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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 26.04.18

Coimbra: Teatro Avenida, uma saudade 1

O “Teatro-Circo do Principe Real D. Luiz Filipe”, [num primeiro momento apenas Theatro-Circo] após 5 de outubro de 1910 renomeado de Teatro Avenida, na Avenida Sá da Bandeira em Coimbra, propriedade de António Jacob Júnior, Moraes Silvano e Mendes d'Abreu [e outros], foi projetado pelo arquiteto Hans Dickel, e inaugurado em 20 de janeiro de 1892.

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 Teatro-Circo a seguir à sua inauguração

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 Enquadramento do Teatro na Avenida Sá da Bandeira

 A sua construção, em terrenos cedidos pela Câmara Municipal de Coimbra, teve início em 1891 e nela trabalharam cerca de 100 operários. Dos estuques encarregou-se Francisco António Meira. As grades dos camarotes, as colunas que os sustentam e as cadeiras para a prateia foram fundidas na oficina de Manuel José da Costa Soares.

Este Teatro, oferecia: 28 camarotes de uma só ordem, 8 frisas, 28 lugares de balcão, 450 cadeiras e 450 lugares de geral.

A inauguração do, então, “Teatro Circo do Principe Real D. Luiz Filipe”, contou com a atuação de uma «companhia equestre, gymnástica, acrobática, cómica e mimíca, do Real Coilyseo, de Lisboa, de que é director o sr. D. Henrique Diaz»

A sala de espetáculos, com um «pano de boca» pintado por mestre António Augusto Gonçalves, tinha capacidade para 1.700 espectadores e o seu custo ultrapassou os 20 000$000 réis. Podiam lá realizar-se espetáculos equestres, de declamação e canto. Embora os espaços de receção e hall de entrada fossem construídos em alvenaria de pedra, o espaço central e cúpula tinham estrutura metálica, vinda de um Teatro mais antigo, o «Teatro-Circo Do Arnado». [Esta informação não nos foi confirmada por uma historiadora deste período]

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 Projecionista do “Teatro Circo do Principe Real D. Luiz Filipe”, em 1902

 «Para qualquer companhia é o theatro alugado por 80$000 réis. O actual emprezario, que procura sempre variar os espectaculos com peças escolhidas das melhores companhias e que é fiel cumpridor dos seus deveres, é o sr. Manoel Francisco Esteves. Tem o theatro orchestra e banda, sob a direcção do habil e intelligente professor Dias Costa. É esta casa de espectaculos muito elegante e tem commodidades. Na epocha propria é muito frequentado pelos academicos.» in: “Diccionario do Theatro Portuguez” - Sousa Bastos - 1908.

Sarau Acdémico.jpg

 Sarau académico

 

Nota – Para completar e corrigir estas informações, consultar a entrada publicada neste blogue em 2016.12.26, com o título Coimbra: o desaparecido Teatro Avenida.   

Restos de Colecção (blogue). Teatro Avenida em Coimbra. Acedido em 2018.04.12, em

http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2017/11/teatro-avenida-em-coimbra.html

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por Rodrigues Costa às 22:13

Terça-feira, 24.04.18

Coimbra: Tipos de Coimbra 3

Quem não conheceu mendigando pelas ruas, ainda há bem pouco tempo?

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 Jinó

O Jinó, essa figura esquelética de velho, de cabelo desgrenhado, de olhar mau, vivo e penetrante, que todo se exasperava quando o rapazio lhe gritava, pondo-se a dançar diante dele: Ó Jinó larga a Maria viúva, talvez alusão a quaisquer amoricos passados, ou Ó Jinó larga o velhó, não porque ele tivesse roubado qualquer velhó, mas pela tendência que o povo sempre teve e tem para rimar tudo o que significa ridículo e tem de dizer repetidas vezes?...

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 D. Sebastião ou Pitónó

 E o D. Sebastião, um belo tipo de velhote que andava pelas ruas vendendo reportórios novos, apregoando-os de tal forma que parecia dizer Pitónó, razão da sua segunda alcunha, que acreditava na vinda de el-rei D. Sebastião numa manhã de nevoeiro, e que ia a casa dos sapateiros pedir-lhes uma faca emprestada para se lhes sentar á porta a limpar e aparar as unhas dos pés num estendal imenso de miséria e porcaria?!

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 Zé Macaco

E o Zé Macaco, o José Macaque da Rattazzi no Portugal à vol d'oiseau, o criado do antigo Hotel Mondego, cuja presença daria um imenso prazer a Darwin, esse imperdoável falador que desandava a discutir com os hóspedes, enquanto os servia, sobre assuntos de política!

Hóspede que lá caísse e que já tivesse sido ministro, o fosse nessa ocasião, ou estivesse em vésperas de o ser, já podia contar com um vigoroso ataque de argumentos irrisórios e disparatados cujo fecho era sempre este: «os senhores afinal prometem…, prometem…, mas, em chegando lá, fazem todos o mesmo. Tão bons são uns como outros!...» 

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 Cobra Ladrão

E o Cobra, que tinha uma cara de mau, versejador de má morte, que diziam ter roubado as pratas da Sé e ia esconder-se atrás dos silvados, à beira do rio, pescando à linha a roupa, dentro em breve reduzida a metal sonante, que as lavadeiras, belas moçoilas frescas e apetitosas, de saia arregaçada até ao joelho, aí estendiam a enxugar?

