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Fábrica de Lanifícios de Santa Clara, vista aérea das instalações
A Fábrica de Lanifícios de Santa Clara apresenta-se como referência máxima do sector têxtil num polo citadino [de Coimbra) sem grandes tradições no referido do ramo, cujo período anterior à firma em evidência se pautou sobretudo, pelo amadorismo das confeções caseiras dos teares manuais e por tentativas de organização de módulos de produção de tecidos dos que não vingaram no tempo.
Fábrica de Lanifícios de Santa Clara, publicidade
Neste último aspeto, atenda-se, como exemplo, à fábrica de tecidos da Rua de João Cabreira, fundada nos finais da centúria de Setecentos pelos empresários Manuel Fernandes e Guimarães, Manuel Fernandes da Costa e António Machado Pinto, ficando famosa pelos seus damascos «que se tornaram notáveis pelo gosto dos seus lavores e pelo ouro que entrava em muitos», segundo a apreciação do jornalista conimbricense Joaquim Martins de Carvalho.
Os mesmos negociantes fundaram, na cidade, outra unidade de produção de tecidos de algodão em vistosas instalações, uma vez que os relatos asseveram a existência na loja de materiais nobres como o bronze, o aço e madeiras do Brasil. O fornecimento da matéria-prima (fio de algodão) proveio de uma fábrica Tomar; de onde, igualmente, chegaram, para ocuparem um lugar no corpo de funcionários, Bernardo Ferreira de Brito, Paulo José da Silva Neves e Pedro Espingardeiro, epitetados de “habeis artistas”. Em termos de equipamento para produção, o citado espaço deteve 12 teares, cada um com 100 fusos, resultando num tecido de boa qualidade, «não obstante o motor ser de trabalho manual, e por isso sem a regularidade precisa; mas tudo venceu o machinista com a sua rara habilidade».
As causas subjacentes ao definhamentoe respetivo fecho dos dois espaços remetem-se para o roubo de uma porção significativa de fazenda por parte de um familiar dos sócios, bem como a instabilidade proveniente das invasões francesas e a abertura do mercado português aos produtos provindos da Inglaterra, numa consequência evidente do Tratado de Comércio e Navegação assinado em 1810.
Invoque-se, de igual modo, a importância da tentativa de implantação, já em 1875, da Fábrica de Fiação e Tecidos de Coimbra, uma vez que o objeto do presente estudo irá aproveitar as bases materiais deixadas por uma firma que não conseguiu estabelecer-se de modo definitivo e cujo projeto não deixou de espelhar um ímpeto de grandeza que trouxe em si o gérmen da própria derrocada. Se os primeiros tempos nos parecem auspiciosos, dada a grande procura na subscrição do capital social fixado em 150 000$000 réis – divididos em 1500 ações de 10$000 réis cada uma –, o conhecimento, por parte da opinião pública, dos detalhes da compra do convento de São Francisco da Ponte pela quantia, por muitos considerada exorbitante, de 30 000$000 réis, gerou a fuga do investimento inicial através da desistência de muitos dos subscritores.
«valente canudo que lá se ostenta altivo e que devisamos de diferentes pontos da cidade»
Apesar do citado revés, os membros da direção deram continuidade ao projeto, a partir da transformação do complexo conventual em unidade fabril, acrescentando ao edifício uma chaminé industrial, descrita pelo periódico A Voz do Artista como um «valente canudo que lá se ostenta altivo e que devisamos de diferentes pontos da cidade».
Freitas, D. M., Meunier, P.P. e Mendes, J. A. (Cordenação e Prefácio). 2019. O Fio da Memória. Fábrica de Janfícios de Santa Clara de Coimbra. 1888.1994. S/loc, s/ed.Pg. 27-29
Numa transcrição de Dr.ª Isaltina Martins foi recentemente publicada a obra de Baltazar da Silva Lisboa que abaixo vai referida.
O autor nasceu na cidade da Baía a 6 de janeiro de 1761 … em 1775 veio para Coimbra … foi Doutor em Direito Civil e Canónico pela Universidade de Coimbra … a sua inteligência e capacidade de trabalho chamaram a atenção do Bispo de Coimbra, D. Francisco de Lemos Pereira Coutinho … tendo sido encarregado de realizar uma viagem à Serra da Estrela, passado por Coja, terras do Bispado de Coimbra, para aí também examinar as minas de chumbo encontradas nos contornos da vila de Coja.
