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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 27.02.20

Coimbra: Peças levadas do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra 1

Sob esta epígrafe publicamos há algum tempo um conjunto de informações relativas ao que foi “tirado” do Mosteiro de Santa Cruz e levado para o Porto.
O entendimento das razões desse facto e do que foi levado é possível conhecer a partir do trabalho de Rocha Madaíl que iremos passar a utilizar. Nesta entrada iremos procurar compreender as razões que estavam subjacentes à ira liberal contra o Mosteiro, começando com a seguinte citação de um documento divulgado por Madaíl no trabalho em apreço. Trata-se de uma carta datada de 30 de Maio de 1834 dirigida pelo Sub Prefeito Interino Joze Maria Ribeiro de Castro, ao Corregedor da Comarca de Coimbra, Manuel Homem Rebelo Freire de Almeida.

Sendo publico, e notorio que o Prelado Geral do Convento de S.ta Cruz desta Cidade, e mais quatro Religiosos Conventuaes do mesmo Mosteiro, se evadirão, e abandonarão aquella Caza na occazião da entrada das Tropas Fieis [8 de Maio de 1834] nesta Cidade e Acclamação do Governo Legitimo de S. M.J. o Duque de Bragança Regente em nome da Rainha; e sendo de igual notoriedade publica que o referido Prelado serviu hostilmente contra o Governo do Mesmo Augusto Senhor, na qualidade de Commandante, de hum Corpo de Voluntarios, e não menos sabido que o mesmo Convento, recebeo alguns Religiozos dos Conventos Abandonados da Serra, Grijó, em cujos termos hé considerado Supprimido… nomeio a V.S.ª para proceder sem perda de tempo ao Inventario do referido Convento … Sirva-se igualmente enviar-me uma hua relação Nominal de todos os Religiozos do Convento.

Mosteiro de Santa Cruz. Fachada.jpgMosteiro de Santa Cruz, fachada da igreja.Coleção Regina Anacleto 

… Sobre o drama político, em que desde sempre se consubstanciou a gloriosa mas acidentada vida de S.ta Cruz de Coimbra – arrastada, nos últimos tempos, pelo torvelinho das violentas paizões que dominavam a época e às quais, a instituição não soube ou não pôde manter-se estranha – caía agora, com a frieza terminante do ofício acima transcrito, inglório e implacável, o pano do ultimo ato.
O que se lhe seguiu e aqui se relata, mais do que um epílogo, foi uma farsa que podemos perfeitamente isolar da vida daquela casa sete vezes secular; de comum com ela tem apenas o lugar da ação.
… Pelo que respeita a Santa Cruz de Coimbra é de notar que sempre o mosteiro gozara da fundada tradição de professar ideias antiliberais; com a vinda de D. Miguel a Coimbra em outubro de 1832, de caminho para o Porto, onde os liberais desembarcados no Mindelo se haviam instalado já desde 9 de julho, mais se arreigaram dedicações, e velhas simpatias absolutistas se concitaram.

Mosteiro de Santa Cruz. Púlpito.jpgMosteiro de Santa Cruz, púlpito. Coleção Regina Anacleto

O Rei [D. Miguel] chegou a Coimbra no dia 20, mas desde 12 que o seu Estado-Maior se encontrava na cidade, e aquartelado justamente no mosteiro de Santa Cruz.
Madaíl transcreve de seguida um documento em que se descreve, minuciosamente. os preparativos para alojar D. Miguel e o seu séquito no Mosteiro, o que não veio a ocorrer pois este preferiu alojar-se no Paço da Universidade.

Mosteiro de Santa Cruz. Túmulo de D. Afonso Henri

Mosteiro de Santa Cruz, túmulo de D. Afonso Henriques. Coleção Regina Anacleto

Prossegue Madaíl salientado que Conquanto não lograsse hospedar o monarca adentro de seus muros, o mosteiro recebeu-o nos dias 23 e 25 … vendo todo o convento, santuário e igreja; a pedido do Rei, foram abertos os túmulos de D. Afonso Henriques e D .Sancho I, patenteando-se-lhe, e à régia comitiva, a própria ossada do fundador da monarquia portuguesa.
Mais adiante acrescenta que Na noite de 7 para 8 os miguelistas abandonavam Coimbra às quais se juntaram … o Geral de Santa Cruz e mais quatro Cónegos; para a identificação destes últimos não dispomos de elementos suficientes; mas o Geral sabemos que era D. João da Assunção Carneiro.
… Primeira consequência do abandono do Paço episcopal e do Mosteiro de Santa Cruz por parte, respetivamente, do Prelado e do Prior Geral, foi a instalação das tropas liberais nestes edifícios.

Madail, A.G.R. 1949. Inventário do Mosteiro e Santa Cruz à data da sua extinção em 1834. Separata revista e aumentada da Revista O Instituto , vol. 101, 1943, acedida em:
http://webopac.sib.uc.pt/search~S17*por?/tinstituto/tinstituto/1,291,309,E/l856~b1594067&FF=tinstituto&1,1,,1,0 

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por Rodrigues Costa às 18:13


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