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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 29.04.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 17

A burguesia citadina instala-se no Bairro de Santa Cruz (Continuação)

A Rua Venâncio Rodrigues abre-se paralelamente à praça de República e liga a confluência da Oliveira Matos com a Castro Matoso à Rua de Tomar, cortando, aproximadamente a meio da sua extensão, em ângulo reto, a Alexandre Herculano.

Nesta artéria erguem-se três moradias que se encontram documentadas.

A que primeiramente se levantou tem risco de Raul Lino, é posterior a 1908 e foi mandada construir por António Maria Pimenta, pai de Belisário Pimenta (1879-1969). Insere-se dentro das linhas normalmente utilizadas por aquele arquiteto.

Fig. 26. Casa de António Maria Pimenta. [Foto RA]

Fig. 26 – Casa de António Maria Pimenta. [Foto RA].

Casa de António Maria Pimenta. Pormenor [Foto RA]

Casa de António Maria Pimenta, pormenor. Foto RA.

A outra, pertencia ao capitão do exército Alcino Miguel Pereira Rodrigues; o pedido de autorização para a construção do edifício, que se situa na esquina das Ruas Oliveira Matos e Venâncio Rodrigues, deu entrada na Câmara Municipal de Coimbra a 20 de dezembro de 1926 e foi deferido três dias depois. Joaquim da Costa Netto, construtor civil, declarou-se responsável pela direção dos trabalhos. Penso poder apontar para a sua mão como autora do projeto.

Casa de Alcino Miguel Pereira Rodrigues. [Foto RA]

Casa de Alcino Miguel Pereira Rodrigues. Foto RA.

O requerimento para a construção da terceira, uma casa para habitação e a mais tardia, foi endereçado pela Carpintaria Mecânica Conimbricense, com sede na Avenida Fernão de Magalhães, à edilidade aeminiense, através do seu sócio gerente João Gaspar Marques Simões, em maio de 1932. É o próprio Marques Simões que se responsabiliza pela obra e, como ele era construtor civil diplomado, calculo que também foi da sua responsabilidade o risco do edifício, neste caso mais elaborado que o anterior, a inserir-se em linhas gramaticais Art Déco.

Fig. 27. Casa de habitação pertencente à Carpin

Fig. 27 – Casa de habitação pertencente à Carpintaria Mecânica Conimbricense. [Foto RA].

Casa de habitação da Carpintaria Mecânica Conim

Casa de habitação da Carpintaria Mecânica Conimbricense, pormenor. Foto RA.

Uma nota interessante que ressalta dos documentos assinados por Netto e por Simões passa pelo primeiro declarar que se responsabiliza “e nos termos do regulamento aprovado por decreto de 6 de Junho de 1895 para a segurança dos operarios em construção civil”, enquanto o segundo afirma que se responsabiliza “nos termos do regulamento de segurança dos operarios de 6 de Maio de 1909”. Sendo os dois termos bem posteriores a 1909, não se percebe a razão que os levou a regerem-se por regulamentos diferentes.

Desse largo centralizante que se abre no topo da Avenida Sá da Bandeira, verdadeiro núcleo aglutinador das mais diversas artérias viárias que ali desembocam, ou se se quiser, em sentido inverso, que dali partem, destaca-se a Rua Alexandre Herculano a estender-se até aos Arcos do Jardim (Largo João Paulo II).

Logo à esquerda de quem sobe, no início da via, deparamo-nos com um edifício neomanuelino.

Contrapondo-se ao lugar ocupado pelo neogótico na maioria dos países desenvolveu-se, em Portugal, o neomanuelino que teve a sua certidão de nascimento na janela que se inscreve no Paço da Pena, em Sintra, numa das paredes do Pátio dos Arcos, forrada com azulejos policrómicos que utilizam, na parte inferior, como motivo decorativo a esfera armilar. A ventana, riscada por D. Fernando II, resulta de uma aproximação e simultaneamente de uma recomposição de um comportamento artístico de outrora, pois o monarca inspirou-se na janela da impropriamente chamada Casa do Capítulo do Convento de Cristo de Tomar.

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia  Nacional de Belas ArtesLisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf.

 

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por Rodrigues Costa às 11:17

Terça-feira, 27.04.21

Coimbra: Comedia Sobre a Devisa da Cidade de Coimbra 3

GIL VICENTE E O SIMBOLISMO DAS ARMAS DE COIMBRA [Cont.]

A proposta de leitura das armas

A acção serve para Gil Vicente avançar com uma proposta de significado do brasão de Coimbra sendo a recriação deste, verdadeiro tableau vivant, encenada no final da peça e indicada em didascália, ficando expressa da seguinte forma: "Entra Colimena e suas damas com seus irmãos com grande aparato de música, e a serpe e leão acompanhando a dita princesa."  Será então que o narrador, descrito como o “Peregrino do Argumento", se dirige a Colimena para lhe dar a deixa que permitirá a esta justificar o brasão de Coimbra, dizendo-lhe: "Venha a mui alta princesa serena / e diga contando sua anteguidade." Colimena dirá que é com base na sua história que tomou armas que depois foram as da cidade de Coimbra: "Eu assentei aqui esta cidade / e eu sou Coimbra e vem de Colimena. / Tomei por devisa aqueste leão/ e aquesta serpe por que fui livrada / o cales do meo é cousa errada / porque há de ser torre com ua prisão."  Relativamente ao brasão são pois avançadas explicações para a mulher saínte, para o cálice/fonte/torre, bem como para o leão e para a serpente, através de três personagens e um adereço.

