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Edifício magnífico, a principal obra dos arquitetos irmãos Álvares, que Haupt supõe dever em especial atribuir-se a Baltasar Álvares, construtor do mosteiro de S. Bento em Lisboa.
Planta e alçado de mais de metade da fachada principal, voltada a N. Desenhos de A. Haupt.
A fachada era simples, mas elegante. Estava já incompleta, quando eu a via pela primeira vez, em 1869, tal como se manteve até ser demolida, faltava-lhe o remate do tímpano, e os corpos superiores das torres que a ladeavam, assim como as imagens, que devem ter ocupado os três nichos do corpo central. Ao pórtico davam ingresso três belas portas de ferro forjado.
Face da nave do lado do Evangelho. Desenhada também por Haupt.
Era magnífico, belo, sumptuoso e grave o interior da igreja de S. Bento, que ainda conheci completo, tal como se manteve enquanto ali se exerceu o culto. Tinha uma única nave, e 3 capelas de cada lado; além disso nave transeptal, e grandiosa capela-mor; sobre o transepto erguia-se majestoso zimbório.
Colégio de S. Bento reconstituição
Toda abobadada em caixotões, sendo ornamentadas as abóbadas das capelas laterais, muito mais profusamente as do transepto, e com superabundância e da capela-mor, na qual, entre complicadas esculturas, havia imagens de Anjos e de Santos. Nas paredes, onde abundavam as cantarias, toda a superfície da alvenaria era revestida de azulejos, sendo policrómicos os da capela-mor. Todas as capelas tinham o seu fundo coberto pelo retábulo do altar, obras de talha sumptuosas, ricamente douradas. Era admiravelmente grandioso o altar-mor, com o seu trono para as exposições. A capela do Santíssimo, que era a segunda do lado da Epístola, foi reconstruída e ampliada no século XVIII, com o teto em cúpula, profusamente ornamentado com estuque, e pintura a fresco.
... Deveria, sem dúvida, conservar-se como Monumento Nacional este belo templo; mas, quando expirava o século passado e ao principiar o presente (séc. XX) fizeram-se grandes obras no edifício de S. Bento, aplicado a Liceu.
... Depois de muito ponderado o assunto, foi resolvido, pelas autoridades competentes, que se demolisse a igreja, profanada há mais de 30 anos, e já sem altares nem retábulos, sem as balaustradas de pau-preto e bronze, sem azulejos, sem mobiliário, reduzidas às paredes e abóbadas; mas a obra de demolição realizar-se-ia com todos os cuidados. Escolher-se-ia previamente um local apropriado, onde se reerguesse logo o edifício com o mesmo material, para instalação dum museu de reproduções em gesso, cuja falta se fazia sentir nesta cidade. Aperar-se-iam as pedras. E erguer-se-iam no local novo, com as devidas cautelas, e sem deterioração.
Igreja de S. Bento em demolição
Houve protestos, e foi-se protelando o início da obra, a qual veio a realizar-se noutras condições em 1932. Demoliu-se então a igreja, e completou-se o edifício do Liceu; mas a isto se limitou a ação do pessoal dos Edifícios Públicos e dos Monumentos Nacionais.
Há o direito a perguntar: - como se aproveitaram as magnificas cantarias aparelhadas e profusamente ornamentadas, que constituíam os arcos e a abóbadas? E, quanto ao resto: Que registo gráfico, ao menos, se fez do grandioso edifício, de formas tão nobres e tão belas, que representava uma época?
Em resposta aponto apenas este facto: - Para eu poder agora dar alguma ilustração gráfica, relativamente a este documento, tive de recorrer aos desenhos que, passando por Coimbra em outubro de 1888, o alemão Albrecht Haupt traçou, e depois publicou na cidade de Francforte sobre o Meno, em 1890.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 400-401, do Vol. I
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