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A' Cerca de Coimbra



Terça-feira, 30.10.18

Coimbra: Sinos da cidade e suas “conversas”

 

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 Joaquim Martins Teixeira de Carvalho

Contavam os velhos que a voz dos sinos tinha força de convencer os homens.

Da campainha de S. Francisco Xavier se conta na India que levava atrás dele os mais infiéis.

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 Goa. Igreja do convento de S. Francisco Xavier

Não havia cão de herege, que, ao ouvir a campainha, não ficasse inquieto, agitado, movendo-se sem saber porquê, e não acabasse por dobrar a cabeça e pôr-se a andar atrás dela até a igreja.

Os sinos passavam por falar a verdade; nas igrejas estavam em altas torres para serem vistos de longe e atirarem para vales distantes a sua voz a anunciar a hora da oração, ou da vida ou da morte.

Há quem diga até que os sinos eram indiscretos e que, muitas vezes, em lugar de palavras de oração, contavam sem querer o que ia nos conventos, e por eles se vinha a saber o que por lá se passava.

 Em Coimbra, contavam-me antigamente que os sinos até conversavam, e se respondiam uns aos outros.

Convento do Buçaco antes da construção do Hotel

Convento do Buçaco antes da construção do Hotel

No Bussaco, a cada hora de oração tocavam os sinos das ermidas todas dispersas pela mata e, contam crónicas, que o diabo tentara por vezes impedir que alguns frades juntassem a voz do pequeno sino das suas ermidas desertas à dos outros que em cada hora chamavam num coro baixo, com medo do vento e da chuva, à oração.

 

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Buçaco. Capela do Sepulcro

 

Em Coimbra os sinos eram de menos devoção, e deviam fazer rir muito o próprio diabo.

Quando eu cheguei a Coimbra, explicou-me um dia um velho a voz dos sinos desta terra.

Era ao pôr-do-sol. Vínhamos descendo do Penedo da Saudade para o jardim.

Mosteiro de Santa Teresa. Porta da igreja.jpg

 Mosteiro de Santa Teresa. Porta da igreja

Pela porta da igreja de Santa Teresa sumiam-se caladas mulheres de idade, com o ar remediado, que dá a limpeza devota.

Alguns estudantes passeavam no adro.

De dentro vinha o canto rezado das freiras, áspero e delgado.

O sino pôs-se a dobrar, cortando as sílabas.

- Pe … ni … tência…, pe …ni… tência! …

Assim o ouvi, mal mo disse o velho com quem ia, e que andando e sorrindo repetia imitando a voz do sino   pe … ni … tência…, pe …ni… tência! …

Quando chegamos ao fundo da ladeira, fez-me o meu companheiro notar a voz doutro sino, que vinha de longe, do convento de Santa Clara, que brilhava alegre na atmosfera dourada do poente.

Mosteiro de Santa Clara-a-Nova.jpg

 Vista de Santa Clara. c. 1860. (Passado ao espelho, p. 50)

Pus-me a ouvir o sino, e ele a ensinar-mo a entender.

O som era mais grave, mas duma gravidade de ironia e dizia muito claramente.

- Tan … ta não! Tan.. ta não!

Eu ria-me. Quando ele me chamou a atenção para o sino de Sant’Ana, que se ouvia então e me disse:

- Veja o que diz esse agora!

- Eu sei lá!

- E bem simples: nem tanta, nem tão pouca!

Mosteiro de Santa'Ana.jpg

 Colégios de Tomar e de Sant’Ana. No primeiro plano a residência do prior-mor de Santa Cruz e, por cima, os Arcos do Jardim. Junto destes o pequeno Bairro de S. Sebastião. (Fototeca BMC. Cota: BMC_A033)

E era verdade. O sino de Sant’Ana, dizia num som delgado, com voz de nariz:

- Nem … tan … ta … nem … tão … pouca! Nem … tan … ta … nem … tão … pouca!

Assim fiquei eu sabendo que quando, às horas de oração o sino de Santa Tereza dizia:

- Penitência, penitência!...

O de Santa Clara lhe respondia:

- Tanta não! Tanta não.

E o de Sant’Ana fechava conceituosamente o coro, repetindo:

- Nem tanta! Nem tão pouca.

E assim fazia eu ideia, do que devia ser a vida destes conventos.

Pátio da Universidade.jpg

 Pátio da Universidade e torre. 1869. (Passado ao espelho, p. 55)

Dos da Universidade, tão austeros canta João de Deus:

Toca o capelo, vou vê-lo

E vejo de vária cor

Não doutores de capelo

Mas capelos de doutor.

Esses também a mim me enganaram.

T.C.

