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A' Cerca de Coimbra



Terça-feira, 20.11.18

Coimbra: Estação Nova

A construção da rede de caminho-de-ferro foi uma das principais obras do século XIX o que explica as acesas discussões que provocou em Coimbra, debatendo o traçado adotado e a localização das estações que serviam a cidade.
O traçado das linhas, apesar de ter inflamado a opinião pública por quase 50 anos … interessa-nos antes analisar o processo e as consequências da implantação da estação da cidade, junto ao cais das Ameias.

Estação da zona do Padrão [Alexandre Ramires, R

Estação da zona do Padrão [Alexandre Ramires, Revelar Coimbra,22]

Quando se construiu a Linha do Norte, implantou-se a Estação de Coimbra nas imediações da cidade, na zona do Padrão. Na época discutia-se o traçado da Linha da Beira Alta, que segundo alguns estudos deveria partir de Coimbra pela margem do Mondego, prevendo a construção de uma nova estação dentro da cidade. A decisão de iniciar a linha da Beira Alta na Pampilhosa, muito contestada pela população de Coimbra, obrigou pela desconformidade com a lei de 26 de Janeiro de 1876, à criação de um ramal entra estação do Padrão e o centro da cidade. Depois de muito protelado o ramal foi construído, mas reequacionando-se a possibilidade de uma linha para a Beira pelas margens do Mondego implantou-se uma estação provisória, junto ao Cais das Ameias e lateralmente à via, o que permitia a possibilidade da linha ser prolongada anos depois.
O caráter provisório foi-se prolongando e as próprias dimensões da estação tornaram-se insuficientes para o afluxo de passageiros e de mercadorias, obrigando à construção de um conjunto de edifícios anexos em madeira. O que conduziu, a partir de 1899, a uma incessante campanha da Associação Comercial que reclamava a construção de um novo edifício. Apesar da urgência da melhoria deste equipamento, muito defendido na imprensa local, esta iniciativa não foi secundada pelo presidente do município, Manuel Dias da Silva, que procurava na época encetar os estudos para um Plano de Melhoramentos da cidade baixa, cujos resultados poderiam condicionar a construção da nova estação.
Por outro lado, anos antes, em Novembro de 1888, tinha sido concessionada à empresa Fonseca, Santos & Viana uma linha entre Coimbra e a Covilhã que acarretaria alterações na estação da cidade. Porém as dificuldades financeiras da companhia retardavam o início dos trabalhos e adiavam a necessidade de alargamento da Estação. Só no inicio do século XX, depois da Companhia Real de Caminho de Ferro Portugueses ter assumido a construção desta linha foi possível dar andamento e ao mesmo tempo encetar os estudos para nova estação nas Ameias.


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Estação primitiva

Inaugurada a linha para a Lousã a 16 de Dezembro de 1906 o problema da nova estação ganhou mais acuidade mas só começou a ser resolvido em 1918, no entanto o processo não foi pacifico. À data o município tinha em estudo um novo plano para a reforma da Baixa e depois de informado por via não oficial da aprovação pelo governo de um projeto para a nova estação, diligenciou junto da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses lembrando a necessidade de licenciamento municipal de todos os edifícios com fachada para a rua. Pese embora as diligências a referida companhia iniciou a compra dos terrenos necessários.
“A Companhia Portuguesa entendeu, porém, que a Cidade de Coimbra, quer pela categoria de 3.ª Cidade de Portugal, quer como centro da mais interessante região de turismo, era merecedora de um edifício mais vasto e de mais nobre aspeto do que o existente, e dispôs-se ao pesado sacrifício da sua construção, … visto tratar-se de um melhoramento de grande interesse para essa Cidade.”
Quatro anos depois, embora alegando que a “Companhia não se julga … na obrigação legal de submeter os seus projetos à apreciação de qualquer outra entidade, que não seja a Direção Fiscal dos Caminhos de Ferro” enviava à Câmara Municipal o respetivo projeto pela consideração que devo a V. Ex.ª e à Câmara da sua digna presidência para que V. Ex.ª e os munícipes de Coimbra possam apreciar a forma porque esta Companhia deseja contribuir para o embelezamento dessa cidade.
O engenheiro Abel Augusto Dias Urbano, na época chefe interino e como referimos responsável pelo Projeto para os novos arruamentos da cidade baixa contestou a implantação do ramal ao mesmo tempo que enaltecia a vontade de “substituir … a antiga Estação, acanhada, mal localizada, de aspeto sórdido e mesquinho de pequena Estação sertaneja” e propôs uma nova implantação para o edifício cerca de seis a dez metros para norte.

