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Na Illustração Portuguesa de 1906, Eugénio de Castro publicou um artigo que, em parte se reproduz, onde é relatada a forma como, em conjunto com António Augusto Gonçalves, foi levada a cabo a tarefa de exposição e de catalogação Thesouro da Sé de Coimbra. Trabalho que constituiu o embrião do Museu Nacional Machado de Castro, onde as peças aqui referidas atualmente se encontram.
Por razões de facilitar a leitura atualizou-se a grafia do artigo.
Eugénio de Castro
O Thesouro da Sé de Coimbra
Illustração Portugueza, 3, Primeiro semestre, 2.ª série, p. 84
… os nossos primeiros críticos d'arte, Joaquim de Vasconcelos, Ramalho Ortigão, Sousa Viterbo, António Augusto Gonçalves e outros, fixaram já, e repetidas vezes, com palavras de rasgado louvor, a singular importância d'esta opulenta coleção, enaltecendo ao mesmo tempo os méritos do seu instituidor, que, afortunadamente, tem dedicado uma boa parte da sua inteligência, energia e bom senso proverbiais ao culto da beleza artística, reatando assim a luminosa tradição, por tantos anos quebrada, daqueles grandes Prelados, D. Jorge de Almeida, D. João Soares, D. Afonso de Castelo Branco e D. João Manoel, que, chamando arquitetos, escultores, ourives, entalhadores, bordadores e tecelões, encheram de preciosidades a velha Sé, com a magnífica prodigalidade d'um enamorado príncipe italiano da Renascença.
D. Manuel Correia de Bastos Pina, Bispo de Coimbra e conde de Arganil
… Encerrada a Exposição da Arte Ornamental, que se realizou em Lisboa no ano de 1882, e onde a diocese conimbricense tivera brilhante representação, lembrou-se o senhor Bispo-Conde de fundar junto da sua catedral um museu de arte religiosa, constituído pelas chamadas pratas da Sé, e que sucessivamente devia ser aumentado com peças provenientes dos conventos em via de supressão. Nesta, como em todas as empresas do senhor Bispo-Conde, não intervieram delongas. Estudado o projeto, deu-se-lhe imediata execução. No mesmo dia se escolheram salas adequadas e se encomendaram as vitrines; no mesmo dia se chamaram ferreiros que vieram chapear as janelas e portas do futuro tesouro, e se rebuscaram pedaços de talha antiga para guarnecer prateleiras. Todo este «fervet opus» se exaltava sob a vigilância contínua do senhor Bispo-Conde, que dirigia os trabalhos, que a pensar neles adormecia, que com eles sonhava, e com eles se sentava á mesa, entusiasmado e decerto por ver tudo rapidamente concluído, como se tudo aquilo, que para os outros era, fora seu, com a mesma ansiedade do particular que assiste à edificação do palácio onde conta passar uma regalada e luxuosa existência.
Castro, E. O Thesouro da Sé de Coimbra. In Illustração Portugueza, 3, Primeiro semestre, 2.ª série, Lisboa, 1906, p. 84-87.
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