Este costume de pescar roupa alheia e de andar, de noite, roubando as chaves que encontrava pelas portas para as ir vender a qualquer ferro-velho, mereceu-lhe o epíteto pouco glorioso de ladrão, que o tornava apoplético e o fazia correr à pedra a garotada que o perseguia.

 Monteiro, M. Typos de Coimbra, In Illustração Portugueza, 40, Série II, Lisboa, 1907.01.28.

 

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por Rodrigues Costa às 10:10

Sábado, 21.04.18

COIMBRA DO ROMANTISMO: DOS ARCOS DO JARDIM AO MERCADO D. PEDRO V

COIMBRA DO ROMANTISMO: DOS ARCOS DO JARDIM AO MERCADO D. PEDRO V

(Duração prevista: 60 minutos)

                                                                                   Visita de estudo orientada por:

Regina Anacleto

 

Data do evento:

Próximo sábado dia 28.04.2018, a partir das 10h30

 

Casa da Av. Sá da Bandeira.jpg

 Casa da Av. Sá da Bandeira

Organização

A’Cerca de Coimbra (blogue)

 

Apoios na divulgação

Câmara Municipal de Coimbra – Pelouro da Cultura

Clube de Comunicação Social de Coimbra

Bairro Norton de Matos (blogue)

Coimbra livre e aberta a todos (blogue)

COIMBRA MODERNA (blogue)

"Cromos", Personalidades e Estórias de Coimbra (blogue)

FOTOS DE COIMBRA PARA O MUNDO (blogue)

Penedo d@ Saudade – TERTÚLIA (blogue)

 

Público-alvo

Todos os interessados na história e cultura coimbrã

Visita livre (sem prévia inscrição)

 

Local do início da visita

Praça João Paulo II, casa da Família Marta

Casa da família Marta.jpgCasa da Família Marta, pormenor

 

Objetivos

- Sensibilizar para a necessidade de valorizar e preservar o nosso património arquitetónico, artístico e cultural.

- Identificar os diversos monumentos situados ao longo do itinerário.

- Analisar o espaço físico onde se insere a movimentação estudantil.

- Integrar o conjunto arquitetónico e vivencial oitocentista no respetivo contexto socioeconómico.

- Estabelecer uma ligação afetiva entre a cidade, entendida no seu todo, e os que nela vivem ou a visitam.

 

Programa

- Concentração dos participantes no Largo João Paulo II, no passeio junto à sede da AAC

- Breve enquadramento da iniciativa

. O desenvolvimento económico e as modificações sociais da segunda metade do século XIX conduziram a uma transformação da mentalidade.

. As referidas transformações e a expansão demográfica então verificadas levaram ao alargamento do espaço urbano.

. A quinta de Santa Cruz como espaço ideal da expansão urbana do final do século XIX.

. A relação entre a inexistência, na cidade, de escolas de Belas Artes e a difícil integração dos artistas locais dentro das novas correntes estéticas.

. A capacidade de superar essas dificuldades.

. A arte do ferro — Coimbra “a cidade das grades”.

. O papel desempenhado pelos azulejos na decoração das fachadas.

. A valorização e preservação de monumentos e conjuntos arquitetónicos integrados no gosto oitocentesco e romântico.

. Referência a construções desaparecidas que se erguiam ao longo do percurso.

 

- Percurso

Observação e identificação dos diversos monumentos com particular incidência nas arquiteturas neomedievais e ecléticas

Itinerário

. Rua Alexandre Herculano

. Início das ruas Oliveira Matos, Lourenço Almeida Azevedo e Garrett

. Praça de D. Luís (Praça da República)

. Avenida Sá da Bandeira

. Mercado D. Pedro V

 

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por Rodrigues Costa às 22:09

Quinta-feira, 19.04.18

Coimbra: Café Santa Cruz, um café com muita história 3

Como contributo para o encontro internacional de cafés históricos europeus que vai decorrer em Coimbra na próxima sexta-feira e sábado, concluímos hoje a publicação de uma série de três entradas sobre o Café de Santa Cruz, um café com muita história.

 A partir dos finais da primeira década do século XX, a imprensa de Coimbra começa a noticiar a possibilidade de a cidade passar a dispor de um requintado Café-restaurante e apontava para sua instalação no imóvel, nessa altura muito degradado devido às diferentes utilizações e serviços que ali haviam estado instalados após a desamortização, da igreja de S. João de Santa Cruz, situada paredes meias com o templo do mosteiro crúzio, na esquina da Praça de Sansão com a Rua das Figueirinhas.

Num primeiro momento a escolha do local foi aceite de forma pacífica pela opinião pública, porque o empreendimento vinha preencher uma importante lacuna da cidade uma vez que esta não dispunha de qualquer estabelecimento do género capaz de poder oferecer aos habitantes e a um público que a visitava cada vez em maior número, as comodidades e a categoria propostas no projeto em causa. Em suma, estava-se perante um melhoramento local.

