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Após um período de atribulados acontecimentos, onde podemos citar o Concílio de Trento e a batalha de Alcácer-Quibir (onde se finou D. Manuel de Menezes, bispo de Coimbra ao lado do rei D. Sebastião, na qualidade de enfermeiro-mor), a mitra conimbricense recebeu D. Afonso de Castelo-Branco, sexto conde de Arganil e quadragésimo primeiro bispo de Coimbra.
Armas de D. Afonso de Castelo-Branco com gallero de 6 borlas e coronel de conde, no portal proveniente do convento de Sant’Ana e conservado actualmente no MNMC
Personagem que desenvolveu uma intensa acção no seu bispado, efectivando algumas das decisões de D. Jorge [de Almeida], continuando mesmo o programa de remodelação urbanística e arquitectónica desta cidade de que hoje subsiste, por exemplo, o magnífico paço episcopal - onde actualmente se localiza o Museu Nacional de Machado de Castro, foi também um ilustre pensador, exemplo de novos paradigmas pós-tridentinos ligados à figura dos bispos.
Nas palavras de Correia da Silva, “as obras terrenas não o distraíram do principal motivo da sua missão, pois foi importante a administração que do espiritual exerceu no seu Bispado” tendo reunido um Concílio Diocesano em 1591, na cidade de Coimbra, que aprovou as Constituições Sinodais por ele instituídas.
Nascido em Santiago do Cacém em 1522, era filho natural de D. António de Castelo Branco, havido em Guiomar Dias. Seu pai era então deão da Capela-Real e neto dos primeiros condes de Vila Nova de Portimão. Esta ligação ao Sul consumou-se quando assumiu o cargo na mitra do Algarve, em 1581, onde reconstruiu o palácio episcopal de Faro, igreja e hospital da Misericórdia. Ao longo do seu percurso doutorou-se em Teologia pela Universidade de Coimbra e acumulou cargos ilustres tendo sido professor do Real Colégio de S. Paulo, deputado da Mesa da Consciência e Ordens e Comissário da Bula da Cruzada.
Sabemos ainda que foi nomeado arcediago de Penela e do Bago da diocese de Coimbra pelo cardeal D. Henrique que, para além deste cargo o nomeou igualmente como seu esmoler e capelão-mor.
Quatro anos volvidos, o prelado foi transferido para a mitra de Coimbra, onde tomou posse a 25 de Agosto seguinte.
Tal como no Algarve, também aqui o bispo despendeu largas somas em prol do território da sua diocese, o que lhe valeu o epíteto de bispo-esmole, patrocinando a construção, reparo e adorno dos edifícios religiosos, bem como das estradas, para as quais deixou cerca de 20.000 cruzados.
Foi também o maior patrocinador para o túmulo da Rainha Santa Isabel no qual insistiu acerca da riqueza da urna, de prata dourada, pedras preciosas e cristal, deixando ainda 30.000 cruzados para a sua canonização. Para além do seu patrocínio a nível cultural, protegendo homens de letras, a quem chegou a patrocinar a impressão de obras, deixou também redigidos numerosos manuscritos, vários sermões e pastorais, demonstrando a sua dedicação a uma vida erudita e dedicada aos princípios da sua condição prelatícia, aliás, na sua biografia a livraria deste prelado surge-nos descrita como “hum espelho de sabios e thesouro de todas as sciencias”.
Armas de D. Afonso de Castelo-Branco existentes no interior da Sacristia da Sé Velha de Coimbra; pode-se ainda vislumbrar vestígios da policromia
De entre os múltiplos edifícios religiosos onde, como já se referiu, teve um papel preponderante, destaca-se aqui o convento de Sant’Ana, pelo qual este prelado nutriu um gosto particular, consequente da sua devoção pela mãe de Maria. Aqui desejou ser sepultado, e assim o foi - ao fim de trinta anos à frente da mitra de Coimbra, na capela-mor da igreja, a 12 de Maio de 1615, com a idade de 93 anos onde permaneceu até ao dia em que este templo foi demolido e os seus ossos transladados para a Sé Velha.
Santos, M.M.D. 2010. Heráldica eclesiástica - Brasões de Armas de Bispos-Condes. Dissertação de Mestrado em História da Arte, Património e Turismo Cultural apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Acedido em 2918.05.22, em
https://www.academia.edu/1118570/Heráldica_eclesiástica_Brasões_de_armas_de_bispos-condes
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