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A IniciativaTua – cuja obra meritória em prol da memória das linhas do Douro é de assinalar – promoveu a edição, em livro, do minucioso texto redigido pelo noticiarista de origem polaca Bronislas Wolowski que se identificou como sendo o único jornalista estrangeiro que assistiu, em 1882, à inauguração da linha da Beira Alta. O livro ora colocado nas bancas apresenta-se enriquecido pela introdução de Hugo Silveira Pereira e pelo prefácio de Eduardo Beira que nos permitem conhecer o percurso que levou à construção daquela linha ferroviária.
Quando Portugal pensou em construir caminhos-de-ferro, o principal objetivo passava por ligar Lisboa e o seu porto à Europa de forma mais rápida e direta possível.
…. Quanto ao modo como essa ligação se faria, as dúvidas eram imensas, em virtude da falta de conhecimento estatístico e orográfico do País por parte dos governantes nacionais (o primeiro mapa moderno de Portugal elaborado com bases científicas data de meados da década de 1860) ... Se era óbvio que a via férrea se deveria dirigir à fronteira leste da Beira ou do Alto Alentejo, já a determinação do ponto preciso da raia a atravessar e a diretriz em Portugal eram questões mais complexas.
Como no livro se encontram minuciosamente referidas as possíveis opções que foram sendo avaliadas ao longo do processo, limitar-nos-emos aqui a assinalar as que apresentam Coimbra como ponto de partida ou como local de passagem.
Equacionou-se a possibilidade de se construir uma linha pela Beira interior, tendo-se ordenado estudos entre 1858 e 1861.
…. O terceiro projeto … era mais consistente e anunciava a linha da Beira como a base de todos os caminhos-de-ferro nacionais (seguia pela linha do Norte até Miranda do Corvo, divergindo depois por Lousã, Arganil, Seia, Celorico, Almeida e Valladolid …) a alternativa pela margem direita do Mondego, por Pampilhosa, Santa Comba Dão, Mangualde e Celorico da Beira era descartada por ser demasiado difícil.
…. Em 28.3.1864, Rocca e Piombino & Companhia propõem-se estudar um caminho-de-ferro entre Lisboa e Almeida passando por Sintra, Mafra, Leiria e Coimbra … No Parlamento, rapidamente se estabeleceram movimentações para colocar a linha da Beira na lista de prioridades governamentais… O governo parecia acompanhar os desejos dos deputados ao incumbir Sousa Brandão de concluir os estudos sobre a ferrovia de Coimbra a Almeida.
…. Em 1865, todavia, um rude golpe seria vibrado por Espanha e pelo Conselho Geral de Obras Pública … não considerava a linha da Beira Alta de primeira importância.
Proposta de vias-férreas na Beira Interior
…. Na década de 1870, voltaram a reunir-se condições políticas e económicas para a retoma da construção … No entanto a companhia [Companhia Real dos Caminhos de Feros Portugueses] só se interessou pela linha da Beira Alta, incumbindo o engenheiro Félix Combelles do seu estudo (em 30.6.1873) … pelo seu lado Sousa Brandão voltara-se para um traçado iniciado na Pampilhosa. Assim, às soluções Coimbra (de Chelmichi) e Mealhada (de Couceiro), juntava-se agora as alternativas Pampilhosa e Mogofores.
….Apesar da qualidade do projeto de Combelles, a Junta Consultiva de Obras Públicas chamava a atenção para a necessidade de mais exames, mas o governo optaria por aprovar os estudos de Combelles (portaria de 23.9.1873) e no ano seguinte propunha (a 21.2.1874) a construção do caminho-de-ferro da Beira Alta.
…. É nesse sentido que Boaventura José Vieira e Sousa Brandão são incumbidos da elaboração de anteprojetos. Do primeiro (datado de Novembro de 1874) resultou o regresso da estação inicial a Coimbra. A linha contornava depois a Cidade por Coselhas, Santo António dos Olivais e Chão do Bispo antes de chegar às Torres do Mondego, onde entrava na margem direita do rio, indo até à foz do Dão.
…. O início da linha da Beira Alta em Coimbra era elogiado, mas a opção Pampilhosa seria aceitável se melhorada, pois traduzir-se-ia numa construção menos dispendiosa.
Estação da Pampilhosa
O Occidente, 140, Lisboa, 1882.11.11, p. 252
… Face à impossibilidade de contratar uma companhia, o governo propõe a construção da linha por administração direta do Estado … desde a Pampilhosa.
Proposta final de rede da AECP [1877)
Pela lei e pelo contrato, a linha da Beira Alta começava na Pampilhosa, pelo que depressa se começou a pensar em lhe conceder uma saída marítima, prolongando-a até à Figueira da Foz.
Wolowski, B. A inauguração da linha da Beira Alta em 1882. Narrativa de viagem. Edição, introdução e notas de Hugo Silveira Pereira. Prefácio de Eduardo Beira. Vila Nova de Gaia, Inovatec.
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