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A ideia de criar um Observatório Astronómico surge desde logo nos Estatutos Pombalinos (1772) a propósito da Faculdade de Mathematica e da respectiva cadeira de Astronomia (4.º ano). A sua criação tinha dois objectivos distintos, a leccionação e o desenvolvimento da ciência astronómica. Os Estatutos Pombalinos encaravam a ciência como a força motriz para uma mudança de mentalidades essencial à modernização do país e a astronomia desempenhava um papel fundamental pelas “consequências tão importantes ao adiantamento geral dos conhecimentos humanos, e à perfeição particular da Geografia, e da Navegação”. Por isso o Observatório Astronómico era representativo desse modo de ver a ciência, constituindo simultaneamente um meio para o seu desenvolvimento.
… Hoje, a maior parte dos muitos visitantes que franqueiam a Porta Férrea da Universidade e olham, ao entrar no Pátio das Escolas, à sua esquerda e se aproximam do varandim para desfrutar a imensa vista sobre a baixa da cidade e do rio Mondego, não faz ideia que aí era durante muitos anos (quase 150) o Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra (OAUC) – um edifício de configuração rectangular, “constituído por três corpos contíguos em que o central é três vezes mais alto do que os laterais.” [Bandeira 1943-1947, p.129] –, e que foi demolido aquando das obras de requalificação da Universidade de Coimbra nos anos 50 do século XX.
Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra
Porém, este edifício não foi aquele que a Reforma Pombalina previu edificar. O sítio que se determinou primeiramente para a construção do Observatório foi o Castelo da cidade [Lemos 1777, p.260], que se situava na vertente da Alta de Coimbra oposta ao Paço das Escolas, onde hoje é o Largo D. Dinis (no cimo das Escadas Monumentais).
… O Castelo era constituído por duas torres: a de menagem quadrada, de construção afonsina, a que se chamava Torre Nova; e uma segunda, de configuração pentagonal que embora fosse de construção mais recente, pois havia sido erguida nos tempos de D. Sancho I, era designada por Torre Velha [Lobo 1999, p.4].
Planta do Castelo e Casas a ele contíguas em a Universidade de Coimbra (Elsden, 1773). [BGUC, Ms.3377/41]
Alçado do Observatório do Castelo (Elsden, c.1773). [MNMC, Inv. 2945/DA 23]
Em 1775 (a partir do mês de Setembro) quando estava realizado o essencial do piso térreo, com o edifício erguido até ao 1.º piso, “a uma altura não inferior a 8 metros”, as obras param. O elevado custo dos trabalhos atingido em cerca de dois anos e meio, e quando estava ainda por realizar parte significativa da obra, é a principal causa para a interrupção de tão ambicioso projecto.
Figueiredo, F.B. 2013. O Observatório astronómico (1772-1837). Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra. Acedido em 2018.10.28, em http://hdl.handle.net/10316.2/38513
Uma explicação breve, mas necessária. Escolhemos este texto pelo seu fino recorte literário, mas também por tratar um tema muito pouco conhecido.
Ao ser lido deve ter-se em consideração que quer o Museu Machado de Castro, quer o Convento de Santa Clara-a-Nova, atualmente não apresentam a configuração que o Autor descreve.
Há no Museu Machado de Castro uma sala em que ando sempre receosos, de vagar, o ouvido à escuta, como nos palácios maravilhosos dos meus contos de menino, comovido sem saber porquê, sempre à espera de ver começar a história de uma empresa grande.
Tudo ali tem para mim o ar de qualquer coisa que talvez tenha sonhado, confuso, misterioso, como o reflexo de um espelho mágico.
Nunca vi, senão uma vez, na primeira rosa de Alexandria que me mostraram, vermelho como o do tapete persa que ali se encostam as velhas esculturas de madeira que o tempo roeu, dando-lhe a leveza das rendas e da espuma, e do nevoeiro frio e dourado em que se embrulha às vezes o sol para morrer com ele.
Aquele tapete enche o ar de perfuma das rosas, que se não vêm, e cuja respiração cansada parece ter parado ali num espasmo de amor, como os reflexos de outo e púrpura do sol poente que a água fria dos lagos prende no brilho triunfante de um esmalte.
De fundo a um calvário de madeira, há ali um tapete de Arraiolos, precioso como um complicado esmalte verde sobre ouro, pálido como um sorriso que se desfaz.
Porque será que aquele velho e gasto tapete me comove, como as joias pequeninas e preciosas de outros tempos que irresistivelmente evocam em mim as cores delicadas de carne que nunca vi senão na adoração dos corpos delicados das flores?...