Carvalho, J.M.T. Bric-à-Brac. In. Resistência, de 1903.01.29

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por Rodrigues Costa às 10:03

Quinta-feira, 25.10.18

Coimbra: Largo da Portagem e Cais do Cerieiro 2

Ponte de Santa Clara.jpg

 Ponte de Santa Clara

 …. Com a construção da nova ponte a uma cota mais elevada e o aterro de defesa da cidade contra as inundações, o município pôde finalmente projetar o almejado plano de embelezamento da cidade a partir da sua principal entrada, o Largo da Portagem. O projeto apresentado pelo primeiro engenheiro municipal, contratado especialmente para esta obra previa a construção de um Passeio Público entre o cais das Ameias e a Ponte e, a regularização do Largo da Portagem. Implicou não só um grande aterro, como a expropriação e demolição total de dois quarteirões de edificações. O projeto esboçava uma praça triangular, limitada a norte por um novo edifício a construir no alinhamento da ponte e alargava a entrada da rua da Calçada.

 

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  António José de Sá, “Projecto de uma nova praça a abrir no sitio da antiga portagem …” 1874

 

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 António José de Sá, “Projecto dos melhoramentos a fazer no Largo da Portagem”. 1874

A vermelho os novos edifícios que regularizariam a praça triangular, visível ainda o cais e do lado direito o arranque do parque público

 O resultado não foi o projetado pelo engenheiro António José de Sá que, entretanto, tinha abandonado os quadros da edilidade.

O edifício a marcar o alinhamento da ponte não foi construído e o largo limitado, do lado norte, por um tosco gradeamento servindo de guarda corpos para a rua da Saboaria que se encontrava na cota original quase cinco metros abaixo do novo largo. Só no início do século XX, graças à iniciativa do Banco de Portugal, foi construído o alçado norte mas que, apesar da qualidade do projeto do arquiteto Adães Bermudes, resultou num conjunto de edifícios sem qualquer unidade, marcado por cérceas completamente distintas. Já a marginal abundantemente arborizada, criando o desejado passeio público que permitiu ultrapassar a falta de um projeto de conjunto para os edifícios, que aliás tardaram a ser construídos, só se completando a frente ribeirinha já no início do século XX.

Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 205-211, 241-243

 

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por Rodrigues Costa às 22:02

Terça-feira, 23.10.18

Coimbra: Largo da Portagem e Cais do Cerieiro 1

Também no final desse ano se principiou o alteamento do Largo da Portagem junto à ponte, demolindo a capela, o pelourinho e a devoluta torre de portagem.

(Nota de rodapé: Na sessão de câmara de 28 de Novembro de 1836 deliberou-se a “demolição do torre sobre a ponte em razão de serem necessários os entulhos della para altear o largo da Portagem”)

p. 206 a [para digitalizar. Passado ao Espelho].jp

Largo da Portagem [sendo visível a cadeia demolida em 1857]

p. 206..jpg

 José Carlos Magne, Mapa de ruas desde a Portagem até à capela de St. António da Estrela, último quartel do século XVIII

Verifica-se assim que estas obras, já projetadas e orçadas em 1835, se articulavam com um plano mais vasto que incluía o alargamento da principal rua da cidade e troço da estrada de Lisboa-Porto, bem como a regularização das margens do Mondego e do Largo da Portagem, para além da imprescindível ponte nova a uma cota mais alta.

De forma concertada, mas muito morosa, este primeiro conjunto de intervenções de reforma urbana marcou de forma indelével a paisagem urbana da cidade junto ao rio e materializou o primeiro plano de embelezamento promovido pelo município.

…. Pese embora a boa vontade do município para a execução deste plano, as obras das margens, bem como a ponte, estavam dependentes do poder central, não só pelas debilidades financeiras que caracterizavam as contas municipais, mas porque todas intervinham em domínios de tutela governamental. Os cais, do domínio da Superintendência do Encanamento do Mondego e a Rua de Coruche tal como a ponte, enquanto troço de uma estrada de 1.ª ordem, dependiam do Ministério do Reino. Esta dupla tutela embora vantajosa por permitir a comparticipação dos cofres centrais no custo das intervenções, geralmente retardava as intervenções, dependentes de estudos e da disponibilidade financeira central.

Exemplo desta morosidade é o processo de construção da nova ponte metálica em substituição da antiga ponte manuelina assoreada pelo rio. Os primeiros estudos datam de 1859, mas só três anos depois foi publicado o decreto autorizando o seu projeto e construção e, finalmente, em 1873 teve início a sua construção. O caso da rua de Coruche, embora também tenha sido um processo moroso, ilustra as vantagens desta dupla tutela, consagrada pela alteração da sua toponímia para Rua Visconde de Luz em agradecimento ao Diretor-Geral das Obras Públicas. Apesar de incluída no plano delineado em 1935 só vinte e dois anos depois, sob a presidência de António Augusto da Costa Simões, foi solicitado e aprovado o traçado da rua, proposto pelo Diretor das Obras Públicas do Distrito, João Ribeiro da Silva Araújo.

