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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 31.01.19

Coimbra: Vataça, uma Dona na vida e na morte

Vataça … Uma mulher com rosto, que se individualiza, uma «domina». Não é rainha, condessa, abadessa ou santa. O parentesco biológico e o artificial ligam-na, todavia, a rainhas e reis, abadessas e santas. Mas a sua aristocracia distinta, a sua inteligência invulgar, o seu excecional tato diplomático fazem dela uma hábil conselheira, pacificadora de estados, informadora e agente político, recebendo em troca importantes mercês de reis e comprando ela própria castelos.
… Vataça era «filha da muy nobre Lascara inffante de Grecia» e do conde Guilherme Pedro de Vintemiglia e «imperatoris Graeciae neptis».
…. É exatamente em Barcelona, a 11 de Fevereiro de 1282, que se realizam os esponsórios de D. Isabel de Aragão e D. Dinis de Portugal. Com D. Isabel, vem como sua dama, D. Vataça, sua prima em 7.º grau.

D. Dinis e D. Isabel. Gravura da série LusitanoruD. Dinis e D. Isabel. Gravura da série Lusitanorum Regum Icones Ordinis Temporum Axpositae. 1791. [Lisboa. Biblioteca Nacional]

Desde então as suas trajetórias assimilam-se – na vida e na morte.
Na corte, na fidelidade da rainha, conhece Vataça Martim Anes um vassalo de D. Dinis … é sem dúvida um casamento político, arranjado na corte, porventura imposto (não o eram quase todos?), a ajuizar pela extrema diferença de idades entre os nubentes … não houve descendentes do consórcio… [Martim Anes] terá morrido a 21 de Agosto de 1295 … A 1 de Julho de 1296, as «honradas donas» Constança [mãe de Martim Anes] e Vataça dividem os bens de Martim Anes.
…. Ligada pelo parentesco e pela vassalidade com D. Isabel, escolhida para aia de sua filha D. Constança, uma vez viúva, vai como camareira-mor desta para Castela, quando se celebram suas bodas, em Alcanizes, no ano de 1297.

Constança de Portugal. Genealogia dos Reis de Por

Constança de Portugal. Genealogia dos Reis de Portugal. António de Holanda. 1534

…. A sua própria «criação» na corte, o contínuo papel de «mãe» e tutora de infantes e príncipes, o seu próprio estigma pelo afastamento da sua família do poder, o seu desenraizamento e possível apartidarismo e independência (mera imagem) fazem dela uma extraordinária e inteligente diplomata, conseguindo habilmente levar ao campo pacífico as discórdias existentes entre Castela e Aragão, relativas à sucessão do trono de Castela.
…. Em 1323 havia alguns anos que regressara de Castela, triste pela morte da sua infanta D. Constança [18 de novembro de 1313] e ferida com os conflitos gerados sobre a tutela e regência dos herdeiros menores, que nela se repercutiram.
…. A partir da morte de D. Dinis, em 1325, as relações entre D. Vataça e D. Isabel estreitaram-se ainda mais, pois passaram a habitar ambas os paços de Santa Clara…. Sabendo-se ainda que, para além de viverem à sombra das clarissas, D. Isabel, no seu testamento escolhe para a sua sepultura o mosteiro de Santa Clara … D. Vataça … será a Sé de Coimbra que albergará o seu corpo e disporá da sua riqueza.

Túmulo de Vataça Láscaris rodeado de águias bi

Túmulo de Vataça Láscaris rodeado de águias bicéfalas, símbolo da nobreza Bizantina. Mestre Pero. 1336

O visitante ou o crente que percorra hoje, sob uma luz coada e amena, o repousante interior da vetusta Sé conimbricense, deparará do lado do Evangelho com um túmulo … Eis Vataça eternamente evocada pelo seu túmulo, esse monumento de vaidade póstuma, como já foi apelidado.

Estátua jazente do túmulo de D. Vataça.jpg

Estátua jazente do túmulo de D. Vataça

A sua figuração deve-se a Mestre Pero das Emanhas, artista vindo certamente de Aragão, que igualmente esculpiu o túmulo da sua senhora, a rainha D. Isabel. Os trabalhos teriam começado, sem dúvida, já em sua vida … [e] erguia-se no coro … de onde foi, posteriormente, removido.

Nota:
Sobre o mesmo tema as Autoras pulicaram: Os Bens de Vataça. Visibilidade de uma existência. Separata da Revista de História das Ideias, vol. 9. 1987. Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Coelho, M.H.C. e Ventura, L. Vataça. Um Dona na vida e na morte. Separata de Actas das II Jornadas Luso-Espanholas de História Medieval. Vol. I. 1897. Porto, pp.159-194

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por Rodrigues Costa às 17:43

Quinta-feira, 31.01.19

Coimbra: Linha da Beira Alta 3 esclarecimento

Na passada 3.ª feira, na entrada que então publiquei, inclui a seguinte imagem

Estudante. Sec. XIX. Década de 70. Com o chapéu

Estudante. Sec. XIX. Década de 70. Com o chapéu referido no texto

O texto referido, era a descrição feita pelo jornalista Wolowski, do traje académico que ele viu os estudantes de Coimbra usarem e que descreveu da seguinte forma:

Os estudantes de Coimbra usam compridas túnicas pretas semelhantes às dos padres. Andam de cabeça descoberta, não querendo usar o chapéu regulamentar, que é deselegante. Fica surpreendido, que vem pela primeira vez a Coimbra, por encontrar a cada passo ou no passeio público um tão grande número de jovens descobertos.

