arte. Que ele repetidas vezes recomendara à minha mãe que não vendesse as ferramentas.

Na escola primária comecei a desenhar. Data de então a minha primeira escultura.

No Seminário ia aproveitando as horas vagas, e nas férias trazia sempre o caderno para desenhar, distintivo este que sempre me tem acompanhado. Depois de ordenado, fui para Montemor-o-Velho, onde havia abundante material para desenhar: igrejas, monumentos, paisagens, como aliás em toda a região. Como escrevia para jornais e revistas, desenhava à pena por ser mais fácil a reprodução. Depois fui para Coja, centro duma região cujos monumentos estavam, na maior parte, inexplorados. Fiz uma grande série de desenhos, que expus em várias terras, com a intenção de difundir a cultura e chamar a atenção dos habitantes para as riquezas que possuíam e nem sempre apreciavam devidamente.

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Nunes Pereira. O jogo de cartas. [Ponta seca. Sobre chapa gravada. 2.º estado. 3/10. Não datado]. Coleção particular

As minhas primeiras gravuras datam do período de Montemor-o-Velho. Tinha começado, como Marques Abreu, por fazer carimbos. Depois fui à xilogravura, e ilustrei o meu primeiro livro de versos, saído em 1934 mas que estava pronto para imprimir em 1933.

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Nunes Pereira. Contos de Fajão. [Xilogravura. Museu Nunes Pereira. Fajão. Acedido em http://www.cm-pampilhosadaserra.pt/pages/428?event_id=252]

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Nunes Pereira. Contos de Fajão. [Xilogravura. Museu Nunes Pereira. Seminário Maior de Coimbra. Acedido em https://agencia.ecclesia.pt/portal/evento/coimbra-exposicao-regressar-as-origens-pela-xilogravura-de-nunes-pereira/]

Em Coja, para dar que fazer a dois ou três artistas, dirigi a construção de alguns retábulos para capelas, fazendo eu os desenhos e a obra de talha.

Mas foi sobretudo depois da minha vinda para Coimbra, em1952, que pude entregar-me um pouco mais às artes plásticas, não porque tivesse mais vagar, antes pelo contrário, mas por outros motivos. Redator do «Correio de Coimbra», tive oportunidade de fazer muitas dezenas de gravuras para este jornal, algumas delas feitas apressadamente com a máquina à espera para imprimir o jornal.

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Nunes Pereira. Cabo Mondego. [Aguarela sobre papel. 22 de Agosto de 1971]. Coleção particular

A certa altura tentei obter uma bolsa de estudos para me aperfeiçoar na gravura, mas não a consegui. Limitei-me a estudar por mim e aproveitar viagens ao estrangeiro para confrontar os meus trabalhos com os de autores competentes. Contactei com Pietro Pariggi, em Florença, e com André Jaquemin em Épinal - mas só de passagem.

Em Coimbra, José Contente explicara-me, numa tarde, a técnica da gravura em metal e o funcionamento do «tórculo», que ele tinha muito bom e que mais tarde, após o seu prematuro falecimento, adquiri. A esse artista, tão modesto como grande, rendo aqui a minha homenagem.

Circunstâncias favoráveis encaminharam-me para o desenho de vitrais. O primeiro foi para a capela da Casa de Saúde da Santa Filomena; seguiu-se a capela de Paleão, e depois uma série de igrejas e capelas. Se tinha contribuído para o ressurgimento da gravura de madeira, também contribuí para o ressurgimento do vitral.

A par disso, vendo que as matrizes das gravuras de madeira, independentemente da sua reprodução no papel, constituíam por si um quadro interessante, gravei grandes painéis em xilogravura, o maior dos quais mede 4,16 x 2,80 m.

Na base de todos os meus trabalhos está, sem dúvida, o desenho. Desenho em casa, na rua, nos cafés, nas reuniões, nos almoços. Em Montemor e em Coja desenhava nas feiras. A rapidez com que desenho vem desse treino contínuo. O meu desenho, salvo o que faço no gabinete, é um desenho de viagem, aproveitando ocasiões e às vezes escassos minutos.

Há poucos anos que pinto a aguarela, pois a primeira tentativa não me entusiasmara. Quanto à monotipia, que tem muito mais criatividade, não tem logrado interessar muito os visitantes, habituados à cópia servil da natureza que viram.