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Desenho de reconstituição da implantação da antiga estação
O objetivo era deixar entre a estação e o limite do cais uma distância mínima de dez metros para a construção de uma marginal, ao mesmo tempo que propunha que a fachada principal ficasse perpendicular ao eixo da Avenida Emídio Navarro.
Em resposta a Companhia comprovou a impossibilidade de satisfazer as exigências do município, pela exiguidade de terenos, mas comprometeu-se a minorar os problemas apontados e, com esta promessa o município, presidido por Mário de Almeida aprovou o projeto, esperando que “o mais breve possível, seja um facto o importante melhoramento que para a cidade representa a construção da projetada estação de caminho de ferro.”

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Planta de implantação da nova estação inaugurada a 15 de março de 1931

… Apesar destes intentos as obras só tiveram início cinco anos depois e suscitando novamente grande contestação.

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s/a, Estação de caminho de ferro,1954

Os diferendos subsistiram e o projeto aprovado e apresentado pela Companhia em 1923 foi construído sem fazer qualquer das alterações propostas … O edifício da autoria dos arquitetos Cottinelli Telmo e Luís Cunha, apesar da qualidade arquitetónica, em grande medida condicionada pelas limitações do espaço, descurou a inserção urbana e a almejada avenida marginal que ligaria o parque da cidade ao Choupal foi inviabilizada.

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Étienne de Gröer. Esboço da reforma da Baixa, no canto inferior esquerdo visível a nova estação. 1940

… Com efeito uma das principais críticas do urbanista Etiénne De Gröer à Baixa correspondia à implantação da Estação Nova … Este novo edifício devia servir de interface entre o transporte ferroviário e o novo transporte rodoviário … propunha a substituição do Ramal da Lousã por carreiras de camionetas de forma a relacionar a cidade com o rio sem o obstáculo da via férrea a atravessar o Largo da Portagem, principal entrada na cidade.

Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 393-400

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por Rodrigues Costa às 19:35

Quinta-feira, 15.11.18

Coimbra: Edifício da Inquisição plantas e obras realizadas

Pela Senhora Dr.ª Paula França, responsável pelo Arquivo Histórico do Município de Coimbra, fui alertado para a possibilidade de descarregar, na página da Torre do Tombo, as plantas do edifício onde funcionou, em Coimbra, a Inquisição.
As plantas integram o livro datado de 1634, com um longo título, como era costume na época, Livro das Plantas e Monteas de todas as Fabricas das inquisições deste Reino … por Matheus do Couto, Arquitecto das Inquisições deste Reino.

Dado o interesse dos documentos disponibilizados não resisti ao desejo de aqui os divulgar.

Declaração das traças da Inquisição da cidade

Declaração das traças da Inquisição da cidade de Coimbra

Planta 1.ª da Inquisição de Coimbra.jpg

Planta 1.ª da Inquisição de Coimbra

 

Planta do andar do carceres altos.jpg

Planta do andar dos carceres altos

Planta do andar dos inquisidores e oficiais.jpg

Planta do andar dos inquisidores e oficiais

Plata do 1.º sobrado dos inquisidores e oficiais.

