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A' Cerca de Coimbra



Terça-feira, 30.03.21

Coimbra: Evolução do Brasão do Concelho 3

No parecer sobre as armas de Coimbra, que formulei em setembro de 1930, transcrevi umas referendas feitas pelo Sr. Dr. Simões de Castro num trabalho intitulado «O Brasão de Coimbra» e publicado em 1895 na revista «O Instituto».

Os dois últimos selos de Coimbra.jpg

Os dois últimos selos de Coimbra: à esquerda, o que se usou até 1930: à direita o atual.

Era o seguinte

No «Catalogo dos bispos de Coimbra» de Pedro AIvares Nogueira (manuscrito existente no cartório da Sé d'esta cidade, hoje publicado nas «Instituições Christãs» por diligencia do sr. Cónego Prudêncio Quintino Garcia) havíamos lido a pág. 7: As armas de que usava esta cidade não eram as que agora vemos comummente pintadas; mas era somente um rosto de uma mulher com uma touca grande, e as pontas da touca lhe chegavam até ao ombro de cada parte e com uma coroa de rainha na cabeça … Depois. disto usaram de outras armas, que eram um vaso no qual aparecia uma mulher dos peitos para riba com uma coroa na cabeça. E ao pé do vaso estava uma cobra que parece que andava… Depois se mudaram estas armas da maneira por que vemos, porque puseram neste vaso de uma parte uma serpente, da outra um leão; a razão destas mudanças e das armas deixamos aos curiosos.

primeiro dos treze selos citados por Pedro Alvares Nogueira, consistia apenas n'um busto de uma «Mulher com uma touca grande, as pontas da touca lhe chegavam até ao ombro de cada parte e com uma coroa de rainha na cabeça.» [Este selo foi casualmente encontrado pelo] Sr. Dr. Rui de Azevedo, quando procedia a buscas de assuntos diferentes, no Arquivo da Torre do Tombo, Caixa 25 da Coleção Especial, 2.ª parte.

Dos documentos assim selados, segundo a amável leitura do Sr. Dr. Laranjo Coelho, consta o seguinte:

Carta de venda de urna vinha, no sitio denominado Algeara, termo de Coimbra, que fazem Egídio Salvador e sua mulher D. Maria, a Domingos Fernandes, clérigo, datada do mês de novembro da era de 1278. Tem pendente um sêlo de cera vermelha com a inscrição que parece dizer – Sigillum Concilie Colimbrie – Maço 3. Caixa 25, Parte II da Coleção Especial.

Carta de venda de uma casa com sobrado que fazem Pedro Gonçalves Chasco e sua mulher, a João Fernandes, clérigo, de Coimbra, datada do mês de julho da era de 1283 (1245). Tem pendente um selo de cera vermelha no qual parece ler-se a inscrição Sigillum Concilie Colimbrie – Maço 3. Caixa 25, Parte II da Coleção Especial.

Sigillum Concilie Colimbrie.jpg

Sigillum Concilie Colimbrie

 Por aqui se demonstra que até 1245 era usado este selo.

O Dr. Simões de Castro, mais adiante, no seu trabalho citado, refere-se a um escrito de 1265 que já descreve o selo com a cobra e a taça, ou seja, o selo que aparece no documento da aclamação de D. João I em 1385. Esta referência é tirada de um manuscrito de D. José de Cristo, existente na Biblioteca Pública Municipal do Porto.

Este elemento será verídico? De facto, em 1265 já teria aparecido este selo? Por enquanto, o único documento conhecido com tal é de 1365, e assim atribuir poderíamos atribuir os acrescentamentos feitos às armas de Coimbra, ou a factos da vida do Rei D. Dinis e de sua mulher a Rainha Santa Isabel, ou à vida de D. Inês de Castro.

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© DGPC| Arquivo do MNMC. 6344, E594

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© DGPC| Arquivo do MNMC. 6347, E597

É este outro ponto que falta esclarecer: saber a data exata em que foi acrescentado o selo de Coimbra com a cobra, a taça, as flores e os escudetes das quinas acompanhando o busto que já vinha do selo anterior.

Dornelas, A. Os Selos da Cidade de Coimbra. In: O Instituto, Vol. 88.º. 1935. Pg. 5-16. Acedido em https://digitalis-dsp.uc.pt

 

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por Rodrigues Costa às 20:05

Quinta-feira, 25.03.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 12

O novo Bairro de Santa Cruz (Continuação)

A Avenida Sá da Bandeira, verdadeiro boulevard conimbricense, mostra, na sua conceção, aspetos haussmannianos: ruas largas a ladearem uma zona ajardinada que dão acesso a uma praça de onde partem, em diversas direções, vias de comunicação.