Aquele tapete foi dependurado com carinho por António Augusto Gonçalves para não se perderem as marcas dos pés pequeninos de mulher, que por ali passaram nus, mais levemente do que as pétalas das rosas que o perfume quente do incenso faz cair mortas das jarras dos altares num último gesto triunfante de beleza.
Sala de encantamento…
Um dia, encontrei ali, numa redoma simples de vidro, uma madeixa de cabelos loiros, com a indicação que fora de D. Isabel, mulher do infante D. Pedro, o duque de Coimbra que morreu em Alfarrobeira.
Dizia mais o letreiro haver sido encontrado num túmulo de pedra que para o mosteiro novo viera do mosteiro velho de Santa Clara.
…
Custa a subir esta ladeira de Santa Clara!
Mas, quando se chega ao cimo, é de encantar olhar para Coimbra, branca, como nela tivessem pousado todas as pombas de Vénus.
Coimbra, vista geral em 1907
A igreja é fresca e alegre.
Ao fundo, lá está o tumulo de pedra a que serve de decoração. Um brasão em que se leem as armas de Portugal com a cruz de Avis, o banco de pinchar e as barras de Aragão.
Arca tumular de D. Catarina, filha de D. Pedro e de D. Isabel, duques de Coimbra
… Fr. Manuel da Esperança, que a princípio supôs, como era natural, pudesse ser esta a sepultura de D. Isabel, filha dos condes de Urgel e mulher de D. Pedro, o de Alfarrobeira … [depois considerou que] este tumulo seria o de D. Maria. filha de D. Pedro, o cru, e de D. Constança … O Sr. Dr. Ribeiro de Vasconcelos … discorda … e atribui a sepultura à mulher de D. Pedro, o de Alfarrobeira.
…. Ora a arca de pedra é de pequenas dimensões próprias para sepultura de uma criança …. É pequenina a arca … Dentro do túmulo encontrou-se o esqueleto de uma criança, de lindos cabelos loiros que o tempo conservara.
Quem seria?
As barras de Aragão, o banco de pinchar, a cruz de Avos, os carateres da escultura circunscrevem as investigações à família de D. Isabel, duquesa de Coimbra, e mulher do infante D. Pedro.
A princesinha conservada na arca de pedra do mosteiro de Santa Clara de Coimbra não pode ser senão D. Catarina, filha de D. Pedro, o de Alfarrobeira e da duquesa, sua mulher.
… A 16 de Dezembro de 1466 devia ter morrido já porque … tem essa data o testamento da mãe, a duquesa de Coimbra que não se refere a ela … É a morte de D. Catarina que explica ainda a saída da duquesa, sua mãe, de Coimbra e a sua ida para as partes de Lisboa, aonde foi enterrar-se viva, na frase … de Fr. Manel da Esperança.
Nota: o banco de pinchar é uma figura da heráldica utilizada para diferenciar os brasões dos filhos de pessoas brasonadas ao utilizarem o brasão dos pais.
Carvalho, J.M.T. História de uma arca de pedra e de uma madeixa de cabelos loiros. In Atlantida. Mensário Artístico Literario e Social para Portugal e Brazil. Ano II, n.º 18, 15 de Abril de 1917.
Tema: Fortificação de Coimbra
Palestrante: Isabel Anjinho
A INTERVENÇÃO DE ISABEL ANJINHO, SOBRE A FORTIFICAÇÃO DE COIMBRA FOI ADIADA UMA SEMANA, POR RAZÕES TÉCNICAS, PELO QUE TERÁ LUGAR NA 6.ª FEIRA, DIA 10 DE MAIO, ÀS 18H00
Após a intervenção inicial que ocupará aproximadamente 20 minutos, seguir-se-á um debate, estimulado pelos participantes, com a duração máxima de 60 minutos.
Entrada livre.
Organização: Casa da Escrita de Coimbra, com o apoio do Blogue A’Cerca de Coimbra.
Local: Casa da Escrita
(Rua Dr. João Jacinto Nº 8, telefone 239 853 590)
Casa da Escrita. Jardim interior
Outras Conversas Abertas
6.ª feira, 07.06.2019
Orador: Ana Maria Bandeira
Tema: Fontes documentais para a história da cidade de Coimbra no Arquivo da Universidade
Interrupção de Verão
6.ª feira, 06.09.2019
Orador: Regina Anacleto
Tema: Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra
6.ª feira, 04.10.2019
Orador: Rodrigues Costa
Tema: Herdade de Enxofães: a sua importância para a subsistência do Hospital de S. Lázaro de Coimbra
6.ª feira, 08.11.2019 (a primeira 6.ª feira é feriado)
Orador: Nelson Correia Borges
Tema: João de Ruão um escultor de Coimbra
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