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Nunes Pereira. Presépio. [Gravura. 1990. 2/20. Coleção particular]

 

Por fim o calhau rolado. Privado das arestas, pronto e quase envernizado, é um belo material oferecido à imaginação do escultor, que chegado a esta idade vê nele o símbolo do seu próprio batalhar na vida.

Exposição Retrospectiva da obra de Mons. Augusto Nunes Pereira. Coimbra Abril 1983. Catálogo. Organização Serviços Municipais de Cultura e Turismo.

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por Rodrigues Costa às 10:57

Quinta-feira, 22.07.21

Coimbra: Nunes Pereira, uma exposição realizada em 1983, 1

A entrada publicada em 7 do corrente relacionada com a exposição “As Últimas Ceias de Nunes Pereira. Das Ceias à Ceia”, patente no atual Museu Nunes Pereira, instalado no Seminário Maior de Coimbra, levou-me a buscar outras realidades relacionadas com esta, por adoção, ímpar personalidade conimbricense.

Foi neste contexto que me reencontrei com o catálogo da “Exposição Retrospectiva da obra de Mons. Augusto Nunes Pereira”, acontecida no edifício Chiado, de 7 a 17 de abril do já longínquo ano de 1983. 

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Exposição Retrospectiva da obra de Mons. Augusto Nunes Pereira. Catálogo, capa

Guardo com carinho e saudade um exemplar desse catálogo, onde Mons. Nunes Pereira esboçou a minha caricatura a que acrescentou a seguinte dedicatória: Ao meu Querido Amigo Sr. Dr. Rodrigues Costa, com a gratidão do P.e Nunes Pereira.

A referência a este pormenor que me enche de orgulho, e seja-me perdoado o atrevimento, de vaidade, justifica-se pela ternura e pela saudade que ainda sinto pelo meu Mestre da Brotero, pelo meu Companheiro das lides da Comissão de Arte, integrada nas estruturas da Câmara de Coimbra, pelas nossas longas conversas quando o levava à sua casa pré-fabricada, situada na Portela, casa modesta, mas repleta de obras de arte, de tranquilidade e de irradiante felicidade. 

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Exposição Retrospectiva da obra de Mons. Augusto Nunes Pereira. Catálogo, contracapa

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Exposição Retrospectiva da obra de Mons. Augusto Nunes Pereira. Catálogo, ilustração

Os Serviços Municipais de Cultura e Turismo, com a colaboração do Movimento Artístico de Coimbra, foram os responsáveis pela organização da mostra que, para selecionar e recolher as obras expostas, para levar a cabo a sua montagem no rés-do-chão do edifício Chiado e para organizar o Catálogo, se viu a braços com as exíguas possibilidades económicas do Município. Todo o trabalho, a que se procurou dar a dignidade que a exposição e o seu Autor mereciam, foi levado a cabo por uma pequena equipa que, então, tive a honra de liderar.

O ato inaugurativo, acompanhado de uma homenagem prestada pela edilidade a Monsenhor Nunes Pereira na Câmara Municipal, constituiu, na cidade, um evento relevante. A abertura da mostra encontra-se perpetuada em várias imagens da autoria de Varela Pècurto e que este ofereceu à Câmara, estando ora depositadas na Imagoteca Municipal.

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Inauguração da exposição. Câmara Municipal de Coimbra, BMC-G281. Fot. Varela Pécurto (?)

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Inauguração da exposição. Câmara Municipal de Coimbra, BMC-D018. Fot,.Varela Pécurto

O Catálogo então delineado constitui uma componente importante no contexto expositivo na medida em que, por um lado, o Autor traça a sua autobiografia e, por outro, insere uma listagem das peças apresentadas acompanhada de uma reprodução parcial.

Exibiu-se um espólio significativo, composto por cerca de centena e meia de trabalhos, onde constavam 6 desenhos, 13 aguarelas, 6 monotipias, 29 xilogravuras, 35 fotografias de xilogravuras, 8 xilografias, 12 gravuras a buril, ponta seca e água forte, 1 gravura em metal, 12 fotografias de trabalhos em ferro forjado, 2 fotografias de mosaicos, 2 fotografias de trabalhos em arquitetura, 106 diapositivos de vitrais, 11 esculturas, 3 fotografias de esculturas em pedra e madeira, 17 figuras esculpidas em calhau rolado e algumas medalhas. Inseriam-se também na exposição 10 livros, alguns da sua autoria e outros em coautoria, recortes de jornais, catálogos de anteriores exposições anteriormente efetivadas.

