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Vataça … Uma mulher com rosto, que se individualiza, uma «domina». Não é rainha, condessa, abadessa ou santa. O parentesco biológico e o artificial ligam-na, todavia, a rainhas e reis, abadessas e santas. Mas a sua aristocracia distinta, a sua inteligência invulgar, o seu excecional tato diplomático fazem dela uma hábil conselheira, pacificadora de estados, informadora e agente político, recebendo em troca importantes mercês de reis e comprando ela própria castelos.
… Vataça era «filha da muy nobre Lascara inffante de Grecia» e do conde Guilherme Pedro de Vintemiglia e «imperatoris Graeciae neptis».
…. É exatamente em Barcelona, a 11 de Fevereiro de 1282, que se realizam os esponsórios de D. Isabel de Aragão e D. Dinis de Portugal. Com D. Isabel, vem como sua dama, D. Vataça, sua prima em 7.º grau.
D. Dinis e D. Isabel. Gravura da série Lusitanorum Regum Icones Ordinis Temporum Axpositae. 1791. [Lisboa. Biblioteca Nacional]
Desde então as suas trajetórias assimilam-se – na vida e na morte.
Na corte, na fidelidade da rainha, conhece Vataça Martim Anes um vassalo de D. Dinis … é sem dúvida um casamento político, arranjado na corte, porventura imposto (não o eram quase todos?), a ajuizar pela extrema diferença de idades entre os nubentes … não houve descendentes do consórcio… [Martim Anes] terá morrido a 21 de Agosto de 1295 … A 1 de Julho de 1296, as «honradas donas» Constança [mãe de Martim Anes] e Vataça dividem os bens de Martim Anes.
…. Ligada pelo parentesco e pela vassalidade com D. Isabel, escolhida para aia de sua filha D. Constança, uma vez viúva, vai como camareira-mor desta para Castela, quando se celebram suas bodas, em Alcanizes, no ano de 1297.
Constança de Portugal. Genealogia dos Reis de Portugal. António de Holanda. 1534
…. A sua própria «criação» na corte, o contínuo papel de «mãe» e tutora de infantes e príncipes, o seu próprio estigma pelo afastamento da sua família do poder, o seu desenraizamento e possível apartidarismo e independência (mera imagem) fazem dela uma extraordinária e inteligente diplomata, conseguindo habilmente levar ao campo pacífico as discórdias existentes entre Castela e Aragão, relativas à sucessão do trono de Castela.
…. Em 1323 havia alguns anos que regressara de Castela, triste pela morte da sua infanta D. Constança [18 de novembro de 1313] e ferida com os conflitos gerados sobre a tutela e regência dos herdeiros menores, que nela se repercutiram.
…. A partir da morte de D. Dinis, em 1325, as relações entre D. Vataça e D. Isabel estreitaram-se ainda mais, pois passaram a habitar ambas os paços de Santa Clara…. Sabendo-se ainda que, para além de viverem à sombra das clarissas, D. Isabel, no seu testamento escolhe para a sua sepultura o mosteiro de Santa Clara … D. Vataça … será a Sé de Coimbra que albergará o seu corpo e disporá da sua riqueza.
Túmulo de Vataça Láscaris rodeado de águias bicéfalas, símbolo da nobreza Bizantina. Mestre Pero. 1336
O visitante ou o crente que percorra hoje, sob uma luz coada e amena, o repousante interior da vetusta Sé conimbricense, deparará do lado do Evangelho com um túmulo … Eis Vataça eternamente evocada pelo seu túmulo, esse monumento de vaidade póstuma, como já foi apelidado.
Estátua jazente do túmulo de D. Vataça
A sua figuração deve-se a Mestre Pero das Emanhas, artista vindo certamente de Aragão, que igualmente esculpiu o túmulo da sua senhora, a rainha D. Isabel. Os trabalhos teriam começado, sem dúvida, já em sua vida … [e] erguia-se no coro … de onde foi, posteriormente, removido.
Nota:
Sobre o mesmo tema as Autoras pulicaram: Os Bens de Vataça. Visibilidade de uma existência. Separata da Revista de História das Ideias, vol. 9. 1987. Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Coelho, M.H.C. e Ventura, L. Vataça. Um Dona na vida e na morte. Separata de Actas das II Jornadas Luso-Espanholas de História Medieval. Vol. I. 1897. Porto, pp.159-194
Na passada 3.ª feira, na entrada que então publiquei, inclui a seguinte imagem
Estudante. Sec. XIX. Década de 70. Com o chapéu referido no texto
O texto referido, era a descrição feita pelo jornalista Wolowski, do traje académico que ele viu os estudantes de Coimbra usarem e que descreveu da seguinte forma:
Os estudantes de Coimbra usam compridas túnicas pretas semelhantes às dos padres. Andam de cabeça descoberta, não querendo usar o chapéu regulamentar, que é deselegante. Fica surpreendido, que vem pela primeira vez a Coimbra, por encontrar a cada passo ou no passeio público um tão grande número de jovens descobertos.
O Senhor Professor Doutor Nelson Correia Borges, que tanto se tem dedicado ao estudo das tradições e dos usos e costumes de Coimbra, fez-me o favor de enviar o comentário que a seguir reproduzo, para conhecimento de quantos seguem o A'Cerca de Coimbra:
Só um comentário à foto de estudante que publicaste.
A capa está traçada de um jeito que se pode dizer típico de Coimbra. Já assim se pode ver numa escultura de João de Ruão. As tricanas traçavam o xaile desta mesma maneira e até as capoteiras, no tempo em que as usavam. O que o fulano tem na cabeça não me parece um chapéu, mas sim um barrete. Estes barretes eram de forma cilíndrica e não como agora os fazem e tinham uma parte reforçada que encaixava na cabeça. Eram compridos e podiam até servir para transportar livros. Conheci o alfaiate Louro que me explicou a maneira como eram confecionados.
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