O Senhor Professor Doutor Nelson Correia Borges, que tanto se tem dedicado ao estudo das tradições e dos usos e costumes de Coimbra, fez-me o favor de enviar o comentário que a seguir reproduzo, para conhecimento de quantos seguem o A'Cerca de Coimbra:

Só um comentário à foto de estudante que publicaste.
A capa está traçada de um jeito que se pode dizer típico de Coimbra. Já assim se pode ver numa escultura de João de Ruão. As tricanas traçavam o xaile desta mesma maneira e até as capoteiras, no tempo em que as usavam. O que o fulano tem na cabeça não me parece um chapéu, mas sim um barrete. Estes barretes eram de forma cilíndrica e não como agora os fazem e tinham uma parte reforçada que encaixava na cabeça. Eram compridos e podiam até servir para transportar livros. Conheci o alfaiate Louro que me explicou a maneira como eram confecionados.

 

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por Rodrigues Costa às 17:06

Terça-feira, 29.01.19

Coimbra: Linha da Beira Alta 3

Na estação de Coimbra, e diante desta, estavam milhares de pessoas. As deputações eram muito numerosas e com os mais variados trajes. Perante as fisionomias, sentíamo-nos numa cidade inteligente.Lentes da Universidade de Coimbra c. 1898.jpg

Lentes da Universidade de Coimbra. c. 1898

Os professores da Universidade usam túnicas negras e mantilhas cujas cores variam conforme a faculdade. A cabeça está coberta com um barrete de professor de forma especial e da mesma cor da mantilha.
Far-vos-ei a descrição destes trajes universitários numa outra carta, quando vos falar da própria cidade de Coimbra e de uma solenidade singular da qual não há nenhuma ideia no resto da Europa, quero dizer, da cerimónia de um doutoramento. São solenidades legadas à Universidade pela Idade Média e extremamente curiosas. Tive verdadeiramente sorte de chegar a Coimbra no dia em que a faculdade se enriqueceu com mais um doutor.
Voltemos à viagem real,
As carruagens do Rei, enviadas de Lisboa, esperavam em Coimbra. O vasto pátio da estação estava cheio. Era um oceano de cabeças.
À entrada do comboio na estação, as mesmas cerimónias que em Santarém.

[Uma receção solene estava preparada … Uma deputação liderada pelo governador civil (o governador civil é o perfeito) e os membros da Câmara esperava … Em Portugal, nas receções, o antigo costume do beija-mão foi conservado. Toda a gente, os mais altos funcionários do Estado, os generais, oficiais, magistrados, beijou a mão do Rei, da Rainha e dos Príncipes.

Dr. António Luiz de Souza Henriques Seco, preside

Dr. António Luiz de Souza Henriques Seco, presidente da vereação em 1863, vestindo o traje e exibindo as insígnias próprias do cargo (AHMC)

Os membros da Câmara Municipal usavam trajes, que são o meio-termo entre a batina do padre e a toga do advogado francês.

Estandarte e varas da Câmara de Coimbra.jpeg

Estandarte e varas da Câmara de Coimbra (AHMC)

Têm na mão, como atributo da sua dignidade, um bastão comprido, chamado em português de «vara», no cimo do qual se encontram pintadas as armas de Portugal ou da cidade.
Todas estas deputações eram apresentadas a suas majestades pelo governador civil. O Rei e a Rainha [D. Luís e D. Maria Pia] conservavam-se na plataforma do salão real.]

… Faltei à receção da Família Real em Coimbra, ouvindo apenas os vagos ecos dos vivas, os gritos lançados em honra do Rei, da Rainha, dos Príncipes e da Casa de Bragança.
Pude ver nas varandas, ornamentadas à moda italiana com tapeçarias e cortinados de todas as cores, muito lindas senhoras.
…. A carruagem real era literalmente bombardeada com flores, lançadas das varandas.
O Rei, a Rainha e os príncipes tinham os seus aposentos preparados nos paços da Universidade, no lugar mais alto da cidade, tal como em Lisboa, em anfiteatro.

Estudante. Sec. XIX. Década de 70. Com o chapéu

Estudante. Sec. XIX. Década de 70. Com o chapéu referido no texto

Os estudantes de Coimbra usam compridas túnicas pretas semelhantes às dos padres. Andam de cabeça descoberta, não querendo usar o chapéu regulamentar, que é deselegante. Fica surpreendido, que vem pela primeira vez a Coimbra, por encontrar a cada passo ou no passeio público um tão grande número de jovens descobertos.
Na Universidade, a Família Real dirigiu-se à capela onde se cantou um «Te Deum». Depois o Rei e a Rainha foram conduzidos debaixo de um pálio aos aposentos que estavam destinados a suas majestades.
Os convidados do comboio real e os membros de todas as faculdades, com reitor e decanos à frente, dirigiram-se a um salão do primeiro andar onde se realizou a receção. A cerimónia do beija-mão, incontornável em Portugal, recomeçou.
Cada um de nós deveria instalar-se na cidade, em hotéis, com a recomendação de estar no dia seguinte, às 6h30 da manhã, na estação.