Todo este material mereceu a Joaquim Matos Chaves o seguinte comentário:

Cultor eclético da arte, Monsenhor Nunes Pereira prestou, contudo, maior atenção a duas técnicas, a dois processos: a gravura, sobretudo a gravura em madeira e o vitral. Mas justificam, igualmente, menção o desenho, algumas vezes aguarelado, a pintura e ainda outras Técnicas, que, penso, não teria sentido enumerar exaustivamente aqui. Delas deixará a exposição constância de modo que torna as palavras supérfluas.

Exposição Retrospectiva da obra de Mons. Augusto Nunes Pereira. Coimbra Abril 1983. Catálogo. Organização Serviços Municipais de Cultura e Turismo.

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:43

Terça-feira, 20.07.21

Coimbra: Forma e tipos de matrículas na Universidade

Até à Reforma Pombalina da Universidade em 1772 o registo de matrícula apresenta geralmente a seguinte informação:

Nome do aluno, naturalidade e filiação, sendo neste último caso apresentado apenas o nome do pai, seguido da informação sobre a data de matrícula e assinatura do aluno. No caso de alunos de ordens religiosas não é apresentado o dado de filiação.

Livro de Matrículas (1724-1725), fl.23.png

Livro de Matrículas (1724-1725), fl.23

Não é igualmente indicado o ano de curso, pelo que só compulsando todos os anos de frequência do aluno se pode saber exactamente os anos frequentados. No entanto, é comum ser indicado o grau de Bacharel no caso de o aluno já possuir este grau quando efectua a matrícula. Os livros apresentam as matrículas por ordem de Faculdades, sendo apresentada em primeiro lugar a Faculdade de Teologia, seguida de Cânones, Leis e Medicina. A matrícula na cadeira de Instituta (os designados alunos Institutários) ficou geralmente lançada antes dos registos da Faculdade de Medicina, mas pode também surgir depois destes.

Depois de 1772 são acrescentados os registos de matrícula das Faculdades de Matemática e Filosofia e deixa de existir a cadeira de Instituta. Os registos passam a ser apresentados por ordem alfabética e por ordem de ano de curso. A partir de 1793 passam a ser utilizados formulários impressos, com espaços em branco para neles se registar o nome do aluno, naturalidade e filiação. Na matrícula que ocorre no primeiro ano do curso ficou ainda regista a informação sobre as habilitações do aluno, em estudos preparatórios para o ingresso na Universidade (por exemplo: Latim, Retórica, Filosofia, Geometria).

Livro de Matrículas, Vol.21. (1792-1793), fl.17.p

Livro de Matrículas, Vol.21. (1792-1793), fl.17

O registo de matrícula apresenta ainda informação sobre a classe de ordinário ou de obrigado de cada aluno. Quanto aos alunos voluntários existem volumes próprios para o registo da matrícula nas Faculdades de Filosofia e de Matemática. Pode, eventualmente, surgir a informação, sobre a mudança de uma classe para outra, designada por trânsito do aluno, por exemplo de ordinário para obrigado, ou de voluntário para ordinário.

Livro de Matrículas, Vol.41 (1813-1814), fl.132.p

Livro de Matrículas, Vol.41 (1813-1814), fl.132

Após a reforma de 1911, de acordo com o Decreto com força de lei de 19 de Abril de 1911, no seu cap. IX, a matrícula é o acto pelo qual o aluno dá entrada na Universidade; por seu lado, a inscrição permite ao aluno, depois de matriculado, a frequência das diversas cadeiras e cursos. A partir desta data, os livros de matrículas passam a estar ordenados por cada Faculdade e não é dada indicação do ano de curso, uma vez que a matrícula diz respeito ao ingresso na Universidade e respectiva Faculdade. Até 1937 não indicam o ano de curso, ou mesmo o próprio curso a frequentar dentro de cada Faculdade. Estes dados só podem ser colhidos nos livros de Inscrições.

Livro de Inscrições, Vol.25 (1921-1934), fl.173v

Livro de Inscrições, Vol.25 (1921-1934), fl.173v

Bandeira, A.M.L. Percurso académico na Universidade de Coimbra, nos séculos XVI a XX (orientações para pesquisa). Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra. Acedido em: https://www.uc.pt/auc/orientacoes/UC_GuiaPercursoAcademico.pdf

 

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por Rodrigues Costa às 13:00

Quinta-feira, 15.07.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 28

Os obreiros das novas arquitecturas

Os projetistas dos imóveis que neste período se iam edificando na cidade e especificamente no novo Bairro de Santa Cruz, a muitos dos quais já fomos fazendo referência ao longo do texto, eram, na sua maioria construtores civis, embora também encontremos o nome de condutores, mestres-de-obras e similares a riscarem prédios, a responsabilizar-se pela sua construção e a comprometerem-se, de acordo com regras estipuladas pela edilidade, com a segurança do operariado.