Avenida Sá da Bandeira. c. 1920.jpg

Av. Sá da Bandeira, c. 1920

No entanto, é bem provável que na base da sua abertura não se encontrassem presentes teorias urbanísticas eruditas e academizantes, mas sim o conhecimento das necessidades reais do alargamento urbano da cidade dentro de um contexto pragmático passível de se adaptar às caraterísticas do espaço disponível.

A Sá da Bandeira, que vale pelo conjunto, ainda hoje apresenta, embora vilmente mutilada, marcas de uma mentalidade e de um espírito bem característicos da época em que foi traçada. Trata-se de uma zona que deve ser preservada pela autarquia e pelos conimbricenses. Integra a memória coletiva da cidade e a urbe, como qualquer um de nós, não pode sobreviver sem raízes.

Como já mencionei, para a nova zona urbana foram pensados alguns edifícios que jamais ultrapassaram a fase de projeto; entre estes pode referir-se o que se destinava a sede da Associação dos Artistas de Coimbra.

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Olímpio Nicolau Rui Fernandes

A coletividade, criada em 1862, teve como fundador e principal dinamizador Olímpio Nicolau Rui Fernandes, homem que, nascido em Lisboa, se radicara em Coimbra, onde exerceu o cargo de Administrador da Imprensa da Universidade.

Entre 1862 e 1866, data em que passou a ocupar o refeitório dos frades crúzios, a Associação terá utilizado, a fim de aí poder ministrar as aulas, um outro qualquer espaço.

Já depois da morte do fundador, no final da centúria, mais concretamente em 1895, a direção encarregou “o hábil e acreditado conductor de obras públicas, o sr. Eduardo Augusto de Parada e Silva Leitão” de elaborar o projeto da sua nunca construída sede que, de acordo com as informações insertas nos periódicos locais, se exteriormente se inseria no gosto neorromânico, no interior utilizava o neogótico.

Mas se a sede da Associação dos Artistas de Coimbra ficou no papel, outro tanto se não pode dizer da Associação Comercial e Industrial de Coimbra que então girava sob o nome de Associação Comercial de Coimbra. O vice-presidente da direção, José Martins dos Santos, requere à edilidade, a 07 de setembro de 1909, autorização para “construir uma casa para a sua sede” no “talhão n.º 3” da Avenida Sá da Bandeira.

O edifício, construído durante a presidência de João de Moura Marques, foi inaugurado a 01 de janeiro de 1912, com pompa e circunstância, a deixar claramente sentir o republicanismo exacerbado dos promotores e, provavelmente também, alguma ideologia maçónica. A notícia da inauguração do edifício, inserta na Gazeta de Coimbra (n.º 54, 1912.01.03), comprova amplamente este posicionamento.

A fachada do imóvel insere-se dentro do gosto Arte Nova e, porque utiliza linhas bastante duras e carregadas, falta-lhe a leveza e a graciosidade que caracterizam o estilo. De qualquer forma, trata-se de uma aproximação à moderna estética europeia. Do interior, tem de se destacar o grande “salão que deve comportar mais de 500 pessoas [e que] fica sendo um dos maiores e mais bonitos desta cidade”.

Fig. 17. Associação Comercial e Industrial de Co

Fig. 17 – Associação Comercial e Industrial de Coimbra. [Foto RA].

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia  Nacional de Belas ArtesLisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

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por Rodrigues Costa às 11:12

Terça-feira, 23.03.21

Coimbra: Evolução do Brasão do Concelho 2

Eu concordo que muitos autores, copiando-se, tenham repetido que a dama sai da taça, mas no selo que existe no célebre documento das Côrtes de Coimbra em que D. João é feito Rei de Portugal, é que nem por sombras a representação da taça tem tal atribuição e, além disso, antes deste selo, houve outro (como abaixo demonstrarei) em que a taça nem aparece.

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Os dois mais antigos selos de Coimbra: à esquerda, o primitivo; à direita o que autentica o acto de aclamação de D. João I.

 A minha opinião é que, na desarrumação que fizeram depois de D. João I ao mesmo selo, procuraram arranjar melhor simetria, colocando a taça ao centro e, então, o busto que estava em chefe, passou a figurar sainte da taça, sendo isto um erro facílimo de suceder.

Quando um dia se encontrar um documento ou uma referência ao acrescentamento que fizeram às armas de Coimbra, então se verá qual foi a intenção do ordenador dessas armas e talvez se demonstre que nunca houve a intenção de meter o busto da mulher dentro da taça.

O que é possível é que houvesse a ideia de fazer desaparecer a taça, passando a representar-se o busto com o respetivo pedestal.