Wolowski, B. A inauguração da linha da Beira Alta em 1882. Narrativa de viagem. Edição, introdução e notas de Hugo Silveira Pereira. Prefácio de Eduardo Beira. Vila Nova de Gaia, Inovatec.

 

 

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por Rodrigues Costa às 09:43

Quinta-feira, 24.01.19

Coimbra: Linha da Beira Alta 2

A real jornada iniciou-se na manhã do dia 2.8.1882 em Santa Apolónia, estação central de Lisboa … tendo chegado a Coimbra, onde a comitiva deveria pernoitar, por volta das 5 horas da tarde.
… Coimbra deixou uma excelente impressão ao autor, sobretudo todo o cerimonial de um doutoramento … à noite, depois de um «Te Deum» e de uma cerimónia de beija-mão … o Rei foi acolhido nos Paços da Universidade enquanto o resto dos convidados se hospedou em hotéis.

Estação da Figueira da Foz.jpg

Estação da Figueira da Foz. O Occidente, 142, Lisboa, 1882.12.01, p. 265

…. No dia seguinte, far-se-ia a inauguração da linha propriamente dita… às 10 horas … na Figueira da Foz … o bispo de Coimbra daria início à cerimónia da inauguração, benzendo as sete máquinas que deveriam servir nesta via-férrea.
…. À 1 hora da tarde o comboio arrancou da Figueira da Foz … a jornada tinha o atrativo humano, da turba que acorria à linha e às estações festejando com entusiasmo, bandeiras, vivas, foguetes e filarmónicas tanto a passagem dos monarcas com a inauguração da nova estrada de ferro. Uma descrição [o texto de Wolowski] que contrasta claramente com a fornecida pelos jornais da oposição ao governo para quem «o cortejo parecia um enterro»
Como seria de esperar, a inauguração foi aproveitada politicamente pelas duas maiores fações políticas da altura: o Partido Regenerador, que governava o País, e o Partido Progressista, que militava na oposição.

Completam o texto do referido livro várias ilustrações extraídas da revista satírica António Maria onde Rafael Bordalo Pinheiro, com a sua crítica mordaz e através do seu traço próprio, retrata magistralmente tal aproveitamento político.
Dessas ilustrações escolhemos as seguintes:

Viagem régia caricatura de Bordalo Pinheiro.jpg

Viagem régia. Pormenor. Caricatura de Bordalo Pinheiro (António Maria, n.º 167, pg. 255)

guardas da comitiva real segundo a imprensa do gov

Guardas da comitiva real segundo a imprensa do governo. Caricatura de Bordalo Pinheiro (António Maria, n.º 167, pg. 253)

guardas da comitiva real segundo a imprensa da opo

Guardas da comitiva real segundo a imprensa da oposição. Caricatura de Bordalo Pinheiro (António Maria, n.º 167, pg. 260)

A viagem do Rei segundo a visão do governo e da o

A viagem do Rei segundo a visão do governo e da oposição. Caricatura de Bordalo Pinheiro (António Maria, n.º 168, pg. 261)

Seja-me permitido inserir uma nota pessoal.
Embora tivesse tido um percurso político e continue a manter as minhas convicções de sempre, neste momento encontro-me totalmente desligado da política ativa. Não posso mesmo deixar de manifestar a minha tristeza pelo contexto atual, apesar de pouco saber, pois recuso-me a ver telejornais e a ouvir “comentários” políticos. Mas, ao preparar esta entrada não consegui deixar de refletir sobre a similitude das sátiras de Rafael Bordalo Pinheiro, publicadas há 136 anos, e a realidade política dos nossos dias. De facto, é triste constatar que em quase século e meio nada aprendemos (nem evoluímos) no campo da política.

Wolowski, B. A inauguração da linha da Beira Alta em 1882. Narrativa de viagem. Edição, introdução e notas de Hugo Silveira Pereira. Prefácio de Eduardo Beira. Vila Nova de Gaia, Inovatec.

 

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por Rodrigues Costa às 09:29

Terça-feira, 22.01.19

Coimbra: Linha da Beira Alta 1

A IniciativaTua – cuja obra meritória em prol da memória das linhas do Douro é de assinalar – promoveu a edição, em livro, do minucioso texto redigido pelo noticiarista de origem polaca Bronislas Wolowski que se identificou como sendo o único jornalista estrangeiro que assistiu, em 1882, à inauguração da linha da Beira Alta. O livro ora colocado nas bancas apresenta-se enriquecido pela introdução de Hugo Silveira Pereira e pelo prefácio de Eduardo Beira que nos permitem conhecer o percurso que levou à construção daquela linha ferroviária.