Contudo, com o decorrer do tempo, e com os “empatas” a levantarem constantes e variados obstáculos, a polémica rebentou, estendeu-se largamente, envolveu as entidades responsáveis sediadas na urbe, com destaque para o Conselho de Arte e Arqueologia da 2.ª Circunscrição, presidido pelo engenheiro Abel Urbano e de que faziam parte, entre outros, António Augusto Gonçalves (considerado, justamente, a figura predominante), arquiteto Augusto da Silva Pinto, engenheiro Sousa Pinto e João Machado. Esta entidade, ao longo do processo navegava nas águas de uma certa ambiguidade, porque ora reprovava, ora consentia e também porque o presidente, Abel Urbano, engenheiro militar e funcionário da Câmara Municipal de Coimbra (exerceu a vice-presidência da edilidade em 1918-1919 e a presidência nos anos de 1929-1930) era o principal opositor do projeto.

Café Santa Cruz. Logotipo a x.jpg

 Chávena com o logotipo do Café Santa Cruz

 Nos discursos proferidos aquando da inauguração do Café-restaurante, acontecida a 7 de maio de 1923, este foi considerado “um grande melhoramento” e um local onde acorreria “a melhor sociedade citadina” que, por certo, ali viria “a dar-se rendez-vous”.

Os donos de um estabelecimento similar existente em Lisboa seriam os promotores do café conimbricense, mas, na realidade, os proprietários do Café de Santa Cruz eram Adriano Lucas, Mário Pais e Adriano Cunha que, como desejavam “que o estabelecimento fosse de primeira ordem” não “se têm poupado e esforços nesse sentido, nem mesmo a despesas avultadas”.

Como já se disse, o projeto da fachada apresentado por Jaime Inácio dos Santos, que apresentava um traçado a inserir-se no gosto neomanuelino, já dera entrada nos respetivos serviços camarários para aprovação no segundo trimestre de 1921, tendo, na altura, sido alvo dos mais rasgados elogios. No entanto, para o final do ano a fachada teve de sofrer algumas pequenas alterações, a nível da decoração, a fim de ser “desmanuelizada”.

As entidades responsáveis entendiam que o neomanuelino não podia, nem devia, ser utilizado ao lado do templo crúzio. Havia que edificar uma fachada que se distanciasse do monumento, mas que, simultaneamente, não colidisse com ele.

A contenda agudizava-se, porque para além de ser posta em causa a utilização de um espaço que fora sagrado para nele funcionar um Café-restaurante (as outras utilizações do desativado templo jamais haviam levantado qualquer protesto) ainda existia a convicção de que o templo integrara o “mosteiro das Donas” e, por isso, os opositores conseguiram que o local tivesse sido declarado Monumento Nacional através do decreto n.º 7783, de 2 de outubro de 1921, ocasionando o embargo da obra em novembro seguinte. Na realidade, o mosteiro feminino havia séculos que fora transferido para outro local e, além disso, situava-se no lado oposto. A igreja de S. João de Santa Cruz sempre foi a sede da paróquia do mesmo nome, até porque o templo crúzio fazia parte integrante do mosteiro agostinho.

A escolha do local para instalar o Café-restaurante, consensual num primeiro momento acabou por se transformar numa intensa e demorada polémica, com incisivas acusações entre aqueles que se apresentavam a favor e aqueles que se declaravam manifesta e irredutivelmente contra, sendo a imprensa escrita publicada em Coimbra o principal veículo desta acesa discussão.

Café Santa Cruz. Fachada. Pormenor 03a Maluisbe x

 Candeeiros de iluminação exterior (Foto Maluisbe)

 De um lado situavam-se alguns jornais, como A Noticia, O Despertar e a Gazeta de Coimbra, mais liberais e de cariz marcadamente republicano, que viam neste empreendimento um verdadeiro melhoramento e um importante veículo de progresso para a cidade, em nada chocando a sua localização com o importante e imponente monumento vizinho e muito menos com o afastado passado religioso do templo outrora ali existente.

Por outro lado, encontravam-se os jornais católico-monárquicos, como a Restauração ou A Academia, mais conservadores, que consideravam a instalação do café naquele espaço, para além, de um atentado ao património artístico do nosso país, uma afronta e falta de respeito à Fé católica e também à memória dos nossos primeiros reis, Dom Afonso Henriques e seu filho Dom Sancho I, a dormirem ali o sono eterno.

Café Santa Cruz. Interior 01a x.jpg

 Interior do Café de Santa Cruz

 A partir daqui ambas as partes, para defenderem a sua posição, vão fazer uso dos mais diversos argumentos e também de constantes acusações mútuas.

A título de mera curiosidade diga-se que o periódico “Restauração”, ironicamente, propunha que, no caso de a Câmara Municipal aprovar o projeto, “sem perda de tempo se contru[isse] em frente do café chic, um mictório renascença”…

 

Nota 1 – Embora alguns dos periódicos apoiantes do novo estabelecimento comercial, depois da inauguração, afirmassem que “entre a frequência do novo café se nota [a presença] do elemento académico e isso também era de esperar, porque a academia coimbrã sabe bem cumprir o seu dever, a verdade é que outros afirmavam que “os estudantes compenetraram-se do seu dever de não frequentar aquela vergonha, ofensiva da arte e da religião do nosso povo. Fogem-lhe envergonhados do atentado afrontoso (…) e não será a Academia que sancionará o sacrilégio do «café passarão»”. Com efeito, os estudantes, na generalidade, não frequentavam muito aquele espaço. Se a memória me não atraiçoa, apenas os monárquicos ali se reuniam.