Enfim, é uma investigação que ainda não está terminada, sendo provável que só termine quando aparecer o tal documento ou referência que nos diga quando entrou o leão nas armas de Coimbra, portanto, quando lhe deram essa arrumação pondo a taça ao centro. Infelizmente, no Museu de Machado de Castro, só aparecem esculturas posteriores a D. João I; portanto, todas têm já o leão.

Também foi transformada outra peça das mesmas armas; a primitiva cobra, que aparece no selo que está no documento da aclamação do Rei D. João I, passou depois a ser uma serpe alada.

Nas esculturas do Museu de Machado de Castro, reproduzidas nos estudos referidos dos srs. António Gonçalves e Simões de Castro, só aparece a cobra em duas das esculturas; nas outras, já esta figuração é fantástica, com asas e cabeça de formas esquisitas, e até com braços e garras.

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© DGPC| Arquivo do MNMC. 710; E589

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© DGPC| Arquivo do MNMC. 6345, E595 (em madeira)

Dornelas, A. Os Selos da Cidade de Coimbra. In: O Instituto, Vol. 88.º. 1935. Pg. 5-16. Acedido em https://digitalis-dsp.uc.pt

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por Rodrigues Costa às 19:02

Quinta-feira, 18.03.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 11

O novo Bairro de Santa Cruz (Continuação)

 No lado oposto da então Rua Sá da Bandeira, junto à antiga Fonte Nova, ainda hoje se pode observar um prédio para rendimento mandado construir, depois de 1915, por duas senhoras que, julgo, seriam irmãs: Idalina Preciosa de Almeida e Adelaide Conceição Almeida.

Casa de Idalina Preciosa de Almeida e Adelaide Con

Casa de Idalina Preciosa de Almeida e Adelaide Conceição Almeida. Foto RA.

Casa de Idalina Preciosa de Almeida e Adelaide Con

Casa de Idalina Preciosa de Almeida e Adelaide Conceição Almeida, pormenor. Foto RA.

O projeto foi riscado pelo construtor civil diplomado, inscrito nas Obras Públicas de Coimbra, João Gaspar Marques das Neves. O autor, como os terrenos naquela zona eram bastante húmidos e uma vez que a fachada posterior deitava para sul, “procurou captar a concentração do calôr pelo recinto que se acha entre os refeitorios, tendo dado a devida luz e ar a todos os compartimentos”, preocupações bem de acordo com os preceitos higienistas da época.

O prédio em questão não apresenta, estruturalmente, qualquer laivo de modernidade. A sua especificidade advém-lhe da decoração utilizada, quer nos azulejos, quer no trabalho de cantaria ou até mesmo no das grades.

Continuando a pôr de lado a cronologia, olhemos para o edifício que, um pouco mais acima do anteriormente referido, em 1913, António Mizarela e Augusto Lopes fizeram construir na nova artéria citadina. O imóvel que, ao nível da fachada, mostra aquilo a que, quiçá impropriamente, se pode apelidar de laivos de Arte Nova, ostenta oito painéis cerâmicos destinados a ornamentar lateralmente os pés-direitos das janelas principais saídos das mãos do pintor-azulejista Miguel Costa.

Casa decorada com azulejos da autoria de Miguel Co

Casa decorada com azulejos da autoria de Miguel Costa. Foto RA.

O ceramista utiliza nos azulejos que pintou um colorido intenso e brilhante, as paisagens campestres e fluviais surgem envoltas por malmequeres, papoilas, rosas e amores-perfeitos; num desses quadros, de entre as papoilas, sobressai a ‘barca serrana’, velha de séculos, que durante tantos anos prestou relevantes serviços não só à população ribeirinha do Mondego, como também àquela que residia no interior da Zona Centro.

 

Fig. 16. Casa decorada com azulejos da autoria de

Fig. 16 – Casa decorada com azulejos da autoria de Miguel Costa. Pormenor de uma janela. Foto RA.

Mas o transeunte apressado mal se dá conta, se é que se dá mesmo conta, da beleza desses azulejos, embora sejam eles, conjuntamente com outros pequenos-grandes nadas que, no fundo, conferem caráter a uma cidade.

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia  Nacional de Belas ArtesLisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em: https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

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por Rodrigues Costa às 11:39

Terça-feira, 16.03.21

Coimbra: Evolução do Brasão do Concelho 1

Formulado o parecer sobre a evolução porque tem passado as armas da cidade de Coimbra e sobre a forma de as ordenar presentemente, colhendo do estudo feito os dados que mais salientam o brilho histórico e sentimental de tão notável cidade, apresentei-o à Secção de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses, que o aprovou em setembro de 1930, sendo imediatamente enviado à Câmara Municipal daquela cidade, que também concordou com o mesmo parecer, conseguindo do Governo a seguinte confirmação:

«Portaria n.º 6956 - Manda o Governo da Repüblíca Portuguesa, pelo Ministro do Interior, que a constituição heráldica das armas daquele município seja a seguinte: De vermelho com uma taça de ouro realçada de púrpura, acompanhada de uma serpe alada e um leão batalhantes, ambos de ouro, armados e lampassados de púrpura. Em chefe, um busto de mulher coroado de ouro, vestido de púrpura e com manto de prata, acompanhado por doís escudetes antigos das quinas, Colar da Torre e Espada.