Desse trabalho divulgamos alguns excertos sobre o grande palácio dos Bispos de Coimbra, que existiu junto àquela localidade.
Coja vista geral, finais do sec. XIX
Coja, antiquíssima vila, da qual são Donatários os bispos de Coimbra pela régia liberalidade da Senhora D. Teresa, mulher do Senhor Conde D. Henrique.
Coja, finais do séc. XIX
… A Nordeste da Ribeira se eleva uma pequena colina, sobre a qual não há muito tempo existiu um grande palácio dos Bispos de Coimbra, a qual pela Nascente (segundo o tombo do ano de 1783…), tinha até à estrada que vai para Arganil, 90 varas, pelo Sul, partindo com a dita estrada, 1144, para poente da estrada até ao Alva 66 varas. [Nota: var era uma medida de comprimento equivalente a cerca de 1,1 metro]
Coja e o Rio Alva
Fica na parte oposta o lugar chamado Coelheira, que tem pela Nascente 39 varas, para Norte 158, e para Poente 38, a qual sempre foi coutada para servir aos inocentes divertimentos dos meritíssimos Bispos, assim como o foi das coutadas uma parte do rio para a pesca.
Numa pedra da verga se vê insculpida a seguinte inscrição:
PIETATI SACRVM
IVLIA MODESTA EX PATRIMONIO SVO SEX APONI SCAEVI
FLACI MARITI SVI FLAMINIS. PROVINC. LVSIT. IN HONOREM GENTIS
IVLIORVM PARENTVM SVORVM.
Corre, por tradição vulgar, que fora doado esse palácio aos Bispos de Coimbra por uma Senhora Matrona Romana e se apoia a tradição na referida inscrição, a me parecer, fabulosa, pois antes é mais provável que fosse o doante algum rico Vigário, que foi sempre naqueles tempos pessoas de mui alta grandeza em riquezas e virtudes; essa inscrição podia ser imposta em algum túmulo sepulcral que achada, foi imposta na verga da porta do dito Palácio.
Ele foi construído na mais admirável e bela situação, onde se descobrem os prauzíveis verdes campos, cobertos do loiro trigo e formosas espigas de milho, e não menos das arvores curvadas do peso dos gostosos pomos nos diferentes ramos, que prosseguem as ribeiras em formosos torcicolos.
O Palácio foi ainda referido na Memória Paroquial de 1758 mas, em data não conhecida, ruiu por falta de uso e de manutenção.
Lisboa, B. S. Côja no Século XVIII. Os territórios do Bispo-Conde Conimbricense na visão de um cientista da época. Transcrição de Isaltina Martins. 2019. Arganil, Câmara Municipal.
O riquíssimo espólio que está guardado no Arquivo Municipal de Coimbra, tem como um dos seus expoentes máximos o Livro I da Correia.
Livro I da Correia, capa
Livro I da Correia, contracapa
Livro I da Correia, rosto
Trata-se de documento precioso, a necessitar de urgente trabalho de restauro, como se evidência pelas imagens.
Os Livros da Correia foram compilações da legislação diversa em uso no Município de Coimbra, feitas a partir de 1554 por ordem real, quando era tabelião Inofre da Ponte e desde há muito designados no Município por Livros da Correia.
A primeira destas compilações tem na lombada Posturas e Correições. 1404.1703.
São sete livros, devendo-se a José Branquinho de Carvalho a transcrição dos dois primeiros, publicadas sobre o título Livro I da Correa (Legislação Quinhentista do Município de Coimbra).
De entre a numerosa legislação então divulgada vamos referir o
Titulo do regimento dos juízes e jurados dos lugares do termo desta cidade de Coimbra em que a dita cidade tem toda a jurisdição cível e crime, da maneira que há de ter no regimento da terra e como hão de usar de seus ofícios
De cuja transcrição elaboramos a seguinte síntese:
- Condição para se criar um concelho
Haver vinte vizinhos e daí para cima até cinquenta e for uma légua afastada ou mais da cidade ou vila de cujo termo for.