Através das deliberações tomadas na sessão da Câmara Municipal de Coimbra a 10 de setembro de 1908, fica-se a saber que, para poder assinar a planta de um edifício ou o projeto de modificação de uma qualquer fachada, teriam os autores de ser “engenheiros, arquitectos, desenhadores, ou condutores de obras públicas, ou mestres de obras devidamente inscritos”.

Contudo, um mestre-de-obras, para conseguir o diploma submeter-se-ia, obrigatoriamente, a um exame que, de acordo com o anúncio publicado na folha O Operario de Coimbra, constava “1.º Da leitura de um trecho facil da língua Portugueza; 2.º Das quatro operações sobre inteiras e decimaes; 3.º De calculos de areas e volumes das figuras mais usuaes; 4.º Da intelligencia e explicação de um plano de construcção civil; 5.º Do traçado de um pequeno projecto, copia ou original á escolha do candidato, que poderá servir-se de papel quadriculado; 6.º De noções geraes sobre materiaes de construcção, especialisando-se o que mais directamente se refira a estabilidade da cosntrucção e a segurança dos operários n'ella empregados”.

De entre os mestres-de-obras e os construtores civis a laborar na cidade, e naquele período, podem referir-se os nomes de “Abílio Augusto Vieira, de Cellas; Accacio Theodoro, da Portella da Cobiça; Antonio Augusto Pedro, Mont'Arroyo; Antonio da Silva Feitor, R. dos Militares; Antonio Simões; Benjamim Ventura; Francisco Antonio de Meira; Francisco de Campos; Francisco Collaço; João Antonio Maximo; João Gaspar Marques Neves; Joaquim Augusto Ladeira; Joaquim dos Santos Porto; Joaquim Simões Misarella; José Pedro de Jesus; José dos Santos Marques; Manuel Cardoso”.

Se se pensar, a nível de arquitetos e de acordo com o Annuario Commercial de Portugal, entre 1901 e 1925, apenas um, Augusto de Carvalho da Silva Pinto, aqui residia e mantinha atividade regular; contudo, não se pode escamotear a importância que neste período Raul Lino exerceu no contexto arquitetónico da cidade, quer através dos edifícios que projetou quer através da influência que a exposição dos seus trabalhos desempenhou tanto, lato sensu, na mentalidade da urbe, como no gosto de potenciais encomendantes.

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Fig. 49 – Assinatura do arquiteto Silva Pinto.

O primeiro, Silva Pinto, nasceu em Lisboa no ano de 1865 e faleceu na mesma cidade, onde foi procurar cura para os seus males, em 1938. Depois de ter terminado o curso especial de Arquitetura da Escola de Belas-Artes de Lisboa vai completar a sua formação na École des Beaux-Arts parisiense. Quando regressa de Paris, em 1895, fixa residência em Coimbra, dado que o arquiteto José Luís Monteiro, amigo do conde do Ameal, lho recomenda a fim de dirigir as obras de adaptação do colégio de S. Tomás, sito na Rua da Sofia, a residência do titular. A verdade é que se radicou na cidade e nela permaneceu até ao fim da vida, envolvendo-se nos mais diversos empreendimentos arquitetónicos e culturais que então se desenvolviam na urbe. Da sua mão saíram muitos e variados projetos de edifícios que espalham e espalhavam, porque alguns já desapareceram sob o camartelo cego dos poderes públicos, pela cidade; alem disso exerceu o magistério na Escola Brotero e envolveu-se com os cometimentos e com a “política” da urbe, e não só.

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Silva Pinto

O arquiteto Raul Lino nasceu em Lisboa a 21 de novembro de 1879 e aí faleceu a 14 de julho de 1974.

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Fig. 50 – Arquiteto Raul Lino.

Iniciou a sua formação em Inglaterra e, depois de 1893, continuou-a na Alemanha, onde foi discípulo de Albrecht Haupt, mestre que marcou profundamente o seu pensamento e a compreensão da corrente modernista.