Planta do 1.º sobrado dos inquisidores e oficiais

Na mesma página é ainda possível aceder ao texto de documentos relacionados com as obras realizadas nestes edifícios. Apresentamos o seguinte exemplo
Sr.
Os Inquisidores de Coimbra escreveram a esta Conselho que era necessário concertaren se as casas em que pousa o Inquisidor Jeronjmo Teixeira porque estavam muito damnificadas e que se podia fazer de despesa nellas trinta e cinco mil reis.
Pareceo que devia Vossa Alteza ser servjdo mandar passar provisam pêra o thesoureiro da dita Inquisiçam dar dinhejro pera esta obra nam passando dos trin[ta] e cinco mil reis em Lisboa 18 de Fevereiro de 95. Bispo d Elvas - Diogo de Sousa-Marcos Teixeira

Felipe Tertio depois de fazer a traça dos cárceres desta Inquisiçam que mandamos a Vossa Alteza considerando mjlhor nesta obra ordenou outra traça milhor e mais accomodada como elle mostra por razões que vão em hum papel com a dita traça mas pêra poder aver effecto he necessário tomarem se vinte e quatro palmos da Rua a qual ainda fica com largura de quarenta e cinco que he asaz bastante por he Rua por onde passa muito pouca gente e nam se faz prejuizo a ninguém com tomarem della estes 24 palmos de Rua. Nicolao de Frias também está inclinado a esta traça e tem a cargo fazer outra mas como tem muitas occupações he mais vagaroso. Como a der feita a copiaremos a Vossa Alteza. Em Lisboa 28 de Janeiro de [15]95.

O Bispo d Elvas presidente disse a Salvador de Mesquita da parte de Vossa Alteza que se fizesse a [...?] passado este mês e elle respondeo que faria o que Vossa Alteza lhe mandava. Bispo d Elvas - Diogo de Sousa -Marcos Teixeira
À margem:
No he respondido a esta consulta ate gora por esperar a poder conferir esta traça de Felipe Tertio de que aqui se trata com a de Nicolao de Frias que agora se me há embiado y aun que no viene parecer del consejo sobre qual parece mas conveniente (como holgara se me dieram) dire lo que acerca dellas me parece y es que quanto al sitio que se deve de tomar della calle, me parece que se deve de siguir la traça de Phelipe Tercio y en lo demas la de Nicolao de Frias que com reduzir los corredores de la traça de Nicolao de Frias que son de ocho y diez pees o palmos a cinco que es la hanhura que les da Phelipe Tercio y parece bastante si viene reduzir toda misma cosa y el corredor que Nicolao de Frias pone entre los aposentos de los presos está aly mejor que en pátio adonde le pone Felipe Tercio asi pêra el serviço ordinárjo comopera servjr de vigias (como ahy se llamam) y asi se deve de tornar a ver todo esto en el consejo y na[m] sse offrecendo acerca dello algum inconveniente de consideracion dar ordem como se he ja conforme a ello la fabrica y quanto ao sitio que se há de tomar de la calle me parece que es lo mejor tratar com la câmara dessa ciudad y si fuere necesarjo comprar se les y asi parece que pêra esto es menos ter que entervenga la authorjdade de los governadores tambien se podra acudir a pedir se la y avisar do que se fuere haziendo em todo.
Acedido em 2018.10.11, em https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=2318907

 

 

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por Rodrigues Costa às 11:53

Terça-feira, 13.11.18

Coimbra: O edifício número 70 da Rua da Sofia

Um leitor deste blogue – que não se identificou – colocou-me a seguinte questão: Um meu tio-avô, enquanto esteve a estudar na UC em 1890-91, viveu na R. da Sofia, n.º 70. Sabe-me dizer se se tratava de algum antigo colégio?
A resposta que lhe posso dar – muito atrasada no tempo, por lapso meu – passa pela afirmativa.

Com efeito, tratava-se do Colégio de S. Miguel que pertencia ao Mosteiro de Santa Cruz e se situava na Rua da Sofia. Ainda sem se encontrar terminado, em 1547, D. João III requisitou o edifício para ali poder instalar o recém-criado Colégio das Artes até que o edifício próprio, em fase de construção na Alta da Cidade, estivesse concluído.
Este imóvel, embora modificado, ainda existe na atualidade e nele, bem como no Colégio de S. Jerónimo que lhe ficava contíguo, funcionou, até 1986, ano em que se transferiu para as novas instalações erguidas lá para as bandas de Celas, o Hospital da Universidade de Coimbra.

