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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 28.11.19

Coimbra: Tascas que já não existem 3

- TIAS CAMELAS
Localização: Ruas Larga e do Borralho, hoje desaparecidas

Rua do Borrralho.jpgRua do Borralho, onde se localizava a tasca das Tias Camelas. In: A Velha Alta … Desaparecida

As Tias Camelas, eram consideradas as Mães da Academia. Tinham a sua taberna na esquina oposta da Associação Académica na Rua Larga também com entrada pela Rua do Borralho.

Sede da AAC, na rua Larga.jpgSede da AAC, na Rua Larga. In: A Velha Alta … Desaparecida

Um cubículo onde apenas cabia a pipa do vinho, o fogareiro e com dificuldade se acomodavam os frequentadores. Ali, comia-se e bebia-se à farta. Quem não tinha dinheiro não pagava, ou pagava quando podia, às vezes no fim do mês, quando chegava a mesada. As Tias Camelas só recomendavam é que não se esquecessem de pôr um pataco para o Azeiteiro. O Azeiteiro era um Santo António de barro, sempre alumiado por uma torcida de candeia de azeite!
Apesar de ser uma lojinha escura e cheia de fumo, celebrizou-se pelo seu bom peixe frito, vinho e os rapazes literatos e boémios que ali se juntavam. Certamente não faltaram às diversas noites de tertúlia Camilo, Guerra Junqueiro, Trindade Coelho, Gonçalves Crespo ou Silva Gaio. António Nobre deixou-a para sempre imortalizada no seu livro Só e Eça de Queirós recordaria na sua obra A Correspondência de Fradique Mendes.
… tias Camelas, essas encantadoras velhas, que escrupulosamente, através de lascivas gerações de estudantes, tinham permanecido virgens, para poderem no Céu, ao lado de Santa Cecília, passar toda uma eternidade a tocar harpa... Era uma das suas memórias melhores de Coimbra essa taverna das tias Camelas, e as ceias desabaladas que custavam setenta reis, comidas ruidosamente na penumbra fumarenta das pipas, com o prato de sardinhas em cima dos joelhos, por entre temerosas contendas de Metafísica e de Arte. E que sardinhas! Que arte divina em frigir o peixe!”.
A tasca das Tias Camelas foi por assim dizer o cenáculo literário da academia da segunda metade do séc. XIX e João Penha era na Tasca das Tias Camelas o pontífice máximo. As suas palavras de conforto e salvação sossegavam Maria Camela que era uma velhinha magra, um pouco corcovada, de cabelos brancos, olhos grandes e orbitas vermelhas e humedecidos pelo fumo da frigideira. Nunca sentira amor mundano e não sabia para que servissem os homens, a não ser para fregueses de peixe frito e vinho. Acreditava piamente na existência de um coro celeste de onze mil virgens, entre as quais sabia que tinha um lugar... Lamentou-se um dia de já não ser jovem e, assim, não poder candidatar-se ao celeste coro. Para a tranquilizar, João Penha confortou-a com os seus obscuros conhecimentos, dizendo-lhe: sossegue, Tia Maria, eu garanto-lhe que terá o seu lugar reservado num coro muito distinto. Acredite no que lhe digo: há o coro das virgens que o foram por acaso, e o das virgens pelas forças das circunstâncias...

Carlos Ferrão

 

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por Rodrigues Costa às 11:06

Terça-feira, 26.11.19

Coimbra. História breve de Coimbra, sua Fundação, Armas…

Numa edição patrocinada pelo Dr. Mário Torres acaba de ser reeditada a obra História breve de Coimbra, sua Fundação, Armas, Igrejas, Collégios, Conventos e Universidade.

Historia breve. Capa.jpg

Capa do livro ora editado

Historia breve. Contracapa.jpg

Contracapa do livro ora editado

Trata-se de mais uma iniciativa que Coimbra fica a dever ao Dr. Mário Torres e soma-se ao trabalho, tão meritório, que vem realizando destinado a divulgar factos e gentes da nossa Cidade.
Quero expressar o meu agradecimento por esta iniciativa, divulgando o que sobre a mesma é dito na badana do livro.