A minha sogra que hoje estaria a chegar aos 120 anos chamava a este café, “o café dos passarões”. Podemos pensar que o epíteto lhe advinha dos candeeiros exteriores que decoram a sua fachada ou do tipo de frequentadores do café e também podemos deduzir que o café seria assim conhecido pela imprensa e pela população.

 

Nota 2 – A polémica aqui aflorada e bem documentada no trabalho referido faz-me lembrar uma das características das gentes de Coimbra – será só das gentes de Coimbra? – que resulta, segundo pensamos, da incapacidade, tanta vez presente na nossa sociedade, de avaliar um projeto não pelo seu valor intrínseco, mas pelo posicionamento social e político de quem o sugere; da dificuldade em nos fixarmos no essencial em detrimento do acessório e do circunstancial;  da incapacidade de procurar encontrar aquilo em que se torna possível conjugar interesses, em detrimento da constante busca das divergências e do permanente extremar maniqueísta de posições. Incapacidades e divergências bem presentes ao longo de toda a nossa história e de que a existência de portugueses nos dois lados da batalha de Aljubarrota, para além de recuado no tempo, é bem exemplificativo.

 

Nota 3 – Nas três entradas publicadas sobre este tema seguiu-se, em parte, o texto abaixo referido. No entanto, é de sublinhar que o mesmo foi enriquecido por diversas sugestões que nos foram feitas.

 

Alemão, G.C. 2004. Uma polémica acesa – o nascimento do Café de Santa Cruz. Trabalho apresentado no Seminário da Licenciatura em História da Arte, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (policopiado)

Academia (A), 12, Coimbra, 1923.05.20.

Despertar (O), 460; 469; 631 e 743, Coimbra, 1921.09.03; 1921.10.05; 1923.05.16 e 1924.06.21.

Gazeta de Coimbra, 1204; 1235; 1384; 1390 e 1445, Coimbra, 1921.09.13; 1921.11.26; 1922.11.30; 1922.12.14 e 1923.05.08.

Noticia (A), 79; 97; 98; 101 e 168, Coimbra, 1921.10.05; 1921.12.10; 1921.12.14; 1921.12.24 e 1923.05.24.

Restauração, 4; 23; 27; 30 e 34, Coimbra, 1921.07.07; 1921.11.22; 1921.12.24; 1922.01.19 e 1922.02.18.

 

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por Rodrigues Costa às 10:05

Quarta-feira, 18.04.18

Coimbra: Café Santa Cruz, um café com muita história 2

Como contributo para o encontro internacional de cafés históricos europeus que vai decorrer em Coimbra na próxima sexta-feira e sábado, iremos publicar hoje e amanhã mais duas entradas sobre o Café de Santa Cruz, um café com muita história.

 

Na fachada da igreja de S. João de Santa Cruz foram sendo, ao longo dos anos e, algumas vezes de acordo com as finalidades a que o espaço se destinava, levadas a cabo alterações, mas a mais vultuosa aconteceu aquando da adaptação do imóvel a Café-Restaurante.

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 Vista geral do Terreiro de Sansão em finais do século XIX

 O facto de instalar num espaço outrora sacro um café de luxo (não uma “taberna de luxo”, como então o apelidou o jornal lisboeta A Epoca) levantou acesa polémica que pode ser seguida nos periódicos locais publicados na altura. O projeto da fachada do imóvel, da autoria do arquiteto Jaime Inácio dos Santos (Miragaia, 1874-Aveiro, 1942) inseria-se no gosto neomanuelino que, no âmbito nacional, se assumiu, num primeiro momento, como estilo revivalista por excelência, aqui serodiamente utilizado; mas, por razões várias, não conheceu a aprovação do Conselho de Arte e Arqueologia.

Café Santa Cruz. Projeto 01.png

 Primeiro projeto para a fachada do Café de Santa Cruz. Jaime Inácio dos Santos

 A fim de a sua construção poder prosseguir, o alarife teve de “desmanuelizar” o desenho retirando-lhe os elementos decorativos normalmente utilizados naquele estilo.

Café Santa Cruz. Projeto 02a.jpg

 Segundo projeto para a fachada do Café de Santa Cruz. Jaime Inácio dos Santos

 Esta nova fachada apresenta um grande arco que alberga na zona inferior três aberturas retangulares sobrepujadas, cada uma delas, por pseudolunetos preenchidos com vitrais policromados e decorados com motivos vários. Contrariamente ao que a Gazeta de Coimbra de dezembro de 1922 informava, os vidros coloridos não saíram da oficina de nenhum vitralista belga, mas foram feitos em Coimbra sob a responsabilidade dos ceramistas Irmãos Almeidas e de Augusto Pessoa.