O edifício do Colégio de S. Miguel, bem como o vizinho edifício do Colégio de Todos os Santos, no ano de 1566 foram entregues à Inquisição que, para os adaptar aos lamentáveis objetivos da instituição, os transfigurou, levando a cabo obras vultuosas. Mas disso falaremos na próxima entrada.
Para obter mais esclarecimentos sugiro a leitura das entradas aqui publicadas com os títulos:
- Coimbra: A Inquisição e as suas instalações 1 e 2;
- Coimbra: Rua da Sofia e os seus colégios 4

Não posso deixar de se referir um pormenor curioso.
No último andar do edifício número 70 da Rua da Sofia

Anexo sem nome 00037.jpg

Edifício da Inquisição frente Sofia

existe esta varanda:

Anexo sem nome 00040.jpg

Gradeamento da varanda

No Pátio da Inquisição está o seguinte edifício

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Edifício da Inquisição frente pátio

E nele existe esta varanda

Anexo sem nome 00034 a.jpg

Gradeamento da varanda

Como se pode constatar as guardas das varandas são em tudo similares. Pertenciam ao edifício principal da Inquisição que tinha a frente voltada para o chamado Pátio da Inquisição e as traseiras para a Rua da Sofia.

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por Rodrigues Costa às 18:37

Quinta-feira, 08.11.18

Coimbra: Plantas mais antigas da Cidade

Em Coimbra a reforma pombalina da Universidade, implicou a transformação ou a construção de novos edifícios, exigindo a produção de vários documentos cartográficos, quer desenhos de levantamento, quer de projeto, incidindo não só na Alta mais intervencionada, mas também nos espaços mais importantes da Baixa, como o Largo da Portagem e o Largo de Sansão.

José Carlo Magne Mapa da Alta de Coimbra.jpg

José Carlo Magne, Mapa da Alta de Coimbra, c.1780

 Embora estes desenhos tenham ainda hoje uma importância fundamental para o conhecimento da cidade do final do século XVIII, no período liberal estavam na posse da Universidade e por isso não eram utlizados pelo município no planeamento da cidade.

Da mesma forma, existem hoje no Instituto Geográfico Português, três plantas do século XVIII representando a cidade, mas aparentemente nenhumas delas seria do conhecimento da Câmara Municipa

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 s/a, Planta de Coimbra e seus Contornos sobre o Rio Mondego, [final do século XVIII]

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 s/a,  esboço Mapa topográfico da cidade com a divisão das freguesias, final século XVIII]

 

Mappa Thopografico da cidade de Coimbra.jpg

s/a, Mappa Thopografico da cidade de Coimbra com a Divizão das Antigas Freguezias, final do século XVIII

A primeira referência que encontramos a uma planta da cidade data de 1857, quando o município presidido por António Augusto da Costa Simões viu rejeitado o pedido para Izidoro Emílio da Expectação Baptista rever e retificar a planta que tinha sido desenhada em 1845.

A Planta Topográfica da cidade e arrabalde tinha sido desenhada pelo futuro lente da Escola Politécnica, quando ainda era estudante de Matemática em Coimbra. Este documento, para além da planta apresenta uma série de dados complementares muito interessantes para o estudo da cidade. Como a relação das casas religiosas da cidade indicando a Ordem, localização, data de fundação e nome dos fundadores, bem como o nome das principais, a altimetria quer de algumas ruas, quer do rio Mondego, a latitude e a longitude em relação às principais cidades europeias. Ainda um quadro da população da cidade entre os anos de 1834 e 1839, indicando o número de fogos e o número de indivíduos divididos por sexo, estado civil e idade.

Embora imprescindível para o planeamento de qualquer cidade, a Câmara Municipal de Coimbra só no dia 13 de Outubro de 1865, impelida pela recém formada comissão do plano de melhoramentos, mandou fazer duas cópias da Planta Topográfica da cidade e arrabalde.