A «História breve de Coimbra, sua Fundação, Armas, Igrejas, Collégios, Conventos e Universidade, que em 1773 foi editada em Lisboa, na Oficina Ferreirinha, foi a «primeira publicação em ordem cronológica que expressamente se fizera sobre a história de Coimbra», no dizer de António Francisco Barata, que acrescenta que «do merecimento deste livrinho diremos apenas que ainda não houve quem escrevesse sobre a cidade de Coimbra ou que o não citasse ou que dele não mostre conhecimento».

Historia breve. Folha do rosto 01.jpg

Frontispício da edição de 1773 da História breve...

O nome que surge como seu autor Bernardo de Brito Botelho – é manifestamente um pseudónimo, permanecendo as dúvidas sobre a sua verdadeira identidade.
Generalizou-se o entendimento, com base em menções de Joaquim da Silva Pereira («Coimbra Gloriosa») e Diogo Barbosa Machado («Biblioteca Lusitana»), reproduzidas por Inocêncio Francisco da Silva («Dicionário Bibliográfico Português») que seria Frei Bento da Cunha, hipótese que é de rejeitar: o autor de «História Breve de Coimbra» apresenta-se como natural de Miranda do Douro, onde foi juiz dos órfãos, depois de se formar na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra; Frei Bento da Cunha nasceu em Coimbra, em 1672, onde estudou no Colégio da Companhia de Jesus, e professou na Ordem da Santíssima Trindade, em Santarém.
O exemplar da primeira edição da «História breve» com anotações manuscritas seguramente feitas pelo seu autor, a preparar uma reedição, foi adquirido em Lisboa por António Francisco Barata, que, com base nele, promoveu, em 1873, a sua segunda edição, amplamente enriquecida com anotações da sua lavra, corrigindo inexatidões, suprindo falhas e atualizando informações.

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Frontispício da edição de 1873 da História breve...

Reproduzem-se agora as duas edições (a primeira em «fac-simile»), que possibilitam o conhecimento, não só da história de Coimbra, mas como ela foi vista pelo seu autor original, em 1733, e pelo anotador em 1873.

Botelho, B.B. (pseudónimo). 1773 / Barata, A.F. (anotador da 2.ª edição). 1873. História breve de Coimbra, sua Fundação, Armas, Igrejas, Collégios, Conventos e Universidade. 2019. Lisboa, Edição de Mário Torres

 

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por Rodrigues Costa às 11:16

Quinta-feira, 21.11.19

Coimbra: Tascas que já não existem 2

- JOAQUINA CARDOSA
Localização: R. do Paço do Conde

Tasca da Joaquina Cardosa, finais do séc. XIX.jpg

Tasca da Joaquina Cardosa, finais do séc. XIX

A Joaquina Cardosa, do Paço do Conde foi um dos mais procurados lugares da Coimbra boémia e noctívaga.
A Piedade, a criada da tia Joaquina, uma doce morena de olhos tristes e magoados, punha naquele ingénuo cenário uma nota cheia de pureza e gravidade. Não houve poeta que por lá fosse que a não cantasse e aí está, entre tantas outras, a atestá-lo, essa deliciosa quadra de Afonso Lopes Vieira:

Maria da Piedade
Que nome te foram por,
Tu que não tens piedade
De mim que te tenho amor.

A Piedade, ouvia indiferente todos os galanteios, afável e carinhosa, entre condescendente e compassiva, mas se alguém soltava algum dito mais forte logo discretamente ela desaparecia, silenciosamente.

Tasca da Joaquina Cardosa, inicios do séc. XX.jpgTasca da Joaquina Cardosa, inícios do séc. XX

A boa e prazenteira tia Joaquina (Cardosa Marques) retirou-se do negócio nos primeiros anos do século XX, descansando de uma vida de trabalho e retirando-se para uma aldeia nos arredores da cidade. Tão amorável para todos, ainda mais para os seus “filhos” da academia, bem merece, que em sua memória, fique a notabilidade quase glorificadora dos admiradores da sua culinária e da sua resignada paciência…

- MANEL DO SEMINÁRIO
Localização: Rua dos Militares, já desaparecida

Tasca do Manel do Seminário.jpg

Tasca do Manel do Seminário

Em 1896 um antigo “moço de recados” do Seminário Episcopal montou, a meio da Rua dos Militares, por baixo da Real República Ribatejana, a “Loja do Povo”, mercearia, taberna e carvoaria que veio a ser uma das mais famosas tascas da Alta desaparecida e conhecida como “O Manel do Seminário”.