Café Santa Cruz. Fachada 03 x.jpg

 Fachada. Piso térreo

 A decoração da fachada é diversificada e passa por motivos vegetalistas e por animais fantásticos (dragões e aves) que seguram dois enormes candeeiros de ferro forjado. Sobre o arco, lateralmente, no pano mural que se estende até ao nível do primeiro piso, o arquiteto substituiu os medalhões renascentistas que habitualmente se inserem naquele espaço por dois tondos onde se pode ver insculpido C, S e uma cruz, ornamento que passou a funcionar como logotipo do Café.

Café Santa Cruz. Fachada. Pormenor 01.jpg

 Fachada. Pormenor

 No piso superior, apesar das advertências, abrem-se três janelas neomanuelinas, sendo a central geminada.

Contrariamente ao que seria de esperar, na fachada não foi utilizada a pedra de Ançã e substituiu-a o siderocimento.

O Conselho de Arte e Arqueologia da 2.ª Circunscrição recomendava que se devia ter em vista a conservação das abóbadas e que os azulejos soterrados encontrados no decorrer das obras, como não podiam ser acolhidos pelo Museu Machado de Castro, em virtude de os quadris figurativos se encontrarem incompletos, deviam ser utilizados no revestimento das paredes da igreja-café; mas tal não se verificou, porque o espaço foi revestido com um artístico lambrim e portas trabalhadas feitos em madeira de nogueira. Diversos elementos decorativos e estruturais existentes no velho templo, como capitéis e mísulas (para além de outros), também foram recuperados.

Adriano Lucas, Mário Pais e Adriano Cunha eram os proprietários do novo estabelecimento que teve com responsáveis pela construção o mestre-de-obras Augusto Monteiro e seu filho José.

O Café de Santa Cruz foi inaugurado, com pompa e circunstância, no dia 7 de maio de 1923. Assistiram ao ato e usaram da palavra representantes da Câmara, da Associação Comercial, da Sociedade de Defesa e Propaganda de Coimbra, da imprensa e muitos amigos dos proprietários.

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 Pormenor do interior

 

Nota – Nesta segunda das três entradas que estamos a publicar sobe este tema seguiu-se, em parte, o texto abaixo referido. No entanto, é de sublinhar que o mesmo foi enriquecido por outras fontes e diversas sugestões que nos foram feitas.

 

Alemão, G.C. 2004. Uma polémica acesa – o nascimento do Café de Santa Cruz. Trabalho apresentado no Seminário da Licenciatura em História da Arte, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (policopiado)

Academia (A), 12, Coimbra, 1923.05.20.

Despertar (O), 460; 469; 631 e 743, Coimbra, 1921.09.03; 1921.10.05; 1923.05.16 e 1924.06.21.

Gazeta de Coimbra, 1204; 1235; 1384; 1390 e 1445, Coimbra, 1921.09.13; 1921.11.26; 1922.11.30; 1922.12.14 e 1923.05.08.

Noticia (A), 79; 97; 98; 101 e 168, Coimbra, 1921.10.05; 1921.12.10; 1921.12.14; 1921.12.24 e 1923.05.24.

Restauração, 4; 23; 27; 30 e 34, Coimbra, 1921.07.07; 1921.11.22; 1921.12.24; 1922.01.19 e 1922.02.18.

 

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por Rodrigues Costa às 10:59

Terça-feira, 17.04.18

Coimbra: Tipos de Coimbra 2

De outro comerciante que já morreu, o Ribeirinho, reza a tradição que, tendo falido, se fingiu amalucado em harmonia com certos fins que tinha em vista…

O Ribeiro (Caricatura Miguel da Costa).jpg

  O Ribeirinho – Caricatura de Miguel da Costa

 Ora o Ribeirinho, lá pelos modos, tinha as suas aspirações a poeta e, como tal, deu-se ao luxo de publicar um livro intitulado Allegorias as célebres Alllegorias onde conseguiu, não sei porque artes diabólicas, armazenar quantos pontos de admiração havia neste e no outro mundo até essa data. E a academia, sempre disposta a fazer das suas, sabendo isto e sabendo mais e melhor que o Ribeirinho era homem de muitos haveres, mas avarento como poucos, ia buscá-lo a casa em engraçadíssimas marchas aux flambeaux, percorrendo as ruas da cidade com ele ao colo, fazendo-o recitar, de momento a momento, as melhores produções do seu livro que, diga-se a verdade, tanto valiam umas como outras.

O Ribeirinho.jpg

 O Ribeirinho

Mas ele, saracoteando- se todo, em pose de passar à posteridade, num gesto estudado e ridiculamente impagável, recitava, tornava a recitar, enfiado na sua capa sem mangas e nas suas calças de xadrez, entre a galhofa e o aplauso das turbas que ele generosamente julgava contentar atirando-lhes sempre à queima-roupa, com um – obrigado rapazes. Passado algum tempo o Ribeirinho, que nos últimos meses se dizia um desgraçado, morria deixando em testamento uma fortuna razoável em belos contos de réis!... Ai quem me dera ser um desgraçado assim!

 

Houve ainda outro, certo dia em Coimbra nunca lhe soube o nome, que mandou anunciar, em todos os jornais da terra, que vendia belos chouriços alentejanos e quis ver, no alto do anúncio, em caracteres de palmo e meio: – A LOJA D’UMA PORTA SÓ. Eis senão quando, logo ao outro dia de manhã, viu postar-se-lhe em frente da porta um grande, um numeroso grupo de estudantes exclamando admirados:

 – Olhem A LOJA D’UMA PORTA SÓ!