Brasão de Coimbra.png

Brasão de Coimbra. Acedido em https://pt.wikipedia.org/wiki/Coimbra#/media/Ficheiro:CBR.png

Bandeira com um metro quadrado, quarteado de amarelo e de púrpura. Listel branco com letras pretas, Cordões e borlas de ouro e púrpura. Lança e haste de ouro

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Bandeira de Coimba. Acedido em https://pt.wikipedia.org/wiki/Coimbra#/media/Ficheiro:CBR.png

Regulado o assunto por esta forma e baseado nos elementos que constitulrarn o referido parecer, posso hoje confirmar que um dos principais argumentos que fortalecem o critério da representação do busto de mulher nas mesmas armas, nada tem com a taça que em certa altura começou a aparecer na composição do selo de Coimbra.

No n.º 3 do ano 1.º da Revista do Conselho de Arte e Arqueologia, vêm incluídos dois interessantes artigos, a que me vou referir:

O primeiro intitula-se «O brasão da cidade apôsto em casas foreiras» e é da autoria do ilustríssimo arqueólogo Antonio Augusto Gonçalves, tão notável por variados méritos.

Começando por relatar o facto criminoso de no primeiro terço do século XIX ter sido permitido pela Câmara Municipal de Coimbra que um sonhador de tesouros escondidos escavacasse uma escultura existente no arco de Almedina, que representava o busto de mulher coroada que sempre apareceu nas armas de Coimbra, por supor ali escondido um rico tesouro,

Torre de Almedina, sendo perceptíval a mutilaçã

Torre de Almedina, sendo perceptíval a mutilação do brasão. Acedido em https://pt.wikipedia.org/wiki/Porta_e_Torre_de_Almedina.

passa a citar o facto interessante de já vigorar em 1503 a obrigação dos enfiteutas colocarem frontaria dos prédios Ioreiros à cidade.

A propósito deste facto, refere-se aos 12 exemplares destas esculturas existentes actualmente no Museu de Machado de Castro, dos quais reproduz 10, tendo todos o busto de mulher sainte duma taça.

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Pedra colocada sobre a porta de uma foreira da Câmara. © DGPC| Arquivo do MNMC. 708, E587

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Pedra colocada sobre a porta de uma foreira da Câmara. © DGPC| Arquivo do MNMC. 6348, E598.

Estas referências são da maior importância para o estudo das armas de Coimbra, pois que estando determinado que os enfiteutas colocassem uma lápide com as armas da cidade na frontaria do prédio foreiro, ficamos sabendo que essas armas eram esculpidas por qualquer artista medíocre, que trabalhasse mais barato, e então, desde que um pôs o busto de mulher sainte duma taça, é natural que, inconscientemente, todos o copiassem, e, por tal forma este processo foi repetido, que o costume quási passou a ser lei.

O Senhor Antônio Augusto Gonçalves, referindo-se aos autores dessas esculturas, diz:

Pertencem à produção desses grupos de artifices desalumiados, a que se atribuem as obras destituídas de intenção e de carácter, sem rumo e sem norte, à mercê das sugestões do momento. Por isso a classificação cronológica não é fácil, visto que lhe faltam lndtcíos definidos e acentuados. Com raras excepções, só hipotetícamente se poderão descobrir lnflüências de estilo.

… Vendo as reproduções das ingénuas esculturas citadas, e não se sabendo que houve tempo em que nas armas de Coimbra apareceu uma taça, qualquer pessoa dirá que se trata apenas de um busto com seu pedestal e não de uma taça tendo um busto de mulher sainte.

A ligação do peito da mulher à taça, foi feita inconscientemente, e naturalmente os diferentes artistas estavam convencidos de que se tratava efectivamente de um busto com o respectivo pedestal para se colocar sôbre um móvel.

Vejamos agora o segundo artigo publicado no citado número da revista intltulada «Arte e Arqueologia»: «Brasões de Coirnbra no Museu Machado de Castro pelo erudito escritor Augusto Mendes Simões de Castro, que tantos trabalhos já tem sôbre o selo e armas da histórica cidade de Coimbra.