A princesa Colimena

A explicação vicentina para a figura central das armas de Coimbra (fig. 6) deriva da história da personagem Colimena. É princesa por ser filha do rei Ceridón de Córdova e Andaluzia que surge em cena disfarçado de Ermitão. Foi feita cativa pelo gigante Monderigon e encerrada numa torre, em conjunto com seu irmão Melidónio, quatro donzelas e seus quatro irmãos passando graves tormentos na prisão. É descrita pelo pai como "doce serena". No cativeiro é obrigada a cantar continuamente pelo gigante e infeliz chora. Celipôncio que ao caçar se acerca do castelo onde está aprisionada vê pela primeira vez Colimena: "Ella sale a una ventana / yo mírola de un penar"  e de imediato se apaixona por ela, o que narra a sua irmã: "Sábete que amor me mata", ficando determinado em matar Monderigón que a tem cativa, o que é feito por intermédio de uma Serpe e de um Leão que o haviam atacado, mas que conquistou através da lisonja, de tal forma que se gaba que estes "(...) tomáronme amor tal / que no me pueden dexar." permitindo-se, pois, domar por Celipôncio. Serão estes dois animais que, convocados com o chamamento da sua buzina de caça, matarão Mondérigon salvando Colimena da tirania deste. Quer a Serpe, quer o Leão, são personagens sem fala que apenas surgem em duas cenas, sempre juntos, presumindo-se que seriam interpretados por actores/figurantes disfarçados de animais.

Figura 6 — Princesa saínte, detalhe das armas d

Figura 6 — Princesa saínte, detalhe das armas da cidade de Coimbra que figuram numa pedra-de-armas existente na fachada da Câmara Municipal de Coimbra, Coimbra. Publicada por Mário Nunes (Nunes, 2003, p. 87)

A torre que é um cálice ou uma fonte

No final da peça o autor, Gil Vicente, permite-se fazer uma alteração às armas da cidade ao substituir o Cálice que consta das mesmas por uma Torre. O texto vicentino não tem qualquer indicação se o que deverá surgir em palco será a heráldica que estavam em vigor, ou seja, as armas que constavam do foral atribuído poucos anos antes pelo rei D. Manuel I à cidade em 4 de Agosto de 1516, com uma mulher saínte de um cálice ou antes um brasão reformulado de acordo com a fala de Colimena, com esta saínte da Torre onde estivera aprisionada: "o cales do meo é cousa errada/ porque há de ser torre com ua prisão."

Figura 7 — Cálice ou fonte, detalhe da iluminur

Figura 7 — Cálice ou fonte, detalhe da iluminura das armas de Coimbra do Foral de Coimbra (1516)

Não se encontrou qualquer fundamento para esta alteração que não a fantasiosa justificação da história criada por Gil Vicente. Através da esfragística é possível comprovar que, mesmo em período anterior à definição da composição das armas a que Gil Vicente se refere e que é muito aproximada da actual, sempre foi representado um recipiente e não uma torre. Registe-se ainda que a afirmação que a mulher saínte o deveria ser de uma torre e não de um cálice viria também a ser aventada por frei Bernardo de Brito. De igual forma não ficou, neste particular, qualquer registo relativo à encenação do texto vicentino realizada perante D. João III e à referida recriação viva das armas da cidade, não sendo dada qualquer indicação da forma como este objeto foi cenografado. Pensa-se que este móvel heráldico, a torre, na encenação fosse um mero adereço cénico, não se crendo que fosse possível ser "vestida" por um ator, concordando-se com a proposta de reconstituição de Osório Mateus que refere a entrada na sala de "(...) um artefacto móvel que representa uma torre com uma janela (uma prisão)."

Alexandre, P.M. Uma patranha heráldico-genealógica de Gil Vicente: «A comedia sobre a devisa da cidade de coimbra» e o brasão-de-armas de Coimbra. In: Alicerces. Revista de Investigação, Ciência Tecnologia e Arte. Ano VI, n.º 6. 2016, julho. Lisboa, Instituto Politécnico de Lisboa. Pg. 65-88. Acedido em https://repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/8644/1/revista_alicerces6_2016_pv.pdf.

 

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por Rodrigues Costa às 19:49

Quinta-feira, 22.04.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 16

A burguesia citadina instala-se no Bairro de Santa Cruz

Na Praça da República, verdadeiro nó viário, convergem vários arruamentos e uma dessas artérias é a Rua Oliveira Matos, antes apelidada de Rua da Escola Industrial.

Fig. 22. Planta do Bairro de Santa Cruz. [AHMC. Di

Fig. 22 – Planta do Bairro de Santa Cruz. [AHMC. Diversos, maço 3, documento 2].

