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Esta entrada relata os estragos causados pelos franceses no Convento de Santa Ana. Decidimos ilustrar com as imagens da parte do património que existia no Convento de Santa Ana e que foi dispersa por outros lugares.
Passados duzentos anos, [sobre 1610, quando as freiras entraram no novo Convento] novo sobressalto acomete as freiras, pois os franceses (invasões francesas) estão às portas da cidade de Coimbra.
Com medo das atrocidades que pudessem vir a sofrer, escondem (enterram) os seus tesouros no próprio Convento, e partem levando consigo pouca coisa.
Em 1811 já estão de volta ao convento, e num auto de justificação de um pedido de ajuda monetária, narram assim o estado em que está o mesmo:
A Madre Prioresa e mais Religiosas do Convento de Santa Ana, extra muros desta cidade de Coimbra, para justos requerimentos, pretendem justificar o seguinte:
1º Item
Que pela invasão do Inimigo comum nesta cidade no 1º de Outubro do ano pretérito de 1810, se virão as Religiosas Justificantes na precisão de saírem do seu Convento e dispersarem-se para diversas partes procurando o mais de escapar à morte e a outros insultos que os mesmos costumam praticar, e se retiraram para partes remotas aonde ainda por motivos justos se conservam algumas quais os de falta de meios para a sua transportação para o seu Convento, ainda mesmo por saberem a penúria em que se acha o mesmo, sem meios de administrar os socorros necessários às Religiosas a que são obrigadas.
2º Item
Que em razão da falta de transportes, (e) ainda de meios para fazer as despesas para esse fim preciso, não puderam transportar muitas roupas brancas, já do uso particular das Religiosas, como do comum e foram levadas e roubadas todas, assim como as do Culto Divino, como toalhas, Amitos, Alvas, Cordões corporais e sanguinhos e Paramentos como Palametas, Dalmáticas, Capas de Asperges, Frontais, Véus de ombros e de Cálices, Umbelas, Pálio, Cortinados e Tapetes, sendo uns de damasco de seda lisa, outros de damasco bordados de ouro, tirando a todos as guarnições e franjas de ouro e prata.
3º Item
Que algum trigo, milho e azeite que tinham no seu celeiro para sua sustentação e economia, como também louças, trastes das oficinas, apesar de terem sido escondidas e enterradas algumas coisas, por verem que não tinham meios de as transportar, e ser este o único meio a que podiam recorrer, assim mesmo tudo perderam e os esconderijos foram achados e o que foi enterrado foi descoberto pelo inimigo no que mostraram ser peritos.
4º Item
Que igualmente se lhe desencaminharam do Cartório vários títulos e papéis pertencentes à arrecadação dos réditos do seu Convento no que experimentam grande perda.
5º Item
Que os rendeiros das suas limitadas rendas lhe não querem pagar o convencionado preço por que as arremataram, com o fundamento de que nada receberam dos inquilinos e que estes lhe não pagam, porque dizem nada receberam no ano pretérito de 1810, assim como não querem pagar o presente ano de 1811, com o fundamento de que a maior parte das terras ficarão incultas, por falta de sementes, bois, homens e os mais meios necessários para a cultura.
6º Item
Que dentro do Convento foi notável o prejuízo causado pelos Inimigos pois que quebraram portas, janelas, vidraças, armários e todos os trastes de madeira que puderam achar, estragaram as Capelas do Claustro no seu ornamento.
7º Item Que os referidos estragos aqui frisados, que é uma pequena relação do que na verdade foi, e na comum e geral estimação de todas as pessoas que sabem a perda das justificantes a avaliam no melhor de sessenta mil cruzados.
…
11º Item
Que tal foi o estado deplorável em que as justificantes ficaram que nem têm com que possam subsistir pois se acham sem ração, padecendo gravíssimas necessidades.
Portal da igreja do Convento de Santa Ana, hoje no Museu Nacional Machado de Castro
Portal do claustro do Convento de Santa Ana, hoje no Museu Nacional Machado de Castro
Retábulo da igreja do Convento de Santa Ana, hoje capela-mor da Igreja Matriz de Oiã. https://www.facebook.com/Paroquia.Oia/
Altar lateral e parte do cadeiral do Convento de Santa Ana, hoje na Igreja Matriz de Oiã.
http://www.rotadabairrada.pt/irt/show/igreja-matriz-de-oia_pt_209
Pormenor do cadeiral do Convento de Santa Ana, hoje na Igreja Matriz de Oiã.
http://www.rotadabairrada.pt/irt/show/igreja-matriz-de-oia_pt_209
Capelo, L. C. 2006. Convento de Santa Ana de Coimbra. Inventário. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra.
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