Começo por transcrever o 3.° período deste interessantíssimo artigo:

No «Indice Chronologíco dos Pergaminhos e Foraes existentes no archivo da Camara Municipal de Coimbra» por João Correia Ayres de Campos, 2.ª edição (1875), pags. 57 e 58, vem citada uma sentença datada de 29 de Maio de 1503, [onde é referido] «dentro de dous meses da Ieitura d'este em diamte poer na parede sobre ho portall da dita casa hua pedra de dous palmos de lomguo e dous de larguo q sera assy emlleuada ê que sse ponhã as armas da dita cidade E teera letras q dlguã esta casa he da cydade de Coimbra …»

O Sr. Dr. Sirnões de Castro transcrevendo esta interessantíssima referência sôbre a utilidade da heráldica de domínio, trata, no seu artigo, das esculturas existentes no Museu de Machado de Castro, e referentes à sinalização dos prédios foreiros à cidade de Coimbra, dando a entender que, nas armas de Coimbra, a taça não tem outra representação que não seja a de servir para dela sair o busto da mulher.

Dornelas, A. Os Selos da Cidade de Coimbra. In: O Instituto, Vol. 88.º. 1935. Pg. 5-16. Acedido em https://digitalis-dsp.uc.pt

Em ordem às imagens das pedras estavam colocadas sobre as portas das casas foreiras da Câmara de Coimbra e hoje estão guardadas no Museu Nacional de Machado de Castro, agradecemos aos Técnicos daquele Museu, Drs. Pedro Ferrão e Jorge Venceslau, a ajuda na sua localização.

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por Rodrigues Costa às 11:22

Quinta-feira, 11.03.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 10

O novo Bairro de Santa Cruz (Continuação)

 Um pouco mais acima ergue-se a Escola de Santa Cruz.

Em 1904, quando o arquiteto Adães Bermudes veio propositadamente à cidade, a fim de estudar a possibilidade de alargar a escola de S. Bartolomeu e de ver o local onde, na então Rua Sá da Bandeira, se devia edificar a nova escola primária, não era a primeira vez que se pensava em fazer erguer, naquela área, um complexo escolar, pois a Câmara Municipal, na sessão de 25 de abril de 1889, dera o seu aval à planta do “grandioso edifício” que se projetava construir no novo Bairro de Santa Cruz para esse fim, embora pensasse em o levantar num largo que já estava terraplenado em frente ao jogo da bola, virado para os Arcos de S. Sebastião, ou seja, num dos lados da atual Praça da República.

O local apontado para edificar a chamada Escola de Santa Cruz, ao tempo da estada de Bermudes em Coimbra, situava-se na esquina da Sá da Bandeira com a Rua da Manutenção Militar; mas, para isso, tornava-se necessário, demolir “a casa esqueleto para exercicio dos bombeiros municipaes, e onde se encontra a estação principal do material de incendios”, estruturas construídas, como referi, havia muito pouco tempo. Além disso, tratava-se de um terreno que se localizava na freguesia da Sé Nova e se destinava a ali ser levantada a escola da freguesia de Santa Cruz. Ingredientes mais que suficientes para não tornar o assunto pacífico.

 

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Adães Bermudes

 O arquiteto Arnaldo Redondo Adães Bermudes (Porto, 1864.10.01-Sintra, 1948.02.18) é que se encarregou de elaborar, tanto o projeto da escola Central (escola de Santa Cruz), como o da ampliação da de S. Bartolomeu e acompanhou de perto os trabalhos, não só porque era inspetor das construções escolares, mas também porque havia sido galardoado com uma medalha de ouro na parisina Exposição Universal de 1900, onde expusera “umas magníficas plantas para escolas da instrução primária de ambos os sexos, conjunta ou isoladamente”; o alarife, de acordo com o que consta no seu processo [AHMOP], é responsável pelos projetos de cento e oitenta edifícios de escolas primárias construídas por todo o país.

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Escola de Santa Cruz, 1922 c.

 … O edifício insere-se, apenas na zona central da fachada, dentro de um estilo neorromânico, fugindo aos posteriores massificados projetos de escolas riscados pelo arquiteto e que enxameiam o país. As arquivoltas que rodeiam o tímpano hemicircular, onde se inscreve um relógio aposto sobre vistosos azulejos decorativos atribuíveis, por comparação, ao ceramista conimbricense Miguel Costa, são interrompidas pelo escudo real rematado pela coroa que, talvez pela altura a que se encontra, escapou intacta aos ventos da implantação da República.

A colocação de relógios nas estações de caminho-de-ferro, nos grandes armazéns, nas fábricas, nas escolas e em espaços semelhantes tornou-se, no século XIX e nos inícios do seguinte, tão carismática como a utilização do ferro; eram eles que mantinham a disciplina, propagando a religião da hora exata e contrapunham um tempo tradicional, celeste e solar a um tempo pagão e tecnológico.