No começo da via, à esquerda de quem sobe, pode observar-se um edifício de dois pisos, caracteristicamente coroado por um friso de onde sobressaem merlões e ameias de inspiração árabe.

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Casa neoárabe. Foto RA.

Na zona cimeira, as aberturas apresentam a forma de arco ultrapassado e encontram-se inscritas em retângulos decorados com arabescos de gosto orientalizante; as janelas do andar térreo, que ladeiam a porta de entrada, embora geminadas, decorativamente, assemelham-se às do piso superior; por cima da porta evidencia-se uma varanda com gradaria de pedra lavrada no mesmo gosto. A completar a ornamentação da fachada sobressaem painéis de azulejo que imitam os sevilhanos.

Ignora-se o autor do risco, mas sabe-se que José de Mello Santos, o proprietário, é que solicita à Câmara a autorização para construir o imóvel e que, a 13 de janeiro de 1913, o vereador F. Vilaça, servindo de Presidente, aprova o projeto.

Fig. 23. Casa neoárabe. Pormenor. [Foto RA].jpg

Fig. 23 – Casa neoárabe. Pormenor. [Foto RA].

Casa neoárabe. Pormenor. [Foto RA] 02.JPG

Casa neoárabe, pormenor. Foto RA.

Comprova o que atrás se disse relativamente à utilização do gosto neoárabe na cidade o facto de, no perímetro abarcado por este trabalho, apenas encontrarmos este exemplar e o do início da Rua Lourenço de Almeida Azevedo.

Logo a seguir, afastando-se do tipo arquitetura Escola Livre e introduzindo um cunho de modernidade, Maximiano Augusto da Cunha, fundador do colégio de S. Pedro e professor na Escola de Santa Cruz que, como se referiu, fora riscada por Adães Bermudes, pouco depois de 1913, tomando como modelo uma vivenda semelhante existente no sul da França, faz erguer uma casa que se encaixa na gramática utilizada pela Arte Nova.

Casa Arte Nova.[Foto RA].JPG

Casa Arte Nova. Foto RA

A rodear a moradia, mesmo por baixo do beiral, desenvolve-se um friso pintado e decorado com lírios; este motivo repete-se no guarda-vento existente a fechar uma não muito grande caixa de escada com as paredes revestidas a escaiola.

Fig. 24. Casa Arte Nova. Caixa da escada. [Foto RA

Fig. 24. Casa Arte Nova. Caixa da escada. [Foto RA].

João Machado é o responsável pelas cantarias e pelo ferro forjado da sacada, provavelmente desenhados, tanto umas, como o outro, por António Augusto Gonçalves. O projeto do imóvel jamais foi encontrado e a família também desconhecia a sua existência ou paradeiro, mas trata-se de uma moradia a inserir-se como se disse, no gosto Arte Nova, cosmopolita e inusual na cidade, pois foge aos cânones vigentes e não se conhece, em Coimbra, arquiteto, engenheiro ou mestre-de-obras capaz de, naquela época, produzir um tal risco, a não ser Silva Pinto que nunca qualquer fonte apontou como responsável pelo projeto.

Fig. 25. Casa Arte Nova. Pormenor. [Foto RA].JPG

Fig. 25 – Casa Arte Nova. Pormenor. [Foto RA].

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia  Nacional de Belas ArtesLisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

 

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por Rodrigues Costa às 11:41

Terça-feira, 20.04.21

Coimbra: Comedia Sobre a Devisa da Cidade de Coimbra 2

I - DAS ARMAS DA CIDADE DE COIMBRA [Cont.]

As modificações posteriores seriam meramente ao nível cromático e dos ornatos exteriores do escudo, nomeadamente no que ao coronel e mais tarde à condecoração diz respeito, sendo estas as armas iluminadas pelo Rei de Armas Índia, F. Coelho no Thesouro da Nobreza e publicadas na obra de l. de V. Barbosa - As cidades e Villas da monarquia portugueza que têm brasão de armas, e vigorariam até à fixação das armas pela Portaria n.º 6959 de 14 de Novembro de 1930. Seria este diploma legal que produziria incompreensivelmente as maiores modificações nas armas desde a sua origem, ao introduzir dois escudetes de Portugal antigo em chefe e ao alterar a relação da figura feminina com o cálice, modificando ainda os esmaltes nomeadamente ao dotar a taça de ouro de um incompreensível e inexplicável realçado de púrpura.

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Figura 3 - Armas da cidade de Coimbra. Iluminura do armorial de Francisco Coelho (1675, f. 11)

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Figura 4 — Armas da cidade de Coimbra. Publicadas por Inácio de Vilhena Barbosa (1860, s.p.)