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 João Ribeiro Silva, Projeto da estrada entre as ruas da Calçada e da Sofia, 1857

 Pela dimensão das expropriações e dos consequentes realojamentos, esta obra só se tornou possível pelo auxílio do governo que, comparticipou um terço do valor do seu custo, para além de ter aprovado o empréstimo contraído pela Câmara de Coimbra.

A intervenção assume um caráter exemplar porque, dentro do espirito da época, para além de definir os alinhamentos, procurou traçar uma rua moderna garantindo a qualidade estética do conjunto através de regras que definiam o tipo e altura das cantarias, de portas e janelas, os remates da fachada e a forma e prazos da construção.

Neste sentido, veja-se o plano traçado, na mesma época, para o Cais do Cerieiro, a montante de ponte, mas que por falta de apoio governamental e de verbas do município foi adiado.  Previa a construção de um cais e de um passeio público sobre o rio para recreio da população.

“Ao deplorável estado em que actualmente se acha o sítio denomonado – Logar do Cerieiro – prestou atenção esta Camara, deliberando unanimente proceder alli à construção d’uã doca, e d’um caes em continuação do que já existe, e resguarda a cidade das inundações do Mondego, sendo do mesmo tempo um dos nossos mais bellos passeios … O estrangeiro que visitar Coimbra não encontrará um sitio lúgubre, qual hoje é, em perfeito contraste com tantas bellezas, que aformozeam este lado da cidade, gozará de uma vista aprazível e harmónica que se desenrola em toda esta linha, que banha as aguas do Mondego. Não data de hoje, nem sae de nós o pensamento da obra projectada. A todas as administrações camarárias se tem apresentado a ideia da constinuação do caes, assim abaixo das Ameias, como acima da Ponte, no logar do Cerieiro a terminar na ínsua de João Gomez Vianna; e se ate hoje não foi lavada a efeito esta última parte, as cauzas independente da vontade dos ilustres vereadores, que nos precederam, deram a isso logar. A construcção do caes, como a obra de mais vulto deste municipio, tem sido sempre uã questão económica, que umas vezes a necessidade adiou, outras a proporção dos recursos deixou mesquinha, e acanhada, mas em todas as epochas desde mil oitocentos trinta e quatro fói reconhecida a sua necessidade, e importância, andou sempre na ordem do dia dos melhoramentos municipais de maior alcance e o orçamento traria anualmente para ella a verba d’um conto de reis”.

Apesar da pertinência deste plano, a construção do Passeio Público entre as Ameias e a ponte, o alteamento e regularização do Largo da Portagem e a construção da nova ponte foram adiados até 1873.

 Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 205-211, 241-243

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por Rodrigues Costa às 09:16

Quinta-feira, 18.10.18

Coimbra: Passeio Público e ruas da Calçada e de Coruche

A obra de maior impacto na beneficiação da cidade era, sem dúvida, a construção do cais ao longo do rio, com vista a proteger a Baixa das invasões do Mondego. Implicava obras de alteamento e regularização do cais das Ameias e a construção de um paredão que conseguisse limitar as cheias do rio, além de permitir dispor de um amplo e aprazível passeio público à beira rio.

Melhoramento reclamado desde o seculo XVIII, “presentemente desejaõ muitos, e requerem, que por todo o comprimento da Cidade, e ainda mais adiante se levante alto muro, o qual defenda das inundações todas as ruas baixas” foi sendo sucessivamente adiado, até que em junho de 1837 começaram timidamente as obras do aterro do Cais das Ameias, provavelmente sem um plano devidamente delineado que quatro anos depois, foi alargado até à ponte.

Efetivamente, só em agosto de 1856 foram decretadas as obras do encanamento do rio desde a ponte de Coimbra até ao mar encarregando o Diretor de Obras do Mondego de elaborar o respetivo projeto, apresentado só em 1872. Segundo conseguimos apurar, as obras de alteamento efetuadas entre 1837 e 1872 revelaram-se ineficazes para conter as cheias, em grande parte pela carência de meios financeiros, mas também técnicos, criando mesmo sérios problemas de salubridade pela entrada da água do rio na canalização do esgoto da cidade. Reclamava-se também o imprescindível alteamento da velha ponte, processo iniciado em 1859 e decretado pela Carte de Lei de 10 de setembro de 1861, mas que permaneceu até 1873 em estudo.


