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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 11.02.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 6

Avenida Sá da Bandeira

 Ao findar do século XIX, tornava-se mais do que evidente a necessidade de ‘rebentar’ com as velhas ‘fronteiras’ da urbe e o problema da localização do crescimento urbano virou questão; foram várias as direções apontadas, mas aquela que se perfilava com maior credibilidade passava pela utilização da quinta da Ribela que ligava o mosteiro agostinho à mata de regalo dos monges.

Em dezembro de 1884, Joaquim Martins de Carvalho (1822-1898) escrevia em O Conimbricense que “só numa terra como esta é que teriam decorrido quarenta annos depois da extinção das ordens religiosas sem se fazer a acquisiçao de semelhante propriedade [cerca dos frades], vendo-se a lutar os cidadãos com a falta de terrenos para edificações. Coimbra precisa de se desenvolver mas acha-se apertada numa área que já não é suficiente para as tendências do actual progresso (...) muitas famílias para aqui querem vir residir e não acham habitações como lhes convém (...) queremos falar da grande quinta de Santa Cruz”.

É verdade que a edilidade, algum tempo depois da extinção das ordens religiosas, tivera a noção da importância de que se revestia para a cidade tanto a posse do mosteiro como da cerca fradesca, mas, apesar disso, em 1839, permitiu que a quinta dos crúzios fosse vendida ao desbarato a um particular, António Joaquim Coutinho, por cinco contos de réis.

Contudo, a partir dos inícios da década de oitenta de Oitocentos, a Câmara começou a pensar seriamente em adquirir os terrenos outrora pertencentes aos frades e, para fazer face a essa despesa pediu autorização, em 1882, para contrair um empréstimo no valor de vinte contos de réis. Ambicionava abrir aí vários arruamentos, construir um passeio público e um matadouro.

 

Rua de Entre Muros.jpgRua de Entremuros

 … O processo arrasta-se e na sessão de 06 de fevereiro de 1884 a Câmara requereu, por utilidade pública e urgente, a expropriação da Quinta de Santa Cruz, que, como se podia observar na planta que acompanhava a petição (infelizmente desaparecida) se estendia desde o mercado D. Pedro V, na zona da Fonte Nova, pelo lado do norte, até Montes Claros “tocando quasi à entrada do logar de Cellas suburbios de Coimbra” e vindo “pelo nascente e sul nas proximidades desde Sant’Anna até à rua d’entre muros onde é a sua principal entrada”.

A antiga cerca encontrava-se hipotecada e o credor era, justamente, a entidade que financiou o empréstimo, por isso, a Câmara, no dia em que teve conhecimento de que lhe havia sido concedido o crédito, automaticamente, ficou a saber que a propriedade lhe pertencia.

Fig. 10. Quinta de Santa Cruz, Montarroio, Mata doFig. 10 – Quinta de Santa Cruz, Montarroio, Mata dos Jesuítas e Vale da Ribela. [BMC.I, BMC_A019].

 Este assunto acabou por se resolver na vigência de um dos mandatos de Lourenço de Almeida Azevedo, homem inteligente, empreendedor e progressista, além de médico distinto.

Lourenço Almeida Azevedo.jpg

Lourenço de Almeida Azevedo. In: Occidente, 14.º ano, volume XIV, pg. 1.  Acedido em: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/Ocidente/1891/N455/N455_item1/index.html

A edilidade mandou “levantar” uma planta da quinta, fundamentando a sua decisão na necessidade de alargar o mercado; de construir ali o novo matadouro; de completar a via que, a partir de Coimbra, entronca com a estrada real n.º 48; de aproveitar as águas da Torrente dos Banhos Reais para o abastecimento da cidade; de transformar em jardim público e utilizar como jardim-de-infância uma parte da quinta; de utilizar o espaço para nele se realizarem as feiras de Santa Clara e de São Bartolomeu; e, finalmente, de construir uma boa via de acesso para o bairro alto “que por ali é fácil e por outro lado impossível”.

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas ArtesLisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

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por Rodrigues Costa às 11:09


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