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Na Catedral de Nossa Senhora dos Remédios, localizada em San Cristobal de la Laguna, na ilha de Tenerife (Canárias, Espanha), existe uma representação da Rainha Santa quase desconhecida da generalidade dos portugueses e da maior parte dos conimbricenses.
Catedral de Nossa Senhora dos Remédios
O referido quadro destinava-se a ser colocado na nova catedral de La Laguna (Tenerife) ao lado do de São Fernando, ambos declarados, a par com São Cristóvão, antigo orago, padroeiros do templo. As telas foram encomendadas ao pintor sevilhano António Quesada e chegaram à ilha ao mesmo tempo.
Maria Isabel de Bragança era filha de D. João VI e de D. Carlota Joaquina, irmã mais velha de Fernando VII que, ao casar-se em segundas núpcias com a sobrinha, a converteu em rainha de Espanha. Estes monarcas solicitaram insistentemente ao Papa Pio VII a criação da nova diocese canária com sede em La Laguna.
Na antiga catedral dos Remédios existia a capela de Nossa Senhora do Carmo que possuía um retábulo ornamentado com diversas pinturas, cuja temática, na atualidade, se desconhece.
Quando, no século XIX, a cidade se tornou sede da nova diocese e o templo alcançou a dignidade de catedral começaram a venerar-se novos santos levando a que as pinturas de António Quesada, ao chegarem à ilha, fossem montadas na capela de Nossa Senhora do Carmo, substituindo as anteriores telas.
Retábulo atual da capela de Nossa Senhora do Carmo
A escolha da Rainha Santa Isabel e de São Fernando para co-padroeiros da catedral de La laguna decorre da interferência régia no aparecimento da nova diocese e a opção pela primeira encontra-se reforçada através da devoção da rainha, princesa de Portugal, a Isabel de Aragão, a Rainha Santa.
Isabel de Bragança, rainha muito acarinhada pelo povo espanhol e responsável pela criação de um museu real, o futuro Museu do Prado que foi inaugurado em 1819, um ano após a sua morte, reinou escassos dois anos e foi mãe de uma menina que viveu cerca de quatro meses. Engravidou de novo e, em dezembro de 1818, durante um parto difícil e prolongado, já debilitada pelo grande esforço, teve um ataque de epilepsia e entrou em coma. Os médicos não se aperceberam da situação e, desejosos de retirar o bebé ainda com vida, iniciaram uma cesariana funesta, porque a rainha recobrou os sentidos e lançou enormes gritos de dor; mãe e filha acabaram por morrer poucas horas depois.
Santa Isabel. António Quesada. Óleo sobre tela. 1834
No quadro em questão Santa Isabel é representada coroada, com vestes medievais, segurando o cetro com uma mão e apoiando a outra no peito. Toda a tela aponta para a sua dignidade régia.
No segundo plano, de um dos lados pode ver-se representada uma montanha, possível referência ao Teide e, no outro, um edifício que reproduz a fachada remodelada da catedral.
A tela que representa a Rainha Santa mostra bastante originalidade e uma técnica aceitável. O artista utiliza no fundo um colorido escuro a contrastar com os tons cálidos apostos na figura, de modo a captar a atenção do observador para além da própria personagem. O sevilhano mostra-se preocupado com a expressão e procura que a obra transmita serenidade e doçura através do rosto de Santa Isabel.
La Huella y la Senda, Islas Canarias, 2004, p. 661-662. [Catálogo]
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