Rua dos Militares, hoje desaparecida.jpgRua dos Militares, hoje desaparecida. In: A Alta Desaparecida

Após a sua morte, o filho, que ficou com a alcunha do pai manteve o negócio que incrementou e uma das iniciativas de modernidade que tomou foi comprar em 1939 um rádio (novidade nas tascas da Alta) na altura da II Grande Guerra para o fregueses ouvirem os noticiários da BBC. Fechou, já nos anos 50, aquando das últimas demolições da Velha Alta.

Carlos Ferrão

 

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por Rodrigues Costa às 10:08

Quarta-feira, 20.11.19

Coimbra: Igreja de S. Bartolomeu

É a igreja de S. Bartolomeu talvez a de mais antiga história na cidade. Já existia em 957, pois, em 2 de novembro desse ano, foi doada ao mosteiro de Lorvão pelo presbítero Samuel, por mando do presbítero Pedro, em risco de morrer. Antes tinha sido dedicada a S. Cristóvão. A doação incluía também a igreja de S. Cucufate, com todas as suas vinhas e hortas que se encontravam em redor. O grande chefe mouro Almançor conquistou e arrasou Coimbra em 987. A igreja de S. Bartolomeu não deve ter sido poupada, pois que a vemos novamente doada a Lorvão em 1109, o que indica reconstrução. A doação de 1 de janeiro de 1109 é feita pelo presbítero Aires e nela são citados os ornamentos, móveis e imóveis.
Estas primitivas igrejas, cujos vestígios arqueológicos se encontram sob o pavimento da atual, depois de escavações levadas a cabo em 1979 e 1980, mas nunca publicadas, tinham entrada para poente e não para o lado da praça. No século XVIII a igreja ameaçava ruir, pelo que em 5 de junho de 1755 se fez a trasladação do SS. e das imagens de Cristo e Nossa Senhora para o antigo Hospital Real, donde passaram para a Misericórdia, iniciando-se de imediato a demolição do velho edifício românico. A primeira pedra da igreja atual foi lançada em 16 de julho de 1756, sendo arquiteto Manuel Alves Macomboa.

Igreja de S. Bartolomeu, vista aérea.jpg

Igreja de S. Bartolomeu, vista aérea

A planta do novo edifício é de grande simplicidade, articulando em retângulo a nave com a capela mor. Amplas janelas inundam e unificam o interior de uma luz homogénea, bem característica da época rococó em que se fez a reedificação.

Igreja de S. Bartolomeu. torre sineira.jpg

Igreja de S. Bartolomeu, torre sineira

A fachada enobrece o topo da praça, com suas duas torres sineiras coroadas de fogaréus e cúpula bolbosa. No século XIX construíram a casa da esquina com a rua dos Esteireiros, que lhe rouba parte da monumentalidade. O portal é ladeado por colunas dóricas onde assenta uma varanda de balaústres em forma de vaso chinês, diferentes dos da balaustrada que une as duas torres.

Igreja S. Bartolomeu, capela-mor e retábulos lateIgreja de S. Bartolomeu, capela-mor e retábulos laterais

O interior é sóbrio apenas se destacando as cantarias dos púlpitos, portas, janelas e arcos das capelas. O arco da capela-mor é em asa de cesto, sobre entablamento peraltado, assentando em pilastras mais cuidadas. O retábulo-mor domina todo o espaço, captando a atenção. Foi executado pelo notável entalhador de Coimbra João Ferreira Quaresma, contratado em 20 de dezembro de 1760, com a obrigação de consultar o arquiteto Gaspar Ferreira, para que ficasse como o de Santa Cruz. A fortíssima impressão causada pelo retábulo de Santa Cruz fez dele o pai de imensa prole que se estendeu de Coimbra a todas as Beiras, originado o estilo do rococó coimbrão. O mesmo João Ferreira Quaresma executou as cadeiras do coro e os arcazes da sacristia. O retábulo tem dois pares de colunas por banda, sobre alto embasamento. O coroamento, em frontão interrompido, de elaboradas formas, abriga glória solar ladeada de anjos com palmas. Marmoreados e dourados dão realce a todo o conjunto e emolduram a boca da tribuna, preenchida com uma tela de Pascoal Parente, representado o martírio de S. Bartolomeu.