Fig. 15. Escola de Santa Cruz. [Foto RA].jpg

Fig. 15 – Escola de Santa Cruz. [Foto RA].

Escola de Santa Cruz. Pormenor. [Foto RA].jpg Escola de Santa Cruz, pormenor. Foto RA

 Em dezembro de 1907 o edifício já se encontrava terminado há cerca de um mês e sendo “o primeiro do paiz no seu genero, veio rematar lindamente as amplas ruas de Sá da Bandeira e Manutenção Militar, dando belleza e realce ao local onde se acha construido” e “ao empreiteiro sr. Manoel Alexandre Sellada, cabem louvores, por isso que, apesar de ter luctado com falta de recursos pecuniarios pela demora dos pagamentos, nos apresenta esse bello edificio com execução fiel da planta feita pelo distincto architecto sr. Adães Bermudes”. A Escola Central Primária de Santa Cruz recebeu os primeiros alunos em 1908.

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia  Nacional de Belas ArtesLisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

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por Rodrigues Costa às 20:11

Terça-feira, 09.03.21

Coimbra: Av. Navarro no dealbar do séc. XX

Surgiu, recentemente, nas redes sociais esta bela fotografia:

Av. Emídio Navarro. Coimbra AML a.jpg

Av. Navarro com comboio a chegar à Estação nova. 1910-1917. Acedida  em: http://arquivomunicipal2.cmlisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Documento.aspx?DocumentoID=1634678&AplicacaoID=1&Value=13c2034062824bf375d7c03644adbdb93f8b0298073a5a6a&view=1

Trata-se de uma fotografia do espólio do Arquivo Municipal de Lisboa, onde foi identificada, em 2014 por Paulo Mestre, membro da Associação Portuguesa dos Amigos dos Comboios que a divulgou no blogue LusoCarris fórum.

Tendo solicitado ajuda para a datação da imagem ao meu filho Pedro Rodrigues Costa – um estudioso da temática dos comboios e carros elétricos – ele juntou o seu saber ao de outros dois conhecedores desta matéria, Jorge Oliveira e Fernando Pedreira, que acabaram por propor o período compreendido entre 1910 e 1917.

A proposta teve por base os seguintes pressupostos:

- A locomotiva que se vê na fotografia é da série CP 17 a 22 e foi construída em 1862.

Esquena das locomotivas.jpg

Esquema das locomotivas da série CP 17 a 22. In: Nomenclatura das Máquinas a vapor

 Segundo Fernando Pedreira este tipo de locomotivas fez parte do parque de Coimbra/Alfarelos até, pelo menos, meados dos anos 40 do século passado, devendo a sua utilização ter-se iniciado entre 1911 e 1919, ou mesmo antes. Entre 1916 e o fim de 1919 devem ter andado a queimar lenha, sendo que no «tender» não se vê nem lenha nem os acrescentos que lá colocavam para a conter, não tendo a chaminé para-fagulhas, tipo «faroeste» que muitas tiveram nessa altura. No entanto, já vi uma foto de uma delas, dos anos da 2ª Guerra mundial, no Largo da Portagem, a rebocar um vagão.

Pedro Rodrigues Costa, acrescentou ainda que a fotografia terá de ser posterior a 1911 porque nela se vêm os postes da rede de elétricos de Coimbra e porque num deles se vêm dois belos candeeiros de iluminação pública a gás que só em 1919 foram substituídos por iluminação elétrica, aproveitando para o efeito a infraestrutura dos carros elétricos.

Pormenor Coimbra AML c.jpg

Pormenor da fotografia acima publicada

Jorge Oliveira salientou ainda que no edifício da esquina se vê, uma pala ou para-sol em ferro, similar ao do edifício Chiado e ao da Havaneza ao fundo da Rua Visconde da Luz, representativo do estilo Arte Nova.

Ali funcionava, na minha meninice, a firma Júlio da Cunha Pinto, que vendia tabaco, jogos de lotaria, perfumes, edição de postais ilustrados. E, acrescento eu, papel selado e selos fiscais, um imposto encapotado para quem fazia algum contrato ou tinha que se dirigir a uma entidade oficial.

Deste edifício existe uma outra fotografia bem elucidativa.

Av. Emídio Navarro. Frente à Estação Nova.jpgEdifício na esquina da Av. Navarro com o Largo das Ameias. Postal ilustrado.

Por último, Jorge Oliveira socorrendo-se de um texto de Carlos Ferrão, identifica o edifício que se vê na fotografia seguinte como sendo o mais luxuoso hotel da cidade no princípio do séc. XX, o Palace Hotel, que viria a ser devorado pelo fogo em 30 de Abril de 1917.