Quando Portugal pensou em construir caminhos-de-ferro, o principal objetivo passava por ligar Lisboa e o seu porto à Europa de forma mais rápida e direta possível.
…. Quanto ao modo como essa ligação se faria, as dúvidas eram imensas, em virtude da falta de conhecimento estatístico e orográfico do País por parte dos governantes nacionais (o primeiro mapa moderno de Portugal elaborado com bases científicas data de meados da década de 1860) ... Se era óbvio que a via férrea se deveria dirigir à fronteira leste da Beira ou do Alto Alentejo, já a determinação do ponto preciso da raia a atravessar e a diretriz em Portugal eram questões mais complexas.

Como no livro se encontram minuciosamente referidas as possíveis opções que foram sendo avaliadas ao longo do processo, limitar-nos-emos aqui a assinalar as que apresentam Coimbra como ponto de partida ou como local de passagem.

Equacionou-se a possibilidade de se construir uma linha pela Beira interior, tendo-se ordenado estudos entre 1858 e 1861.
…. O terceiro projeto … era mais consistente e anunciava a linha da Beira como a base de todos os caminhos-de-ferro nacionais (seguia pela linha do Norte até Miranda do Corvo, divergindo depois por Lousã, Arganil, Seia, Celorico, Almeida e Valladolid …) a alternativa pela margem direita do Mondego, por Pampilhosa, Santa Comba Dão, Mangualde e Celorico da Beira era descartada por ser demasiado difícil.

…. Em 28.3.1864, Rocca e Piombino & Companhia propõem-se estudar um caminho-de-ferro entre Lisboa e Almeida passando por Sintra, Mafra, Leiria e Coimbra … No Parlamento, rapidamente se estabeleceram movimentações para colocar a linha da Beira na lista de prioridades governamentais… O governo parecia acompanhar os desejos dos deputados ao incumbir Sousa Brandão de concluir os estudos sobre a ferrovia de Coimbra a Almeida.
…. Em 1865, todavia, um rude golpe seria vibrado por Espanha e pelo Conselho Geral de Obras Pública … não considerava a linha da Beira Alta de primeira importância.

Proposta de vias-férreas na Beira Interior.jpg

Proposta de vias-férreas na Beira Interior

…. Na década de 1870, voltaram a reunir-se condições políticas e económicas para a retoma da construção … No entanto a companhia [Companhia Real dos Caminhos de Feros Portugueses] só se interessou pela linha da Beira Alta, incumbindo o engenheiro Félix Combelles do seu estudo (em 30.6.1873) … pelo seu lado Sousa Brandão voltara-se para um traçado iniciado na Pampilhosa. Assim, às soluções Coimbra (de Chelmichi) e Mealhada (de Couceiro), juntava-se agora as alternativas Pampilhosa e Mogofores.
….Apesar da qualidade do projeto de Combelles, a Junta Consultiva de Obras Públicas chamava a atenção para a necessidade de mais exames, mas o governo optaria por aprovar os estudos de Combelles (portaria de 23.9.1873) e no ano seguinte propunha (a 21.2.1874) a construção do caminho-de-ferro da Beira Alta.
…. É nesse sentido que Boaventura José Vieira e Sousa Brandão são incumbidos da elaboração de anteprojetos. Do primeiro (datado de Novembro de 1874) resultou o regresso da estação inicial a Coimbra. A linha contornava depois a Cidade por Coselhas, Santo António dos Olivais e Chão do Bispo antes de chegar às Torres do Mondego, onde entrava na margem direita do rio, indo até à foz do Dão.
…. O início da linha da Beira Alta em Coimbra era elogiado, mas a opção Pampilhosa seria aceitável se melhorada, pois traduzir-se-ia numa construção menos dispendiosa.Estação da Pampilhosa.jpg

Estação da Pampilhosa
O Occidente, 140, Lisboa, 1882.11.11, p. 252

… Face à impossibilidade de contratar uma companhia, o governo propõe a construção da linha por administração direta do Estado … desde a Pampilhosa.

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Proposta final de rede da AECP [1877)

Pela lei e pelo contrato, a linha da Beira Alta começava na Pampilhosa, pelo que depressa se começou a pensar em lhe conceder uma saída marítima, prolongando-a até à Figueira da Foz.

Wolowski, B. A inauguração da linha da Beira Alta em 1882. Narrativa de viagem. Edição, introdução e notas de Hugo Silveira Pereira. Prefácio de Eduardo Beira. Vila Nova de Gaia, Inovatec.

 

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por Rodrigues Costa às 12:40

Quinta-feira, 17.01.19

Coimbra: Quinta da Portela 2

Fachada principal do Palácio.jpg

Fachada principal do Palácio

A fachada principal, que é a única inteiramente nova … [e] nela se resume com maior evidência a introdução dos cânones neoclássicos, muito embora esta tentativa de racionalização seja interrompida pelo eixo do portal.

Ângulo esquerdo do Palácio.jpg

Ângulo esquerdo do Palácio

É uma fachada delimitada por fortes cunhais de cantaria lisa encimados por urnas com fogaréus barrocos, e composta por dois pisos demarcados por uma barra horizontal de cantaria, sendo o inferior rasgado apenas por duas janelas de verga lisa que ladeiam o portal … No piso superior, seis janelas de sacada com grade de fero e avental recortado.