Igreja de S. Bartolomeu. capela lateral do SagradoIgreja de S. Bartolomeu, capela lateral

Os retábulos colaterais seguem o mesmo estilo, simplificado. Duas capelas laterais apresentam retábulos recuperados da igreja antiga. O do lado nascente é ainda maneirista, dos finais do século XVI, adaptado ao espaço. Conservou, além da estrutura, duas pequenas pinturas sobre tábua. A capela fronteira tem um retábulo de colunas salomónicas de finais do século XVII, época de D. Pedro II.
A igreja tem ainda no seu espólio belas sanefas de concheados, das melhores peças da cidade, feitas por Bento José Monteiro, mas certamente com desenho de Gaspar Ferreira. Salientam-se ainda outras pinturas de Pascoal Parente com Cristo crucificado e Anunciação.

Igreja de S. Bartolomeu. lustre  e órgão.jpg

Igreja de S. Bartolomeu, lustre e órgão

O templo é indissociável da praça onde se insere, outrora chamada praça de S. Bartolomeu. Nesta praça se fez durante séculos, até 1867, o mercado. Aqui se correram touros. Aqui se situou o paço dos tabeliães. Aqui funcionou a junta dos vinte e quatro dos mesteres e o paço do concelho. S. Bartolomeu é o patrono dos açougueiros e magarefes, cujos talhos estavam na praça e ruas confinantes, isto é, junto da igreja do seu santo padroeiro: principal justificação para a sua edificação neste local.

Nelson Correia Borges

Publicado em Correio de Coimbra, n.º 4761, de 7 de novembro de 2019, p. 8.

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por Rodrigues Costa às 10:22

Quinta-feira, 14.11.19

Coimbra: Tascas que já não existem 1

Com esta, iniciamos aqui uma série de entradas que publicaremos às 5.ªs feiras, dedicadas às tascas de Coimbra. Trata-se de um trabalho de Carlos Ferrão que recolheu as imagens e coligiu os textos.
O A’Cerca de Coimbra fica aberto – como sempre está – a acrescentos e outras eventuais participações.

- TASCA DO PRATAS
Localização: R. José Falcão, edifício do antigo Colégio da Trindade

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Tasca do Pratas, anos 50 do Séc. XX

Não era uma extensão da Biblioteca Geral como alguns lhe chamavam, nem tão pouco o um lugar onde se preparasse as frequências.
Numa dependência do Colégio da Trindade, com frente para a rua José Falcão, a famosa tasca “O Pratas” deixou mil estórias envolvendo estudantes, professores, funcionários e futricas.

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Ana e Armando Pratas

A D. Ana e o Sr. Armando Pratas estavam sempre de sorriso pronto para acolher quem os escolhia para uma "bucha e um copo". Não lhe faltava uma paciência de santo para a estudantada que ali fazia alguns rituais praxistas a mando dos “doutores”, mas sempre de olho nos excessos, nunca deixando ferir a dignidade do caloiro.

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Tasca do Pratas, finais do século XX

E assim foi até 2001, quando os "jaquinzinhos", as pataniscas ou as sandes de queijo da Idanha, servidos no “Pratas”, ficaram para a memória!

- JOÃO DE BRITO
Localização: R. de Baixo

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Tasca do João de Brito

Nos finais do séc. XIX, o João (Francisco) de Brito era um maravilhoso retiro junto do velho mosteiro de Santa Clara. Era um verdadeiro cenário de balada!
Uma latada, quatro mesas de pinho, uma nora gemente. Ao fundo o rio sereno e doce e lá no alto erguendo-se dominadora a cidade.
Os poetas Eugénio de Castro, Manuel da Silva Gaio, Afonso Lopes Vieira, Guedes Teixeira, D. Tomás de Noronha e tantos outros foram durante anos os seus mais assíduos frequentadores.
Só mesmo quem por lá passou, nos conseguiu deixar com fidelidade uma ideia da poesia estranha nas tardes no João de Brito!
Carlos Ferrão

Fontes: Vicente Arnoso, Tascas de Coimbra em Ilustração Portuguesa, nº 101 de 27 de Janeiro de 1908, citado por Manuel Alberto Carvalho Prata em A Academia de Coimbra (1880-1926): contributo para a sua história.