Margem do rio entre o Largo das Ameias e a ponte.j

Margem do rio entre o Largo das Ameias e a ponte, visível as escadas para o largo já alteado, c. 1860

 

A par da regularização do Cais das Ameias … em 1835 o município apontava também a necessidade do alargamento da Rua de Coruche. Com efeito, depois de ter estudado e orçado as obras de regularização da rua da Calçada que ligava a ponte à Rua de Coruche e que pretendia iniciar a breve prazo, instava para que o Governo participasse no alargamento desta última rua alegando que; “Além de central a toda a Cidade, serve demais ao transito de todo Norte do Reino para a Capital, e acha-se tão disforme, que apezar de não ser muito longa, tem tortuosidades em varias direcções, que impedem a vista de uma extremidade à outra, e é sobre tudo tão estreita, que em quasi toda ella não pode passar um Cavalleiro apar d’um carro: e em consequência é sempre húmida, e doentia, e que apenas em alguns pontos lhe penetrão os raios do sól em certos momentos ficando o resto inteiramente inacessível: de sorte q estabelecendo-se deligencias entre Porto e Lisboa virão encontrar um grandíssimo obstáculo no meio da terceira Cidade do reino, por que dificilmente lhes dará passagem! Esta obra tão necessária como útil para o aformoseamento da Cidade, viria a fazer a rua o centro de commercio, e certamente é esta epoca em que mais afoitamentese devera empreender por que há um recurso para a indemnização do alojmento interino dos seus moradores, nos extintos Collegios da rua da Sofia, que pela maior parte não acharão compradores.”

Planta com a indicação dos melhoramentos almejad

 Planta com a indicação dos melhoramentos almejados: regularização das margens, alargamento da Rua de Coruche, calcetamento da Rua da Calçada e Nova Ponte

 As obras de regularização dos passeios da Rua da Calçada iniciaram-se no ano seguinte

 

Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 202-207

 

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por Rodrigues Costa às 09:36

Terça-feira, 16.10.18

Coimbra: Matadouro municipal e iluminação pública

Matadouro  

Dos vários equipamentos apontados como essenciais para o funcionamento da cidade, o primeiro a ser criado foi o matadouro municipal. Antes mesmo de cedido o edifício, o município deliberou ocupar o antigo edifício do palheiro da Quinta de Santa Cruz “na esperança de que pelo governo não seria negado à camara aquele pequeno recinto”. Não foi de facto, instalando-se o matadouro municipal neste velho edifício até à construção de um novo na década de 1890.

 Nota: O matadouro construído em 1890 estava localizado no terreno hoje ocupado pela igreja de Nossa Senhora de Lurdes e jardim que lhe está junto. Posteriormente este segundo matadouro municipal foi substituído por um terceiro, localizado na Pedrulha, num terreno hoje devoluto.

Matadouro construído em 1890.JPG

 Matadouro construído em 1890

Planta com a implantação do matadouro.jpg

 Planta com a implantação do matadouro

 

 

Iluminação Pública   

Introduzida em Lisboa, no ano de 1802 pelo intendente de polícia Pina Manique, que mandou colocar candeeiros a azeite em todas as esquinas das principais ruas da cidade, constituía um acréscimo de segurança e conforto, permitindo prolongar “o dia pela noite dentro”. Um ano depois de solicitada, na noite de 17 de Novembro de 1836, as principais ruas e praças da cidade [de Coimbra] começaram a ser iluminadas com candeeiros alimentados a azeite

…. Neste mesmo ano, na capital, começavam os primeiros esforços para a introdução da iluminação a gás e para a construção da primeira fábrica de gás.

…Neste contexto, dezoito anos depois de instalada a primeira iluminação pública nas ruas de Coimbra, presidente Cesário de Augusto de Azevedo Pereira defendeu a substituição pelo novo sistema a gás, utilizado em Lisboa e no Porto e em várias cidades europeias. Além da melhoria da qualidade da iluminação pública, o novo sistema permitia a distribuição de gás aos domicílios. Ainda em 1854 foi assinado o contrato do exclusivo do abastecimento de gás iluminação pública e usos particulares com o empresário inglês Hardy Hislop, concessionário da iluminação na cidade do Porto.


Alçado do gasómetro 1854.jpg

 Alçado do gasómetro 1854

Dois anos depois, a fábrica de gás implantada na Rua de Fora de Portas foi inaugurada e Coimbra tornou-se a terceira cidade portuguesa a ser iluminada por este tipo de energia. Apesar de algumas reclamações pontuais, este sistema de iluminação foi amplamente difundido pela cidade e dez anos depois de inaugurado contava com 220 candeeiros públicos e uma ampla rede de canalizações que abastecia a maioria das habitações. Em 1894 o contrato de iluminação foi revisto garantindo o aumento de 130 candeeiros públicos.

Planta de reconstituição da rede de gás......jp

 Planta de reconstituição da rede de gás e com a implantação da fábrica de gás

Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 189-190, 200-202.

