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2.1 - Da criação do Museu
A decisão da criação do Museu dos Transportes Urbanos foi tomada em 1982, pelo Conselho de Administração dos Serviços Municipalizados de Coimbra, no âmbito das Comemorações dos 35 anos da instalação da primeira linha de troleicarros, em Portugal.
Mas a concretização de tal projecto só viria a ocorrer em 1984, quando foi aprovado o «Regulamento do Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra» e instalados os respectivos órgãos directivos ficando, assim, o Museu dotado de personalidade jurídica e autonomia financeira.
O Museu tem em vista «a preservação do património municipal de interesse histórico, relativo aos transportes de Coimbra, constituindo igualmente, objecto da acção do Museu a exploração de uma linha histórica de carros eléctricos a criar, logo que possível, nos termos de deliberação própria da Câmara Municipal de Coimbra.
Para a prossecução das finalidades que lhe foram atribuídas, mais ficou decidido que «o Museu desenvolverá a sua actividade nas seguintes área
a) Área de investigação, pela qual promoverá a recolha de objectos e documentos relativos ao tema do Museu.
b) Área documental, que terá em vista a gestão de uma biblioteca especializada, constituída pelo acervo documental que for possível recolher.
c) Área da museografia à qual competirá: a catalogação e classificação do património do Museu; exposição ao público. Nesta área será dedicada particular atenção às visitas de alunos de Escolas.
d) Área da conservação e restauro, através da qual se zelará pela preservação e restauro das espécies que constituam o acervo do Museu.
2.2 - O trabalho já realizado
O acervo do Museu, é constituído primeiro, pelo próprio edifício – a parte mais antiga é um bom exemplo das construções industriais do principio do século – e, ainda, principalmente, pelos veículos ali existentes, a saber:
- O carro eléctrico n.º 1
Construído em 1909, nas fábricas J.G.Brill, de Filadélfia (E.U.A.), do tipo semi-convertível construído sob um chassis do tipo 21 E.
O aspecto que hoje apresenta resulta das alterações que, na década de 50 lhe foram introduzidas nas oficinas dos Serviços Municipalizados e que, tiveram em vista o aumento da lotação, através do alongamento da carroçaria e da supressão do lanternim.
Já no âmbito do Museu, foi o carro pintado com a cor inicialmente utilizada nos carros eléctricos, em Coimbra - a cor vermelha -, apresentando ainda o primeiro sistema de sinalização do número de linha aqui utilizado que assentava no recurso a filtros de cores diferentes.
Carro elétrico n.º 1. Foto cedida por Carlos Ferrão
- O carro eléctrico n.º 3
Sendo da mesma série do anterior funcionou, igualmente, até 1980. A carroçaria foi modificada em 1958, sendo para o efeito utilizados os projectos dos carros eléctricos nº 14 e 15, mas este realizado em madeira.
Este carro eléctrico é mantido operacional tendo em vista uma eventual utilização em linha histórica.
- O carro eléctrico n.º 4
Ainda da mesma série dos anteriores, foi restaurado em 1969.
É um bom exemplo da capacidade técnica atingida pelas oficinas dos Serviços Municipalizados de Coimbra, apresentando soluções originais, tais como letreiros embutidos, no tejadilho e degraus duplos. É de salientar que se trata do único carro eléctrico existente em Portugal, com este tipo de degraus.
- O carro eléctrico n.º 6
Da mesma origem dos anteriores foi construído em 1911, tendo entrado ao serviço em 25 de Maio de 1912.
O aspecto que apresenta é a resultante das transformações que foram introduzidas na década de 50.
Já no âmbito do Museu foi este carro eléctrico pintado com a segunda das cores utilizadas pelos carros eléctricos em Coimbra, apresentando igualmente o segundo sistema de sinalização do número de linha, constituído por filtros de cor e chapas com números de cantos coloridos.
Carro elétrico n.º 6 depois de recuperado
- Carro eléctrico n.º 11
Entrou ao serviço em 1928, tratando-se de um exemplar de história curiosa.
À Firma J.G.Brill foram adquiridos os chassis e o sistema motor, bem como os planos das carroçarias, as quais foram executadas nas oficinas dos Serviços Municipalizados. Inicialmente era um carro aberto, os populares «carros pneumónicos» que logo em 1932 foi transformado em carro fechado, sendo um dos carros eléctricos de dois eixos mais compridos existentes em Portugal. Apresentava inicialmente, 8 janelas, as quais foram reduzidas a 7 aquando da transformação a que foi sujeito na década de 50.
É projecto do Museu a recondução à traça original deste exemplar.
- Carro eléctrico n.º 14.
