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A real jornada iniciou-se na manhã do dia 2.8.1882 em Santa Apolónia, estação central de Lisboa … tendo chegado a Coimbra, onde a comitiva deveria pernoitar, por volta das 5 horas da tarde.
… Coimbra deixou uma excelente impressão ao autor, sobretudo todo o cerimonial de um doutoramento … à noite, depois de um «Te Deum» e de uma cerimónia de beija-mão … o Rei foi acolhido nos Paços da Universidade enquanto o resto dos convidados se hospedou em hotéis.
Estação da Figueira da Foz. O Occidente, 142, Lisboa, 1882.12.01, p. 265
…. No dia seguinte, far-se-ia a inauguração da linha propriamente dita… às 10 horas … na Figueira da Foz … o bispo de Coimbra daria início à cerimónia da inauguração, benzendo as sete máquinas que deveriam servir nesta via-férrea.
…. À 1 hora da tarde o comboio arrancou da Figueira da Foz … a jornada tinha o atrativo humano, da turba que acorria à linha e às estações festejando com entusiasmo, bandeiras, vivas, foguetes e filarmónicas tanto a passagem dos monarcas com a inauguração da nova estrada de ferro. Uma descrição [o texto de Wolowski] que contrasta claramente com a fornecida pelos jornais da oposição ao governo para quem «o cortejo parecia um enterro»
Como seria de esperar, a inauguração foi aproveitada politicamente pelas duas maiores fações políticas da altura: o Partido Regenerador, que governava o País, e o Partido Progressista, que militava na oposição.
Completam o texto do referido livro várias ilustrações extraídas da revista satírica António Maria onde Rafael Bordalo Pinheiro, com a sua crítica mordaz e através do seu traço próprio, retrata magistralmente tal aproveitamento político.
Dessas ilustrações escolhemos as seguintes:
Viagem régia. Pormenor. Caricatura de Bordalo Pinheiro (António Maria, n.º 167, pg. 255)
Guardas da comitiva real segundo a imprensa do governo. Caricatura de Bordalo Pinheiro (António Maria, n.º 167, pg. 253)
Guardas da comitiva real segundo a imprensa da oposição. Caricatura de Bordalo Pinheiro (António Maria, n.º 167, pg. 260)
A viagem do Rei segundo a visão do governo e da oposição. Caricatura de Bordalo Pinheiro (António Maria, n.º 168, pg. 261)
Seja-me permitido inserir uma nota pessoal.
Embora tivesse tido um percurso político e continue a manter as minhas convicções de sempre, neste momento encontro-me totalmente desligado da política ativa. Não posso mesmo deixar de manifestar a minha tristeza pelo contexto atual, apesar de pouco saber, pois recuso-me a ver telejornais e a ouvir “comentários” políticos. Mas, ao preparar esta entrada não consegui deixar de refletir sobre a similitude das sátiras de Rafael Bordalo Pinheiro, publicadas há 136 anos, e a realidade política dos nossos dias. De facto, é triste constatar que em quase século e meio nada aprendemos (nem evoluímos) no campo da política.
Wolowski, B. A inauguração da linha da Beira Alta em 1882. Narrativa de viagem. Edição, introdução e notas de Hugo Silveira Pereira. Prefácio de Eduardo Beira. Vila Nova de Gaia, Inovatec.
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