 

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por Rodrigues Costa às 10:01

Quarta-feira, 13.11.19

Casa da Escrita: Conversas abertas, 6.ª feira, 15.11.2019, 18h00


Recorda-se: A ULTIMA CONVERSA ABERTA DESTE ANO É JÁ DEPOIS DE AMANHÃ, 6.ª FEIRA, ÁS 18H00

Casa da Escrita 05.jpgCasa da escrita
(Rua Dr. João Jacinto Nº 8, telefone 239 853 590)

Tema: JOÃO DE RUÃO UM ESCULTOR DE COIMBRA
Palestrante: NELSON CORREIA BORGES

ncb.jpg

Natural de Lorvão, concelho de Penacova, é professor aposentado do Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Fez doutoramento em História da Arte, tendo apresentado a dissertação intitulada Arte Monástica em Lorvão. Sombras e Realidade.
É académico correspondente da Academia Nacional de Belas Artes, membro da Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa e fundador de quatro associações de defesa do património: o GAAC - Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, a Associação Pró-Defesa do Mosteiro de Lorvão, o Grupo Folclórico de Coimbra e a Confraria dos Sabores de Coimbra. É membro da Comissão Diocesana de Arte Sacra.
Coimbra, a arte monástica e conventual, o Barroco e o Rococó, designadamente a arquitetura e a talha, são os campos a que mais se tem dedicado, tendo apreciável número de trabalhos publicados sobre estas matérias, bem como nas áreas de Arqueologia e Antropologia Cultural, designadamente Etnografia e Folclore, que igualmente lhe têm servido de tema para palestras, conferências e participação em reuniões científicas.
De entre as monografias publicadas podem destacar-se:
João de Ruão, escultor da Renascença Coimbrã (1980)
A Arte nas festas do casamento de D. Pedro II (1983)
História da Arte em Portugal — Do Barroco ao Rococó (1987)
Coimbra e Região (1987)
Arquitectura monástica portuguesa na época moderna (1998)
Arte Monástica em Lorvão. Sombras e realidade. (2001)
Doçaria conventual de Lorvão. (2013, 2017)

MNMC. Deposição do tumulo, João de Ruão.jpgDeposição no tumulo, obra de João de Ruão

S. Catarina de Dornes, obra de João de Ruão.JPGS. Catarina de Dornes, obra de João de Ruão

Após a intervenção inicial, seguir-se-á um debate, estimulado pelos participantes.
Entrada livre.
Organização: Casa da Escrita de Coimbra, com o apoio do Blogue A’Cerca de Coimbra.
Tags: Coimbra séc. XVI, Casa da Escrita, João de Ruão, Renascença Coimbrã

 

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por Rodrigues Costa às 10:56

Terça-feira, 12.11.19

Coimbra: Memórias de um salatina 3

Extrato de uma comunicação apresentada no ciclo de conferências comemorativo dos 900 anos de Almedina. (conclusão)

Na Alta também havia venda ambulante.

Leiteiras antigas.jpgLeiteiras antigas

As leiteiras. Inicialmente eram assim, mas havia quem dissesse que tinham por hábito “mijar no cântaro” o que terá de se entender por juntar água ao leite.

Leiteira. Palácio de Sobre Ribas.jpg

Leiteira fardadas e com cântaros lacrados

Depois, veio a obrigação de andarem de bata branca e com um cântaro de folha de flandres com um feitio esquisito, no qual dependuravam as medidas. Cântaro, diariamente lacrado pela Delegação de Saúde.
Os padeiros e as padeiras, com grandes cestos de vergas às costas cobertos com um pano branco, indo de casa em casa, deixar o pão que era pago à semana.

