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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 31.01.19

Coimbra: Vataça, uma Dona na vida e na morte

Vataça … Uma mulher com rosto, que se individualiza, uma «domina». Não é rainha, condessa, abadessa ou santa. O parentesco biológico e o artificial ligam-na, todavia, a rainhas e reis, abadessas e santas. Mas a sua aristocracia distinta, a sua inteligência invulgar, o seu excecional tato diplomático fazem dela uma hábil conselheira, pacificadora de estados, informadora e agente político, recebendo em troca importantes mercês de reis e comprando ela própria castelos.
… Vataça era «filha da muy nobre Lascara inffante de Grecia» e do conde Guilherme Pedro de Vintemiglia e «imperatoris Graeciae neptis».
…. É exatamente em Barcelona, a 11 de Fevereiro de 1282, que se realizam os esponsórios de D. Isabel de Aragão e D. Dinis de Portugal. Com D. Isabel, vem como sua dama, D. Vataça, sua prima em 7.º grau.

D. Dinis e D. Isabel. Gravura da série LusitanoruD. Dinis e D. Isabel. Gravura da série Lusitanorum Regum Icones Ordinis Temporum Axpositae. 1791. [Lisboa. Biblioteca Nacional]

Desde então as suas trajetórias assimilam-se – na vida e na morte.
Na corte, na fidelidade da rainha, conhece Vataça Martim Anes um vassalo de D. Dinis … é sem dúvida um casamento político, arranjado na corte, porventura imposto (não o eram quase todos?), a ajuizar pela extrema diferença de idades entre os nubentes … não houve descendentes do consórcio… [Martim Anes] terá morrido a 21 de Agosto de 1295 … A 1 de Julho de 1296, as «honradas donas» Constança [mãe de Martim Anes] e Vataça dividem os bens de Martim Anes.
…. Ligada pelo parentesco e pela vassalidade com D. Isabel, escolhida para aia de sua filha D. Constança, uma vez viúva, vai como camareira-mor desta para Castela, quando se celebram suas bodas, em Alcanizes, no ano de 1297.

Constança de Portugal. Genealogia dos Reis de Por

Constança de Portugal. Genealogia dos Reis de Portugal. António de Holanda. 1534

…. A sua própria «criação» na corte, o contínuo papel de «mãe» e tutora de infantes e príncipes, o seu próprio estigma pelo afastamento da sua família do poder, o seu desenraizamento e possível apartidarismo e independência (mera imagem) fazem dela uma extraordinária e inteligente diplomata, conseguindo habilmente levar ao campo pacífico as discórdias existentes entre Castela e Aragão, relativas à sucessão do trono de Castela.
…. Em 1323 havia alguns anos que regressara de Castela, triste pela morte da sua infanta D. Constança [18 de novembro de 1313] e ferida com os conflitos gerados sobre a tutela e regência dos herdeiros menores, que nela se repercutiram.
…. A partir da morte de D. Dinis, em 1325, as relações entre D. Vataça e D. Isabel estreitaram-se ainda mais, pois passaram a habitar ambas os paços de Santa Clara…. Sabendo-se ainda que, para além de viverem à sombra das clarissas, D. Isabel, no seu testamento escolhe para a sua sepultura o mosteiro de Santa Clara … D. Vataça … será a Sé de Coimbra que albergará o seu corpo e disporá da sua riqueza.

Túmulo de Vataça Láscaris rodeado de águias bi

Túmulo de Vataça Láscaris rodeado de águias bicéfalas, símbolo da nobreza Bizantina. Mestre Pero. 1336

O visitante ou o crente que percorra hoje, sob uma luz coada e amena, o repousante interior da vetusta Sé conimbricense, deparará do lado do Evangelho com um túmulo … Eis Vataça eternamente evocada pelo seu túmulo, esse monumento de vaidade póstuma, como já foi apelidado.

Estátua jazente do túmulo de D. Vataça.jpg

Estátua jazente do túmulo de D. Vataça

A sua figuração deve-se a Mestre Pero das Emanhas, artista vindo certamente de Aragão, que igualmente esculpiu o túmulo da sua senhora, a rainha D. Isabel. Os trabalhos teriam começado, sem dúvida, já em sua vida … [e] erguia-se no coro … de onde foi, posteriormente, removido.

Nota:
Sobre o mesmo tema as Autoras pulicaram: Os Bens de Vataça. Visibilidade de uma existência. Separata da Revista de História das Ideias, vol. 9. 1987. Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Coelho, M.H.C. e Ventura, L. Vataça. Um Dona na vida e na morte. Separata de Actas das II Jornadas Luso-Espanholas de História Medieval. Vol. I. 1897. Porto, pp.159-194

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por Rodrigues Costa às 17:43

Quinta-feira, 31.01.19

Coimbra: Linha da Beira Alta 3 esclarecimento

Na passada 3.ª feira, na entrada que então publiquei, inclui a seguinte imagem

Estudante. Sec. XIX. Década de 70. Com o chapéu

Estudante. Sec. XIX. Década de 70. Com o chapéu referido no texto

O texto referido, era a descrição feita pelo jornalista Wolowski, do traje académico que ele viu os estudantes de Coimbra usarem e que descreveu da seguinte forma:

Os estudantes de Coimbra usam compridas túnicas pretas semelhantes às dos padres. Andam de cabeça descoberta, não querendo usar o chapéu regulamentar, que é deselegante. Fica surpreendido, que vem pela primeira vez a Coimbra, por encontrar a cada passo ou no passeio público um tão grande número de jovens descobertos.

O Senhor Professor Doutor Nelson Correia Borges, que tanto se tem dedicado ao estudo das tradições e dos usos e costumes de Coimbra, fez-me o favor de enviar o comentário que a seguir reproduzo, para conhecimento de quantos seguem o A'Cerca de Coimbra:

Só um comentário à foto de estudante que publicaste.
A capa está traçada de um jeito que se pode dizer típico de Coimbra. Já assim se pode ver numa escultura de João de Ruão. As tricanas traçavam o xaile desta mesma maneira e até as capoteiras, no tempo em que as usavam. O que o fulano tem na cabeça não me parece um chapéu, mas sim um barrete. Estes barretes eram de forma cilíndrica e não como agora os fazem e tinham uma parte reforçada que encaixava na cabeça. Eram compridos e podiam até servir para transportar livros. Conheci o alfaiate Louro que me explicou a maneira como eram confecionados.

 

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por Rodrigues Costa às 17:06


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