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Figura 5 – Armas da Cidade de Coimbra de acordo com a Portaria n.º 6959 (1930, P. 2031)

GIL VICENTE E O SIMBOLISMO DAS ARMAS DE COIMBRA

Estado da questão

F. de S. A. de Azevedo na coluna que assinava no boletim do Instituto Português de Heráldica, titulada de "Meditações Heráldicas", dedica a décima sétima dessas meditações a esta peça num pequeno artigo que designou por "Gil Vicente heraldista, breves apontamentos", estudo este que seria posteriormente citado pelo marquês de Abrantes em "O Selo Medieval de Coimbra e o seu Simbolismo Esotérico". S. A. de Azevedo limita-se a deixar registado o que é avançado por Vicente, havendo a registar algo de muito relevante no artigo em apreço, quando o investigador chama a atenção para um aspeto que os diversos textos relativos à peça normalmente parecem omitir e que se reporta à questão da própria dramaturgia e encenação, quando refere que o final da comédia passa pela recriação em palco das armas da cidade de Coimbra, um momento protagonizado por atores com recurso à cenografia e adereços relativamente raro e muito interessante em termos heráldicos.

M. Nunes fez um levantamento de imagens das armas da cidade de Coimbra limitando-se a fazer uma síntese do argumento da peça e cita a fala de Colimena onde esta descreve o brasão.

A. Clemente que explora o parentesco entre a emblemática e a "mascarada cortesã" refere, quanto à questão heráldica, que Vicente foi instaurador ao ter-se adiantado relativamente ao que era feito em outros países já que criou textos teatrais a partir de armas.

… Mateus, que estudou aprofundadamente a peça, na obra Devisa refere justamente o que a peça é: "(...) uma história cavaleiresca inventada, mas que finge existir antes," sendo dos poucos que analisa e propõe uma reconstituição da encenação vicentina em Coimbra, nomeadamente da última cena em que é recriado o brasão-de-armas da cidade.

A. P. de Castro no texto sob o título de "A "Comédia sobre a divisa da cidade de Coimbra", relativamente à matéria heráldica, limita-se a fazer uma síntese de algumas das leituras simbólicas das armas de Coimbra. [Em nota de rodapé é acrescentado que relativamente a frei Bernardo de Brito que "(.. .) aduzindo documentos naturalmente fictícios, do cartário do Mosteiro de Alcobaça, conta na Monarquia Lusitana como Ataces, rei dos Suevos, ganhara Coimbra”].

Mais recentemente Sales Machado em “A Imagem do Teatro” aborda esta peça, mas, estranhamente, jamais analisa a relação do texto com a realização plástica da heráldica conimbricense. Sales Machado por um lado cita, mas posteriormente escamoteia uma muito importante ligação entre as artes visuais e a encenação vicentina ao não dar a importância devida à representação heráldica.

Por fim, P. M. M. Faria refere que "Quem une, portanto, os textos Divisa e Nau, é o móbil da sua criação intrínseco na sua função celebrativa, numa altura privilegiada para a corte exibir e consolidar o seu status mundi, perante si mesma e perante o mundo."

 

Alexandre, P.M. Uma patranha heráldico-genealógica de Gil Vicente: «A comedia sobre a devisa da cidade de coimbra» e o brasão-de-armas de Coimbra. In: Alicerces. Revista de Investigação, Ciência Tecnologia e Arte. Ano VI, n.º 6. 2016, julho. Lisboa, Instituto Politécnico de Lisboa. Pg. 65-88. Acedido em https://repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/8644/1/revista_alicerces6_2016_pv.pdf.

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por Rodrigues Costa às 10:24

Sexta-feira, 16.04.21

Contributos para a toponímia da região de Coimbra

O Dr. Mário de Araújo Torres colocou mais uma pedra, a quinta pedra, no caminho que vem percorrendo na divulgação de obras sobre a história de Coimbra.

Caminho a todos os títulos louvável e muito meritório que passa pela reedição, acompanhada por comentários da sua responsabilidade, de obras há muito esgotadas. Redições por inteiramente custeadas.

Refiro-me, hoje, ao lançamento do livro Contributos para a toponímia da região de Coimbra.

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Obra que Mário de Araújo Torres descreve da seguinte forma.

Prosseguindo a reedição de obras sobre a história da cidade de Coimbra e sua região, recolhem-se na presente coletânea um conjunto de textos relacionados com a toponímia conimbricense.

Trata-se de testos originariamente saídos em publicações periódica: os de José Leite de Vasconcelos e de Amadeu Ferraz de Carvalho na revista «O Instituto» em 1934, o de Vergílio Correia na revista «Biblos» em 1940, e o de Joaquim da Silveira na «Revista Lusitana» entre 1913 e 1941, tendo dos três primeiros sido extraídas separatas de reduzida tiragem, o que torna difícil o seu acesso à generalidade do público.

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Apesar de esses textos partilharem diversificadas preocupações cientificas (arqueológicas, etnográficas, filológicas e etimológicas), em todos se recolhem importantes contributos para a toponímia de Coimbra e região.

Em complemento, reproduzem-se nas partes correspondentes à área do atual distrito de Coimbra, os dados constantes do «Numeramento do Reino de Portugal», ordenado por D. João III, em 1527, integrados nos registos das então designadas Comarcas da Estremadura e da Beira. Esse primeiro censo populacional feito em Portugal, documento fundamental para a história da demografia portuguesa, reveste-se de relevante interesse para o estudo da evolução da toponímia da região.

Pela minha parte fica um agradecimento público, o qual julgo partilhado por muitos outros conimbricenses.