Livro I da Correia, pormenor do item Dos juízes do Termo
- Forma de nomeação
1 - No fim de seu ano em que assim forem oficiais a saber no segundo ou terceiro dia das oitavas do Natal façam conselho para o qual farão chamar e ajuntar todos os moradores de seu julgado ou juradia que não fique nenhum os quais ele juiz ou jurado fará escrever os nomes de todos em um rol assim dos que aí forem presentes como de quaisquer outros que presentes não forem.
Este rol era habitualmente designado por pauta.
2 - O qual rol serão obrigados eles juizes e jurados de os trazerem à Câmara desta cidade dia de Janeiro onde depois de jantar hão logo de ser juntos o juiz e regedores para aí verem os ditos roles e logo aí escolherem um homem bom de seu concelho para êsse ano servir de juiz ou jurado.
- Juramento
Logo para a primeira Câmara que se fizer passado o dia de Janeiro venham a ela tomar juramento e se assentarem no livro pelo escrivão da Câmara.
- Juíz, competências
1 - Determine sumariamente sem processo algumas contendas que forem entre os moradores da dita aldeia da quantia de cem reis para baixo – com exclusão das contendas sobre bens de raiz – sem apelação nem agravo.
De assinalar que o referido montante ia sendo mais elevado em função do número de moradores.
2 - Conhecerá dos danos e coimas entre os ditos moradores e os determinarão segundo as posturas do concelho sem apelação nem agravo
3 - Prender os malfeitores que forem achados cometendo os malefícios em a dita aldeia e seu limite mandando-os entregar aos juízes ordinários de cujo termo for a dita aldeia.
- Coimas
No âmbito do Título das coimas, como hão de pagar os gados e bêstas que forem achados em dano nos lugares do termo desta cidade, são referidos 22 itens onde são descritas as situações que darão origem a coimas e o montante destas.
Por exemplo:
. As bêstas e gado «vacaryll» que forem achados em vinhas desde o primeiro dia do mês de Março até dez dias do mês de Outubro pagarão o dano e de coima por cabeça cinco reis.
- Todo porco ou porca que fôr achado em pães, favais, feijões, ervanços, cebôlas, alhos, ou em hortas e pomares aproveitados e tendo neles fruta e hortaliça pagarão de coima por cabeça cinco reis e o dano a seu dono.
. Todo pegureiro que guardar bois e vacas será da idade de doze anos para cima e sendo de menos idade pagará o dono dos tais bois ou vacas por cada vez que lhe fôr achado cinqüenta reis. E os que guardarem quaisquer outros gados serão da idade de dez anos para cima sob a dita pena a qual será a metade para quem os acusar e a outra metade para esta cidade.
Livro I da Correa (Legislação Quinhentista do Município de Coimbra). 1938. Coimbra, Biblioteca Municipal. Transcrição de José Branquinho de Carvalho. Separata do Arquivo Coimbrão, vols. II a V.
No decurso das minhas buscas na Internet constatei que a obra A. Nogueira Gonçalves. Colaboração em Publicações Periódicas. Coordenação de Regina Anacleto e Nelson Correia Borges. Prefácio de José de Encarnação. Coimbra, Câmara Municipal. Volume I e II, está disponível para descarga gratuita no sítio da Camara Municipal de Coimbra.
Para aceder à mesma dei os seguintes passos.
1 – Abrir o sítio da Câmara Municipal de Coimbra:
https://www.cm-coimbra.pt/
2 – No lado esquerdo, surge uma série de caixas de diálogo e numa deles surge a palavra VIVER. Clicar.
3 – Surge uma nova série de caixas de diálogo uma das quais diz CULTURA. Clicar.
4 – Surge uma outra série de caixas de diálogo uma das quais diz EDIÇÕES MUNICIPAIS. Clicar na mesma.
5 – Surge a seguinte imagem
6 - Clicar na imagem e surge
António Nogueira Gonçalves – Colaboração em publicações periódicas:
Vol. I
Vol. II
7 - Clicando em Vol. I e Vol.II, acedemos à obra, a qual como referimos pode ser descarregada gratuitamente.
Trata-se de uma decisão de aplaudir e de interesse para quantos se interessam pela história de Coimbra.
Boas leituras.
Rodrigues Costa
Esta entrada relata os estragos causados pelos franceses no Convento de Santa Ana. Decidimos ilustrar com as imagens da parte do património que existia no Convento de Santa Ana e que foi dispersa por outros lugares.