Zona central da fachada do palácio.jpg

Zona central da fachada do palácio

…. Estruturalmente, o portal desenvolve-se a partir de um vão retangular ladeado por duas pilastras encimadas por duplas mísulas volutiformes. Coroadas por plintos de perfil bojudo.

Passagem, através do portal principal, ao pátio

Passagem, através do portal principal, ao pátio interior

Acesso ao pátio interior com a porta de entrada d

Acesso ao pátio interior com a porta de entrada da capela ao fundo

O portal estabelece a ligação com o pátio interior, ao qual se acede através de um largo e comprido túnel com cobertura em madeira … sustentada no outro extremo num possante arco abatido e tendo como pano de fundo o portal da capela.


Pavimento do pátio interior.jpg

Pavimento do pátio interior

O túnel … é pavimentado com uma calçada bicolor feita com pedras do rio, solução que é retomada no pavimento do pátio, onde está desenhada uma admirável rosa-dos-ventos.

Nota: Após a realização deste excelente trabalho de investigação, a área da Quinta da Portela foi urbanizada e o palácio – que se mantem na posse da Família – embora mantendo a traça original, sofreu obras de reabilitação.

Mora, L.M.C.F.O. 2001. A Quinta da Portela. História e Arte. Seminário de História da Arte. Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Vol. I e II. dactilografados.

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por Rodrigues Costa às 09:30

Terça-feira, 15.01.19

Coimbra: Quinta da Portela 1

A mais antiga referência ao lugar da Portela … encontra-se provavelmente num documento de 1171 sob a designação de Portela do Lunado, em cuja direção partia a estrada que de Coimbra passava pelo Calhabé (“Villa Mendica”).

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A Quinta da Portela

Quanto à quinta [da Portela] propriamente dita, se bem que estejamos convencidos de que se lhe refere um documento da segunda metade de Trezentos … apenas podemos garantir que passado um século era seu proprietário o cabido da Sé de Coimbra … O negócio celebrado em 1364 entre o Morgado de Carvalho [Álvaro Fernandes] e o cabido da Sé está registado num pergaminho que foi levado para a Torre do Tombo [e nele é referido que] … deu “duas vinhas com seus olyvaaes e com seu lagar e paaço … no logo hu chamam a Portella.
… O termo “paaço” corresponde à forma portuguesa mais antiga do latino «palatium», utilizada a partir do século XIII … é possível que a residência recebida pelo cabido da Sé de Coimbra obedecesse aos parâmetros do “paaço” medieval português.
… A 17 de Fevereiro [de 1617], o cabido da Sé de Coimbra dera licença “ao Senhor Lucas da Fonsequa … para que elle posa vender a sua quinta da Portella … a qual he factuisim desta nossa Sé Cathedral.
[A venda da quinta foi feita a] Diogo Marmeleiro de Noronha … onde há pelo menos sete anos residia e realizara importantes melhoramentos, isto apesar de possuir casas nobres na cidade de Coimbra.
…. Entre 21 de Outubro de 1741 e 3 de Novembro de 1745, a quinta da Portela foi arrematada em hasta pública por D. João Luís de Meneses, da cidade de Lisboa [mas] … não seria, em todo o caso, por muito tempo que … iria deter o domínio útil da quinta da Portela.
De facto, ainda não tinha decorrido um mês quando, no primeiro de Dezembro seguinte [ocorreu a] “venda da quinta da Portella com suas pertensas (…) ao Reverendo Deam da See de Coimbra, o Sr. Manoell de Britto Barreto da Costa e Castro…” o influente Morgado de Pomares.
… a sucessão da casa e de todos os vínculos à mesma associados recaiu … [sobre] Francisco Xavier de Brito Barreto da Costa e Castro.
… Será em vida deste morgado que terão início as obras de reconstrução das casas da quinta da Portela onde, … ocorrera “hum fogo [que] as destruiu e devorou totalmente.

Foz do rio Ceira vista do Palácio.jpg

Foz do rio Ceira vista do Palácio

Segundo os autores do «Inventário Artístico de Portugal» … o palácio dos Marqueses de Pomares “parece tratar-se duma reedificação, no fim do séc. XVIII ou princípio do séc. XIX, duma casa anterior”.

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Ramal acesso [hoje desaparecido]

…. Ultrapassada a entrada [da quinta de Portela] … uma longa fila de castanheiros que ladeia o caminho de terra batida que após uma série de curvas e contracurvas, desembola numa extensa superfície plana, flanqueada por uma longa fila de casas térreas destinadas às atividades agrícolas,

Vista parcial das instalações agrícolas e camin

Vista parcial das instalações agrícolas e caminho para Vila Franca

com destaque para o enorme lagar de azeite que, nos seus tempos áureos, moia a maior parte da azeitona de Coimbra e arredores.

O Palácio visto do jardim.jpg

O Palácio visto do jardim

Ao fundo ergue-se o “majestoso palácio à frente do qual se desenvolve um jardim de inspiração francesa, fechado por imponente gradeamento e portão”.

