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A' Cerca de Coimbra



Terça-feira, 12.01.21

Coimbra: Abastecimento de água à Cidade, nos finais do século XVIII 1

Num dos livros de Vistorias, guardado no Arquivo Histórico Municipal de Coimbra, está transcrito um interessante documento que nos permite conhecer o sistema de abastecimento de água à Cidade, nos finais do século XVIII.

Tendo optado por manter a grafia original, importa lembrar o que se segue, para que todos os leitores possam acompanhar o texto.

. A estrada publica que vai do Colégio da Ordem de Cristo para o Real Mosteiro de Celas corresponde hoje à R. Pedro Monteiro, parte da rua Lourenço Almeida Azevedo e Largo de Celas

. Penas e anneis de agoa, eram medidas usadas para descrever o caudal de uma fonte, sendo que um anel era constituído por 9,25 penas. Quanto a esta não conheço a que volume de água correspondia.

. São identificados os seguintes pontos de abastecimento: arca do chafarix da Feira, localizado junto do atual Largo da Feira dos Estudantes; chafariz da See Velha, que estava adoçado ao adro da antiga Sé; chafariz da Praça de S. Bertolameu, que estava localizado onde hoje existe um posto de transformação na Praça do Comércio; chafariz do Bispo Conde, localizado no atual Museu Nacional Machado de Castro; chafariz do Collegio Novo, hoje Faculdade de Psicologia; chafarix da Calssada, atual rua Ferreira Borges; offecinas do Real Hospital que estava instalado no antigo Colégio de Jesus ou dos Jesuítas.

Auto de vistoria a que mandou proceder o doutor procurador geral da cidade o lecenciado Joaquim de Araújo Tavares e Souza per vertude da Comissão que lhe foi deferida pelo Senado nas arcas ou fontes das águas públicas desta cidade citas na estrada pública que vai do Colégio da Ordem de Cristo pera o Real Mosteiro de Sellas, descubrimento de outras novas e estado em que se achão os antigos chafarizes e tanques publicos da mesma cidade.

Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil e setecentos e noventa annos aos dous dias do mes de Outubro de mil e setecentos e noventa annos no sitio do Monte de Sellas onde eu escrivão da Camera vim com o doutor procurador geral e Comissario do Senado e as mais pessoas no fim deste auto asinados e com munta especialidade para o mesmo acto convocado Pedro da Fonsequa natural de Vilar Seco, concelho de Senhorim, Comarca de Vizeu, professor com notoria probidade de vedor de agoas e passando a fazer exzame com certa medicão, na fonte chamada a de El Rey que he a primeira arca vindo do lugar de Senas (sic) [deverá tratar-se de um erro do escrivão, que quereria escrever Sellas], se descubrio e achou lancar honze penas de agoa somente,

Fonte d'El-Rei ou de Celas, na atualidade.jpg

Fonte de El-Rei ou de Celas, na atualidade

e passando mais abaixo caminhando pera a cidade a fazer outro semilhante exzame na arca ou fonte chamada do Princepe, se vio e descubrio que o seo nascente lancava des penas de agoa e continuando mais abaixo the chegar a terceira arca, ou fonte chamada a da Raynha, exzaminandoce igualmente o seu nascente se descubrirão e medirão corenta e sinco aneis de agoa, que per todos fazem setenta e seis aneis, alias setenta e seis penas que fazem a soma de oito aneis e duas penas, e esta mesma quantidade se achou na arca do chafarix da Feira de donde se repartem para o chafarix da See Velha, para o da Praça de S. Bertolameu, para o do Excelentissimo Bispo Conde, para o Collegio Novo e chafarix da Calssada e, finalmente, huma das duas bicas que correm no chafarix publico da Feira, se tapa a noute e corre per toda ella the o dia, das seis ou sete horas da manham para as offecinas do Real Hospital que foi algum dia da extincta Sociedade.

E passando a exzaminar a fonte pequena, a do Loureiro, e a chamada do Inverno, estas nada botão e estão de todo secas e combinada a presente vistoria, com a lembrança que o lecenciado Joze de Souza Machado fez no anno de mil setecentos e quarenta e sinco no Livro intitulado da Correa, onde faz mencão de quinze aneis e meio de agoa, que naquelle tempo lancavão de os sobreditos mãens de agoa vem a ter os mesmos de remenuissão, sete aneis e duas [fl. 134v] e duas penas, de cuja falta, asas concideravel, e tambem por ter crecido em numero os moradores da cidade, se queixa o publico, havendo como ha entre o povo motins e continuadas desordens chegando ao ponto de quebrarem os cantaros huns aos outros e athe de se tomarem as mãos ferindo se e espancando se mutuamente.

Porta de cisterna, na rua Pedro Monteiro.jpg

Porta de cisterna, na rua Pedro Monteiro

Porta de cisterna, na rua Pedro Monteiro, pormenor

Porta de cisterna, na rua Pedro Monteiro, pormenor

Claraboia, na rua Pedro Monteiro.JPG

Claraboia, na rua Pedro Monteiro

Auto de vistoria. In: AHMC. Vistorias, tomo 3, 1766-1791, fl. 133v-135

 

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por Rodrigues Costa às 10:49


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