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Depois de um muro antigo, entra-se, por um portão do século XIX, na Quinta das Lágrimas, avança-se uma estrada sobrelevada que domina, de cada lado, os campos verdes que outrora foram de milho e hoje são relvados de golfe.
Quinta das Lágrimas, arco neogótico junto da Fonte dos Amores
Ao entrar neste lugar, do portão até ao sopé da encosta, donde saem, silenciosas, as águas da Fonte dos Amores, sente-se uma indefinível paz ligada ao desaparecimento do tempo; como num sonho, vamos pisando os lugares onde estiveram personagens, cuja história tantas vezes ouvimos e lemos. Inês e Pedro são os mais imediatos, mas, antes deles, também a rainha Santa Isabel ali terá estado. Terá sido com D. Dinis? Luís de Camões deu o nome à fonte e da nascente imaginou as Lágrimas em «Os Lusíadas», seguramente junto a ela se sentou a ver passar a água limpa sobre os musgos vermelhos que a lenda dizia ser do sangue de Inês.
A quinta era formada por uma encosta abrupta, que ladeava 20 hectares de terra fértil enriquecida pelas cheias do Mondego. A geologia calcária da encosta garantiu-lhe uma situação única: a abundância de nascentes no sopé da encosta que brotam em três pontos diferentes: duas nascentes concorrem para a Fonte dos Amores e uma sai da rocha nua formando a Fonte das Lágrimas.
... Com tantos atributos não é de admirar que o lugar fosse usado desde muito cedo... são os monges, neste caso os do Mosteiro de Santa Cruz, os conhecedores das melhores qualidades da paisagem, que a exploram e transformam na Quinta do Pombal. A mesma a que a Rainha Santa faz referência quando, por escritura datada de Junho de 1326, obtém para o Convento de Santa Clara o direito de condução da água das duas nascentes que brotavam na «costeira acima do pombal».
Quinta das Lágrimas, cano dos amores
Inicia-se, então, uma obra régia que conduz as águas através de um cano, que é, de facto, um aqueduto com cerca de 500 metros de longo, e ao qual se dará o nome, em documentos do século XIV, de “Cano dos Amores.
... Para além da Fonte dos Amores, é feita referência, na escritura de 1326, a «outras fontes que son mais chegadas contra o meio dia e chegadas à dita costa, as quaes ficão ao dito Mosteiro de Sta. Cruz».
... De uma outra intervenção há notícia na quinta das Lágrimas... a 27 de Maio de 1690... as freiras de Santa Clara ´, dando-lhe estas licenças para vedar inteiramente a sua Quinta do Pombal, mas ressalvando e acautelando o direito de propriedade, que as ditas freiras tinham sobre «hum cano de agua que vinha para a sua serqua».
... por volta de 1600... se refere a construção dos muros, reservatórios e canais formando um sistema hidráulico notável que servia um grande lagar de azeite e todo o sistema de rega por gravidade. Muitos melhoramentos foram feitos e toda a quinta foi cercada por muros e uma casa nobre foi construída com capela, lagar de pedra para o azeite».
... No século XIX, o romantismo latente em toda a quinta tomou forma nos lagos, nas lápides, nas ruínas neogóticas que se construíram para celebrar, do período medieval, o sublime encanto de todo o drama de Pedro e Inês.
Castel-Branco. C. Os jardins de Coimbra. Um colar verde dentro da cidade. In: Monumentos. Revista Semestral de Edifícios e Monumentos. N.º 25, Setembro de 2006. Lisboa, Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, pg. 182-184
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