 

 

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por Rodrigues Costa às 08:34

Quinta-feira, 11.10.18

Coimbra: Da ponte manuelina à ponte de ferro


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 José de Matos Sobral Cid (1877-1941)

In: http://memoria.ul.pt/index.php/Ficheiro:Cid-Jose_Matos_Sobral.jpg

 «O primeiro problema higiénico fundamental, que se levanta em Coimbra, é o que deriva da implantação geográfica da cidade na margem direita do Mondego, no ponto preciso em que à bacia alta torrencial do rio se sucede o cone de dejeção sedimentar do estuário inferior.  Traduzse na vida histórica da Coimbra ribeirinha por um esforço constante de adaptação mecânica da população a um solo acessível ás inundações do rio, ameaçado de ser subvertido pela elevação progressiva do álveo e dos campos marginais. Exprime-se nas condições atuais da cidade baixa, na sua configuração topográfica em goteira de fundo inferior ao nível das aguas do Mondego, na natureza do seu solo artificial formado de entulhos e terras removidas e na humectação constante do seu substrato telúrico. Refletese na patologia da cidade pelo paludismo, que durante muito tempo foi uma característica da nosografia coimbrã e que ainda hoje o é na nosografia dos campos de Coimbra». (José Sobral Cid, Coimbra. Demografia e Higiene. 2º volume Coimbra: Imprensa da Universidade, 1902).

 

No início do século XIX, Coimbra implantada na margem do rio Mondego era uma cidade de reduzida dimensão, dividia entre a colina da Alta onde se localizavam a Universidade e os Colégios, e a Baixa implantada no vale do rio, concentrando as atividades comerciais e manufatureiras.  Na margem esquerda do Mondego em torno do Mosteiro de Santa Clara a Velha e do Convento de S. Francisco e na encosta junto ao novo Mosteiro de Santa Clara implantavamse alguns edifícios, mas sem grande expressão no conjunto da cidade. 

A implantação estratégica na colina de transição entre o Alto e o Baixo Mondego favoreceu o desenvolvimento da cidade como entreposto mercantil, no ponto de intersecção dos percursos entre a serra e o mar e entre o norte e o sul do país, a cidade floresceu no ponto de intersecção da antiga estrada romana OlisipoBracara Augusta com o rio. 

Planta de Coimbra e seus contornos sobre o Rio Mon

Planta de Coimbra e seus Contornos sobre o Rio Mondego, final do século XVIII

Se por um lado o rio era, com as suas barcas serranas, a principal via de circulação e transporte dos produtos hortícolas e das manufaturas vindos da Beira, por outro, obrigava a um esforço constante das populações da Baixa para evitar as inundações frequentes e a elevação progressiva do álveo. [nota de rodapé: Segundo Adolpho Loureiro em 600 anos teria sido de 4,96m, ou seja, cerca de 8mm por ano]. Com efeito, desde o século XVI que se procurava regularizar as margens do Mondego e elevar as mesmas, mas todas as intervenções se revelavam ineficazes. 

A antiga Ponte de Pedra, profundamente remodelada por D. Manuel I em 1513, foi sendo paulatinamente assoreada e no início do século XIX era recorrentemente galgada pela subida da cota das águas. O seu tabuleiro, construído a cerca de 21,46 metros acima do zero hidrográfico da Figueira da Foz, estaria em 1872 apenas a cerca de 4,41 metros acima do nível da cota de estiagem, o que deixaria apenas cerca de 2,65 metros de passagem entre o arco mais alto e o nível médio das águas, tornandose um óbvio obstáculo à passagem das águas. Acresce que na estação invernosa para cheias normais o nível das águas subiria entre dois a três metros, podendo atingir, em cheias excecionais, seis metros como sucedeu em 1872.  

Ponte em toda a sua extensão e altura, com as son

Ponte em toda a sua extensão e altura, com as sondas de água que levava o Rio em o Mez de Dezembro de mil sete centos e oitenta e hum

Para além dos inconvenientes para a cidade, esta situação afetava a circulação da principal estrada nacional, a estrada Lisboa-Porto, tornando urgente a construção de uma nova ponte. Efetivamente, já em 1871, enquanto se estudava o melhoramento desta estrada e o encanamento do rio Mondego, Manuel Caetano de Sousa tinha efetuado o levantamento da ponte, o que nos leva a crer que na altura se planeasse a sua reforma ou mesmo substituição. Anos mais tarde em 1848 por ocasião de uma grande cheia foi feito um segundo levantamento, mas a ponte só foi substituída em 1875.

Ponte de Coimbra levantada a 3 de Septembro.......