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 23:02

Quinta-feira, 15.04.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 15

Ao lado do Parque de Regalo dos crúzios rasga-se a Rua Lourenço de Almeida Azevedo

Pouco depois de ser aberta, em 1891, a Rua Lourenço de Almeida Azevedo começa a povoar-se de moradias: logo no início duas casas inserem a sua gramática decorativa num revivalismo medieval que se relaciona com a ideologia romântica e, simultaneamente, evidenciam uma forte ligação com os canteiros da ELAD.

A primeira, patenteia um pseudominarete a apontar para construções mouriscas, quase inexistentes na região de Coimbra, e o seu risco saiu, de acordo com a tradição oral e sem qualquer documento que o outorgue, da mão do arquiteto Silva Pinto. Contudo, devido à mais que dúbia qualidade dos modelos existentes ou, com uma maior margem de probabilidade, pelo gosto se encontrar desenquadrado no contexto citadino, a verdade é que o neomudéjar não teve grande impacto no ambiente artístico local.

A outra, de autor desconhecido, com a fachada decorada dentro do gosto românico (interiormente a forma como a casa se encontra programada nada tem a ver com o período medieval) aponta para o segundo romantismo que busca a “nossa arquitetura” na época da fundação de Portugal e, consequentemente, no estilo românico. Além disso, deve estar intimamente relacionada com a intervenção levada a cabo, mais ou menos por essa altura, na Sé Velha e que não podia deixar de influenciar o mundo artístico mondeguino.

António Augusto Gonçalves bateu-se com firme determinação para que o restauro do templo se transformasse de utopia em realidade e os artistas que frequentavam a Escola Livre, e à sua volta gravitavam, permitiram-lhe concretizar o sonho, obviamente com a aquiescência do bispo da diocese, D. Manuel Correia de Bastos Pina. A influência do templo restaurado é de tal forma notória no edifício que esta moradia passou vulgarmente a ser conhecida pelo nome de “Casa da Sé”. A sua fachada ostenta um corpo central mais avantajado e ameado; o piso superior é rompido por cinco portas, sendo a central mais larga e trabalhada do que as restantes; quatro gárgulas dão vazão às águas que escorrem do telhado.

Fig. 21. Casa da Sé. Pormenor. [Foto Daniel Tiago

Fig. 21 – Casa da Sé. Pormenor. [Foto Daniel Tiago]

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Casa da Sé, pormenor. Foto RA.

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Casa da Sé, pormenor. Foto RA

Face à semelhança verificada entre esta moradia e o velho templo catedralício aeminiense atrevo-me a apontar o nome de António Augusto Gonçalves como sendo o autor do risco, pois não olvido que foi da sua mão que saiu o projeto documentado e datado, do templo do Divino Senhor da Serra, de Semide.

A construção de casas que saíssem da vulgaridade e atestassem o poder económico dos seus donos estava, como já se referiu, dentro dos parâmetros mentais de então.

Um pouco mais acima, com desenho de Raul Lino, ergue-se uma outra moradia que também merece ser referenciada. Infelizmente ignoro o nome do encomendante, desconheço o projeto e a data da sua construção.

 

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Casa riscada por Raul Lino. Foto RA

Casa riscada por Raul Lino. Pormenor [Foto RA].jpg

Casa riscada por Raul Lino, pormenor. Foto RA

A Rua Lourenço de Almeida Azevedo desdobra-se à esquerda de quem, a partir da Praça da República, olha para o Jardim da Sereia, local onde os frades crúzios, outrora, viviam momentos de lazer e no lado oposto, isto é, à direita do observador, abre-se a via que permite unir o Largo D. Luís à Rua de Tomar: trata-se da Rua Almeida Garrett. Logo no início desta via existe uma casa que tem a ornamentar os aventais das janelas vistosos frisos cerâmicos da autoria de Miguel Costa.

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes.

 

Tags: Coimbra séc. XIX, Coimbra séc. XX, Alargamento do espaço urbano, Rua Lourenço de Almeida Azevedo, Silva Pinto arquiteto, Casa da Sé, Raul Lino arquiteto, António Augusto Gonçalves, Jardim da Sereia, Largo D. Luís ver Praça da República, Rua de Tomar, Rua Almeida Garrett,

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por Rodrigues Costa às 21:33

Terça-feira, 13.04.21

Coimbra: Comedia Sobre a Devisa da Cidade de Coimbra 1

A Comedia Sobre a Devisa da Cidade de Coimbra foi escrita em 1527 por ocasião da estada em Coimbra do rei D. João III e sua corte.

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Livro Segundo que he das comédias … Compilação de 1562

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Livro Segundo que he das comédias … Compilação de 1562, pg. 226

Sobre o assunto da mesma é referido pelo próprio Gil Vicente que é uma comédia onde “(…) se trata o que deve significar aquela princesa, leão e serpentes e cales ou fonte que tem por devisa (…)”, ou seja, é o desiderato do autor aventar uma leitura simbólica do brasão-de-armas da citada cidade, aborda ainda “(…) o nome do rio e outras antiguidades (…)”, sobre as quais se afirma perentoriamente que “(…) nam é sabido verdadeiramente seu origem (…)”. Refere que esta “divisa” não seria de criação recente uma vez que informa claramente que esta viria “(…) já d’anteguidade.” O que não será verdade já que as armas que Gil Vicente analisa não são as primeiras usadas pela cidade, mas que apenas terão sido utilizadas a partir do século XIV.