Av. Emídio Navarro antes da Estação Nova 02. Pa

Postal ilustrado, onde é visível uma placa publicitária do Palace Hotel

No primeiro andar do edifício que o substituiu funcionou um local onde as artes musicais e dança passaram a ser rainhas. A abertura solene e inauguração da Academia de Música de Coimbra foi a 10 de Fevereiro de 1929.

Edifício onde funcionou a Academia.jpg

Edifício onde funcionou a Academia de Música de Coimbra. Foto do espólio fotográfico de Jorge Oliveira

Posteriormente, neste edifício, de acordo com as minhas memórias, funcionou o Hotel Internacional e um Café com o mesmo nome, muito frequentado pelos estudantes de então.

Av. Emídio Navarro e Estação Nova 02.jpg

Postal ilustrado, onde são visíveis os para-sol do Café Internacional

Av. Emídio Navarro. Café Internacional 02.jpg

Café Internacional da minha juventude, hoje loja de moda

Saliente-se, como conclusão, que ao pretender datar uma fotografia, a análise da mesma e o saber de Alguns tornaram possível recordar diversos e interessantes factos da história coimbrã.

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 19:07

Quinta-feira, 04.03.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 9

O novo Bairro de Santa Cruz

 Os proprietários que haviam adquirido lotes na recém programada urbanização, com mais ou menos celeridade e dentro dos parâmetros estabelecidos pela Câmara, começavam a construir as suas casas de habitação ou de rendimento. Para se erguerem ao longo das novas artérias projetaram-se também edifícios de utilidade pública que, algumas vezes, não saíram do papel.

Convém esclarecer que não vou deixar de aludir a esses não construídos imóveis sempre que esteja na posse de elementos passíveis de os referir minimamente.

E se entra neste lote dos não concretizados a sede da Associação dos Artistas de Coimbra, outro tanto se não pode dizer da estação do corpo de bombeiros municipais, com projeto de Hans Dickel, aprovado em março de 1891.

 

Estação do corpo de bombeiros municipais.jpgEstação do corpo de bombeiros municipais. Foto RA

 Ao falar dos edifícios construídos, ou não, na urbanização da Quinta de Santa Cruz coloquei de lado a cronologia, a fim de seguir como que uma caminhada virtual, iniciada no entorno da Fonte Nova.

Inicio o percurso olhando para o edifício da sucursal da Manutenção Militar que começou a ser construído em 1899, no local em que outrora existiu a casa do palheiro do mosteiro de Santa Cruz, ocupado pelo município depois da desamortização e transformado em matadouro. Será de referir, contudo, que a atual estrutura resultou do aumento da primeira edificação.

Manutenção militar 02.jpg

Manutenção Militar

 Parece que estes e outros edifícios já erguidos na nova artéria não agradavam ao diretor do jornal Resistencia, o conhecido Quim Martins, pois quando Raul Lino, em 1902 se deslocou a Coimbra, o então “jornalista” acompanhou-o num pequeno passeio pelo Bairro de Santa Cruz e narra assim essa digressão: “Encaixados num caleche, sob um sol abrazador, aí pela 1 hora, passámos pela Avenida e mostrámos-lhe, primeiro que as nossas bellezas architectónicas, aquella galeria de monstrosinhos, que os honestos, mas pouco artistas, mestres de obras, cá da terra, e mais alguns têem ido poisando por êsse Bairro de Santa Cruz fóra.

“Apresentámos-lhe aquelle mostrengo da Padaria militar, sellado na frontaria, com todas as coisas” e “fizemo-lo admirar aquelle caprichosinho ingénuo e ridiculo, de uma casolita de boneca, feita de tijolo, e encarrapitada na chaminé da mesma padaria”.

O articulista mostra-se muito crítico em relação às construções levadas a efeito no novo bairro e escreve que, aos poucos, foi apontando a Raul Lino “aquellas frontarias chatas, em rectangulo, com jánellas em rectangulo, e portas em rectangulo, monótonas variações sobre o mesmo thema, – o rectángulo, ou então construcções estylo cartão de visita”.

Continuando o nosso peregrinar deparamo-nos com a Câmara, em 1905, a planear construir o edifício destinado à Inspeção de Incêndios. A planta, assinada a 30 de agosto de 1905 por António Heitor que era condutor de Obras Públicas e, penso, chefe do respetivo departamento camarário, conheceu deferimento a 01 de outubro e foi aprovado pelo Secretário de Estado dos Negócios do Reino a 22 do mês seguinte. Devia erguer-se logo acima do pavilhão do peixe, pegado à Rua do Colégio Novo e nas proximidades da Fonte Nova. O desenho do conjunto e o alçado do edifício, acompanhado do correspondente processo, encontra-se no AMC e permite determinar com exatidão o local onde se devia erguer. Trata-se de mais uma estrutura que não saiu do papel ou melhor, no caso vertente, da tela imperial.