Ponte de Coimbra levantada a 3 de Septembro de 1848 na occazião do maior abatimento das Agôas

 Para além dos inconvenientes da falta de atravessamento, as cheias que recorrentemente invadiam a zona ribeirinha criavam péssimas condições sanitárias, conduzindo frequentemente a epidemias de cólera, febre tifoide e malária. Esta situação precária era agravada pela elevada concentração de população atraída à zona baixa pela facilidade de acesso e circulação. Efetivamente, apesar de sujeita à fúria das aguas e de estar implantada sobre camadas sucessivas de entulhos arrastados pelo rio, era na Baixa que se localizavam as principais atividades comerciais e artesanais da cidade.

 Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 160-164.

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por Rodrigues Costa às 09:32

Terça-feira, 09.10.18

Coimbra: A Capela de S. Tomás de Vila Nova na Sé de Coimbra

Quando os primeiros jesuítas, chefiados por Simão Rodrigues vieram para a cidade do Mondego, em 1542, com o objetivo de fundar o colégio donde sairiam tantos missionários para terras do Brasil e do Oriente, estariam bem longe de supor que a igreja construída com tanto desvelo e rigor acabaria por ser a Sé Catedral de Coimbra.

A construção da igreja, que havia de servir não só para o colégio, mas para envolver e catequizar o povo de Coimbra, iniciou-se em 1548, inaugurando-se a nave em 1 de janeiro de 1640, sendo dedicada ao Santíssimo Nome de Jesus. Teve como arquiteto Baltazar Álvares que executou outros projetos para a Companhia de Jesus e seguiu de perto a planta da igreja do Gesù, de Roma, concebida por Vignola, segundo modelo anterior. A planta é a que melhor servia aos propósitos da Companhia: ampla nave central, bem iluminada, com capelas nos flancos, obscurecidas. A atenção da assembleia podia centrar-se toda no grande espaço e no altar-mor no topo, bem como nos púlpitos que, em local estratégico da nave, possibilitavam uma boa audição da palavra inspirada dos pregadores. Ao contrário de outras igrejas da Companhia, em Coimbra as capelas laterais têm a mesma altura da nave, o que confere ao conjunto arquitetónico impressionante rigor e monumentalidade. Entre estas destaca-se a do meio, do lado nascente – fugindo à tradição de orientar as igrejas, isto é, voltar as fachadas a poente e as cabeceiras a oriente, os jesuítas preferiram erguer a fachada para sul, o que lhes possibilitava ter mais luz na nave central, ainda mais potenciada pela cúpula, no transepto.

Esta capela foi dedicada a S. Francisco Xavier e patrocinada por Francisco da Fonseca, lente de Leis na Universidade de Coimbra, nela tendo ficado sepultado em 1631, bem como sua mulher, em 1661. Deixou os seus bens para dotação e ornamento da mesma, trabalho que somente se concluiu em 1688.

Não foram fáceis os tempos para os jesuítas na Europa, acabando por expulsos de vários países, e vendo por fim ser extinta a Companhia de Jesus pelo papa Clemente XIV, em 1773. Em Portugal, o campeão do antijesuitismo foi o Marquês de Pombal que determinou a prisão e expulsão dos seus membros em 1759. O colégio de Coimbra foi encerrado e a igreja ficou abandonada. Só em 1772, estando o Marquês de Pombal a reformar a universidade, passou uma provisão, cedendo a igreja ao cabido catedralício para sé, com anexos da sacristia e claustro.

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 Sé Nova capela de S. Tomás de Vila Nova

 Algumas alterações foram operadas no edifício para a nova função. A capela de S. Francisco Xavier viu o seu titular ceder o lugar a S. Tomás de Vila Nova, santo levantino muito da devoção dos cónegos, a que havemos de voltar. No nicho central do retábulo colocaram a sua imagem, vinda da Sé Velha, paramentado de pluvial, mitra e báculo. 

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 Sé Nova, imagem de S. Tomás de Vila Nova

 A capela é totalmente revestida de talha dourada, solução muito característica do barroco português, ao jeito das igrejas todas de ouro que enchiam de espanto os estrangeiros que nos visitavam. A obra foi contratada pelo entalhador de Lisboa Matias Rodrigues de Carvalho, em 10 de agosto de 1682 e é de excecional qualidade, mesmo a melhor de quantos retábulos desta época há na cidade.

Sé Nova capela de S. Tomás de Vila Nova colunas.

 Sé Nova, capela de S. Tomás de Vila Nova colunas

Sé Nova, capela de S. Tomás de Vila Nova colunas

 Sé Nova, capela de S. Tomás de Vila Nova colunas, pormenor

 O retábulo segue o tipo nacional ou D. Pedro II, com colunas espiraladas, prolongando-se na parte superior em arquivoltas e deixando amplo nicho central. As colunas são revestidas de parras, gavinhas, cachos de uva e aves debicando, de talhe fortemente naturalista. 