Não é de Gil Vicente a primeira proposta de análise simbólica. A mais antiga que se conhece pode ser encontrada na obra de Rui de Pina «Chronica de El-Rey D. Affonso V», onde aquele coloca na fala do infante D. Henrique uma proposta de leitura que corresponde a uma alegoria à governação do regente infante D. Pedro, na menoridade de D. Afonso V, relativa às relações entre Castela e Portugal, que considera simbolizada no Leão das armas de Castela e na Serpe do timbre de Portugal.

… A peça raramente foi representada. Nos últimos anos, sabe-se que foi levada à cena em Coimbra, pela companhia Escola da Noite em 1993-4, tendo este espetáculo sido reposto em 2004…. A ultima vez que ocorreu ser levada ao palco foi em 2010, sob a designação de Divisa na Escola Superior de Teatro e Cinema como exercício do 2.º ano do curso de Teatro.

I - DAS ARMAS DA CIDADE DE COIMBRA

Uma das mais antigas representações que se conhece do escudo-de-armas da cidade de Coimbra encontra-se no arco do Almedina nesta urbe. Atendendo a que fazem parte de um bloco onde está também figurado o escudo de Portugal, as características deste último permitem datar, o primeiro.

Figura 1 — Pedra esculpida com o escudo de Portu

Figura 1 — Pedra esculpida com o escudo de Portugal e de Coimbra implantada no Arco de Almedina, Coimbra. Fotografia de Nuno Oliveira

Ao contrário do que é afirmado por Mário Nunes: "(...) brasão nacional com bordadura de quatorze castelos, trabalho manuelino", este é claramente anterior o que pode ser confirmado pelo facto de os escudetes estarem ainda apontados ao centro.

A partir do reinado de D. João I o escudo nacional passou a incluir as pontas da cruz da Ordem Militar de Avis, o que só deixou de suceder no tempo de D. João II, altura em que também os escudetes laterais deixaram de estar apontados ao centro e ficaram pendentes, à semelhança dos outros. Assim, acredita-se que a cidade de Coimbra, pelo menos no final da primeira dinastia, já estivesse a usar armas com o campo muito semelhante ao atual.

Paralelamente e ainda segundo Mário Nunes, a introdução no campo do escudo das figuras do leão e do dragão ter-se-á dado no decurso do século XV e quando D. Manuel I conferiu o foral novo àquela cidade, o brasão já estaria "(...) alindado com esses ornamentos." Os escudos que encontramos no Arco de Almedina são efetivamente os mesmos que figuram, embora com alterações cromáticas e um desenho mais naturalista, na iluminura do rosto do foral.

Figura 2 — Detalhe do rosto do Foral de Coimbra,

Figura 2 — Detalhe do rosto do Foral de Coimbra, 1516.

Alexandre, P.M. Uma patranha heráldico-genealógica de Gil Vicente: «A comedia sobre a devisa da cidade de coimbra» e o brasão-de-armas de Coimbra. In: Alicerces. Revista de Investigação, Ciência Tecnologia e Arte. Ano VI, n.º 6. 2016, julho. Lisboa, Instituto Politécnico de Lisboa. Pg. 65-88. Acedido em https://repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/8644/1/revista_alicerces6_2016_pv.pdf.

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por Rodrigues Costa às 11:29

Quinta-feira, 08.04.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 14

Da Estrada dos Jesuítas à Rua Abílio Roque

 Em junho de 1910, António Heitor, Chefe da Repartição das Obras Municipais e condutor, assinava um desenho com o loteamento da “rua n.º 2” da Sá da Bandeira e da que se desenvolvia pegada ao muro da Cerca dos Jesuítas; ou seja da via ascendente da Avenida e da Abílio Roque (atual Padre António Vieira).

Fig. 18. Loteamento Sá da Bandeira e Abílio Roqu

Fig. 18 – Loteamento Sá da Bandeira e Abílio Roque. [AHMC. Repartição de obras municipais. Pasta 18. B-14].

Penso poder afirmar que este desenho, para além de apontar os lotes ainda disponíveis, serviu para confirmar a delimitação de parcelamentos preexistentes, dado que, em data anterior à apresentação do plano, já ali haviam sido construídos edifícios.

Mas a edilidade não se queda por aí e pensa abrir, quiçá em data mais ou menos simultânea ao loteamento apresentado por Heitor para os dois arruamentos, uma via destinada a unir a Abílio Roque à Praça de República. Como este projeto não se encontra nem datado nem assinado aponto para uma data posterior a 1910 dado que o Largo D. Luís já se transmutara em Praça da República, o que aconteceu apenas depois da queda da monarquia.