Passados duzentos anos, [sobre 1610, quando as freiras entraram no novo Convento] novo sobressalto acomete as freiras, pois os franceses (invasões francesas) estão às portas da cidade de Coimbra.
Com medo das atrocidades que pudessem vir a sofrer, escondem (enterram) os seus tesouros no próprio Convento, e partem levando consigo pouca coisa.
Em 1811 já estão de volta ao convento, e num auto de justificação de um pedido de ajuda monetária, narram assim o estado em que está o mesmo:
A Madre Prioresa e mais Religiosas do Convento de Santa Ana, extra muros desta cidade de Coimbra, para justos requerimentos, pretendem justificar o seguinte:
1º Item
Que pela invasão do Inimigo comum nesta cidade no 1º de Outubro do ano pretérito de 1810, se virão as Religiosas Justificantes na precisão de saírem do seu Convento e dispersarem-se para diversas partes procurando o mais de escapar à morte e a outros insultos que os mesmos costumam praticar, e se retiraram para partes remotas aonde ainda por motivos justos se conservam algumas quais os de falta de meios para a sua transportação para o seu Convento, ainda mesmo por saberem a penúria em que se acha o mesmo, sem meios de administrar os socorros necessários às Religiosas a que são obrigadas.
2º Item
Que em razão da falta de transportes, (e) ainda de meios para fazer as despesas para esse fim preciso, não puderam transportar muitas roupas brancas, já do uso particular das Religiosas, como do comum e foram levadas e roubadas todas, assim como as do Culto Divino, como toalhas, Amitos, Alvas, Cordões corporais e sanguinhos e Paramentos como Palametas, Dalmáticas, Capas de Asperges, Frontais, Véus de ombros e de Cálices, Umbelas, Pálio, Cortinados e Tapetes, sendo uns de damasco de seda lisa, outros de damasco bordados de ouro, tirando a todos as guarnições e franjas de ouro e prata.
3º Item
Que algum trigo, milho e azeite que tinham no seu celeiro para sua sustentação e economia, como também louças, trastes das oficinas, apesar de terem sido escondidas e enterradas algumas coisas, por verem que não tinham meios de as transportar, e ser este o único meio a que podiam recorrer, assim mesmo tudo perderam e os esconderijos foram achados e o que foi enterrado foi descoberto pelo inimigo no que mostraram ser peritos.
4º Item
Que igualmente se lhe desencaminharam do Cartório vários títulos e papéis pertencentes à arrecadação dos réditos do seu Convento no que experimentam grande perda.
5º Item
Que os rendeiros das suas limitadas rendas lhe não querem pagar o convencionado preço por que as arremataram, com o fundamento de que nada receberam dos inquilinos e que estes lhe não pagam, porque dizem nada receberam no ano pretérito de 1810, assim como não querem pagar o presente ano de 1811, com o fundamento de que a maior parte das terras ficarão incultas, por falta de sementes, bois, homens e os mais meios necessários para a cultura.
6º Item
Que dentro do Convento foi notável o prejuízo causado pelos Inimigos pois que quebraram portas, janelas, vidraças, armários e todos os trastes de madeira que puderam achar, estragaram as Capelas do Claustro no seu ornamento.
7º Item Que os referidos estragos aqui frisados, que é uma pequena relação do que na verdade foi, e na comum e geral estimação de todas as pessoas que sabem a perda das justificantes a avaliam no melhor de sessenta mil cruzados.
…
11º Item
Que tal foi o estado deplorável em que as justificantes ficaram que nem têm com que possam subsistir pois se acham sem ração, padecendo gravíssimas necessidades.
Portal da igreja do Convento de Santa Ana, hoje no Museu Nacional Machado de Castro
Portal do claustro do Convento de Santa Ana, hoje no Museu Nacional Machado de Castro
Retábulo da igreja do Convento de Santa Ana, hoje capela-mor da Igreja Matriz de Oiã. https://www.facebook.com/Paroquia.Oia/
Altar lateral e parte do cadeiral do Convento de Santa Ana, hoje na Igreja Matriz de Oiã.
http://www.rotadabairrada.pt/irt/show/igreja-matriz-de-oia_pt_209
Pormenor do cadeiral do Convento de Santa Ana, hoje na Igreja Matriz de Oiã.
http://www.rotadabairrada.pt/irt/show/igreja-matriz-de-oia_pt_209
Capelo, L. C. 2006. Convento de Santa Ana de Coimbra. Inventário. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra.
