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O novo Bairro de Santa Cruz (Continuação)
A Avenida Sá da Bandeira, verdadeiro boulevard conimbricense, mostra, na sua conceção, aspetos haussmannianos: ruas largas a ladearem uma zona ajardinada que dão acesso a uma praça de onde partem, em diversas direções, vias de comunicação.
Av. Sá da Bandeira, c. 1920
No entanto, é bem provável que na base da sua abertura não se encontrassem presentes teorias urbanísticas eruditas e academizantes, mas sim o conhecimento das necessidades reais do alargamento urbano da cidade dentro de um contexto pragmático passível de se adaptar às caraterísticas do espaço disponível.
A Sá da Bandeira, que vale pelo conjunto, ainda hoje apresenta, embora vilmente mutilada, marcas de uma mentalidade e de um espírito bem característicos da época em que foi traçada. Trata-se de uma zona que deve ser preservada pela autarquia e pelos conimbricenses. Integra a memória coletiva da cidade e a urbe, como qualquer um de nós, não pode sobreviver sem raízes.
Como já mencionei, para a nova zona urbana foram pensados alguns edifícios que jamais ultrapassaram a fase de projeto; entre estes pode referir-se o que se destinava a sede da Associação dos Artistas de Coimbra.
Olímpio Nicolau Rui Fernandes
A coletividade, criada em 1862, teve como fundador e principal dinamizador Olímpio Nicolau Rui Fernandes, homem que, nascido em Lisboa, se radicara em Coimbra, onde exerceu o cargo de Administrador da Imprensa da Universidade.
Entre 1862 e 1866, data em que passou a ocupar o refeitório dos frades crúzios, a Associação terá utilizado, a fim de aí poder ministrar as aulas, um outro qualquer espaço.
Já depois da morte do fundador, no final da centúria, mais concretamente em 1895, a direção encarregou “o hábil e acreditado conductor de obras públicas, o sr. Eduardo Augusto de Parada e Silva Leitão” de elaborar o projeto da sua nunca construída sede que, de acordo com as informações insertas nos periódicos locais, se exteriormente se inseria no gosto neorromânico, no interior utilizava o neogótico.
Mas se a sede da Associação dos Artistas de Coimbra ficou no papel, outro tanto se não pode dizer da Associação Comercial e Industrial de Coimbra que então girava sob o nome de Associação Comercial de Coimbra. O vice-presidente da direção, José Martins dos Santos, requere à edilidade, a 07 de setembro de 1909, autorização para “construir uma casa para a sua sede” no “talhão n.º 3” da Avenida Sá da Bandeira.
O edifício, construído durante a presidência de João de Moura Marques, foi inaugurado a 01 de janeiro de 1912, com pompa e circunstância, a deixar claramente sentir o republicanismo exacerbado dos promotores e, provavelmente também, alguma ideologia maçónica. A notícia da inauguração do edifício, inserta na Gazeta de Coimbra (n.º 54, 1912.01.03), comprova amplamente este posicionamento.
A fachada do imóvel insere-se dentro do gosto Arte Nova e, porque utiliza linhas bastante duras e carregadas, falta-lhe a leveza e a graciosidade que caracterizam o estilo. De qualquer forma, trata-se de uma aproximação à moderna estética europeia. Do interior, tem de se destacar o grande “salão que deve comportar mais de 500 pessoas [e que] fica sendo um dos maiores e mais bonitos desta cidade”.
Fig. 17 – Associação Comercial e Industrial de Coimbra. [Foto RA].
Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf
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