Fig. 19. Projeto para ligação da Rua Abílio Roq

Fig. 19 – Projeto para ligação da Rua Abílio Roque com a Praça da Republica. [AHMC. Repartição de obras municipais. Posto de desinfestação e outros. Pasta 18. B-14].

 Esta rua, projetada e nunca concretizada, iniciar-se-ia no local onde a Abílio Roque confluía com a Rua de Entre Muros, estender-se-ia nas traseiras do espaço onde funcionou o “Ninho dos Pequenitos”, integrado na obra assistencial do dr. Bissaia Barreto, e desembocava no início da Oliveira Matos, justamente na esquina fronteira à casa que João Francisco dos Santos construíra, nos finais do século XIX, na Praça da República.

Nas traseiras do espaço onde funcionou o Ninho do

Nas traseiras do espaço onde funcionou o “Ninho dos Pequenitos”.

O novo bairro e toda a zona envolvente ia-se pontuando com edifícios e a 29 de outubro de 1914, Joaquim Fernandes dos Santos submete à aprovação camarária um novo projeto (o primeiro fora rejeitado com base na simplicidade das fachadas), a fim de construir quatro casas nos lotes que havia comprado ao cimo da Abílio Roque. Curiosamente, o desenho apresentado mostra seis fachadas e não quatro. Esses edifícios foram construídos e até ao terceiro quartel do século XX mantiveram-se, tendo sido, mais ou menos nessa época, paulatinamente substituídos por prédios mais modernos e funcionais.

Outro tanto não aconteceu com a moradia que se ergue quase no início da rua, logo a seguir à curva e que ainda se mantém de pé. É verdade que a sua construção foi muito mais tardia, pois a 03 de junho de 1940 Albino Pereira da Costa fez dar entrada na devida repartição da edilidade o pedido de autorização para a construção de um edifício que ocuparia os lotes n.os 6 e 7 da referida artéria; esses lotes haviam sido comprados a Joaquim da Costa Neto que os adquirira em 1928.

Fig. 20. Moradia de Albino Pereira da Costa. [Foto

Fig. 20 – Moradia de Albino Pereira da Costa. [Foto RA].

 O requerimento, devidamente instruído, integrava o projeto do imóvel, a inserir-se, como se compreende numa outra linguagem arquitetónica e assinado pelo arquiteto Edmundo Tavares (1892-1983).

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas ArtesLisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

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por Rodrigues Costa às 15:08

Terça-feira, 06.04.21

Coimbra: Evolução do Brasão do Concelho 4

Ainda como elementos interessantes para as armas de Coimbra, venho dizer que a pág. 74 da II parte da Crônica da Ordem dos Cónegos Regrantes do Patriarca S. Agostinho, de D. Nicolau de S. Maria, Lisboa, 1668, vem a descrição de uma procissão que da Sé de Coimbra seguia com relíquias de santos para o Mosteiro de Santa Cruz da mesma cidade, em 29 de outubro de 1595, onde existe um período, a pág. 78, que interessa às armas de Coimbra, que é o seguinte:

 «Neste dia estauão já aparelhadas diuersas estancias pellas ruas por onde hauia de passar a procissão das Santas Reliquias, & as ruas todas armadas, & juncadas de flores, &. eruas cheirosas, mas por nâo sermos compridos nesta relação, faremos só menção da primeira estancla, que pera receber tam precioso thezouro se offerecia no principio da rua junto á Sé. Estaua esta estancia ornada com dous arcos vestidos de varias sedas, semeadas com varios frutos de cera muito ao natural, no meio dos arcos estaua hua fermosa Dama posta no theatro de joelhos entre Serpe & Leão, com as mãos ao Ceo leuantadas, que representaua a nobre, &. sempre leal Cidade de Coimbra, em cujas mãos fazia Deos a entrega real de tam grande thesouro de Relíquias & estaua de joelhos, & com as mãos leuantadas, como dando as graças ao mesmo Deos, & Senhor, por tam alta mercê, & beneficio.»

 Nota – No intervalo que vai de 18 de maio de 1932, em que escrevi estes elementos foram apresentados, até agora, mais uma conjetura se me formou no espirito sobre a entrada do leão e do dragão nas armas de Coimbra.

Como foi em Coimbra que teve base uma nova orientação da política portuguesa, no momento em que naquela histórica cidade foi aclamado D. João I, não daria este facto notável da História de Portugal motivo a colocar nas respetivas armas, como que amparando e, portanto, protegendo a figura simbólica da cidade, os timbres das armas de D. João I (o dragão) e da Rainha D. Filipa de Lencastre (o leão)?

MNAA. D. João I. Autor anónimo.jpg

MNAA. D. João I. Autor anónimo. Acedido em https://pt.wikipedia.org/wiki/Cortes_de_Coimbra_de_1385

D. .João I, eleito rei de Portugal nas segundas C

D. João I, eleito rei de Portugal nas segundas Cortes de Coimbra. Acedido em https://www.infopedia.pt/$cortes-de-coimbra

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Brasão de D. Filipa de LancastreAcedido em 5729471997_09d94099a3.jpg (375×500) (flickr.com)

Brasão de Armas e Bandeira Quadrada de D. João I

Brasão de Armas e Bandeira Quadrada de D. João I. Acedido em https://www.pinterest.pt/pin/524950900291616754/

Este meu novo pensamento sobre o assunto nasceu de muito ter lido e estudado a história de Coimbra com o desejo de encontrar uma razão satisfatória para a existência de um leão na composição das mesmas armas.