Da autoria de José Paulo Soares foi recentemente publicada a 2.ª edição, revista e corrigida, da obra Uma História da Vida Académica.
Capa de Uma História da Vida Académica
Trata-se de um trabalho profusamente ilustrado e, da contracapa, extraímos o seguinte texto:
José Paulo dos Santos Soares é natural de Alcains (Castelo Branco) onde nasceu em 10 de março de 1936. Frequentou o Liceu Nuno Álvares em Castelo Branco, fim do qual se candidatou à farmácia em Lisboa, tendo depois pedido a transferência para Coimbra, onde chegou em 1955.
Eis a “minha” primeira Tuna para onde entrei em Outubro de 1955.
In: Uma História da Vida Académica, pg. 25
Ainda nesse ano fiz a minha inscrição nas Danças Regionais.
In: Uma História da Vida Académica, pg. 26
Integrou a Tuna Académica da Universidade e foi cofundador do grupo universitário de Danças Regionais, tendo sido elemento da ”República Klynic da Alta” (Não oficializada).
O livro traça as memórias da intensa vida académica do Autor. Passa pelas da sua permanência em Coimbra como estudante e também pelas rememorações das peripécias acontecidas a bordo do paquete “Vera Cruz”, aquando do Périplo de África, realizado em 1963, pela Tuna Académica da Universidade de Coimbra.
Itinerário do Périplo de África
In: Uma História da Vida Académica, pg. 127
Desembarque em Luanda
In: Uma História da Vida Académica, pg. 155
Explica o Autor a razão de ser deste livro.
Um dos meus netos entrou para a Universidade e eu, sem querer, senti-me velho! Já tenho um neto “Caloiro”! Então pensei em reviver nele, toda a minha juventude académica. Vida que ele vai iniciar e da qual lhe vou dar algumas “dicas”, do que foi a minha “passagem” pelos bancos da nossa vetusta e sempre querida Universidade de Coimbra.
Desiluda-se, contudo, quem pensar encontrar uma obra literária sobre assuntos académicos. Este “livro” não pretende, de modo algum, ser um documento que possa querer interpretar-se como uma verdade absoluta sobre, Praxe, Queima das Fitas, Latadas, ou quaisquer outras atividades académicas do meu tempo (e não só). Pretende, tão somente, lembrar a minha vida em Coimbra na década de 50, como entrei na Universidade de Coimbra, na Tuna, e principalmente a minha vivência na Tuna Académica da Universidade de Coimbra, no Grupo Universitário de Danças Regionais e na República “Klynica da Alta”.
Livro que se lê com muito agrado e que vai muito além do objetivo atrás referido.
Soares, J.P. 2018. Uma história de vida académica. Coimbra, Edição de Autor.
No ano de 2018-2019, numa colaboração com a Casa da Escrita, organizamos uma série de Conversas Abertas, que tiveram alguma repercussão traduzida numa assistência média de cerca de 30 pessoas, em inúmeras mensagens de incentivo e agora, em algumas perguntas relacionadas com a continuidade da iniciativa.
Conversa aberta de 10 de maio de 2019
A título de esclarecimento diremos que, em 2 de novembro de 2019, a fim de dar continuidade ao projeto, apresentamos à Casa da Escrita uma proposta de programação para o ano em curso; contudo, 4 meses se passaram sem que nos fosse dada qualquer resposta o que nos levou, face ao silêncio manifestado, a retirar a iniciativa.
Temos agora o prazer de informar que, por despacho da Senhora Doutora Cristina Vieira Freitas, Dig.mª Diretora do Arquivo da Universidade de Coimbra, foi autorizada a realização do evento nas instalações desse mesmo Arquivo.
Arquivo da Universidade de Coimbra, localização
Imagem Google
Arquivo da Universidade de Coimbra, exterior
Imagem Coleção RA
Trata-se de uma alternativa que tem a vantagem de se poderem utilizar os abundantes transportes municipais que ali passam, para além de, à hora de início previsto para as Conversas Abertas, já ser mais provável encontrar estacionamento naquela zona.