Nos últimos anos do século XIX, certamente por influência de um take off tardio, Lisboa começou a crescer e muitas das novas zonas foram projetadas a partir dos princípios do design moderno vindo de Paris. Mas esses projetos não interessavam a Raul Lino, para quem os valores tradicionais e nacionais, como o amor pela pátria, para além de terem feito parte da sua formação, exerciam sobre ele uma profunda influência.

O alarife nutria uma grande simpatia pelos artistas de Coimbra ligados à ELAD, utilizando mesmo, e frequentemente, nos imóveis que projetava as cantarias e os ferros forjados saídos das suas oficinas; o gosto pela utilização azulejar como elemento decorativo também era comum. Esta afinidade talvez encontre explicação, porque Lino nutria o mesmo empenho, admiração e culto artístico pela arte nacional que encontrava seguidores em António Augusto Gonçalves e nos seus discípulos, homens que, em Coimbra iam “modestamente fazendo a renovação das nossas indústrias de arte”.

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Joaquim Martins Teixeira de Carvalho, ‘Quim Martins’

Quim Martins, no seu jornal Resistencia, escrevia que em Raul Lino se encontra, o que era raro nos arquitetos, a preocupação com “physionomia da região, e com a côr da paysagem” e, além disso, “tira partido de tudo que possa dar um ar pittoresco e regional, á sua construção”.

Casa na Avenida Marnoco e Sousa. Projeto do Arquit

Casa na Avenida Marnoco e Sousa. Projeto do Arquiteto Agostinho da Fonseca. Foto Daniel Tiago, 2006

O artista, que frequentemente se deslocava a Coimbra, ao ter conhecimento de que se encontrava em projeto a abertura do Bairro do Penedo da Saudade, levou a cabo na sede do Instituto uma exposição dos seus trabalhos, porque, de acordo com o «Noticas de Coimbra» “ficariam ali muito bem prédios daquele tipo”; a mostra inaugurou-se no dia 14 de março de 1908.

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Av. Marnoco e Sousa, placa toponímica

O “festejado artista” vira já os seus méritos reconhecidos pela intelligenza da cidade que o fizera, em 1904, sócio do Instituto de Coimbra.

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia  Nacional de Belas ArtesLisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

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por Rodrigues Costa às 18:36

Terça-feira, 13.07.21

Coimbra: O Púlpito de Santa Cruz 2

Apresenta-se com parapeito de quatro faces poligonais sobre base em forma de cone invertido. É revestido de finíssima decoração renascentista de candelabros, pequenos medalhões e outros motivos clássicos, tudo em delicado relevo à flor da pedra, mas os baldaquinos das figuras angulares são ainda de tradição gótica.

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Púlpito de Santa Cruz

Nas quatro faces abrem-se elaborados nichos onde se sentam os quatro doutores da Igreja do Ocidente. São eles, começando do lado da entrada, Santo Ambrósio de Milão, mitrado, S. Jerónimo, com chapéu de cardeal e leão aos pés, S. Gregório Magno, com a tiara papal, todos ostentando um livro simbólico da sua sabedoria e dos seus escritos, e, por fim, Santo Agostinho segurando um templo nas mãos, como fundador da Ordem seguida em Santa Cruz.

S. Jerónimo, com chapéu de cardeal e leão aos pS. Jerónimo com chapéu de cardeal e leão aos pés

Nos ângulos dispõem-se dez figurinhas plenas de grande significado. Na linha inferior representam-se os quatro profetas maiores, Isaías, Joel, Ezequiel e Jeremias, tendo ao centro o rei David segurando a harpa. Nos pequenos nichos superiores aos profetas erguem-se cinco donairosas donzelas: as sibilas do mundo clássico que se cria, desde o concílio de Niceia em 325, terem prenunciado o nascimento, a paixão e morte e a ressurreição de Jesus. Foi tema dos humanistas renascentistas, no esforço de conciliar a sabedoria da Antiguidade com a doutrina cristã, tendo o seu exemplo máximo nas pinturas de Miguel Ângelo no teto da capela Sistina e, igualmente, a sua expressão neste púlpito. Identificamo-las como: Cumana ou Ciméria, Herófila ou Samiana, Pérsica ou Caldeia (a do centro, com a cruz), Délfica, e Helespôntica ou Troiana.