Mora, L.M.C.F.O. 2001. A Quinta da Portela. História e Arte. Seminário de História da Arte. Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. .Vol. I e II. dactilografados

 

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por Rodrigues Costa às 09:34

Quinta-feira, 10.01.19

Coimbra: Pesca Artesanal no Rio Mondego

A carne era o complemento alimentar básico da população [da população da região de Coimbra, no século XVI], mas como era escassa, o peixe do rio, ou vindo dos portos da costa mais próximos, como Buarcos e Aveiro, supria as necessidades maiores em anos de fome.
… O ano de 1526 foi terrífico, tendo a Câmara deliberado em 28 de fevereiro, que todo o peixe pescado no rio, fosse nas «bugigangas» [rede de malha apertada, com cerca de 20 metros, que com embarcações em cada extremo formavam um círculo em que o peixe ficava aprisionado] ou noutro qualquer artifício, teria de ser levado à praça, salvo aquele que os pescadores necessitassem para sua alimentação.
… conhecem-se notícias que vêm de muito longe, sobre a comercialização na cidade [de Coimbra] do peixe do rio e do mar, uma das quais se pode ler no «Livro das Kalendas» … [respeitante a] uma tenda … no local das «Tendas» que se estendia da Almedina à Sé, pela então Rua dos Fiveleiros, e hoje de Quebra-Costas. Essa tenda, identificava-se como a «casa da pedra do peixe» que, em data imprecisa, se mudou para a Rua das Fangas da Farinha. O peixe era então cortado e vendido à posta, e aquela «pedra» não tinha outra finalidade que não fosse a de servir de mesa para o seu corte. Era obrigatório reunir nesse local todo o peixe destinado à venda, para ser taxado pelos oficiais da Câmara, e escolhido, antes da venda pública, pelos privilegiados. Parece que o peixe seria mais volumoso do que é hoje e as condições económicas da maioria não seriam propícias à compra de peixes inteiros, tanto mais que a sua conservação se resumia à salga.
Nas «Posturas Municipais», publicadas em 1554, determinavam-se as obrigações relativas aos pescadores, à almotaçaria e aos locais de venda. Aquele peixe que viesse do mar seria vendido pelo próprio pescador que o trouxesse, e na barca ou azémola em que viesse, depois de ter sido taxado. O peixe do rio podia ser vendido pelas portas, assim como os mariscos.

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Dois caneiros no rio levantados com estacaria, redes, ou entrançado de vimes ou ramos de choupo. Desenho não identificado

… A legislação do tempo sobre a pesca é extensa, e aparece com frequência nas «Posturas, Cartas Régias, Alvarás, Forais» e outro tipo de legislação. Os primeiros documentos régios que se conhecem sobre o colocar no rio os «caneiros» … remontam a uma autorização de D. Afonso I concedida no ano de 1139, aos crúzios, para colocarem no rio, em seu benefício, aquele tipo de apanha do peixe que subia ou descia o rio.

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Barco de pesca do baixo Mondego. Desenho não identificado

… O Mosteiro era também autorizado a ter uma barca de pesca, no rio ou no mar, isenta de qualquer tributo.
… [no] regresso da tomada de Ceuta, são dados ao Infante D. Pedro junto com o título de 1.º Duque de Coimbra, inúmeros benefícios materiais, e, entre eles, o direito, expressamente mencionado, de ter um «caneiro» no rio. [Este caneiro] após Alfarrobeira, passou a ser referido por «caneiro real»
…. Conhece-se documentação que dá notícia de nas tendas do mercado da Almedina, aí pelos anos 40 do século XIV, haver tendas em que o peixe era vendido frito ou cozido.

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Um pescador coimbrão, setecentista, com rede ao ombro e cesta de peixe na mão. O fundo da gravura é o Mosteiro de S. Cruz, com a cruz de uma «estação», e a porta para a zona de Santa Margarida. Desenho não identificado

Os pescadores que livremente queriam pescar no rio, tinham que previamente se inscrever em livro próprio da Câmara … e pressionados pela mira do lucro ou por carências alimentares, não guardavam as distâncias entre os «caneiros», em que era proibido pescar, ou a eles iam, de noite, apanhar o peixe. Isso se depreende de queixas que a Cidade fez ao rei.

Livro das posturas dos piscadores, pormenor do in

Livro das posturas dos «piscadores», pormenor do início

…. No «Livro dos Regimentos e Posturas da Câmara» mais conhecido por «Livro I da Correia» … no capítulo que tocava às «pescadeiras» … eram obrigadas a vender todo o peixe, a peso, fresco ou seco, na praça ou no açougue do peixe – a tal «casa da pedra do peixe» – salvo os linguados, lampreias e azevias que se venderiam por contado, e finalmente os mariscos, que não tinham preço fixado e, portanto, variável.

Nota:
No Livro das posturas dos «piscadores» pode observar-se um pormenor deveras interessante. O mester Fernão da Serra à frente do seu nome colocou, desenhada, uma serra; contudo, pensamos que a assinatura terá sido caligrafada pelo escrivão e o mester, devendo ser analfabeto, em vez de colocar a costumeira cruz utilizava a figuração do seu apelido.