No entanto, sucedeu um percalço que se chama COVID-19. Neste contexto, decidiu-se não iniciar, para já, o ciclo de Conversas Abertas, contando que a primeira sessão se possa vir a realizar NA ÚLTIMA 6.ª FEIRA DE SETEMBRO.
Daremos mais notícias em momento ajustado.
O local onde foi construído o primeiro Convento de Santa Ana de Coimbra das Eremitas Descalças, situava-se na margem esquerda do rio Mondego, arredores de Coimbra.
Ruínas das “Celas da Ponte”. Vista de Coimbra. Georg Braun e Franz Hoefnagel (c. 1565). Pormenor
Conhecido por “Celas da Ponte” dá-se como data da sua fundação o ano de 1174, segundo D. Nicolau de Santa Maria, cónego regrante da Congregação de Santa Cruz de Coimbra.
Concluída a obra em 1184, teve como primeira prioresa Dona Joana Pais, que veio do Convento de S. João das Donas, como mestra de noviças D. Maria Martins, e como porteira e vigaria D. Maria Lopes.
Mudanças significativas observam-se no local da sua fundação, pois as cheias do rio Mondego, no Inverno, causavam-lhe grandes inundações e o depósito de areias que as mesmas arrastavam, tornam o local inadequado para viverem.
(…). Em 1561 recolhem-se as freiras numa quinta em São Martinho (Coimbra), que lhes doou o bispo D. João Soares, enquanto não construíam outro Convento. Embora esta quinta tivesse poucas condições, mantiveram-se nela até que o bispo conde D. Afonso de Castelo Branco lhes mandou construir um novo edifício.
Convento de Santa Ana, planta da fachada norte. In: Ferreira, J.M.V.A. e Caldeira, J.R.M.
Sant'Anna: três séculos de convento, um século de quartel, pg. 65
A 23 de Junho de 1600 o Senhor Bispo dá início ao novo edifício, lançando a primeira pedra do novo Convento.
Planta do piso térreo. Lado norte. Pormenor da igreja. In: Ferreira, J.M.V.A. e Caldeira, J.R.M.
Sant'Anna: três séculos de convento, um século de quartel, pg. 67
Situado na “Eira das Patas”, junto à cerca de S. Bento (Jardim Botânico), o seu domínio estendia-se até ao atual Penedo da Saudade.
Convento de Santa Ana e Colégio de Tomar
Imagoteca Municipal de Coimbra. Cota: BMC_A033
Consta que a construção demorou nove anos e meio e as freiras entraram no novo Convento em Fevereiro de 1610, e começaram a usar o hábito das Eremitas de Santo Agostinho.
Capa das Constituições das religiosas da ordem dos eremitas de S. Agostinho. Edição de 1734. In: Ferreira, J.M.V.A. e Caldeira, J.R.M.
Sant'Anna: três séculos de convento, um século de quartel, pg. 29
A primeira prioresa deste novo Convento foi Dona Hieronyma, freira professa do Convento de Santa Mónica de Lisboa.
AUC. Livro de Cartas de Aforamentos, Compras… de que é senhoria o Convento de Santa Ana de Coimbra, pormenor de um selo de chapa
Trabalho de recorte de papel encontrado dentro de um livro do Convento de Santa Ana
Mas o decreto da extinção das Ordens religiosas de 30 de Maio de 1834, e a lei de 4 de Abril de 1864, que desamortizou os bens das freiras e das igrejas, põe um ponto final neste Convento.
A última freira deste Convento, D. Maria José Carvalho, foi transferida a 6 de Junho de 1885 para o colégio das Ursulinas e sabemos que em 29 de Novembro de 1891 já havia falecido.
A 6 de Julho de 1885, o edifício do Convento passou para a posse da Fazenda Nacional. Por solicitação do Ministério da Guerra foi-lhe dada a posse do edifício do antigo Convento das freiras de Santa Ana de Coimbra, com exclusão da Igreja e da Cerca, para estabelecimento do Regimento de Infantaria nº 23, a 13 de Agosto de 1885, onde ainda hoje se encontra.
Capelo, L. C. 2006. Convento de Santa Ana de Coimbra. Inventário. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra.