O cone invertido de sustentação do púlpito gera-se a partir da representação de um monstro alado fantástico, a hidra de Lerna, com suas sete cabeças de serpente que renasciam sempre que se lhe cortavam, mas morta por Hércules no seu segundo trabalho. Um pouco mais acima, cinco harpias, monstros imundos, raptoras de almas, com rosto de mulher, corpo de abutre e orelhas de urso. Esta zona agitada é o mundo do pecado, por demais simbolizado nas sete cabeças da hidra. A transição para a parte superior é feita por frisos de elementos clássicos, onde cinco querubins transmitem paz e tranquilidade.

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... o cone invertido de sustentação do púlpito

Nicolau Chanterene era, sem dúvida, homem culto e artista de génio, mas não poderia ter executado esta obra, de tão denso conteúdo iconográfico e teológico, onde o bem se sobrepõe ao mal, sem ter a aconselhá-lo os doutos cónegos crúzios. Infelizmente o tempo tem deixado as suas marcas bem notórias nesta obra prima da arte portuguesa e mesmo europeia.

Nelson Correia Borges

Borges, N.C. O Púlpito de Santa Cruz. In: Correio de Coimbra, n.º 4785, de 2020.05.07

 

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por Rodrigues Costa às 20:00

Quinta-feira, 08.07.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 27

Casa-Museu Bissaya Barreto

 Pegada ao Aqueduto de S. Sebastião, paredes meias com o Largo João Paulo II, ergue-se a casa que outrora foi residência do doutor Fernando Baeta Bissaia Barreto Rosa (1886-1974), atual Casa-Museu Bissaya Barreto.

O conhecido professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra adquiriu o terreno à edilidade, em 1923, por 51.615$18 escudos e o requerimento a pedir a autorização para a moradia ser erguida deu entrada na Câmara Municipal de Coimbra em janeiro de 1925; assinava-o, em nome do requerente, o construtor civil diplomado António Maia que também se responsabilizava pela segurança dos operários nos termos do regulamento de 06 de junho de 1895.

Tanto o projeto como a orientação da construção da casa foram entregues a um gabinete de arquitetura de Lisboa, “Fiel Viterbo L.da”, que não deixou rasto no panorama arquitetónico nacional.

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Fig. 47 – Fachada principal da moradia de Bissaia Barreto. Fiel Viterbo, L.da. [AOCMC. Proc. 01-96/1925].

Fig. 48. Casa de habitação de Bissaia Barreto.[F

Fig. 48 – Casa de habitação de Bissaia Barreto. [Foto RA].

Portão da casa de habitação de Bissaia Barreto.

Portão da casa de habitação de Bissaia Barreto. Foto Maluisbe

 moradia, que apresenta uma planta em forma de “L”, não possui um estilo arquitetónico definido: trata-se de um edifício ambíguo que oscila entre a ‘casa portuguesa’ e o neobarroco, mas ultrapassa, de qualquer modo, os parâmetros costumeiros. A escadaria desenvolve-se no ângulo formado pelos dois braços do corpo do imóvel que é coroado por um largo torreão octogonal fenestrado. O conjunto da casa e do jardim reflete o gosto e o requinte do proprietário que juntou elementos de outrora com peças atuais saídas das oficinas dos artífices conimbricenses. Os ferros forjados, de gosto neorrenascentista, que se observam nos portões e nas aberturas do muro, constituem um bom exemplo.

Portão da casa de habitação de Bissaia Barreto.

Portão da casa de habitação de Bissaia Barreto. Ferros forjados, pormenor. Foto RA

A consulta da documentação existente no arquivo da Fundação permite concluir a omnipresente participação do encomendante na construção da sua residência, mesmo face às orientações do arquiteto, bem como aquilatar a sensibilidade artística de Bissaia Barreto até, e principalmente, quando estavam em causa os pormenores.

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas ArtesLisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

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por Rodrigues Costa às 19:32

Quarta-feira, 07.07.21

Coimbra: As Últimas Ceias de Nunes Pereira

No Seminário Maior de Coimbra, que presentemente se encontra em obras de recuperação, justamente no local onde Monsenhor Nunes Pereira teve a sua última oficina

Nunes Pereira , oficina.jpg

Nunes Pereira na sua oficina. Fotografia RA

e que atualmente se designa Museu Nunes Pereira, encontra-se patente ao público uma belíssima exposição intitulada “As Últimas Ceias de Nunes Pereira. Das Ceias à Ceia”, onde são apresentados alguns dos seus trabalhos relacionados com esta temática.