Peixeiras da Figueira.jpgPeixeiras das Figueira

As peixeiras da Figueira, vestidas com as suas saias tradicionais, a blusa e o xaile traçado e a rodilha na cabeça. Normalmente esguias e apressadas com as canastras à cabeça e o seu pregão tradicional, entoado de uma forma única: sardinha da areiaaaa! Oh freguesa é linda e fresquinha! 3 dez tostões! Quase sempre descalças, ou com um chinelo calçado e outro na mão pois havia que evitar as multas policiais de vinte e cinco tostões por se andar descalço.
O cafezeiro com a sua mala castanha e o seu pregão: Olha o cafezeiro! Compre agora! Vou para o norte e só volto para a semana!
Havia ainda o petrolino com a sua carroça puxada por um cavalo que vendia petróleo e azeite e que avisava a sua presença com o toque de uma corneta.

Amolador.jpgAmolador

E o amolador, com a sua flauta e toque típico, cujo pregão era: amola tesouras e navalhas, põe gatos nas panelas e gatos nas talhas! Exercia, ainda, as funções de capador de gatos.
Um aparte para terminar.

Flávio  Rodrigues.JPGFlávio Rodrigues e José Trego mestres de tantas gerações de estudantes e futricas. Fotografia retirada de “Flávio Rodrigues Silva - Fragmentos para uma Guitarra” de António Manuel Nunes e José dos Santos Paulo

Quando se fala de fado de Coimbra associa-se sempre a estudantes. Não é inteiramente verdade. Basta lembrar Artur Paredes e Flávio Rodrigues mestres e iniciadores no fado de Coimbra de tantos estudantes e futricas.

Três breves reflexões à laia de conclusão.
A primeira é óbvia. A Alta dos tempos dos salatinas está a desaparecer com a geração dos que viveram esse tempo. Não obstante a permanência de alguns velhos resistentes, passaram, na atualidade, a predominar os alojamentos para estudantes e os de curta duração, com o consequente surgimento de bares e de lojas para turistas.
Embora reconhecendo estarem em curso algumas obras de recuperação, há que assinalar a existência de situações carecidas de intervenção urgente: os imóveis em ruína e o estacionamento abusivo de automóveis nas ruas da Couraça dos Apóstolos, João Jacinto e, nomeadamente, no Largo da Sé Velha, aqui com evidentes consequências negativas para a fruição e preservação deste monumento nacional.
Terceira e última reflexão. O fenómeno da “turisficação” que começa a surgir na Alta está estudado, bem como os perigos e efeitos de uma aposta exclusiva no turismo. Há que nunca esquecer que um destino turístico está sujeito à moda de momento e são inúmeros os destinos que deixaram de estar na moda. Não obstante a tendência para o crescimento sustentado do turismo, o percurso de um destino turístico, se depende essencialmente da sua riqueza patrimonial e/ou paisagística, também depende da forma como organiza a sua oferta e se é capaz de criar experiências nos turistas que o procuram.
A Alta necessita de ser repensada e planeada para o curto e para o longo prazo. Daí o meu apelo à União de Freguesias para organizar umas jornadas técnicas, com a participação de credenciados especialistas multidisciplinares, quer da Cidade, quer de fora dela, tendo por tema a “Alta de hoje e a Alta do futuro”. O evento não se deve limitar a elencar ideias, mas, fundamentalmente, a definir projetos e a congregar esforços que permitam à Alta do futuro fazer jus ao seu passado.
A “nossa” Alta precisa do saber, do conhecimento, mas também precisa de carinho e de amor.
Que as Comemorações dos 900 de Almedina não sejam um ponto de chegada, mas sim de partida.
Rodrigues Costa

 

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por Rodrigues Costa às 10:12

Quinta-feira, 07.11.19

Coimbra: Memórias de um salatina 2

Extrato de uma comunicação apresentada no ciclo de conferências comemorativo dos 900 anos de Almedina. (continuação)

Em meados do século passado, subsistiam algumas atividades económicas hoje desaparecidas da Alta.

Diap. 30a.jpg

Onde havia uma tipografia, há um bar

Existiam cinco tipografias. Uma junto à igreja do Salvador, as restantes quase ao cimo da Couraça, na rua do Norte nas traseiras da Sé Velha.
Haviam duas carvoarias.