O homem, não sei porquê, prevendo qualquer cousa de extraordinário, não ficou lá muito bem-disposto com a cena e com aquele ar irónico que via nos rapazes, mas saiu detrás do balcão, avançou até á porta e perguntou, forçando um sorriso:

– Que hão de querer?

– É aqui A LOJA D’UMA PORTA SÓ?

– É sim senhor, porquê?

– Porque não tem senão uma porta!

E logo outro:

– Porque tem unicamente uma porta!

E outro:

– Porque tem uma porta apenas!

E ainda outro:

– Porque tem simplesmente uma porta!

E acrescentando todos ao mesmo tempo:

– Porque tem UMA PORTA SÓ!...

E o certo é que o homem afinou com a brincadeira, foi aos ares, deu ao diabo os estudantes e desatou num berreiro infernal despejando quantos insultos conhecia. – Mariolas! Vadios!...

 

Como umas coisas fazem lembrar as outras e as palavras são como as cerejas, segundo exclamava uma criada velha que eu tive, agora me recorda que lá ouvi contar, não sei a quem, que houve outrora um barbeiro, atrás da igreja de S. Bartolomeu, que, todos os dias, barafustava endiabrado só porque os estudantes, muito ingenuamente, iam perguntar-lhe como é que os sinos da igreja próxima tocavam a fogo, a batizado, ao Senhor fora e como davam as Trindades.

Mas, como estes, houve e há tantos ainda por aí fora!

 Monteiro, M. Typos de Coimbra, In Illustração Portugueza, 40, Série II, Lisboa, 1907.01.28.

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por Rodrigues Costa às 09:44

Quinta-feira, 12.04.18

Coimbra: Café Santa Cruz, um café com muita história 1

No ângulo resultante da junção do Largo de Sanção com a rua das Figueirinhas, paralelamente à fachada da igreja do complexo monástico de Santa Cruz, foi erguida, por volta de 1530 a igreja de S. João de Santa Cruz.

Os monges agostinhos mandaram construir este templo, porque a capela do já não ativo Convento das Donas, situado no lado esquerdo da igreja de Santa Cruz, ou seja, dentro do perímetro espacial atualmente ocupado pelo edifício da Câmara Municipal de Coimbra, além de ser demasiado pequena para servir a paróquia do isento, encontrava-se mal-enquadrada, pois erguia-se entre dois edifícios de maiores dimensões.

Café de Santa Cruz. Antes x.jpgIgreja de S. João de Santa Cruz a ser utilizada para fins comerciais

Os frades encarregaram a sua feitura, como o estilo indica, a mestre Diogo de Castilho, bem seu conhecido por ter sido um dos responsáveis pela maior parte das alterações arquitetónicas do conjunto monástico levadas a cabo na época de D. João III.

Depois da publicação do decreto que suprimia as ordens religiosas, as conhecidas Leis da Desamortização, a paróquia passou a ocupar a igreja monacal, isto é, a igreja de Santa Cruz, e o templo onde se encontrava sediada a paróquia de São Joanina deixou de servir o fim para que fora construído.

A partir desse momento e até ter sido adaptado a café o espaço foi utilizado para várias finalidades e passou por esquadra de polícia, por estação de bombeiros, por estabelecimento de canalizações, por agência funerária, por casa de mobílias, por tasca e, até, por casa de habitação.

Reconvertido em Café-Restaurante entre os anos de 1921 e de 1923, o lugar manteve as suas principais características estruturais, nomeadamente a configuração da planta.

Café de Santa Cruz. Planta 02 x.jpgPlanta da Igreja de S. João de Santa Cruz

O plano apresenta a forma longitudinal, com nave retangular e capela-mor quadrangular. A primeira área mostra, a cobri-la, uma abóbada repartida por dois tramos com arcos cruzados e terceletes curvos, desenhando um quadrifólio.

Café Santa Cruz. Nave. Abóbada 02 x.jpgNave do edifício e abóbada da cobertura

 Remata a capela-mor uma abóbada estrelada, com nervura anelar que une os rosetões de ligação dos terceletes com as cadenas.

Café Santa Cruz. Capela-mor 01a x.jpg

Abóbada da capela-mor

 Nota – Nas três entradas que iremos publicar sobe este tema seguiu-se, em parte, o texto abaixo referido. No entanto, é de sublinhar que o mesmo foi enriquecido por outras fontes e diversas sugestões que nos foram feitas.

 

Alemão, G.C. 2004. Uma polémica acesa – o nascimento do Café de Santa Cruz. Trabalho apresentado no Seminário da Licenciatura em História da Arte, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (policopiado)

Academia (A), 12, Coimbra, 1923.05.20.

Despertar (O), 460; 469; 631 e 743, Coimbra, 1921.09.03; 1921.10.05; 1923.05.16 e 1924.06.21.

Gazeta de Coimbra, 1204; 1235; 1384; 1390 e 1445, Coimbra, 1921.09.13; 1921.11.26; 1922.11.30; 1922.12.14 e 1923.05.08.

Noticia (A), 79; 97; 98; 101 e 168, Coimbra, 1921.10.05; 1921.12.10; 1921.12.14; 1921.12.24 e 1923.05.24.