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“As Últimas Ceias de Nunes Pereira. Das Ceias à Ceia”, cartaz

Trata-de de uma pequena mostra – a exiguidade do espaço não permite mais – apresentada com grande despojamento, mas respeitando com dignidade a personalidade do Artista. Centra-se na apresentação de uma interessante coleção de “Últimas Ceias” que se materializam em diversos tipos de suporte, das quais apresentamos as seguintes obras.

Nunes Pereira 1.JPG

Nunes Pereira. Folha de sala. Última Ceia, 1

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Nunes Pereira. Folha de sala. Última Ceia, 2

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Nunes Pereira. Folha de sala. Última Ceia, 3

Para além da exposição, o visitante pode ainda visualizar a nossa Cidade a partir de um ângulo pouco conhecido, desfrutar de um pequeno espaço de lazer, deleitar-se com um gelado caseiro de qualidade e fruir de um baloiço que parece voar sobre o rio. Tudo sem problemas de estacionamento.

A folha de sala apresenta uma breve explicação sobre o significado da celebração da Última Ceia e apresenta-a como um local de encontro com a própria pessoa, de conversão e de perdão; onde o outro é mais importante, onde a vida é celebrada. Lugar de tomada de decisões e de tensão. Se pensarmos bem, a vida humana gira muito em torno deste lugar: a Mesa.

Refere ainda que as “Últimas Ceias de Nunes Pereira – Das Ceias à Ceia –“, constitui um percurso que mostra a forma como o artista plasmou, o Memorial – a Eucaristia – contido e inscrito em cada uma das suas obras: Jesus à mesa, ao centro, ladeado de seis apóstolos de cada lado, o pão e o cálice ao centro a serem abençoados e a ação de graças, evocada de vários modos, por parte de cada um dos apóstolos. Percurso que permite “saborear”, interiorizar e valorizar o significado da mesa, do alimento e da presença do outro na nossa vida. Lugar de gratidão, de conhecimento e de reconhecimento.

A exposição, promovida pelo Seminário Maior de Coimbra e que teve como curadora Cidália Santos, pode ser visitada, de Segunda a Sexta-feira, às 14h, 15h, 16h, 17h e, aos sábados, às 10h, 11h, 12h, 14h, 15h, 16h, 17h.

O uso de máscara é obrigatório e a marcação da visita deve ser feita com, pelo menos, 1 dia de antecedência, em:

 https://www.seminariomaiordecoimbra.com/pt/visitar-seminario/  

Em suma, não se pode deixar de visitar esta exposição, de relembrar essa personalidade ímpar da nossa cidade que foi Monsenhor Nunes Pereira e, simultaneamente, desfrutar a beleza do local.

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 11:29

Terça-feira, 06.07.21

Coimbra: O Púlpito de Santa Cruz 1

Os púlpitos das nossas igrejas tornaram-se obsoletos com o advento da amplificação sonora e sobretudo depois do concílio Vaticano II, quando toda a ação litúrgica se centrou no altar da celebração. Foram substituídos pelo ambão, normalmente colocado à direita do altar, no lado outrora destinado ao Evangelho. Será difícil às novas gerações percecionar a função e utilidade que estava destinada a estas peças, sempre tratadas com muito esmero e muitas vezes expressão artística de alto merecimento. No pós-concílio, alguns púlpitos chegaram mesmo a ser retirados das igrejas, esquecendo que a sua presença de séculos é parte da história dos monumentos e das comunidades.

Púlpito de Santa Cruz de Coimbra.jpg

Púlpito de Santa Cruz

As origens dos púlpitos podem procurar-se na civilização romana, de que somos herdeiros. Estavam presentes nos edifícios públicos e no foro como um local elevado, onde se situavam os oradores. Nas primitivas basílicas cristãs havia já uma tribuna semelhante ao ambão dos dias de hoje. Na segunda metade do século XIII, a atividade oratória de franciscanos e dominicanos levou à criação do púlpito como uma tribuna elevada, no centro da nave e por vezes com um dossel ou quebra-voz, para melhoria das condições acústicas, geralmente posicionado do lado do Evangelho. A partir do século XVI o púlpito ganha grande protagonismo no espaço interior das igrejas. Ali se fazia lembrar o louvor a Deus e o proveito espiritual das almas para a salvação eterna, em sermões inspirados, por vezes exuberantes e teatrais para que a mensagem chegasse a todos, pois grande parte da população era iletrada.

