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Quem, hoje, passar em Coimbra, pela Praça do Comércio, não vislumbra nada que denote o edifício do hospital.
Poucos saberão que o espaço que acolhe uma típica loja de comércio oriental revela, ainda, no seu interior, arcadas e colunas manuelinas.
Hospital Real de Coimbra, pormenor da abóbada da entrada na capela
Mas, pouco adiante, podem ver-se pedras que falam…
Reprodução fotográfica das iniciais HRC, a seguir às quais foi colocada, posteriormente, a identificação do sequente proprietário - V.DE – a Universidade de Coimbra, herdeira dos bens do Hospital, após a sua extinção, em 1772. (Foto gentilmente cedida pelo Prof. Doutor Henrique Carmona da Mota).
Sobre o umbral da porta de uma casa, na rua Direita da baixa coimbrã, que na verga tem o número 73, está [estava] o registo epigráfico com a sigla HRC, formada pelas iniciais do nome da instituição, com as quais se identificava a posse de seus bens, sendo usadas também nos marcos de demarcação de propriedades rústicas.
O sinete da instituição apresentava também as armas reais. Atente-se na marca do sinete
que se encontra aposto na capa do livro de entrada e saída de doentes
(1711-1713) (PT/AUC/HOSP/HRC/17/003).
O Hospital era administrado de acordo com o seu Regimento, sendo gerido por um provedor e um almoxarife, fazendo, ainda, parte do seu número de funcionários o recebedor dos enfermos, o hospitaleiro, o escrivão, o porteiro, o capelão, o solicitador, etc.
Dentro das suas instalações os espaços dividiam-se por duas enfermarias (de homens e de mulheres), capela, casa do despacho, hospedaria, refeitório, despensa, adega e cozinha, tendo recebido, inicialmente, apenas 17 doentes.
A botica hospitalar não existiu, logo, desde o início da sua fundação, sendo feito contrato com boticários da cidade para fornecimento do que fosse necessário. No entanto, pelo Alvará de 24 de junho de 1548, pelo qual se ordena ao físico que dê, da botica, todas as mezinhas necessárias para a cura dos colegiais da Ordem de São Jerónimo, fica-se a saber que ela existe a partir dessa data, pelo menos.
Havia, ainda, casas de hospedaria, para receber “pessoas de bem” que estivessem de passagem, assim religiosos, como “mulheres honradas” e alguns estrangeiros que de caminho passavam pela cidade.
Um outro espaço existente era o designado “hospital dos andantes” ou “casa dos pedintes andantes” destinado a acolher os peregrinos passantes pela cidade ou pessoas indigentes que não tinham onde se albergar.
Os pedintes andantes poderiam ali ficar um dia e uma noite, existindo para seu conforto, de acordo com inventários de 1523 e 1659, mantas velhas “com que se cobriam os andantes”, um candeeiro e candeias de azeite, uma caldeirinha de barro para água. As instruções dadas em Almeirim, em 4 de maio de 1508, referem já a existência da “casa dos andantes”, com leitos para os andantes pobres, tendo cada leito o seu enxergão de palha, um almadraque de lã, um cabeçal de lã, cabeceira e dois cobertores de burel. Também o mobiliário das enfermarias era muito simples e, de acordo com o Regimento, de 22 de outubro de 1508, cada cama tinha: um enxergão, um almadraque, um colchão, um par de lençóis, um cabeçal e uma manta ou um cobertor.
Informação adicional.
Nota
Deslocamo-nos ao local e fotografamos o espaço. Assinalando que alguns dos capiteis foram mutilados, deixo à consideração dos leitores as imagens que então recolhi.
Hospital Real. Vista exterior na atualidade
Hospital Real. Loja chinesa 1
Hospital Real. Loja chinesa 2
Hospital Real. Loja fechada
Bandeira, A.M.L. O Hospital Real de Coimbra: acervo documental de uma instituição assistencial (1504-1772). In: Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra. Volume XXVIII. 2015. Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra. Acedido em 2019.01.29 em
https://digitalis-dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/37775/1/O%20Hospital%20Real%20de%20Coimbra.pdf
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