Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A primeira referência à intenção de abertura da Rua da Sofia surge numa carta régia, de 17 de Abril de 1535 ... Nela ficou clara a intenção e o partido topográfico-urbanístico da iniciativa. De 20 de Março de 1538 é o primeiro documento onde surge a sua designada extensa: «Rua de Santa Sofia». Trata-se de um dos contratos com que nesse mês e no seguinte se fizeram as cedências para construções de casa na sua frente poente ... Nesses contratos ficam expressos não só a obrigação de construir num curto espaço de tempo uma «arquitetura de programa» desenvolvida em três pisos, mas também outras normas com vista a assegurar a sua regularidade formal - «a formuzura».
A construção de casas foi lenta, tendo sido frequente a reversão dos lotes e a sua revenda.
... Tanto quanto até hoje foi possível apurar, o plano inicial para a nova rua era bem simples e regular. O seu traçado conjugou as condicionantes impostas pela topografia com um alinhamento sobre a frente colegial do Mosteiro de Santa Cruz, escamoteando a igreja.
... Um dos lados da Rua da sofia, o nascente arrimado a Montarroio, foi destinando à instalação de colégios... O outro lado da Sofia destinava-se à construção de casas, prioritariamente para professores, mas também para estudantes e funcionários, regra depois completamente ultrapassada.
Rua da Sofia, diagrama do esquema compositivo e programático (executado por Sandra Pinto)
... Interessante e disciplinarmente relevante é o rigor geométrico-compositivo com que, tudo o leva a crer, o conjunto foi planeado. Ainda que na execução se não tenha caprichado tanto e algumas preexistências tenham imposto ajustamentos. Para tal terá sido usado um módulo quadrado com 6 braças (13,2 metros) de lado. Para cada colégio, num total previsto de cinco, foram deixados cinco módulos de frente e quatro de fundo, o que, com o módulo para a largura da rua, perfaz quadrados de 5x5 módulos.
... No fundo, o sistema previra 5+1 propriedades de 5x4 módulos de base 6 braças, tendo ainda mais quatro módulos de fundo.
... As igrejas eram o interface com o público de três dos quatro colégios ... o mais inovador e coerente espaço dos colégios universitários da Rua da Sofia reside nos seus claustros de dois pisos. Nele podemos encontrar a evolução portuguesa para o apuramento de um tipo que já não é o do «horto conclusus» medieval, mas sim o elemento central de composição e de distribuição da arquitetura e da vida comunitária.
Rua da Sofia, excerto da gravura de Coimbra de Georg Hoefnagel, c. 1567
Um dos aspetos que tem sido menos valorizado no processo e realidade da Rua da Sofia é o facto de a sua abertura ter consistido numa ação urbanística verdadeiramente revolucionária para o urbanismo da cidade, em especial por ter ocorrido no momento em que a lenta, mas inexorável, subida do leito do Mondego ditava uma cada vez mais frequente e perniciosa invasão das suas margens... Quando as águas invadiam o Arnado, a já de si apertada e única saída norte da cidade, a Rua Direita, ficava intransitável.
A abertura e nivelamento da Rua da Sofia, implicaram a remoção de um considerável volume de aterro, o reacerto dos acesos a Montarroio ... A «rua nova» desde logo se constituiu coimo novo aceso norte da cidade, vendo erguida no seu extremo torre e porta com funções aduaneiras e de instauração de quarentenas, a Porta de Santa Margarida.
Rossa, W. A Sofia. Primeiro episódio da reinstalação moderna da Universidade portuguesa. In: Monumentos. Revista Semestral de Edifícios e Monumentos. N.º 25, Setembro de 2006. Lisboa, Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, pg.19-22
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.