Situamo-nos em Coimbra, na rua da Sofia. Após a extinção das ordens religiosas em 1834, com decreto redigido por Joaquim António de Aguiar, alcunhado de “Mata Frades”, teve o edifício colegial de Nossa Senhora da Graça, dos Eremitas Calçados de Santo Agostinho, diversas utilizações.
Igreja da Graça, exterior.
In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_da_Gra%C3%A7a_(Coimbra)
A igreja foi, porém, entregue à Irmandade do Senhor dos Passos, ali existente e gozando de prestígio na cidade, graças ao culto prestado à imagem do Senhor dos Passos, “muito gabada por sua beleza”, no dizer de Simões de Castro, em 1867.
Igreja da Graça, interior.
In:https://www.facebook.com/baixadecoimbra/photos/pcb.1063879910297440/1063879780297453/?type=3&theater
Este culto, com a procissão representando os passos da Via Sacra, foi estabelecido em Coimbra pelos frades gracianos, à semelhança do que tinha acontecido em Lisboa em finais do século XVI. Três nomes andam associados à introdução deste ato litúrgico em Portugal. Fr. Manuel da Conceição presenciara a procissão no convento de Santo Agostinho em Sevilha, estabelecida havia pouco tempo, e foi portador da ideia para Portugal. Para aquela cidade andaluza se dirigiu, pouco depois, Fr. Domingos de Azevedo, para se inteirar e documentar. De lá trouxe todos os pormenores, até a medida dos Passos, tudo autenticado por notário. Mas o grande entusiasta foi o pintor de estandartes, bandeiras e diversas imagens, Luís Álvares de Andrade, mais gabado pelas virtudes granjeadoras do título de “pintor santo” que pela sua arte. Foi o fundador da Irmandade ou Confraria da Santa e Vera Cruz, sediada numa capela do convento da Graça, em Lisboa, em 1586. Esta associação, que hoje existe com o nome de Real Irmandade da Santa Cruz e Passos da Graça, em breve se transformou na preferida de todo o povo da capital, dos nobres, e dos próprios soberanos.
Rapidamente a devoção chegou a Coimbra e se espalhou por todo o país, proliferando as confrarias, algumas delas instituídas em mosteiros e conventos. Na igreja da Graça, tratava da devoção a Irmandade de S. Nicolau e das Almas, extinta em 1721, para dar lugar à Irmandade do Senhor dos Passos.
Igreja da Graça. Altar do Senhor dos Passos. Fotografia Nelson Correia Borges
O culto na igreja da Graça deve ter começado ainda no século XVI, como a mesa do altar parece indicar: esculpida em pedra de Ançã, apresenta quatro pilastras decoradas com losangos, dividindo panos ornamentados com os símbolos da Paixão e pinturas de que hoje restam vestígios.
Sobre esta mesa de altar ergueram, em finais do século XVII o retábulo de talhas douradas com camarim profundo, onde se abriga a imagem do Senhor dos Passos. Tem quatro colunas espiraladas sobre mísulas de exuberante decoração, formando intercolúnios laterais, onde se encontram as imagens de Santo Ildefonso e S. Tomás de Vila Nova. A decoração das colunas é a habitual desta época, constituída por parras, cachos de uva com gavinhas e aves debicando. As colunas centrais prolongam-se em arquivolta superior e as laterais em grandes volutas em que se sentam anjos mostrando um medalhão central com as insígnias da Paixão. São conhecidos os nomes dos entalhadores e douradores, provavelmente do Porto: Manuel de Almeida, João de Sousa e Domingos de Almeida (o documento não refere datas nem outros dados).
Senhor dos Passos. Fotografia Nelson Correia Borges
A imagem atual deverá também ser contemporânea do retábulo. Apresenta apenas o rosto, as mãos e os pés esculpidos, sendo o corpo revestido por tecido. Este tipo de imagens, genericamente designadas por “de roca”, foi um traço comum da época barroca e é uma representação quase exclusiva do mundo de cultura ibérica. São raras as que ostentam as vestimentas originais, envergando muitas vezes tecidos de pouco merecimento, o que altera a sua leitura como obra de arte e devocional. São resultado de uma época, na sequência do Concílio de Trento, em que se procurava o máximo de realismo, para mostrar que os santos eram pessoas comuns e que, portanto, todos podiam ser santos. Eram fáceis de transportar em procissões, onde o realismo era acentuado pelo movimento que os tecidos adquiriam.