Diap. 32a.jpg

Aqui era a carvoaria a Rua do Loureiro

Uma mesmo junto ao Arco do Bispo e outra na rua do Loureiro. Eram casas escuras, de trabalhadores todos cobertos de pó negro onde se comprava o carvão a peso que era carregado com pás metálicas. Ali também se vendia carqueja para acender o fogareiro e que ao arder, deitava um cheiro muito agradável.
Dois marceneiros. O Sr. Herculano que tinha a oficina por baixo do arco que liga a hoje Casa da Escrita.
O outro, era o Sr. Casimiro que morava na Couraça e cuja oficina, à maneira medieval, estava à porta da sua habitação.
Ao lado estava o Clemente alfaiate e na Rua da Matemática o Sr, Moura era um alfaiate afamado, bem como o Sr. Lapa, ao cimo da Couraça. E nas escadas de Quebra Costas estava o Mário alfaiate.
Dos barbeiros restava o Senhor Albino barbeiro que ia, de casa em casa, cortar os cabelos.
No inicio da Rua dos Coutinhos um colchoeiro fazia travesseiros de suma-a-uma e colchões de palha cozidos com umas agulhas muito grandes, as agulhas de albardar.
E as vendas da Alta! Umas só mercearias, outras um misto de taberna e mercearia.

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Onde era a venda do Romão, há um alojamento turístico

Na Couraça a venda do Romão era um misto de taberna e mercearia e a venda da Camila só taberna, cujo dono para além de vendeiro era o regedor da freguesia.

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Onde era a venda do Zé Bruto, hoje uma ruína

No Largo da Matemática a loja do Zé Bruto, hoje uma ruína. Na Rua da Matemática já não existem as vendas do Senhor Ventura e do Senhor Carvalho, como já não existe a Menina Lídia, julgo que é um alojamento para estudantes, junto à Casa da Escrita.
Na zona da Sé Velha havia 4 lojas. No Largo, a grande loja das sete portas uma espécie de mercearia fina e hoje uma loja para turistas. A loja do Barão – não sei se era apelido – com mercearia e taberna, hoje um restaurante para turistas. Muito perto, na Rua do Correio já não há a loja da Batateira, nem a loja da rua dos Coutinhos.

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Onde era a loja das 7 portas, há uma loja de cerâmica artesanal

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A tasca do Pinto, com seu ramo de loureiro

Já me ia a esquecer da célebre e muito antiga venda que servia refeições e petiscos, na esquina da Rua do Cabido com o Largo do Salvador, ao tempo gerida pelo Sr. Pinto e sua Mulher.
As tabernas eram identificadas com um ramo de loureiro colocado sobre a porta e o vinho era guardado em grande toneis e vendido nuns copos estreitos e altos de vidro muito grosso.
Nas mercearias, os cereais, o açúcar, as batatas estavam guardadas em tulhas, ou sacos de serapilheira. Eram vendidos a peso. Também haviam bacias com água e bacalhau cortado às postas, o bacalhau demolhado, vendido a 15 tostões. Ainda existiam as barricas de manteiga e de peixe salgado e seco, polvo e sardinha esta com um aspeto amarelado.
Em frente à igreja do Salvador havia uma padaria muito concorrida e um depósito de pão, na Sé Velha, abaixo da loja do Barão.
Mas, para mim a melhor loja – se assim se podia chamar – era a Senhora Prazeres que vendia à porta de sua casa, pevides, tremoços, alfarroba, amendoins e sobretudo bananis, uma espécie de chapeuzinho de açúcar caramelizado suportado por um pequeno pau.

