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A espada de Afonso Henriques, que hoje se guarda no Museu Militar do Porto, tem uma dimensão simbólica que ultrapassa largamente a sua dimensão física que, aliás, é surpreendentemente maneirinha, à luz das descrições daquele que a empunhava, que seria homem para medir nada menos do que 10 palmos, ou seja, muito mais do que dois metros.
…. Segundo a lenda, esta espada, juntamente com o escudo de Afonso Henriques, teria sido levada, como amuleto protetor, por D. Sebastião para a desastrosa incursão de Alcácer Quibir, mas teria ficado esquecida no barco que transportar o rei ao lugar que lhe serviria de sepultura.
Desenho da espada de D. Afonso Henriques. In: Arquivo Pitoresco. 1861
A revista Arquivo Pitoresco publicou, em 1861, a gravura que encima esta nota, acompanhada por um texto onde se conta a história da misteriosa espada de Afonso Henriques. Aqui fica.
«Foi esta a espada que libertou Portugal da dependência de Castela; que conquistou aos moiros Lisboa, Santarém, Palmela, Leiria e outras terras; a que fundou em Ourique a monarquia portuguesa.
Até à extinção das ordens religiosas, a espada de D. Afonso Henriques conservou-se junta ao seu túmulo na capela-mor de Santa Cruz de Coimbra; depois foi transferida para o museu do Porto; onde se acha, e ali foi tirado o desenho que hoje apresentámos.
É sabido que el-rei D. Sebastião, quando partiu para a desastrosa jornada de África, levou a espada e o escudo de D. Afonso Henriques. Não tendo, porém, desembarcado estas armas, quando a armada regressou ao reino foram estes dois monumentos restituídos ao convento de Santa Cruz. É isto o que afirmam os nossos antigos cronistas.
… Do modo por que estas armas saíram de Santa Cruz, é que há documento e testemunhos autênticos. Eis o que diz D. Nicolau de Santa Maria na Crónica dos Cónegos Regrantes:
«Depois de ter assistido no dia 20 de Outubro de 1570 a um doutoramento na universidade, passou D. Sebastião a visitar as sepulturas de D. Afonso Henriques e D. Sancho. O prior-mor lhe mostrou a espada de D. Afonso Henriques, a qual tomou D. Sebastião, e com grande veneração a beijou, dizendo aos fidalgos da sua comitiva: «Bom tempo em que se pelejam com espadas tão curtas! Esta é a espada que libertou todo o Portugal do cruel jugo dos mouros, sempre vencedora, e por isso digna de se guardar com toda a veneração». E entregando-a ao prior geral de quem a recebera, lhe disse: — «Guardai, Padre, esta espada, porque ainda me hei-de valer dela contra os moiros de África».
Passados oito anos, lembrado el-rei destas palavras, a mandou pedir ao geral de Santa Cruz … Desse fac-simile é que é o traslado que vamos apresentar.
D. Sebastião
«Padre geral e convento do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Eu el-rei vos envio muito saudar. Eu me tenho publicado em haver de fazer por mim com ajuda de Nosso Senhor uma empresa em África, por muitas e mui grandes razões, mui importantes ao bem de meus reinos, e de toda Espanha, de que também resulta benefício à cristandade, o que me pareceu escrever-vos assim para encomendardes ao Nosso Senhor o bom sucesso desta empresa, que por seu serviço faço, como para vos dizer que desejo levar nela a espada e escudo daquele grande e valoroso primeiro rei deste reino D. Afonso Henriques, cuja sepultura está nesse mosteiro, porque espero em Nosso Senhor que com estas armas me dê as vitórias que el-rei D. Afonso com elas teve. Pelo que vos encomendo muito que logo mas mandeis por dois religiosos desse convento que para isso elegereis. E como eu embora tornar, as tornarei a enviar a esse mosteiro, para as terdes na veneração e guarda que é devido a cujas foram, e por tudo. E por aqui entendereis que as não quero senão emprestadas para o efeito a que vou, e de quão grande contentamento isto é para mim. Escrita em Lisboa a 14 de Março de 1578. — Rei.”
Espada dita de D. Afonso Henriques, último quartel do Século XVI ?; aço; 99,5 x 14,5 cm. Inv. N.º 1 Div Museu Nacional de Soares dos Reis/ em dep. No Museu Militar do Porto (fot. José Pessoa IMC/ MC)
… “Recebida esta carta, mandou logo o padre prior limpar a espada do glorioso rei D. Afonso, e fazer-lhe uma bainha de veludo, com sua ponteira de prata doirada, e uma caixa preta em que fosse metida com sua chave, e fechadura doirada; e outra caixa preta em que fosse o escudo do mesmo santo rei, para irem estas armas com mais resguardo e veneração, e as mandou … a el-rei, o qual as recebeu com grande gosto e contentamento, dizendo, que se Deus lhe dava a vitória que esperava, prometia de fazer canonizar o glorioso rei D. Afonso, como já o intentara fazer el-rei João III seu senhor e avô.”
Neves, A.A. 2016. A Espada de Afonso Henriques. Acedido em 2019-09.17, em https://araduca.blogspot.com/2016/05/a-espada-de-afonso-henriques.html
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