Restauração, 4; 23; 27; 30 e 34, Coimbra, 1921.07.07; 1921.11.22; 1921.12.24; 1922.01.19 e 1922.02.18.

 

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por Rodrigues Costa às 10:20

Terça-feira, 10.04.18

Coimbra: Tipos de Coimbra 1

Iniciamos hoje uma série de 14 entradas - que iremos intercalar com outras sobre diferentes assunstos -  através das quais iremos recordar um artigo de Mário Monteiro, ilustrado na sua maioria com fotografias de José Gonçalves; foi publicado no início do século passado, na transição do século XIX para o XX, nesse magnifico fresco da realidade nacional que é a Illustração Portugueza.

Coimbra – uma cidade fechada sobre si mesma ainda que aberta ao contributo de estudantes vindos das mais variadas origens – sempre foi o palco de uma legião de variados tipos humanos. À boa maneira provinciana a tudo e a todos se dava um nome, ou uma alcunha.

Na minha adolescência o Mondego era o basófias, um troleicarro o pantufas, o vendedor de petróleo o petrolino, os carros da PSP os creme nívea, o “Diário de Coimbra” o calino, os habitantes de Alta os salatinas, o autocarro da AAC, sei lá porquê, a Laurinda. Estas entre tantas outras.

Quanto a alcunhas lembro-me de uma mulher da Alta que por ter sido dado como morta, passou uma noite na morgue e daí o ser conhecida pela Maria do Cu Fresco; o proprietário de uma casa de penhores onde o valor da peça não dependia só desta, mas da pancada que se dava e recebia do dono, dava pelo nome de Picalo; o dono de uma tasca situada no Largo da Matemática era o Zé Bruto; um determinado sapateiro dava pelo nome de Carne Assada; o Bentes, jogador da Briosa, era o rato Atómico; o franzino massagista da Académica era conhecido por Mão de Pilinha, em contraposição com o massagista do Benfica, de tamanho grande, conhecido por Mão de Pilão; o excelente fotógrafo da cidade e, sobretudo, da Académica, era o Formidável.

Listagem que por certo pode ser enriquecida com o contributo de todos os leitores.

 

O artigo que iremos transcrever tem o título Typos de Coimbra e está escrito na forma redonda e hiperbólica da época. Optou-se por atualizar a ortografia, a fim de facilitar a sua leitura e começa assim.

 Analisar a miséria das ruas, observar com olhos de ver todo esse constante e crapuloso bric-à-brac onde se atrofiam e se perdem caracteres, mas onde, as mais das vezes, se vão buscar modelos, belas cabeças de estudo vincadas profundamente, dolorosamente, pelos traços indicadores de uma vida agitada e miserável – é, em qualquer parte, um estudo arrojado, quase impossível, cheio de mil obstáculos, e sobretudo, fastidioso, mas, em Coimbra, chega a ser deveras original e interessante.

É que esta deliciosa terra, com a sua Universidade, lá no alto, a coroar-lhe os edifícios, a dar-lhe uns certos ares de sábia ... não sei por que estranho dom, podendo ser encarada sob muitos e variados aspetos, tantos quantos se queiram, – manancial eterno de prosadores e poetas – apresenta-nos uma vida das ruas característica, típica, absolutamente sua.

Tudo isto porque os garotos de Coimbra – e não há nada pior do que eles! – são exímios glorificadores dos grotescos que aparecem dia a dia e, sabendo procurar-lhes todos os pontos vulneráveis, são terríveis no ataque em que, por entre o desespero dos vencidos e o desenfrear das chufas e dichotes dos vencedores, não é raro aparecer uma alcunha que se pega, que se agarra por tal forma que nunca mais sai, criando, ipso facto, um novo tipo apontado e escarnecido em toda a parte.

Alcunha que se ponha em Coimbra é muito pior que cola-tudo, é como alma que caiu no inferno. E pega que nem santo António lhe vale!...

Ainda hoje certos comerciantes pela cidade, ventrudos e lustrosos, pintam para aí as mantas do diabo se lhes forem perguntar à porta dos seus estabelecimentos:

– Tem chá feito?

– Tem cordas para flauta?

–  A boneca já fala? 

Por isso convém aqui dizer que, ao enumerar alguns dos tipos mais curiosos de Coimbra, eu não pretendi ir procurá-los apenas á miséria das ruas, mas fui buscá-los também às suas casas de negócio, arrancá-los detrás do balcão para os trazer até aos umbrais da porta e mostrá-los à luz do dia, corno objetos raros e dignos de uma observação mais ou menos demorada e minuciosa.

E é assim que, sem mais delongas, dando o braço ao amigo Paixão, peço licença para o apresentar.

O Paixão. Imitado pelo dr. Bento Lima na récita

 O Paixão – Imitado pelo dr. Bento Lima, na récita do 5.º ano de 1898

 O Paixão – é um alfaiate que mora na rua de S. João, quase no centro da parte alta da cidade, essa espécie de quartier latin, que é o bairro académico por excelência. Pinta muito regularmente a pera, segundo se conta, e dá uma sorte levada da breca em se lhe dizendo:

Ó Paixão dá cá o diamante ...  aludindo não sei a que episódio dos seus tempos… de outro tempo.