Construído igualmente, pela Firma J.G.Brill de Filadélfia entrou ao serviço no ano de 1928. Possui uma carroçaria inteiramente metálica, sendo os painéis laterais
fixados por rebites. O chassis é do tipo 79 ELX "Birney", apresentando uma suspensão "mole" constituída por um sistema de molas.
De referir que é o único exemplar que resta de uma série exportada peIa Firma J.G.Brill para a Europa - para as Cidades de Coimbra e Arnhem (Holanda) -, tendo os existentes nesta última cidade sido destruídos no decurso da 2ª Guerra Mundial.
- Carro eléctrico n.º 16
Construído, numa série de 3, em 1929, pela Fábrica Familleureux, da Bélgica, sobre um chassis produzido pela Fábrica M. A. N. da Alemanha. Trata-se de um carro «curto» de 2 eixos concebido especialmente para os traçados das ruas de Coimbra.
Exemplar único, apresenta algumas alterações que lhe foram introduzidas nas oficinas dos Serviços Municipalizados de Coimbra, sendo ainda de referir que foi um dos únicos carros eléctricos que existiram em Coimbra, com plataformas fechadas.
Carro elétrico n.º 16, depois de recuperado
- Atrelado n.º 1
Fabricado pela John Stephenson Company, de Nova Iorque, dos E.U.A., em data que se desconhece.
É um antigo "carro americano", de tração animal, adaptado a atrelado que, como tal, foi utilizado até 1951.
É projecto do Museu a sua reposição na traça inicial.
Atrelado n.º 1. Coleção Pedro Mendes
- Carro-Torre
Trata-se de um veículo de marca LOYD, fabricado em 1930. Está, actualmente, equipado com um motor Perkins, sendo de referir que no decurso da 2ª Guerra Mundial, utilizava um motor a gasogénio.
Adquirido inicialmente pela Companhia dos Carris de Ferro do Porto, foi mais tarde vendido aos Serviços de Transportes Urbanos de Braga e posteriormente adquirido pelos Serviços Municipalizados de Coimbra, quando deixaram de funcionar os troleicarros naquela Cidade.
De referir, ainda, que se encontra na fase final de recuperação, tendo em vista a sua integração no Museu, o primeiro troleicarro adquirido para Coimbra, em 1947.
Para além do valioso património que atrás se refere, há ainda a assinalar:
- Uma ponte rolante.
Adquirida à Firma Herbert Morris, Ldª, e que entrou ao serviço no ano de 1910. O seu funcionamento que é manual, é feito através de um sistema de roldanas, levantando pesos até 2 toneladas.
- Um torno para alinhamento de rodados.
Adquirido à Firma F. Street, na década de 20. Refere-se que um curioso sistema de rodas dentadas intermutáveis, permite a utilização do torno noutros serviços.
Torno para alinhamento de rodados, em exposição e funcional
- Uma máquina de impressão de bilhetes.
Fabricada pela Firma Pautzer e que entrou ao serviço nos finais da década de 50.
Há que assinalar que tem sido preocupação dos responsáveis pelo Museu que todo o património existente seja mantido em condições de utilização.
Refere-se, por último, que a zona dos escritórios da oficina, sofreu algumas alterações visando a instalação nesse local de uma pequena mostra dos objectos que já foi possível recolher, bem como apresentar, de forma necessariamente sucinta, uma pequena ilustração da história dos carros eléctricos em Coimbra.
2.3 - Os projectos
Ao longo da presente comunicação já foram aflorados os principais projectos que permitirão a concretização dos objectivos definidos para este Museu.
Mas, há que o afirmar, a vida do Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra tem sido bem difícil.
Atravessando a Câmara Municipal de Coimbra uma fase de grandes dificuldades, cuja principal razão é a critica situação dos actuais Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra, fácil será concluir da dificuldade que se vem verificando em mobilizar para o Museu, os indispensáveis
recursos para a realização das necessárias obras de adaptação e de conservação. Obras indispensáveis à sua abertura nas condições de dignidade exigíveis.
Daí o nosso apelo para que o I Encontro Nacional sobre o Património Industrial reconheça a importância da salvaguarda do património que integra o Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra, e que esse reconhecimento encontre eco junto das Entidades competentes, tendo em vista a obtenção dos apoios que tal património impõe.
Costa, A.F.R. Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra. Um contributo para a salvaguarda do património industrial. In: I Encontro sobre o Património Industrial. Coimbra – Guimarães – Lisboa. 1986. Actas e Comunicações. Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial. Coimbra Editora, Limitada. Volume I, Coimbra, 1990. Pg. 265-278.
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