Rodrigues Costa (continua)

 

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por Rodrigues Costa às 11:04

Quarta-feira, 06.11.19

Casa da Escrita: Conversas abertas, 6.ª feira, 15.11.2019, 18h00

Tendo surgido dúvidas confirma-se que a próxima Conversa Aberta, terá lugar na 6.ª feira, 15.11.2019, às 18h00 

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Casa da escrita (Rua Dr. João Jacinto Nº 8, telefone 239 853 590)

Tema: JOÃO DE RUÃO UM ESCULTOR DE COIMBRA
Palestrante: NELSON CORREIA BORGES 

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Natural de Lorvão, concelho de Penacova, é professor aposentado do Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Fez doutoramento em História da Arte, tendo apresentado a dissertação intitulada Arte Monástica em Lorvão. Sombras e Realidade.
É académico correspondente da Academia Nacional de Belas Artes, membro da Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa e fundador de quatro associações de defesa do património: o GAAC - Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, a Associação Pró-Defesa do Mosteiro de Lorvão, o Grupo Folclórico de Coimbra e a Confraria dos Sabores de Coimbra. É membro da Comissão Diocesana de Arte Sacra.
Coimbra, a arte monástica e conventual, o Barroco e o Rococó, designadamente a arquitetura e a talha, são os campos a que mais se tem dedicado, tendo apreciável número de trabalhos publicados sobre estas matérias, bem como nas áreas de Arqueologia e Antropologia Cultural, designadamente Etnografia e Folclore, que igualmente lhe têm servido de tema para palestras, conferências e participação em reuniões científicas.
De entre as monografias publicadas podem destacar-se:
João de Ruão, escultor da Renascença Coimbrã (1980)
A Arte nas festas do casamento de D. Pedro II (1983)
História da Arte em Portugal — Do Barroco ao Rococó (1987)
Coimbra e Região (1987)
Arquitectura monástica portuguesa na época moderna (1998)
Arte Monástica em Lorvão. Sombras e realidade. (2001)
Doçaria conventual de Lorvão. (2013, 2017)

Deposição, obra de João de Ruão.jpg

Deposição no tumulo, obra de João de Ruão

Virgem e o Menino, obra de João de Ruão.jpg

A Virgem e o Menino, obra de João de Ruão

Após a intervenção inicial, seguir-se-á um debate, estimulado pelos participantes.
Entrada livre.
Organização: Casa da Escrita de Coimbra, com o apoio do Blogue A’Cerca de Coimbra.
Tags: Coimbra séc. XVI, Casa da Escrita, João de Ruão, Renascença Coimbrã

 

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por Rodrigues Costa às 10:47

Terça-feira, 05.11.19

Coimbra: Memórias de um salatina 1

Extrato de uma comunicação apresentada no ciclo de conferências comemorativo dos 900 anos de Almedina.

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Coimbra. Alta. 1930. Foto Varela Pècurto

A Alta era um bairro, se assim lhe chamarmos, maioritariamente pobre. Muitas das casas eram pequenas para tantos filhos e com muito pouca privacidade, não tinham eletricidade e utilizavam-se, habitualmente, bacios e latrinas.
Ali conviviam, basicamente, três grupos sociais.
O primeiro grupo era o dos donos das grandes casas de famílias de nome conhecido e posses mais ou menos alargadas que incluía alguns Professores da Universidade.

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Casa da Família Costa Lobo

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Casa do Professor Doutor Costa Pimpão

O segundo grupo eram os estudantes que tanto viviam em Republicas

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República dos Kagados

Como em casas que alugavam quartos e ainda em pensões.

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Casa da pensão da Aninhas, na Rua da Boavista

O terceiro grupo era os chamados salatinas. Uma mistura de empregados de escritório e de balcão, de funcionários públicos, de operários, de motoristas de táxi, de policias, vendeiras da praça e de artesãos das mais diversas profissões.
Ainda povoam a minha memória.
Quatro sapateiros. O Sardinha, na rua do Loureiro, era o sapateiro da Académica. Perto deste, na mesma rua, havia o sapateiro conhecido por Guilherme e na Rua de Sobre Ribas o Senhor Augusto.

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Rua das Flores casa que foi do latoeiro

Latoeiros havia dois. O da rua das Flores que tinha um ramalhete de filhas para as quais os mais crescidos iam olhando. O outro era na ruas das Fangas.

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Onde havia uma serralharia, há um bar … vá lá chama-se Bigorna

O Sr. São Bento – seria apelido ou alcunha? – era um serralheiro afamado, junto à Sé Velha, no início da Rua das Covas.

Rodrigues Costa (continua)

 

 

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por Rodrigues Costa às 13:22

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