Procissão do Senhor dos Passos. 2019. Fotografia Nelson Correia Borges
Há que valorizar esta forma de expressão artística tão digna de ser considerada escultura, como certas correntes da escultura contemporânea.
Nelson Correia Borges
In: Correio de Coimbra n: º 4777, de 5 de março de 2020.
Nesta entrada iremos referir os objetos de arte levados de Santa Cruz, para o hoje Museu Nacional Soares dos Reis, arrolados no seguinte documento transcrito por Madaíl.
Mosteiro de Santa Cruz, santuário
«Termo de entrega das pinturas e mais objectos para o Mozeu da Cid.e do Porto
Aos quatro de Junho de mil oitocentos e trinta e quatro annos em Coimbra e Mosteiro de Santa Crus aonde eu Escrivão vim Com Francisco Pedro de Oliveira e Souza, Comicionado do Mozeu Portuençe para este na forma da ordem retro escolher, e Serem entregues os objectos que houvesse na mesma Casa para fazer Conduzir ao mesmo Mozeu e procedendo o mesmo na mesma escolha Se entregar e lhe forão entregues os objectos escolhidos que Saõ os que Se Seguem –
Seis paizages ao Devino pinturas em Cobre
Seis floreiros ditos, em Cobre
Cinco Nascimentos do Menino, em Cobre
Tres descimentos da Crus, em Cobre
Quatro Vezitações dos tres Reis Magnos, em Cobre
Tres Santos Antonios a receber o Menino, em Cobre
Huma pintura da flagelação de Christo, em Cobre
Outra ditta Calvario, em Cobre
Duas dittas a Sepultar Christo, em Cobre
Outra ditta = Senhora da Piedade, em Cobre
Outra ditta = Vezitaçaõ de Santa Izabel, em Cobre
Duas ditas Assençaõ de Nossa Senhora, em Cobre
Outra ditta de Trnafiguraçaõ no Horto, em Cobre
Outro ditto de Santa Izabel Raynha da Ungria, em Cobre
Outro ditto = Morte de Saõ Francisco, em Cobre
Outro ditto = Baptismo de Christo, pintura em pedra
Outro ditto de Nossa Senhora apresentando o menino a Santa Catherina, em Cobre
Outro dito de Saõ Joaõ pregando no dezerto, em Cobre
Outra ditta de Nossa Senhora entre huma gloria de Meninos Com dois Santos em adoração.
Outros ditos de Saõ Pedro, e São Paullo em Cobre e redondos
Duas famílias Sagradas, piquenas em Cobre
Huma dita redonda, Senhora da Cadeira, pintada em pedra
Outra pintura dita do Nascimento pintada em pedra e ouvada
Hum saõ Jeronimo em Cobre
Outra pequena pintura em pedra, vezitaçaõ dos tres Reis
Quatro Evangelistas, pinturas em Cobre
Huma Senhora com o Menino em Cobre
Santa Maria Magadallena em Cobre
Vinte e Seis pequenos quadros esmaltados em Cobre, da Paixão de Christo.
Mestre da Paixão de Cristo; esmalte pintado sobre cobre. In: O Património Artístico das Ordens Religiosas entre o Liberalismo e a atualidade
Três notas finais;
– No documento ora transcrito são ainda arrolados 21 títulos, sendo o primeiro Antiguidades Gregas, Italicas, e Romanas com 52 volumes;
- Para além da livraria do Mosteiro também foram também levados livros do Colégio de S. Agostinho, sendo referido o título Homens Ilustres, com 52 volumes;
Colégio de S. Agostinho, claustro. Coleção Regina Anacleto
- Não foram encontrados documentos referentes à retirada da espada dita de D. Afonso Henriques, nem da escrivaninha/tinteiro, aqui referidos em entradas próprias.
Madail, A.G.R. 1949. Inventário do Mosteiro e Santa Cruz à data da sua extinção em 1834. Separata revista e aumentada da Revista O Instituto , vol. 101, 1943, acedida em:
http://webopac.sib.uc.pt/search~S17*por?/tinstituto/tinstituto/1,291,309,E/l856~b1594067&FF=tinstituto&1,1,,1,0
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