Livro das posturas dos piscadores, pormenor das as

Livro das posturas dos «piscadores», pormenor das assinaturas

Silva, A.C. A pesca artesanal no Rio Mondego como factor económico na vida Coimbrã. Separata do Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra. Vol. X. 1988.

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por Rodrigues Costa às 11:46

Terça-feira, 08.01.19

Coimbra: História dos Paços Municipais

Na página web do Município está à disposição de todos nós um excelente texto do Dr. Carlos Santarém Andrade intitulado Paços do Concelho - História dos Paços Municipais.
Desse texto que bem merece ser divulgado, publicamos a parte inicial e as gravuras que o ilustram. O texto restante, cuja leitura se recomenda, pode ser consultado em:

https://www.cm-coimbra.pt/index.php/municipio/municipio/historia-dos-pacos-do-concelho 

Brasão de Coimbra b.jpg

Brasão de Coimbra

Os Paços Municipais da Cidade de Coimbra estão situados na Praça 8 de Maio, data que evoca a entrada das tropas liberais em Coimbra, no ano de 1834.
A sede da Edilidade Coimbrã conheceu vários locais desde a Idade Média, nomeadamente num edifício muito próximo da fachada poente da Sé Velha, instalando-se pelo menos desde o século XIV na Torre de Almedina, cuja feição atual resulta de beneficiações que, por duas vezes, nela foram efetuadas no decorrer do século XVI. Nela poderemos observar, ainda hoje, no piso superior, um brasão antigo da cidade, bem como a palavra “Senado”, e a data de 1541. No piso inferior funcionava o Tribunal da Relação, pelo que o monumento aparece designado em diversos documentos por “Torre da Vereaçom” ou “Torre da Rellaçom”.
No século XVIII mudou-se para casas junto à Igreja de Santiago, com frente para a Praça de São Bartolomeu e para a Calçada, tendo regressado à velha torre, por algum tempo, após o terramoto de 1755, e de novo em 1810, depois de aquelas instalações terem sido incendiadas, durante as invasões francesas, pelas tropas gaulesas.
Extinta a Inquisição em 1821, a Vereação transferiu-se no ano seguinte para parte dos seus edifícios, concretamente para a chamada Casa da Bica, com entrada pela Rua da Sofia, onde por pouco tempo se mantém, dado ter sido vendida pelo Estado, regressando à centenária torre em 1826.
Com a extinção das Ordens Religiosas em 1834, um novo capítulo se iria abrir. Assim, a vereação dirigiu aos Deputados da Nação Portuguesa, em janeiro de 1835, uma petição em que solicitava para a Câmara “uma parte do extinto Mosteiro de Santa Cruz, no qual há todas as convenientes disposições para Jurados, da Câmara, da secretaria e competente arquivo”. Várias vezes insistiu no pedido, sem resultado, até que, em resposta a mais um requerimento da edilidade, em junho de 1836, o Governador Civil interino consentiu que a Câmara ocupasse a parte pedida, desde que se obrigasse “a largar mão dela quando, por qualquer circunstância, o Governo a destinasse para outros fins”.

Parte do Mosteiro de Santa Cruz.jpg

Mosteiro de Santa Cruz, parte onde se construíram os Paços do Concelho

A parte do mosteiro cedida à Câmara tinha a frontaria voltada para o então denominado Terreiro de Sansão, topónimo que ainda hoje a memória citadina conserva, derivado do facto de ter aí existido um chafariz encimado por uma estátua daquela figura bíblica. Essa frontaria era constituída por três corpos. Um, imediatamente a seguir à Igreja de Santa Cruz, alinhado com esta. Outro, mais recuado, onde se encontrava a designada Porta Fidalga, principal acesso ao mosteiro, bem como um cruzeiro e uma capela do Senhor dos Passos, uma das várias que existiam espalhadas pela cidade, e de que se conserva ainda hoje uma, à ilharga da igreja de São Bartolomeu. Mais a norte, também saliente em relação à fachada central, um outro corpo encimado por um dormitório, chamado de São Francisco, que se prolongava ao longo do mosteiro, até à denominada horta, junto ao atual edifício dos Correios.
A parte do mosteiro cedida estava edificada à volta de um claustro, em cujo centro de situava um lago, com quatro leões de pedra de cujas bocas jorrava água, tendo aos cantos umas limeiras, que davam o nome ao claustro, também referido como Claustro da Porta Fidalga. Tinha ainda algumas capelas, numa das quais, chamada do Espírito Santo, se encontrava o célebre quadro representando o Pentecostes, da autoria de Grão Vasco, e que hoje se encontra na sacristia da Igreja de Santa Cruz.
Tendo-lhe sido cedida, embora a título precário, essa parcela do mosteiro, a Câmara efetuou os consertos necessários para efetuar a mudança e instalar-se naquele espaço. Finalmente, por portaria do Ministério dos Negócios da Fazenda, de 17 de novembro de 1836, foram concedidos à Câmara todos os edifícios que haviam pertencido ao mosteiro, com a condição de neles serem estabelecidas as várias repartições públicas estatais. E, durante décadas, a Câmara Municipal ocupou as velhas acomodações monásticas, que foram sofrendo sucessivas alterações para se adaptarem às exigências de uma instituição que, com o decorrer dos tempos, tinha a seu cargo cada vez mais obrigações e finalidades.