Fig. 14. Inspecção de incêndios. [AHMC. Reparti

Fig. 14 – Inspecção de incêndios. [AHMC. Repartição de obras municipais. Pasta 24. B-14].

 Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia  Nacional de Belas ArtesLisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

 

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por Rodrigues Costa às 17:48

Terça-feira, 02.03.21

Coimbra: Abastecimento de carne e sal (1641-1721) 3

Os contratos do sal eram assinados, geralmente, em janeiro (34,21%) e fevereiro (26,32%) … Ao contrário dos contratos da carne, estes aparentam garantir o abastecimento contínuo ao longo do ano, não focando um período específico e tinham, geralmente, a duração de um ano.

… O sal era fornecido por barqueiros e era provável que a maioria destes homens se fosse abastecer fora do termo de Coimbra. No séc. XVI, o sal provinha de Aveiro e Buarcos, o que é confirmado na segunda metade do séc. XVII, quando a Câmara ordenou que se anunciasse nessas terras e em Vagos para se trazer sal à cidade (Loureiro 1960: 286 e Oliveira 2016: 934). A proveniência dos obrigados não nos ajuda à análise, visto a esmagadora maioria ser natural de Coimbra.

Barqueiro do Mondego.jpg

Durante toda a cronologia em análise, a quantidade acordada entre os barqueiros e a câmara foi sempre a mesma: sal em abundância e sem falta alguma. Isto pode revelar, juntamente com a ausência de reclamações relativamente à falta do produto, que não houve grandes dificuldades em garantir o seu abastecimento.

Os preços negociados nos contratos apresentam uma evolução diferente comparativamente aos preços da carne: mantêm-se sensivelmente baixos até 1654 (exceto 1650), aumentando gradualmente após 1656; até 1689 mantêm-se relativamente estáveis, atingindo os 50 réis por alqueire em três anos; em 1694, o preço do sal atinge o valor mais elevado de toda a série (70 réis), decrescendo depois, até atingir os 20 réis em 1703; com o início do conflito, o seu preço aumenta gradualmente até 1711, exceto no ano de 1707.

Sobre o preço do sal incidia um tributo conhecido como o usual, que até 1689 correspondia a 20 réis (AHMC, Notas, L. 11, fl. 138) e a partir de 1694 a 30 réis (AHMC, Arrematações e arrendamentos, L. 2, fl. 221v), não se sabendo se depois da guerra se regressou ao valor anterior ou se deixou de ser cobrado os preços apresentados no gráfico e tabela não incluem este valor.

Pescador de Coimbra com rede.jpeg

Pescador de Coimbra, com rede

Rio Mondego, caneiro.jpeg

Rio Mondego, caneiro para pesca

 … Se as quantidades do produto não geraram problemas, os conflitos entre a câmara e os arrematantes pelos preços foram frequentes. Em janeiro de 1642 a câmara permitiu ao obrigado do sal elevar o preço do alqueire para 13 réis, mas teria de pagar 50 000 réis imediatamente para as despesas da câmara (Loureiro 1960: 48)25. Em janeiro de 1657 a câmara proibiu a passagem do sal para “cima da ponte” e estabeleceu o preço do alqueire nos 18 réis, alegando que os barqueiros estavam a abusar do seu estatuto de monopólio para praticar preços muito altos (Loureiro 1960: 286). No mesmo ano constatou-se que os comerciantes não queriam vender ao preço estabelecido pela câmara, pelo que açambarcaram todo o sal nas marinhas e estavam a expedi-lo para fora da cidade durante a noite. O senado decidiu intervir, aplicando as penas previstas para as transgressões e ordenando a colocação de travessas nas portas de todas as casas que tivessem o produto, impedindo que este saísse sem licença da câmara (Loureiro 1960: 287-288). A 30 de junho de 1708, um ano após o sal ter atingido um dos valores mais baixos da série, as vendedoras da cidade queixam-se dos preços muito elevados e nas dificuldades que têm em vender, o que constituiu um indicador da grande volatilidade a que os preços estavam sujeitos (AHMC, Vereações, L. 59, fl. 168v).

Barbosa, J.L. S. O abastecimento de carne e sal em Coimbra: os contratos de obrigação da Câmara Municipal (1641-1721). Acedido em https://impactum-journals.uc.pt/rhsc/article/view/1645-2259_19_6

 

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por Rodrigues Costa às 10:50


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