Sé Nova, capela de S. Tomás de Vila Nova tecto.J

 Sé Nova, capela de S. Tomás de Vila Nova tecto

 O tecto é totalmente revestido de caixotões, tendo ao centro um tondo com anjos exibindo uma coroa.

A talha alastra para as paredes laterais, onde se abrem dois nichos afrontados, conservando as imagens de S. Estanislau Kostka e S. Luís Gonzaga, de grande qualidade – obras primas dentro de uma obra prima.

Resumindo: a atual capela de S. Tomás de Vila Nova na Sé de Coimbra é uma destacável obra de arte, uma obra prima que muito enriquece o património artístico da cidade e da diocese.

Nelson Correia Borges

In: Correio de Coimbra, de 2018.10.06

 

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por Rodrigues Costa às 08:56

Quinta-feira, 04.10.18

Coimbra. Da rua de Coruche à Rua Visconde da Luz

“O Progresso é barrigudo: não cabe em ruas estreitas”

 Em 1870, Camilo Castelo Branco caricaturava assim a primeira intervenção de reforma urbanística de Coimbra do período liberal (1). Sucede que, afrontando o romantismo do escritor, tinha começado a delinear-se uma nova cidade e sobre a acanhada e insalubre Rua de Coruche tinha sido rasgada a nova e ampla Rua do Visconde Da Luz. 

Projeto de abertura da futura rua Visconde da Luz.

 Projeto de abertura da futura rua Visconde da Luz. Arquiteto João Ribeiro da Silva. 1857

A par era inaugurada a Mala-Posta entre o Carregado e Coimbra [que não conheceu grande sucesso], o telégrafo elétrico, a iluminação a gás e estudava-se a expansão da cidade para norte. Intervenções de reforma da cidade que, de resto, encontram paralelo, ainda que noutra escala, no que se passava nas principais cidades nacionais e um pouco por toda a Europa.

Serviço de Mala-Posta entre Lisboa e Porto.jpg

 Serviço de Mala-Posta entre Lisboa e Porto. In: https://whotrips.com/2018/05/14/lisboa-porto-em-34h/

A emergência da cidade industrial e a consciencialização dos seus problemas de insalubridade tinham conduzido à sua crítica e a um conjunto de intervenções de reforma urbana, onde se destacaram as intervenções de Londres (1848-1865), as grandes obras de Haussmann em Paris (1853-1869), o “Ring” de Viena (1857) ou o ensanche de Barcelona (1859).

 Em Portugal, país periférico e assolado pelas invasões francesas e, depois, pela Guerra Civil [entre absolutistas – D. Miguel e liberais – D. Pedro], o processo de industrialização foi muito lento e este tipo de problemas urbanos atingiram uma escala mais reduzida. Todavia a situação das cidades nacionais estava longe de ser a desejada. Ruas estreitas, não pavimentadas, formadas por casas sem ventilação nem iluminação. O abastecimento de água a partir de fontes e chafarizes escasseava na estação seca, o saneamento era praticamente inexistente, a recolha de lixo era feita para montureiras públicas situadas por vezes demasiado próximo das habitações. Nestas condições eram frequentes as epidemias. Compreende-se, por isso, que com o novo Regime liberal, a par de uma politica de fomento económico assente na melhoria das vias de comunicação e das trocas comerciais, se encetassem as primeiras intervenções de reforma e melhoramento urbano emulando as experiências europeias.

… escolheu-se para objeto de estudo [a cidade de] Coimbra. Esta escolha justifica-se pela dimensão média da cidade, mas fundamentalmente por ter sido, até ao século XIX, a sede do único estabelecimento de ensino superior nacional. Facto que conduzira à monofuncionalização da cidade em torno da Universidade e dos seus Colégios, limitando-se o seu desenvolvimento industrial, mas por outro lado, conferindo-lhe um papel de destaque por formar os bacharéis que governavam e ditavam os destinos do Império e lhe permitia arrogar o estatuto de terceira cidade nacional. A partir desta particularidade interessou-nos avaliar em que medida as relações internacionais estabelecidas entre a Universidade e as mais prestigiadas instituições cientificas europeias provocaram alguma interferência no desenvolvimento da cidade e no seu planeamento. Porque, se até à Revolução Liberal a representação da Universidade nos destinos da cidade era obrigatória por lei, no período liberal a presença de professores universitários na vereação municipal foi conquistada pelo mérito. De facto, foram estes, conhecedores das reformas urbanas em curso na Europa e das principais inovações tecnológicas que passaram a dirigir os destinos de Coimbra.

 

 (1): Este escritor muito dentro da época caracterizou-se pelo recurso recorrente à sátira. Neste caso particular a critica não se limita ao progresso que exigia ruas largas, mas trata-se de uma crítica à mudança de toponímia deliberada pela edilidade [alteração do nome da Rua de Coruche, para Rua Visconde da Luz].