Câmara Municipal de Coimbra.jpg

Os Paços do Concelho nos meados do século passado

Andrade, C.S. Paços do Concelho - História dos Paços Municipais. Acedido em 2018.11.23, em
https://www.cm-coimbra.pt/index.php/municipio/municipio/historia-dos-pacos-do-concelho 

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por Rodrigues Costa às 11:22

Quinta-feira, 03.01.19

Coimbra: Instituto de Coimbra

A Academia Dramática, criada em 1836, onde alunos e professores preparavam e exibiam peças teatrais. Os estatutos da nova academia, aprovados em 4 de dezembro de 1840 … previam a existência de três conservatórios (Dramático, de Música e de Pintura), que passaram a designar-se Institutos e que se viriam a fundir numa única entidade conhecida por “Instituto”. Ao Instituto incumbia a realização de trabalhos literários e artísticos, sendo por isso constituída por indivíduos versados nas artes de declamação, música, pintura e literatura, na sua maioria lentes da Universidade de Coimbra.
Os atritos e afrontamentos que foram surgindo entre os membros do Instituto e os restantes elementos da Academia Dramática originaram uma dissensão, efetivada pela comissão que dirigia o Instituto em 1851.
… A nova sociedade académica foi iniciada a 3 de janeiro de 1852, com a aprovação em Assembleia-geral dos novos estatutos que declaravam como objetivos “a cultura das ciências, belas letras e belas artes.” Com a fundação do “novo” Instituto de Coimbra incorporou-se uma área vocacionada para a cultura das ciências.
Toda a história do Instituto de Coimbra se entrelaçou com a história da Universidade, não sendo possível “dar conta da vida desta instituição científica isolando-a da Universidade de Coimbra, onde as suas raízes vão colher constantemente a seiva que o vivifica, e a todo o momento lhe fornece novas e pujantes forças” (Lobo, 1937, p. 6). Alguns consideraram o Instituto de Coimbra um “rebento juvenil” da alma mater que era a antiga Universidade (idem, p. 9).

Instituto sala.jpgPrimeira sala do Museu de Antiguidades do Instituto de Coimbra

… O Instituto de Coimbra compreendia três classes, que tinham de ser escolhidas pelos seus associados, designadamente: I Classe - Ciências morais e sociais, dedicada aos assuntos relacionados com a economia e o direito; II Classe – Ciências Físico-matemáticas, que englobava todas as ciências naturais e exatas; e III Classe – Literatura, belas letras e artes, composta pelas secções de literatura, literatura dramática e belas artes.
… A primeira reformulação dos estatutos originais, de 3 de Janeiro de 1852, surgiu nos já referidos estatutos de 1860. Em Assembleia geral de 4 e 7 de Junho de 1882 foram aprovadas alterações dos estatutos, onde se destacou a descrição da medalha de prata a ser usada pelos sócios efetivos. Esta teria a inscrição – Instituto de Coimbra 1852, de um lado e a insígnia da sociedade no outro, com a legenda Auro Pretiosior1, devendo ser usada suspensa de um duplo colar de prata.

Instituto.jpgColar com a insígnia do Instituto de Coimbra

Desde o início, a publicação de um jornal científico e literário surgiu como a principal ferramenta de prossecução dos objetivos definidos para a nova sociedade académica.
Proveniente da primeira corporação científica do país (Sampaio, 1852, p. 1) O Instituto título atribuído à publicação, não se assumiu de modo nenhum como um periódico popular, mas antes como um meio de divulgar os trabalhos dos seus sócios entre os seus pares, mesmo que de áreas distintas, e um espaço de debate de ideias ao promover “diálogo entre intelectuais” (Xavier, 1992, p. 91).O Insituto. Volume Primeiro. 1853.jpgO Instituto. Jornal Scientifico e Litterario. Volume Primeiro. 1853

… A revista científica e literária O Instituto adquiriu, pela sua longevidade, singularidade no panorama nacional. Ganhou prestígio ao tornar-se uma obra de troca. Em 1935, O Instituto era permutado com mais de 200 periódicos nacionais e internacionais. Ao longo de 130 anos foram publicados 141 volumes, o último dos quais em 1981, prenunciando já o fim do Instituto de Coimbra. Em 1942, quando se publicou o centésimo volume de O Instituto, o Secretariado da Propaganda Nacional, órgão do Estado Novo, ofereceu uma lápide comemorativa descerrada na sede do Instituto de Coimbra, onde, ainda hoje, se pode ler: “Neste edifício tem a sua sede a mais antiga revista literária do país.”

Leonardo, A.J., Martins, D.R. e Fiolhais, C. O Instituto de Coimbra e a Ciência na Universidade de Coimbra. Acedido em 2018.11.12, em file:///C:/Users/Rodrigues%20Costa/Desktop/Blogue%20entradas%20a%20fazer/Instituto/Instituto%20de%20Coimbra.pdf

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por Rodrigues Costa às 20:28


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