Vicioso fumador de charuto, que traz sempre ao canto da boca, nessas horas de mau humor há quem veja mordê-lo raivosamente, cuspir repetidas vezes, como é seu costume, num grande ar cómico irresistível, e desandar depois numa catilinária pavorosa capaz de assustar todos os anjos e santos da corte do céu!...

Constou-me até, nem eu sei quando, que os estudantes de certa geração o puseram fora da porta-férrea depois de encerradas as aulas, porque ato a que ele fosse assistir era chumbo certo...

No entanto o amigo Paixão, com todos aqueles seus ares de caricato, não passa de uma bela criatura, de um pobre diabo incapaz de fazer mal a uma mosca.

Mas caiu na asneira de dar sorte e fez muito mal, lá isso fez! 

Monteiro, M. Typos de Coimbra, In Illustração Portugueza, 40, Série II, Lisboa, 1907.01.28.

 

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por Rodrigues Costa às 10:16

Quinta-feira, 05.04.18

Coimbra: Cidade bela, mas também cidade vandalizada 3

Publicámos dia 2 do presente mês cinco fotografias mostrando a vandalização a que está a ser sujeita, em Coimbra, a igreja do Salvador.

Hoje, publicamos mais algumas imagens, também colhidas na Alta da cidade que é, não nos esqueçamos, PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE.

Os “escritos” (se é que aquilo se pode chamar “escritos”) das primeiras que vamos inserir encontram-se na parede lateral do Museu Nacional Machado de Castro. A revolta que sentimos pelo que vimos no templo referido é a mesma que experimentámos face ao desrespeito não só pelo monumento – um dos mais visitados de Coimbra –como pelas Pessoas.

 MNMC 1a.jpg

Museu Nacional Machado de Castro, pormenor 1

MNMC 2a.jpg

 Museu Nacional Machado de Castro, pormenor 2

MNMC 3a.jpg

 Museu Nacional Machado de Castro, pormenor 3

MNMC 4a.jpg

 Museu Nacional Machado de Castro, pormenor 5, com obscenidades

 As segundas, foram tiradas na Casa da Escrita e, tal como as anteriores, falam por si.

Casa da escrita 1a.jpg

 Casa da escrita, pormenor 1

Casa da escrita 2a.jpg

 Casa da escrita, pormenor 2

 Não são necessários comentários, as imagens são suficientes para justificar que, rapidamente, muito rapidamente, algo tem de ser feito.

Embora esteja consciente de que, para além de num primeiro e essencial momento ter de se incutir uma mentalidade cívica a estes vândalos que se dedicam a delapidar o património de todos nós e também classificada como PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE, volta-se a lembrar, há que apagar e pintar as paredes tantas vezes quantas as necessárias, a fim de que essa gente ignorante desista de pôr em prática a sua estupidez. 

 

Rodrigues Costa

 

Nota: Cópia deste alerta irá ser enviado por e-mail às competentes Autoridades Civis e Religiosas, bem como aos Órgãos de Comunicação Social.

 

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por Rodrigues Costa às 11:45

Terça-feira, 03.04.18

Coimbra: Cidade bela, mas também cidade vandalizada 2

No passado dia 15 de janeiro de 2016 tivemos ocasião de organizar uma visita à Igreja do Salvador em Coimbra guiada pelo historiador Nelson Correia Borges.

Ao iniciar a visita apelámos à necessidade urgente de reabilitar este monumento nacional.

Penso que no final dessa visita as numerosas Pessoas que nela participaram, reconheceram também tal urgência e necessidade.

Recordo que, conforme refere Joana Garcia, Técnica Superior de Arqueologia na Divisão de Reabilitação Urbana da Câmara Municipal de Coimbra, a Igreja do Salvador é de origem medieval, mais propriamente da segunda metade do século XII e pertence ao segundo românico de Coimbra. Este templo terá vindo substituir outro mais antigo, cuja existência está comprovada pelo menos em 1064.

Numa das minhas habituais deambulações pela Alta tive ocasião de, ontem, fazer as seguintes fotografias:

Igreja Salvador 1a.jpg

 Portal de 1179, pormenor 1 

Igreja Salvador 2a.jpg

 Portal de 1179, pormenor 2

Igreja Salvador 3 a.jpg

 Portal de 1179, pormenor 3

Igreja Salvador 4 a.jpg

 Parede lateral, pormenor 1

Igreja Salvador 5 a.jpg

 Parede lateral pormenor 2, com insultos ao Papa

Julgo que estas imagens evidenciam que se ultrapassou o limite da dignidade e do respeito pela História e pelas Pessoas.

Considero que os Monumentos Nacionais bem como as demais Autoridades não podem ficar indiferentes perante este ato do mais abjeto vandalismo.

E se isso não se verificar, ao menos se levante um clamor público capaz de obrigar a uma atuação adequada. No mínimo, a imediata remoção do lixo pintado nestas paredes.

 

Rodrigues Costa

 

Nota: Cópia deste alerta irá ser enviado, por email, às competentes Autoridades Civis e Religiosas, bem como aos Órgãos de Comunicação Social

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por Rodrigues Costa às 09:06


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