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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 06.02.20

Coimbra: Belezas de Coimbra e Memória topográfica e descritiva de Coimbra 2

Decidimos complementar a entrada anterior, inserindo mais duas. Nelas, cada um dos Autores em causa descreve, à sua maneira, a emoção sentida com a vista da cidade tomada da margem esquerda do Mondego.
Corte-Real narra a sua experiência dentro do contexto romântico em que viveu.

Quando sopra do nordeste algum vento forte, ouvem-se em grande distância os sinos do antigo Mosteiro de Santa Cruz. As suas vozes harmoniosas, trazidas por este espírito de Deus, excitam em nossa alma alegria saudosa e enchem-nos o coração de um entusiasmo religioso. Soam depois as horas na Torre da Universidade e nos vão marcando a longitude do dia e a rapidez da existência. Chega-se finalmente à extremidade da planície, onde começa a descer-se a montanha fronteira a Coimbra; gritam os arrieiros a um tempo: Olha a Torre da Universidade. Começam então a descobrir-se, pouco e pouco, os edificios de Coimbra, que está posta sobre os ombros de uma montanha, que nos fica defronte. Insensivelmente vai caindo a cortina que nos encobria a cidade e vê-se correr a seus pés um rio de prata sobre areias de oiro. Salve, rainha da antiga Lusitânia, salve, pátria das ciências: eis as vozes que arranca do peito do viajante a vista majestosa desta capital das luzes.

Torre de Santa Cruz 08.jpgA torre do Mosteiro de Santa Cruz emerge do casario da cidade

Ó minha Júlia, que linda vista não é a de Coimbra em qualquer ocasião que a observemos daqui? Se a contemplamos pelo silencioso escuro de uma noite serena da primavera ou do verão, o seu grande vulto coberto de um largo manto de trevas todo estrelado de luzes que lá estão brilhando ao longe por entre as vidraças das janelas, figura-se-nos o corpo imenso de um enorme gigante com o seu vestido de sombras matizado de estrelas; se ao pálido clarão da lua, derramando por cima da cidade, do rio e dos campos a sua
luz misteriosa, Coimbra é então para nós um palácio de fadas, rico de ouro e pedrarias, semelhante àqueles com que os contos de Mil e Uma Noites nos dilatavam a imaginação nos dias da nossa chorada infancia; se ao romper da manhã, quando o sol vem saindo detrás da cidade entre ondas de luz por um horizonte todo iluminado de ouro e de rosas, julgamos estar vendo sair de seu palácio o rei dos dias para ir fazer o seu giro diurno pelos confins do universo; se enfim, de tarde começa a descer por entre as oliveiras da montanha ocidental, iluminando a cidade com as luzes multicolores do reflexo, Coimbra, com o rosto voltado para o ocidente parece-nos uma cidade encantada, dando ao sol que lhe dourava os campos os seus últimos adeuses mil sorrisos de luz.

Coimbra no período do romantismo.jpgCoimbra no período do romantismo

Vem agora prender-nos a atenção aquele monte de casas todas diferentes na cor, no risco e tamanho, entremeadas de góticos palá cios, que até por sua forma acastelada nos estão mostrando a diuturnidade dos séculos da sua prolongada existência; encantando-nos sobretudo os olhos a variedade com que todos os edifícios se vão apinhando uns sobre os outros, elevando-se mais que nenhum,
coroado com sua Torre e Observatório, o Palácio das Ciências.
É edifício majestoso: a sua torre altíssima, que se avista muitas léguas ao longe, parece um luminoso farol, que está despedindo raios
de sabedoria para todos os pontos da terra portuguesa, e, protegendo com suas asas os mais edifícios da montanha, entre os quais inculca certa majestade, que bem dá a conhecer que é a rainha de todos eles.

Corte-Real, A.M.B. e Gusmão, F.A.R. 2020. Belezas de Coimbra seguido de Memória topográfica e descritiva de Coimbra e seus arredores. Recolha de textos e notas de Mário Araújo Torres. Lisboa, Edição Gráfica de Edições Ex-Libris.

 

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por Rodrigues Costa às 10:45


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