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Joaquim António Velez Barreiros, 1.º Visconde da Luz. In: https://geneall.net/pt/nome/28201/joaquim-antonio-velez-barreiros-1-visconde-de-nossa-senhora-da-luz/

A designação adotada prestava homenagem ao Diretor Geral de Obras Públicas que tinha auxiliado neste projeto, mas foi muito contestada pela população.

 Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 17-20.

 

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por Rodrigues Costa às 11:44

Terça-feira, 02.10.18

Coimbra: Rede de saneamento, os primórdios

“Sob o ponto de vista da limpeza e esgoto é a cidade de Coimbra uma daquelas que indubitavelmente se acha no nosso país em mais extraordinário estado de atraso. Em parte dela, privada de canos, os despejos das respetivas casas são feitos do modo o mais incrível e repugnante, e lançados, mesmo de dia, nas margens do Mondego e arrabaldes da cidade. A parte canalisada acha-se em um estado muito mais inconveniente para a salubridade da terra, porque, desaguando todos os canos no rio, foram construídos, uns sem secção correspondente ao volume a que deve dar saída; outros sem a conveniente inclinação para a vasão; alguns sem soleira; aquelles com a soleira inferior à estivagem do Mondego, de onde resulta conterem um deposito, que jamais se substitue; e todos, finalmente muito mais baixos do que as cheias ordinarias do rio, o que dá logar  a que nesta ocasião a primeira inundação da cidade é feita com as matérias retidas no interior dos canos, e refluídas em consequencia do represo das cheias.” [Adolfo Loureiro]

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 Adolpho Ferreira Loureiro

 Em 1880, o município encarregou o engenheiro municipal José Cecílio da Costa de estudar uma nova rede de canalizações de modo a “melhorar os existentes e a construir nas ruas onde os não haja.”

 

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 José Cecílio da Costa, Projecto de Esgotos e Saneamento da cidade de Coimbra, 1893

 Estudo este publicado em “O Instituto”, com o título “Memória sobre o saneamento da cidade de Coimbra: esgotos e irrigação”. Prevendo as dificuldades de elevação da cidade baixa, propunha um plano “comum a quer seja ou não alteado o bairro baixo”, projetava a continuação do dique marginal entre o Arnado e a vala dos Lázaros e fundamentalmente a substituição do coletor existente entre a Portagem e os Oleiros que não tinha a pendente necessária e que estava mal selado deixando entrar as águas do Mondego. Defendia que a solução mais económica para a construção deste coletor seria o alargamento da margem cerca de 3 metros de modo a implantar no interior do novo dique o novo coletor, acresce que sendo uma obra na margem ficaria sob domínio e a expensas da Direção de Obras Públicas do Mondego. Propunha ainda uma densa rede de condutas que garantiriam o escoamento de todos os edifícios da cidade.

Desconhecemos quais foram as obras realmente realizadas, mas no ano seguinte, o concessionário inglês da rede de abastecimento de água apresentava a sua proposta para a construção de uma rede de esgotos.

… só em 1887, depois de adquirida a Quinta de Santa Cruz e enquanto decorriam as obras de terraplanagem das novas ruas, a Câmara Municipal, impulsionada por um surto de “febre de caracter typhoso que assolou a cidade… pondo em risco a vida de muitos moços distintos que frequentam a universidade e a dos habitantes de Coimbra” procurou assegurar as condições de salubridade do novo bairro e, resolveu solicitar o auxílio do governo para o estudo e construção da nova rede de saneamento, alegando a: “deficiencia de meios para empreender os necessarios melhoramentos da cidade, e em especial a urgentíssima obra de reforma dos seus canos de esgoto, aonde todos os annos concorrem centenares de alumnos de todos os pontos do paiz, solicitava que o governo lhe prestasse a competente coadjuvação”.

Em resposta, o Ministro das Obras Públicas Comércio e Industria, Emídio Navarro, incumbiu o engenheiro Adolfo Loureiro de elaborar com a máxima urgência o estudo de um sistema de esgotos para a cidade

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 Emídio Navarro

 … No ano seguinte o projeto e orçamento foram aprovados … dois concursos públicos para a execução das obras, mas ambos ficaram desertos, o que obrigou o município e empreender ele próprio, as obras mais urgentes.

O deputado por Coimbra, Alberto Monteiro conseguiu junto do Governo uma comparticipação anual que permitiu a construção de grande parte da rede. No entanto a construção fragmentada da rede comprometeu o seu desempenho e só no início do século XX é que a situação foi verdadeiramente resolvida.

Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 272-278

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por Rodrigues Costa às 09:40


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