Em Santa Cruz de Coimbra o púlpito situou-se junto à desaparecida grade que separava o espaço conventual do espaço dos fiéis.

o púlpito situou-se junto à desaparecida grade.j

o púlpito situou-se junto à desaparecida grade

 Ele é bem a expressão da sapiente cultura dos cónegos crúzios e da arte refinada de Nicolau Chanterene. O escultor francês Nicolau Chanterene fez uma passagem quase episódica por Coimbra. No mosteiro de Santa Cruz deixou o melhor da sua obra, na fachada, no claustro e no púlpito, executado em 1521, data descoberta pelo Pe. Nunes Pereira quando fazia desenhos de pormenores, publicados neste jornal em 1985.

1521, data descoberta pelo Pe. Nunes Pereira.jpg

1521, data descoberta pelo Pe. Nunes Pereira

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Parte do púlpito onde em 1985 foi identificada a data da sua construção, ilegível passados 35 anos.

Borges, N.C. O Púlpito de Santa Cruz. In: Correio de Coimbra, n.º 4785, de 2020.05.07

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:21

Quinta-feira, 01.07.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 26

Os estabelecimentos prisionais de Coimbra – Cadeia Comarcã

Mais tarde, já em meados dos anos vinte, a Cadeia Comarcã da cidade, destinada aos presos comuns, também se vem a erguer num terreno que integrava a cerca da Penitenciária.

Colégio de Tomar. Fachada Meridional. Desenho.jpg

Penitenciária. Vista Geral e Cadeia Comarcã.JPG

Penitenciária e Cadeia Comarcã, vista geral

A sua construção constituía uma necessidade premente, porque desde o século XVI que, em Coimbra, todos os que se encontravam privados de liberdade viviam em calabouços, no mínimo, indignos.

De referir que, a partir de Quinhentos, a prisão da cidade ocupava um lúgubre edifício situado na Portagem, mesmo por baixo do colégio da Estrela. Aí esteve preso, antes de fugir, o poeta Brás Garcia de Mascarenhas.

Em consequência das leis da desamortização, depois de ter sido entregue à Câmara o complexo monacal que pertencera aos crúzios, a edilidade, goradas que viu as várias hipóteses relacionadas com a obtenção de um outro espaço destinado a colocar os prisioneiros, espaços esses que passavam sempre por adaptações, transferiu os reclusos, em 1856, para uma “nova” estrutura prisional situada no piso térreo do antigo celeiro dos frades, ou seja, para o piso térreo da chamada ‘Casa Vermelha’, ‘Casa dos Meninos de Palhavã’ ou ‘Casa dos Moços Fidalgos’.

Mas as condições de higiene, de segurança e até o aspeto que os prisioneiros conferiam a um espaço considerado como nobre, ombreando com os Paços do Concelho e mais do que pegado com a Praça 8 de Maio, levaram a pensar na construção de uma cadeia comarcã.

Foi encarregado de riscar o projeto do edifício, em 1926, Manuel de Abreu Castelo Branco (1890-1957), natural de Fornos de Algodres, que assinava os seus trabalhos como engenheiro civil, embora também se saiba que era oficial do exército e engenheiro militar.

Fig. 46. Projeto do edifício da Cadeia Comarcã.

Fig. 46 – Projeto do edifício da Cadeia Comarcã. Manuel Castelo Branco. 1926. [AHMC. Repartição de obras municipais. Pasta 11, B-14].

Na cidade do Mondego, entre outros edifícios, foi ele que projetou o colégio da Rainha Santa e a fachada principal do Palácio da Justiça; aqui, no antigo colégio de S. Tomás, pensado num primeiro momento para residência dos condes do Ameal e reformulado pelo arquiteto Silva Pinto, alterou a fachada principal proposta por aquele alarife, inserindo-lhe uma estrutura pesada, severa, de gosto neoclassicizante, apenas engrandecida pelos magníficos portões de ferro forjado saídos das oficinas dos ourives do ferro, ligados à Escola Livre das Artes do Desenho.

A Cadeia Comarcã que Castelo Branco projetou, tal como a Penitenciária, encontrava-se já, esta até mais do que aquela, desfasada da então “moderna” filosofia prisional.

 

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia  Nacional de Belas Artes.

Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

 

Tags: Coimbra séc. XIX, Coimbra séc. XX, Alargamento do espaço urbano, Colégio de Tomar, R. de Tomar, R. Garrett, R. Pedro Monteiro, R. Infantaria 23, Cadeia Penitenciária, Cadeia Comarcã, Manuel de Abreu Castelo Branco,

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:29


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