O dragão, enfim, poderia ser uma interpretação da cobra das antigas armas. É mais uma suposição que pode ser aceite, pelo menos, pelas pessoas que conhecem a organização e ordenação da heráldica.

Dornelas, A. Os Selos da Cidade de Coimbra. In: O Instituto, Vol. 88.º. 1935. Pg. 5-16. Acedido em https://digitalis-dsp.uc.pt

 

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por Rodrigues Costa às 19:25

Quinta-feira, 01.04.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 13

O novo Bairro de Santa Cruz (Continuação)

Tal como aconteceu com o Teatro-Circo, adiante referido, e como vai suceder com outros imóveis considerados de interesse para a cidade, o terreno para a Associação Comercial e Industrial de Coimbra também foi cedido pela edilidade mediante a concessão de uma redução no preço, embora com a condição de ali ser instalada uma escola prática destinada a permitir aos jovens a aprendizagem das técnicas essenciais à vida económica.

Edificio da Associação Comercial.jpg

Edifício da Associação Commercial

Assina o projeto Manuel Gonçalves de Campos que, sob o seu nome apõe um “A.” passível de o identificar como arquiteto. Até ao momento não consegui obter qualquer informação relacionada com o alarife em causa.

Francisco António dos Santos, Filho lavrou as cantarias; ele próprio o confessou a Abreu d’Aguiar Oteda, quando este o entrevistou para a crónica “A arte e os artistas de Coimbra”, por altura da sua nomeação como professor interino da Escola Brotero, em substituição de João Machado, artista com quem, pese embora o teor da conversa, rivalizava.

Abreu d’Aguiar Oteda manteve em “O Despertar”, durante bastante tempo, esta crónica e nela publicava as entrevistas que ia fazendo aos mais diversos artistas da cidade.

Associação Comercial e Industrial de Coimbra. Po

Associação Comercial e Industrial de Coimbra, pormenor. Foto RA

No mesmo ano em que foi solicitada à edilidade a aprovação do desenho destinado à sede da ACIC, Francisco Barreto Chichorro apresentava também, a fim de lhe ser concedida a licença e o alinhamento, o projeto da casa que pretendia construir na Sá da Bandeira; assinava-o Bernardino José, construtor de Obras Públicas, de quem não encontrei, ao longo da investigação, mais nenhuma referência.

O então presidente da Câmara, Marnoco e Sousa, deferiu o requerimento a 22 de julho de 1909. Do edifício, uma moradia geminada, salientam-se apenas as sucessivas aberturas neobarrocas da platibanda e os dois, acrescentados ao desenho inicial, pseudofrontões destinados, possivelmente, enriquecer a fachada.

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Casa de Francisco Barreto Chichorro. Foto RA.

Casa de Francisco Barreto Chichorro. Pormenor [Fot

Casa de Francisco Barreto Chichorro, pormenor. Foto RA

Do mesmo lado, no local onde mais tarde foi edificada uma garagem que atualmente virou banco, isto é, entre a casa de Francisco Chichorro,

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Garagem que atualmente virou banco. Foto RA.

e o atual (2016) edifício sede da Polícia Municipal,

Edificio da Polícia Municipal. Foto RA.jpg

Edifício sede da Polícia Municipal. Foto RA.

 onde funcionou, durante largos anos, o quartel dos bombeiros municipais, construiu-se um picadeiro, que teve vida efémera.

Em 1908 já fora aprovado pela autarquia o projeto do imóvel do picadeiro, a construir em terrenos que haviam sido cedidos em condições idênticas aos do Teatro-Circo, visto ambos se destinarem a melhoramentos públicos. O risco foi elaborado pelo “habil constructor civil” João Gaspar Marques Neves e “o professor do picadeiro será o sr. D. João de Mello, professor da Escola Nacional d’Agricultura, muito habil e muito competente”.

O Noticias de Coimbra ainda acrescentava que “tendo fallado em melhoramento com que esta cidade vae ser dotada, resta-nos dizer que elle se deve aos srs. Francisco e Miguel Barreto Chichorro, que bem podem ser considerados dois benemeritos, porque, se não fossem elles, Coimbra não teria tão depressa uma escola de cavalaria”, onde também se ensina, para além da equitação, “ginástica, jogos de armas, etc. para a educação física mais completa”.

O referido estabelecimento “encontra-se em magníficas condições e veio preencher uma lacuna que há muito se fazia sentir na cidade”, mas pouco tempo volvido após ter iniciado a sua atividade, por motivo de doença ou afazeres, os proprietários anunciam que arrendam ou vendem o picadeiro.

A partir desta data ignoro o que se terá passado, mas, nem mesmo os mais idosos, retém na memória e existência, em Coimbra, desta escola de equitação.

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas ArtesLisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

 

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por Rodrigues Costa às 18:35


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