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… A concepção de um juízo particular imediatamente post mortem torna-se gerador do temor do dia do passamento, potencia a necessidade de que a memória do defunto seja sempre recordada e que se invista no seu acesso às bem-aventuranças eternas, junto de intercessores privilegiados. Por conseguinte, completa esta face da arca tumular, acompanhando o cortejo das monjas clarissas, uma trilogia de Santos: S. Francisco, S. Luís de Tolosa e Santa Clara, da mesma família religiosa em quem a rainha Isabel depositou a confiança necessária para se acolher nos seus últimos tempos de vida e legar os seus reais despojos (vide Fig. 4).
Op. cit. Fig. 4 – Túmulo da Rainha Santa, frontal direito, pg. 78
Para obter a ressurreição, que só a Deus pertence, a rainha escolheu a intercessão dos Apóstolos e da sua família franciscana, que fez inserir contrapostos nos frontais do seu túmulo (vide Fig. 4 e 5)
Op. cit. Fig. 5 – Túmulo da Rainha Santa, frontal esquerdo, pg. 79
… No entanto, a invocação intercessora prioritária é a da Virgem, tal como se pode comprovar pela representação duplicada que tem no facial da cabeceira. Enquanto sofredora, aos pés da cruz, a testemunhar, juntamente com S. João, o drama da Paixão de seu Filho e, também, como soberana com o Menino ao colo. Na repetição desta figura tutelar pode ver-se a intenção de à morte acrescentar a vida, o que se processou através de uma iconografia, então ainda em fase de disseminação, a do Menino Jesus e com ele da infância. Nesta opção não pode deixar de se ver expressão da vontade da própria rainha, mãe e avó extremosa, numa altura em que começava a florescer o interesse pelas crianças (vide Fig. 6).
Op. cit. Fig. 6 – Túmulo da Rainha Santa, facial dos pés, pg. 80
Op. cit. Fig. 7 – Túmulo da Rainha Santa, facial da cabeceira, pg.81
… Através da iconografia da sua última morada, acedemos ao que consideramos o testamento espiritual de Isabel de Aragão que, ao colocar os receios da justiça divina no momento em que a alma se separa do corpo, remete para um tempo em que as orações por intercessão ganham um valor acrescido e em que a Igreja, em particular as ordens religiosas, se apoderam do corpo dos defuntos, em função da sua hierarquia e prestígio social, e se tornam especialistas da sua memória.
Créditos: Florentino Bernardes Franco e Babo Ribeiro – © Confraria da Rainha Santa Isabel
Macedo, F.P. O primeiro túmulo da Rainha Santa: Relicário e Relíquia. In: Isabel, Rainha e Santa. Pervivência de um culto centenário. Rebelo, A.M.R., Urbano, C.M. Coordenadores. Coimbra, Imprensa da Universidade. Pg. 45-81.
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