 

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 Izidoro Emílio Baptista, Planta Topográphica da cidade e arrabalde, 1845.

 … Na década seguinte, depois de cimentado o conhecimento da forma de projetação apreendida pelo contacto com as múltiplas obras das estradas municipais começou a surgir uma nova consciência do planeamento urbano. Neste sentido, o presidente Lourenço Almeida Azevedo … defendia como «uma imperiosa necessidade [a existência de] … uma planta topográfica», para o estudo e planeamento da cidade. O concurso para o levantamento atualizado a cidade pelos novos métodos de cartografia foi aberto a 11 de Julho de 1872 e o contrato assinado com Francisco e Cesar Goullard, em Outubro desse mesmo ano.

… Os trabalhos decorreram em 1873 e a Planta Topographica da Cidade de Coimbra foi apresentada em 1874, constituindo o primeiro trabalho de cartografia científica da cidade.

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 Francisco e Cesar Goullard, “Planta Topographica da Cidade de Coimbra”, montagem da cópia das 17 lâminas, 1874

 Desenhada à escala 1:500 em 19 lâminas de grandes dimensões (0,80x1,25 metros) denota o rigor e a minúcia da cartografia urbana oitocentista, mas ficou incompleta, sem curvas de nível, que a Câmara Municipal dispensou devidos aos alteamentos projetados para as margens.

 Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 228-237

 

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por Rodrigues Costa às 11:19

Terça-feira, 06.11.18

Coimbra: Regularização da margem direita do rio Mondego

O alteamento das margens do Mondego … por razões de salubridade e saúde pública, apontado como uma das maiores necessidades da cidade desde o início do século [XIX]. Apesar das várias obras empreendidas, todas se revelavam incapazes de conter as águas do Mondego que continuava a invadir as ruas da Baixa.

Em 1872, Lourenço de Almeida Azevedo, pouco tempo depois de tomar posse, solicitou ao Governo a reconstrução da Ponte, no cumprimento da carta de lei de 10 de Setembro de 1861 e suspendeu as obras no cais, quer das Ameias quer do Cerieiro, até que se elaborasse um plano em harmonia com a Direção de Obras de Melhoramento do Mondego e Barra da Figueira que estava a desenvolver um projeto de defesa da cidade contras as inundações.

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Adolpho Loureiro “Projecto da rectificação da margem direita do Mondego…” 1872

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Direcção de Obras do Mondego e Barra da Figueira “Projecto do encanamento do Rio Mondego …”1869

 O projeto de retificação da margem direita do Mondego entre Coimbra e o porto de Pedra e defesa da mesma cidade contras as inundações, mandado executar pela portaria … de 3 de Outubro desse mesmo ano, +revia a construção de “2 diques insubmersíveis” mas, embora as obras fossem da responsabilidade da direção de obras do Mondego, o município tinha de comparticipar parte das obras e proceder a um conjunto de obras, como o alteamento da Rua Direita.

Ainda nesse ano o engenheiro Mathias Cypriano Heitor Macedo … apresentou o projeto definitivo da nova ponte e no ano seguinte iniciaram-se os trabalhos de demolição do tabuleiro manuelino.

 

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 Adolpho Loureiro, “Projecto da rectificação da margem direita do Mondego entre Coimbra … . Perfis transversais”. 1872.

 … Com efeito, este grande aterro permitiu transformar a marginal entre as Ameias e a Ponte, num verdadeiro Passeio Público devidamente ajardinado, para além de permitir criar o Parque Público, entre a Estrada da Beira e o rio.

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s/n, “Projecto do alargamento do Caes de Coimbra, Hipotese 2”

… implicou o aterro de um pilar da ponte, aproximadamente 35 metros.

Acresce que como forma de compensação pela implantação dos carris ao longo do cais, o governo comparticipou o projeto delineado pelo município de prolongamento do parque público até ao Porto dos Bentos, contribuindo para a expropriação e para o aterro da Ínsua entre o referido porto e o [do] Cerieiro. Em resposta e como forma de agradecimento pela colaboração do Ministro das Obras Públicas Comércio e Indústria responsável por estas obras, o município denominou o primeiro troço da Estrada da Beira, convertido numa ampla avenida arborizada, Avenida Emídio Navarro.

 Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 238-247

 

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por Rodrigues Costa às 20:12

Quinta-feira, 01.11.18

Coimbra: Construção do edifício dos Paços do Concelho

Quando em 1835 foi solicitada a cedência do antigo mosteiro de Santa Cruz para albergar as várias repartições públicas pretendia-se, com pragmatismo resolver os problemas práticos da necessidade de instalação das várias repartições publicas, não só da Administração do Concelho e da Câmara Municipal, mas também das repartições judiciais e distritais.

… Segundo a portaria da Comissão Interina do Crédito Público de 30 de Novembro de 1835, o velho mosteiro foi posto à disposição do Administrador-geral do Distrito para Casa da Audiência do Júri, Cadeia, Câmara e Administração do Correio e, no dia 17 de Dezembro seguinte foi entregue ao município. No mesmo dia a vereação fez a vistoria e a divisão do conjunto edificado pelas várias repartições, reservando o restante para arrendar e assim custear as obras de conservação.

Esta distribuição previa a simples apropriação dos espaços, supondo apenas intervenções pontuais, como a abertura de portas ou a construção de escadas de madeira, o que parece ter conduzido a que algumas repartições acabassem por se implantar noutros locais. Por outro lado, foram-se instalando outros serviços como a Roda dos Expostos no antigo Dormitório do Pilar, a Mala-Posta e a Escola Mutua, junto à horta de Santa Cruz e a cadeia junto ao antigo pátio.

Em 1856, o presidente … propôs uma nova divisão entre a Câmara Municipal e as várias Repartições Distritais.


p. 215 a [escolha].jpg

Planta com esquema das ocupações do antigo Mosteiro (c.1856)

 A primeira referência à necessidade de «reconstruir a casa das Sessões da Câmara e suas dependências… segundo as regras da Arte», data de 1845… mas provavelmente por falta de verbas o assunto foi esquecido.

… Vinte anos depois [18 Janeiro de 1869], [a Câmara] solicitou a colaboração da Rainha alegando que: «esta vereação não tem pessoal technico de que possa dispor para os estudos que demanda aquella obra.»

Em resposta … o Governo clarificou que … devia ser encarregado o engenheiro … da Repartição Distrital as Obras Públicas.

… em Março de 1875 a Câmara voltou a alegar que: «Para que estas obras se emprehendam com um bom resultado são necessários estudos importantes, feitos por pessoa de competência e que conheça as necessidades de cada uma das repartições».

… Novamente este pedido não foi atendido e a vereação que se seguiu, presidida por Lourenço de Almeida Azevedo, determinada neste empreendimento, contratou o engenheiro da Academia Politécnica do Porto, Alexandre Simões da Conceição, encarregando-o dos referidos estudos.

 

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 Cópia do desenho da fachada dos Paços do Concelho de Coimbra, adaptação do Mosteiro de Santa Cruz. Século XIX

 As obras iniciaram-se ainda neste ano, mas não sem antes se ter enfrentado uma acesa polémica levantada pelo jornal “O Conimbricense”.

 

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 Alçado do velho mosteiro. 1.ª metade séc XIX

 … Em causa estaria a alegada destruição do antigo mosteiro e a perda do seu valor artístico e monumental, mas o município [argumenta] que «É metade d’um dormitório que nada recomenda… É uma mole de alvenarias sem gosto, sem comodidade, sem arte, sem elegância, enfim sem titulo algum que justifique a sua conservação».


Paços do Concelho na atualidade.jpg

 Paços do Concelho na atualidade

 … No dia 13 de Agosto de 1879, a vereação reuniu pela primeira vez no novo edifício e em Abril de 1881 foi inaugurado o tribunal instalado no piso inferior, todavia as obras arrastaram-se até 1886.

 Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 212-218

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por Rodrigues Costa às 09:33


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