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O manuscrito original do texto que hoje se divulga foi escrito nos anos 20 do século XVII, por António Coelho Gasco, jurisconsulto, licenciado pela Universidade de Coimbra, homem naturalmente inclinado ao Estudo da genealogia e que antes de partir para o Brasil, onde viria a falecer, deixou um conjunto de obras escritas pela sua mão entre as quais se encontra o manuscrito intitulado Conquista. É a este que nos reportamos, chamando a atenção para o facto do mesmo se encontrar redigido no estilo próprio da época.
Apesar de, ao longo dos séculos, esse texto ter sido editado e reeditado, a verdade é que há muito tempo desapareceu do mercado livreiro.
Graças ao amor que Mário Araújo Torres dedica a Coimbra fica-se-lhe a dever a recolha e a reedição do texto de Gasco, bem como as relevantes notas que o acompanham.
A cidade tem obrigação de lhe agradecer o esforço despendido na divulgação desta interessante obra.
De quem era filho El-Rei D. Fenando Magno, e de como os Monges de Lorvão o persuadem a vir sobre Coimbra
Fernando I de León. Acedido em
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c3/Ferdinand_Leonsky.jpg
A Mui famosa, e sempre leal Cidade de Coimbra, celebre entre as da Europa, jaz em huma insigne Costa de agradavel sitio em extremo, airosa, e fortalecida pela natureza, lavada de favoráveis ventos, e estrellas, plantada em Clima benigno de ares, com a fronte ao tão conhecido por suas claras, e amorosas aguas, como na verdade ellas o são, para quem em lembrança traz o espirito cançado. Foi conquistada por hum nobre Imperador, homem de heroicas virtudes, e de grandes feitos em armas, chamado por excellencia D. Fernando o Magno, que foi o primeiro Rei que felizmente reinou em Castella, filho do Conde D. Sancho, o qual estendeo grandemente seus Reinos, e Estados, com as continuas victorias, e novas conquistas.
… vierão ter com elle em Carion dois Religiosos do antigo Mosteiro de Lorvão, que fica duas leguas, e meia além de Coimbra. Em segredo lhe disseram o estado em que a Cidade estava … porque como hião la, vião bem a pouca vigilancia, e presidio que tinha.
… Promettendo-lhes, que sendo Deos servido, a iria cercar com seu Exercito.
Maqueta do Castelo de Coimbra proposta por Isabel Anjinho
Como El-Rei D. Fernando ganhou Coimbra, e o que nella lhe succedeo.
Tanto que El-Rei D. Fernando o Magno, juntou seu Exercito, veio sobre Coimbra no anno do Senhor de 1064, e por espaço de sete mezes a teve mui apertada com contínuos assaltos, e combates. Defendendo-se sempre os Mouros animosamente com seu Rei Cide Arabum Arabe, guerreiro Africano; porque he natural de corações esforçados quererem morrer com liberdade, que viver em captiveiro, assim pelo inexpugnável sitio da Cidade, como pella boa cavalaria que dentro tinhão. Faltando neste tempo mantimentos, mandou El-Rei lançar pregão, que dahi a quatro dias presentes, levantava seu arraial, e marchava com elle a Leão. O que sabendo o Abbade de Lorvão fez uma avisada partida a seus Monges, em que summariamente lhes relatou o muito que importava ao bem da Christandade de Hespanha ser conquistada Coimbra. Com a qual vierão todos em claustro pleno, que lhe levassem os mantimentos, que então tinhão.
Pormenor do arco da Traição no perfil DA 22 dos desenhos pombalinos
… continuou outra vez o cerco, e antes que acabasse a semana, entrarão os nossos victoriosos pela porta, que hoje se chama da traição, que era a vinte e oito de Junho, dia mui assignalado, por ser véspera dos Apostolos S. Pedro, e S. Paulo.
Alvorárão as Bandeiras, Estendartes, e Pendões sobre os altos muros, invocando nelles com grande vivas, e vozes o nome de Fernando.
Nota:
Com a ajuda da Isabel Anjinho acrescenta-se: o cerco de Coimbra começou a 20 de janeiro de 1064 e durou quase 6 meses; quanto à data da tomada de Coimbra existem divergências entre historiadores, sendo que a Nova História Militar de Portugal refere o dia 9 de julho de 1064. Data que é considerada a mais correta.
Gasco, A.C. Conquista, Antiguidade, e Nobreza da mui Insigne, e inclita Cidade de Coimbra… Recolha de textos e notas por Mário Araújo Torres. 2019. Lisboa, Sítio do Livro. 43-45
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